Escreve-se como ensaio, publica-se como artigo? Hibridização e padronização na escrita acadêmica
DOI:
https://doi.org/10.30612/raido.v19i48.20331Palavras-chave:
hibridização, escrita acadêmica, padronização discursivaResumo
Este artigo discute o apagamento do gênero ensaio e a sua presença disfarçada nas publicações científicas das Ciências Humanas, com base na análise de 1.365 resumos de artigos publicados entre 2013 e 2016 em periódicos Qualis A1 das áreas de Linguística e Literatura. Partindo da hipótese de que o gênero ensaio permanece ativo, embora frequentemente disfarçada sob a rotulagem formal de artigo científico, para essa discussão tomamos como base os pressupostos pertencentes à abordagem sociorretórica à questão do gênero acadêmico (Swales, 1990) e estudos sobre o espaço ocupado pelo gênero ensaio nas publicações acadêmicas (Larrosa, 2003; Pena, 2005; Paviane, 2009;Bertero, 2011), alinhados à uma discussão sobre a legitimação e a institucionalização, com base nos estudos dos novos letramentos (Lea & Street, 2014, 2006, 1998) e função metapragmática (Silverstein, 1993; Mey, 2001; Signorini, 2008a). A metodologia inclui o levantamento de padrões textuais e discursivos, a partir da identificação do léxico e da análise da estrutura retórica dos textos. Os resultados apontam para um processo de hibridização entre artigo e ensaio, sobretudo em áreas mais interpretativas, como a Literatura, nas quais o uso da linguagem reflexiva, a ausência de seções metodológicas e a marca da subjetividade se fazem presentes. A análise evidencia que, embora marginalizado pelas diretrizes institucionais de avaliação e pelos modelos editoriais hegemônicos, o ensaio resiste como forma epistêmica e discursiva. Conclui-se que esse fenômeno revela uma tensão entre os modos de produção do conhecimento nas ciências humanas e os regimes de legitimação científica, o que aponta para a necessidade de reavaliar os critérios formais de reconhecimento dos gêneros acadêmicos.
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