Letramentos acadêmicos no espaço da diferença colonial: reflexões sobre trajetórias de estudantes indígenas na pós-graduação

Autores

  • André Marques do Nascimento Universidade Federal de Goiás (UFG)

DOI:

https://doi.org/10.30612/raido.v13i33.9920

Palavras-chave:

Letramentos acadêmicos. Diferença colonial. Geopolítica. Corpo-política. Estudantes indígenas.

Resumo

Situado no campo dos estudos sobre letramentos acadêmicos, este trabalho focaliza a relação entre produção de conhecimento e comunicação acadêmica, observada nas trajetórias de estudantes indígenas em cursos de pós-graduação. Nesta direção, adota uma perspectiva teórico-analítica que intersecciona epistemologia e práticas de letramentos no contexto acadêmico, buscando problematizar como e em que dimensões o contato entre diferentes genealogias epistemológicas e diferentes posicionamentos geo- e corpo-políticos impactam a produção de conhecimento e as práticas de letramentos desses estudantes. Estas reflexões são direcionadas por três objetivos relacionados: i) suscitar uma breve discussão teórica sobre o campo de estudos sobre Letramentos Acadêmicos, visando contribuir com sua descentralização epistemológica, a partir da problematização de situações e experiências que se emergem no espaço da diferença colonial; ii) analisar interlocuções com acadêmicos indígenas, geradas a partir de uma abordagem etnográfica, buscando demonstrar como diferenças étnico-raciais e culturais se materializam em posicionamentos geo- e corpo-políticos e, consequentemente, em diferentes perspectivas epistemológicas e de comunicação acadêmica; e iii) contribuir com a visibilização de dimensões consideradas relevantes das trajetórias de estudantes indígenas na pós-graduação e fornecer elementos que se somem às necessárias avaliações institucionais, especialmente quanto a sua permanência na universidade.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

André Marques do Nascimento, Universidade Federal de Goiás (UFG)

Doutor em Linguística. Professor Adjunto no curso de Licenciatura em Educação Intercultural e no Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística da Universidade Federal de Goiás.

Referências

AROWAXEO’I TAPIRAPÉ, I. Artes da zona de contato e as práticas de bilinguajamento do povo Apyãwa (Tapirapé). Trabalho final de disciplina. Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística. Goiânia: UFG, 2019. Inédito.

BARTON; D.; HAMILTON, M.; IVANIČ, R. (eds.). Situated Literacies: reading and writing in context. London: Routledge, 2000.

BLOMMAERT, J.; JIE, D. Ethnographic Fieldwork: a beginner’s guide. Bristol/Buffalo/Toronto: Multilingual Matters, 2010.

BLOOME, D.; GREEN, J. The social and linguistic turns in studying language and literacy. In: ROWSSELL, J.; PAHL, K. (eds.). The Routledge handbook of literacy studies. New York: Routledge, 2015, p. 19-34.

CASTRO-GÓMEZ, S. Ciencias sociales, violencia epistémica y el problema de la “invención del otro”. In: LANDER, E. (org.). La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales Perspectivas latinoamericanas. Buenos Aires: CLACSO/Ediciones FACES/UCV, 2000, p. 145-161.

CASTRO-GÓMEZ, S. La hybris del punto cero: ciencia, raza e ilustración en la Nueva Granada (1750-1816). Bogotá: Editorial Pontificia Universidad Javeriana, 2005.

CASTRO-GÓMEZ, S. Decolonizar la universidad. La hybris del punto cero y el diálogo de saberes. In: CASTRO-GÓMEZ, S.; GROSFOGUEL, R. (orgs.) El giro decolonial: Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Universidad Javeriana-Instituto Pensar, Universidad Central-IESCO, Siglo del Hombre Editores, 2007, p.79-91.

CUSICANQUI, S. R. Un mundo ch’ixi es posible: ensayos desde um presente em crisis. Buenos Aires: Tinta Limón, 2019.

FABIAN, Johannes. Time and the Other: how Anthropology makes its object. New York: Columbia University Press, 1983.

GILMORE, P.; SMITH, D. M. Seizing academic power: Indigenous subaltern voices, metaliteracy, and counternarratives in Higher Education. In: MACCARTY, T. L. (ed.). Language, literacy and power in schooling. New Jersey/London: Lawrence Erlbaum, 2005, p. 67-88.

IPAXI’AWYGA TAPIRAPÉ, G. Primeiros passos Apyãwa no Mestrado. Trabalho final de disciplina. Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística. Goiânia: UFG, 2019. Inédito.

LEA, M.; STREET, B. Student writing in higher education: an academic literacies approach. Studies in Higher Education, vol. 23, n. 3, p. 157-172, p. 1998.

LEA, M.; STREET, B. The “Academic Literacies” Model: Theory and Applications. Theory into Practice, v. 45, n.4, 2006, p. 368-377.

LEA, M. R. Academic Literacies and Learning in Higher Education: Constructing knowledge through texts and experience. In: JONES, C.; TURNER, J.; STREET, B. Students Writing in the University: Cultural and Epistemological Issues. Amsterdam, Philadelphia: John Benjamins, 1999, p. 103-124.

LILLIS, T. Whose “Common Sense”? Essayist literacy and the institutional practice of mystery. In: JONES, C.; TURNER, J.; STREET, B. (orgs.). Students writing in the university: cultural and epistemological issues. Amsterdam: John Benjamins Publishing, 1999, p.127-140.

LILLIS, T. M. Student Writing: Access, regulation, desire. New York: Routledge, 2001.

