Letramentos acadêmicos no espaço da diferença colonial: reflexões sobre trajetórias de estudantes indígenas na pós-graduação
DOI:
https://doi.org/10.30612/raido.v13i33.9920Keywords:
Letramentos acadêmicos. Diferença colonial. Geopolítica. Corpo-política. Estudantes indígenas.Abstract
Situado no campo dos estudos sobre letramentos acadêmicos, este trabalho focaliza a relação entre produção de conhecimento e comunicação acadêmica, observada nas trajetórias de estudantes indígenas em cursos de pós-graduação. Nesta direção, adota uma perspectiva teórico-analítica que intersecciona epistemologia e práticas de letramentos no contexto acadêmico, buscando problematizar como e em que dimensões o contato entre diferentes genealogias epistemológicas e diferentes posicionamentos geo- e corpo-políticos impactam a produção de conhecimento e as práticas de letramentos desses estudantes. Estas reflexões são direcionadas por três objetivos relacionados: i) suscitar uma breve discussão teórica sobre o campo de estudos sobre Letramentos Acadêmicos, visando contribuir com sua descentralização epistemológica, a partir da problematização de situações e experiências que se emergem no espaço da diferença colonial; ii) analisar interlocuções com acadêmicos indígenas, geradas a partir de uma abordagem etnográfica, buscando demonstrar como diferenças étnico-raciais e culturais se materializam em posicionamentos geo- e corpo-políticos e, consequentemente, em diferentes perspectivas epistemológicas e de comunicação acadêmica; e iii) contribuir com a visibilização de dimensões consideradas relevantes das trajetórias de estudantes indígenas na pós-graduação e fornecer elementos que se somem às necessárias avaliações institucionais, especialmente quanto a sua permanência na universidade.Downloads
References
AROWAXEO’I TAPIRAPÉ, I. Artes da zona de contato e as práticas de bilinguajamento do povo Apyãwa (Tapirapé). Trabalho final de disciplina. Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística. Goiânia: UFG, 2019. Inédito.
BARTON; D.; HAMILTON, M.; IVANIČ, R. (eds.). Situated Literacies: reading and writing in context. London: Routledge, 2000.
BLOMMAERT, J.; JIE, D. Ethnographic Fieldwork: a beginner’s guide. Bristol/Buffalo/Toronto: Multilingual Matters, 2010.
BLOOME, D.; GREEN, J. The social and linguistic turns in studying language and literacy. In: ROWSSELL, J.; PAHL, K. (eds.). The Routledge handbook of literacy studies. New York: Routledge, 2015, p. 19-34.
CASTRO-GÓMEZ, S. Ciencias sociales, violencia epistémica y el problema de la “invención del otro”. In: LANDER, E. (org.). La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales Perspectivas latinoamericanas. Buenos Aires: CLACSO/Ediciones FACES/UCV, 2000, p. 145-161.
CASTRO-GÓMEZ, S. La hybris del punto cero: ciencia, raza e ilustración en la Nueva Granada (1750-1816). Bogotá: Editorial Pontificia Universidad Javeriana, 2005.
CASTRO-GÓMEZ, S. Decolonizar la universidad. La hybris del punto cero y el diálogo de saberes. In: CASTRO-GÓMEZ, S.; GROSFOGUEL, R. (orgs.) El giro decolonial: Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Universidad Javeriana-Instituto Pensar, Universidad Central-IESCO, Siglo del Hombre Editores, 2007, p.79-91.
CUSICANQUI, S. R. Un mundo ch’ixi es posible: ensayos desde um presente em crisis. Buenos Aires: Tinta Limón, 2019.
FABIAN, Johannes. Time and the Other: how Anthropology makes its object. New York: Columbia University Press, 1983.
GILMORE, P.; SMITH, D. M. Seizing academic power: Indigenous subaltern voices, metaliteracy, and counternarratives in Higher Education. In: MACCARTY, T. L. (ed.). Language, literacy and power in schooling. New Jersey/London: Lawrence Erlbaum, 2005, p. 67-88.
IPAXI’AWYGA TAPIRAPÉ, G. Primeiros passos Apyãwa no Mestrado. Trabalho final de disciplina. Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística. Goiânia: UFG, 2019. Inédito.
LEA, M.; STREET, B. Student writing in higher education: an academic literacies approach. Studies in Higher Education, vol. 23, n. 3, p. 157-172, p. 1998.
LEA, M.; STREET, B. The “Academic Literacies” Model: Theory and Applications. Theory into Practice, v. 45, n.4, 2006, p. 368-377.
LEA, M. R. Academic Literacies and Learning in Higher Education: Constructing knowledge through texts and experience. In: JONES, C.; TURNER, J.; STREET, B. Students Writing in the University: Cultural and Epistemological Issues. Amsterdam, Philadelphia: John Benjamins, 1999, p. 103-124.
LILLIS, T. Whose “Common Sense”? Essayist literacy and the institutional practice of mystery. In: JONES, C.; TURNER, J.; STREET, B. (orgs.). Students writing in the university: cultural and epistemological issues. Amsterdam: John Benjamins Publishing, 1999, p.127-140.
LILLIS, T. M. Student Writing: Access, regulation, desire. New York: Routledge, 2001.
LILLIS, T.; SCOTT, M. Defining academic literacies research: issues of epistemology, ideology and strategy. Journal of Applied Linguistics. v.4.1, p.5-32, 2007.
LILLIS, T.; TUCK, J. Academic literacies: a critical lens on writing and reading in the academy. In: HYLAND, K.; SHAW, P. (eds.). The Routledge Handbook of English for Academic Purposes. London: Routledge, 2016, p. 30-43.
