Escrita, ação e autonomia na linguística e na história: um diálogo interdisciplinar sobre os usos sociais da escrita
DOI:
https://doi.org/10.30612/raido.v19i48.20321Palavras-chave:
Ação de escrita, Letramentos, Autonomia, InterdisciplinariedadeResumo
Os estudos de letramentos reconhecem que os usos da escrita dependem de contextos, atividades e objetivos específicos. Esse pressuposto fomentou, na investigação da escrita universitária, abordagens etnográficas, fundadas na observação participante. Trabalhos recentes sugerem, contudo, a pertinência de abordagens discursivas no estudo dos letramentos. Nelas, destaca-se o papel da história e da historicidade da escrita, isto é, daquilo que escapa à observação do presente e dos gestos intencionais. Temas caros à reflexão sobre os letramentos são, assim, evocados, como o da não autonomia dos sujeitos e o da performatividade da linguagem. Interdisciplinar, este trabalho recorre aos estudos históricos para abordar a historicidade e a discursividade dos usos sociais da escrita. Em entrevista com Dinah Ribard, pretende-se apresentar uma discussão teórico-conceitual sobre a reflexividade da linguagem na pesquisa histórica, particularmente, sobre escrita, ação e autonomia. Para tanto, percorre-se um caminho em três etapas: (i) os regimes de interdisciplinariedade entre linguística e história; (ii) as relações entre fala e escrita e o problema da intencionalidade; e (iii) o confrontamento da noção de ação de escrita com as de discurso e representação. Dentre as contribuições desta entrevista, destaca-se a proposição de um regime de interdisciplinariedade explícito e sistemático entre história e linguística aplicada.
Downloads
Referências
AUSTIN, J. How to do things with words. Oxford: Oxford University Press, 1962.
BIBER, D. Variation across speech and writing. Cambridge: Cambridge Univ. Press, 1995.
CAREL, M.; RIBARD, D. Gestes et actions avec les mots. Linguistique de l’écrit, n. 3, p. 331-354. DOI: https://doi.org/10.19079/lde.2022.s3.11. Acesso em: 20 out. 2025.
CORRÊA, M. As perspectivas etnográfica e discursiva no ensino de escrita: o exemplo de textos pré-universitários. Revista da Abralin, v. 10, n. 4, p. 333-356, 2011. Disponível em: https://bit.ly/44n54of. Acesso em: 20 out. 2025.
CORRÊA, M. Letramentos em perspectiva histórica: do império da escrita aos sonhos do pós-pandemia. Muiraquitã, v. 1, n. 1, p. 1-15, 2020. DOI: https://doi.org/10.29327/210932.1.1-2. Acesso em: 20 out. 2025.
CORRÊA, M. O estatuto da lingüística aplicada no campo das ciências da linguagem e o ensino da escrita. Revista da Abralin, v. 7, n. 1, p. 227-255, 2008. Disponível em: https://bit.ly/46JsIem. Acesso em 20 out. 2025.
CORRÊA, M. O modo heterogêneo de constituição da escrita. São Paulo: Martins Fontes, 2024.
CORRÊA, M. Relações intergenéricas na análise indiciária de textos escritos. Trab. Ling. Aplic., v. 45, n. 2, p. 205-224. 2006. DOI: https://doi.org/10.1590/S0103-18132006000200004. Acesso em: 20 out. 2025.
CHARTIER, R. O mundo como representação. Estudos avançados, v. 11, n. 5, p. 173-191, 1990. DOI: https://doi.org/10.1590/S0103-40141991000100010. Acesso em: 20 out. 2025.
DE CERTEAU, M. A operação historiográfica. In: DE CERTEAU, M. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982. p 65-122.
FIAD, R. A escrita na universidade. Revista da Abralin, v. 10, n. 4, p. 357-369, 2011. Disponível em: https://tinyurl.com/3hbjy5sk. Acesso em: 20 out. 2025.
GARCEZ, P. Conceitos de letramento e a formação de professores de línguas. Revista da Anpoll, v. 1, n. 49, p. 12-25, 2019. DOI: http://dx.doi.org/10.18309/anp.v1i49.1299. Acesso em: 20 out. 2025.
GERALDI, J. W. A produção dos diferentes letramentos. Bakhtiniana, n. 9, v. 2, p. 25-34, 2014. Disponível em: http://bit.ly/3GgdohM. Acesso em: 20 out. 2025.