LILLIS, T.; SCOTT, M. Defining academic literacies research: issues of epistemology, ideology and strategy. Journal of Applied Linguistics. v.4.1, p.5-32, 2007.

LILLIS, T.; TUCK, J. Academic literacies: a critical lens on writing and reading in the academy. In: HYLAND, K.; SHAW, P. (eds.). The Routledge Handbook of English for Academic Purposes. London: Routledge, 2016, p. 30-43.

LUCIANO, G. J. S. O papel da universidade sob a ótica dos povos e acadêmicos indígenas. In: NASCIMENTO, A. C.; FERREIRA, E. M. L.; COLMAN, R. S.; KRAS, S. M. (orgas.). Povos indígenas e sustentabilidade: saberes e práticas interculturais na universidade. Campo Grande: UCDB, 2009, p. 32-39.

LUCIANO, G. J. S. A Lei das Cotas e os povos indígenas: mais um desafio para a diversidade. Revista Forum, jan., 2013, p. 18-21.

MALDONADO-TORRES, N. Sobre la colonialidad del ser: contribuciones al desarrollo de un concepto. In: CASTRO-GÓMEZ, S.; GROSFOGUEL, R. (orgs.) El giro decolonial: Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Universidad Javeriana-Instituto Pensar, Universidad Central-IESCO, Siglo del Hombre Editores, 2007, p. 127-167.

MEHINAKU, M. Tetsualü: pluralismo de línguas e pessoas no Alto Xingu. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Programa de Pós-graduação em Antropologia Social/Museu Nacional. Rio de Janeiro: Iniversidade Federal do Rio de Janeiro, 2010.

MIGNOLO, Walter D. Histórias Locais/Projetos Globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Trad. de Solange Ribeiro de Oliveira. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.

MIGNOLO, W. D. Desobediencia epistémica: retórica de la modernidad, lógica de la colonialidad y gramática de la descolonialidad. Buenos Aires: Ediciones del Signo, 2010.

MIGNOLO, W. D. The darker side of Western Modernity: global futures, decolonial options. Durham/London: Duke University Press, 2011.

MIGNOLO, W. D. Desafios decoloniais hoje. Trad. Marcos de Jesus Oliveira. Epistemologias do Sul, v. 1, n. 1, 2017, p. 12-32.

MIGNOLO, W. D. Colonial/Imperial Differences: classifying and inventing global orders of lands, seas, and living organisms. In: MIGNOLO, W. D.; WALSH, C. On Decoloniality: concepts, analytics, praxis. Durham/London: Duke University Press, 2018, p. 178-193.

NASCIMENTO, A. M. Português Intercultural: fundamentos para a educação linguística de professores e professoras indígenas em formação superior específica numa perspectiva intercultural. München: Lincom Academic Publishers, 2012.

NASCIMENTO, A. M. “Se o índio for original”: a negação da coetaneidade como condição para uma indianidade autêntica na mídia e nos estudos da linguagem no Brasil. Trabalhos em Linguística Aplicada, v. 57, n.3, 2018, p.1413-1442.

OLIVEIRA, L. A. A. A formação de professores indígenas nas universidades no âmbito do PROLIND/MEC (2005-2010). Cadernos do GEA, n.10, 2016, p. 9-13.

PRATT, M. L. Arts of contact zone. Profession, 1991, p. 33-40.

QUIJANO, A. Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina. In: La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. Perspectivas latinoamericanas. Buenos Aires: CLACSO/Ediciones FACES/UCV, 2000, p.201-246.

SHAW, S.; COPLAND, F.; SNELL, J. An introduction to Linguistic Ethnography: interdisciplinary explorations. In: SNELL, J.; SHAW, S.; COPLAND, F. (eds.). Linguistic Ethnography: Interdisciplinary Explorations. New York: Palgrave Macmillan, 2015, p. 1-13.

SOUZA, N. C. S. Tensões e conflitos emergentes nas práticas de letramentos acadêmicos em contexto intercultural: construindo caminhos de resistência para ocupar o território do campo acadêmico. 2019. Dissertação (Mestrado em Letras e Linguística) – Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2019.

STREET, B. Academic writing: theory and practice. Journal of Educational Issues. v.1, n. 2, 2015, p. 110-116.

SUÁREZ-KRABBE, J. En la realidad. Hacia metodologías de investigación descoloniales. Tabula Rasa, n. 14, 2011, p. 183-204.

TIRADO, G. P. Violência epistémica y descolonización del conocimiento. Sociocriticism. v. XXIV, n. 1 y 2, 2009, p. 173-201.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS. Resolução CONSUNI Nº 07. Dispõe sobre a política de ações afirmativas para pretos, pardos e indígenas na Pós-Graduação stricto sensu na UFG. Goiânia, 2015.

ZAVALA, V. Quem está dizendo isso?: letramento acadêmico, identidade e poder na educação superior. In: VÓVIO, C.; SITO, L.; GRANDE, P. (orgs.). Letramentos: rupturas, deslocamentos e repercussões de pesquisa em linguística aplicada. Campinas: Mercado de Letras, 2010, p. 71-95.

Downloads

Publicado

13.12.2019

Como Citar

Nascimento, A. M. do. (2019). Letramentos acadêmicos no espaço da diferença colonial: reflexões sobre trajetórias de estudantes indígenas na pós-graduação. Raído, 13(33), 66–92. https://doi.org/10.30612/raido.v13i33.9920

Edição

Seção

TEMÁTICA: PRÁTICAS LINGUÍSTICAS E (DES)COLONIALIDADES