LUCIANO, G. J. S. O papel da universidade sob a ótica dos povos e acadêmicos indígenas. In: NASCIMENTO, A. C.; FERREIRA, E. M. L.; COLMAN, R. S.; KRAS, S. M. (orgas.). Povos indígenas e sustentabilidade: saberes e práticas interculturais na universidade. Campo Grande: UCDB, 2009, p. 32-39.
LUCIANO, G. J. S. A Lei das Cotas e os povos indígenas: mais um desafio para a diversidade. Revista Forum, jan., 2013, p. 18-21.
MALDONADO-TORRES, N. Sobre la colonialidad del ser: contribuciones al desarrollo de un concepto. In: CASTRO-GÓMEZ, S.; GROSFOGUEL, R. (orgs.) El giro decolonial: Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Universidad Javeriana-Instituto Pensar, Universidad Central-IESCO, Siglo del Hombre Editores, 2007, p. 127-167.
MEHINAKU, M. Tetsualü: pluralismo de línguas e pessoas no Alto Xingu. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Programa de Pós-graduação em Antropologia Social/Museu Nacional. Rio de Janeiro: Iniversidade Federal do Rio de Janeiro, 2010.
MIGNOLO, Walter D. Histórias Locais/Projetos Globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Trad. de Solange Ribeiro de Oliveira. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.
MIGNOLO, W. D. Desobediencia epistémica: retórica de la modernidad, lógica de la colonialidad y gramática de la descolonialidad. Buenos Aires: Ediciones del Signo, 2010.
MIGNOLO, W. D. The darker side of Western Modernity: global futures, decolonial options. Durham/London: Duke University Press, 2011.
MIGNOLO, W. D. Desafios decoloniais hoje. Trad. Marcos de Jesus Oliveira. Epistemologias do Sul, v. 1, n. 1, 2017, p. 12-32.
MIGNOLO, W. D. Colonial/Imperial Differences: classifying and inventing global orders of lands, seas, and living organisms. In: MIGNOLO, W. D.; WALSH, C. On Decoloniality: concepts, analytics, praxis. Durham/London: Duke University Press, 2018, p. 178-193.
NASCIMENTO, A. M. Português Intercultural: fundamentos para a educação linguística de professores e professoras indígenas em formação superior específica numa perspectiva intercultural. München: Lincom Academic Publishers, 2012.
NASCIMENTO, A. M. “Se o índio for original”: a negação da coetaneidade como condição para uma indianidade autêntica na mídia e nos estudos da linguagem no Brasil. Trabalhos em Linguística Aplicada, v. 57, n.3, 2018, p.1413-1442.
OLIVEIRA, L. A. A. A formação de professores indígenas nas universidades no âmbito do PROLIND/MEC (2005-2010). Cadernos do GEA, n.10, 2016, p. 9-13.
PRATT, M. L. Arts of contact zone. Profession, 1991, p. 33-40.
QUIJANO, A. Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina. In: La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. Perspectivas latinoamericanas. Buenos Aires: CLACSO/Ediciones FACES/UCV, 2000, p.201-246.
SHAW, S.; COPLAND, F.; SNELL, J. An introduction to Linguistic Ethnography: interdisciplinary explorations. In: SNELL, J.; SHAW, S.; COPLAND, F. (eds.). Linguistic Ethnography: Interdisciplinary Explorations. New York: Palgrave Macmillan, 2015, p. 1-13.
SOUZA, N. C. S. Tensões e conflitos emergentes nas práticas de letramentos acadêmicos em contexto intercultural: construindo caminhos de resistência para ocupar o território do campo acadêmico. 2019. Dissertação (Mestrado em Letras e Linguística) – Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2019.
STREET, B. Academic writing: theory and practice. Journal of Educational Issues. v.1, n. 2, 2015, p. 110-116.
SUÁREZ-KRABBE, J. En la realidad. Hacia metodologías de investigación descoloniales. Tabula Rasa, n. 14, 2011, p. 183-204.
TIRADO, G. P. Violência epistémica y descolonización del conocimiento. Sociocriticism. v. XXIV, n. 1 y 2, 2009, p. 173-201.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS. Resolução CONSUNI Nº 07. Dispõe sobre a política de ações afirmativas para pretos, pardos e indígenas na Pós-Graduação stricto sensu na UFG. Goiânia, 2015.
ZAVALA, V. Quem está dizendo isso?: letramento acadêmico, identidade e poder na educação superior. In: VÓVIO, C.; SITO, L.; GRANDE, P. (orgs.). Letramentos: rupturas, deslocamentos e repercussões de pesquisa em linguística aplicada. Campinas: Mercado de Letras, 2010, p. 71-95.
Downloads
Published
How to Cite
Issue
Section
License
Os autores devem aceitar as normas de publicação ao submeterem a revista, bem como, concordam com os seguintes termos:
(a) O Conselho Editorial se reserva ao direito de efetuar, nos originais, alterações da Língua portuguesa para se manter o padrão culto da língua, respeitando, porém, o estilo dos autores.
(b) Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 3.0 Brasil (CC BY-NC-SA 3.0 BR) que permite: Compartilhar — copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato e Adaptar — remixar, transformar, e criar a partir do material. A CC BY-NC-SA 3.0 BR considera os termos seguintes:
- Atribuição — Você deve dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer circunstância razoável, mas de nenhuma maneira que sugira que o licenciante apoia você ou o seu uso.
- NãoComercial — Você não pode usar o material para fins comerciais.
- CompartilhaIgual — Se você remixar, transformar, ou criar a partir do material, tem de distribuir as suas contribuições sob a mesma licença que o original.
- Sem restrições adicionais — Você não pode aplicar termos jurídicos ou medidas de caráter tecnológico que restrinjam legalmente outros de fazerem algo que a licença permita.