GOODY, J. The domestication of the savege mind. Cambridge: Cambridge Univ.Press, 1977.
GRIHL. Écriture et action : XVIIe-XIXe siècle, une enquête collective. Paris: EHESS, 2016.
GUILHAUMOU, J. L'analyse de discours du côté de l'histoire: une démarche interprétative. Langage et société, v. 121-122, 2007 177-187. DOI: https://doi.org/10.3917/ls.121.0177. Acesso em: 20 out. 2025.
IMBRUNIZ, C. O itinerário de um fracasso editorial: as adaptações de Português no Colégio (1976-1980). Trab. Ling. Apl., v. 64, e025053, 2025. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/01031813v64120258676812. Acesso em: 20 out. 2025.
IMBRUNIZ, C. O mercado editorial no ensino secundário e o livro didático de portuguê. 2025. Tese (Doutorado em Filologia e Língua Portuguesa) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2025a. DOI: https://doi.org/10.11606/T.8.2025.tde-03102025-152729. Acesso em: 20 out. 2025.
KLEIMAN, A.; VIANNA, C.; SITO, L.; VALESCHI, M.; DE GRANDE, P. O conceito de letramento na produção científica brasileira: retorno às origens, discussões para o futuro. Trab. Ling. Aplic., n. 63, v. 1, p. 240-254, 2024. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/01031813v63120248676257. Acesso em: 20 out. 2025.
LILLIS, T. Ethnography as method, methodology, and “deep theorizing”: closing the gap between text and context in academic writing research. Writting communication, v. 25, n. 3, p. 353-388, 2008. DOI: https://doi.org/10.1177/0741088308319229. Acesso em: 20 out. 2025.
LORIGA, S.; REVEL, J. Une histoire inquiète: les historiens et le tournant linguistique. Paris: EHESS/Gallimard/Seuil, 2022.
PASQUOTTE-VIEIRA, E. A. Letramentos acadêmicos: a aliança entre linguística e etnografia. Est. Ling., v. 44, n. 2, p. 695-710, 2015. Disponível em: https://bit.ly/4nylweq. Acesso em: 20 out. 2025.
PÊCHEUX, M. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Campinas: Unicamp, 2014.
RIBARD, D. Pratique(s) jésuite(s) de l’écrit : le P. Tournemine, les Mémoroires de Trévoux et Fénelon. Dix-septième siècle, n. 228, p. 513-526, 2005. DOI: https://doi.org/10.3917/dss.053.0513. Acesso em: 20 out. 2025.
ROBIN, R. Linguistique et histoire. Paris: Armand Collin, 1973.
STREET, B. Letramentos sociais: abordagens críticas do letramento no desenvolvimento, na etnografia e na educação. São Paulo: Parábola, 2015.
TROMBETTA, V. Letramentos e perspectiva discursiva dialógica: possibilidade de se observar a história de letramentos em textos escritos. Revista da Abralin, v. 20, n. 3, p. 1202-1218, 2021. DOI: https://doi.org/10.25189/rabralin.v20i3.1883. Acesso em: 20 out. 2025.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença

Este trabalho é licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 3.0 Unported License.
Os autores devem aceitar as normas de publicação ao submeterem a revista, bem como, concordam com os seguintes termos:
(a) O Conselho Editorial se reserva ao direito de efetuar, nos originais, alterações da Língua portuguesa para se manter o padrão culto da língua, respeitando, porém, o estilo dos autores.
(b) Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 3.0 Brasil (CC BY-NC-SA 3.0 BR) que permite: Compartilhar — copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato e Adaptar — remixar, transformar, e criar a partir do material. A CC BY-NC-SA 3.0 BR considera os termos seguintes:
- Atribuição — Você deve dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer circunstância razoável, mas de nenhuma maneira que sugira que o licenciante apoia você ou o seu uso.
- NãoComercial — Você não pode usar o material para fins comerciais.
- CompartilhaIgual — Se você remixar, transformar, ou criar a partir do material, tem de distribuir as suas contribuições sob a mesma licença que o original.
- Sem restrições adicionais — Você não pode aplicar termos jurídicos ou medidas de caráter tecnológico que restrinjam legalmente outros de fazerem algo que a licença permita.
