Usos do texto numa turma de alfabetização
contribuições de um estudo etnográfico para a compreensão das práticas de leitura
DOI:
https://doi.org/10.30612/raido.v16i40.16375Palavras-chave:
alfabetização, leitura, sala de aula, etnografia, eventos de alfabetizaçãoResumo
Este artigo discute a leitura numa turma de 2º ano de uma escola pública analisando dois eventos de alfabetização: um observado numa aula de Língua Portuguesa e outro numa aula de Ciências Humanas e da Natureza. A perspectiva teórico-metodológica busca uma convergência entre “certa compreensão ético-crítico-política da educação” elaborada por Paulo Freire e uma perspectiva antropológica da escrita, com base nos Novos Estudos do Letramento (NEL), além de se assentar numa concepção de linguagem da Teoria da Enunciação de Bakhtin e seu Círculo. Na produção dos dados foram mobilizados diferentes instrumentos, tais como a observação participante, com notas em caderno de campo e entrevistas. As análises dos eventos indicaram que na aula de português, o texto era tratado superficialmente, por meio da leitura silenciosa e interpretação escrita individual, com ênfase na decifração, distanciando-se da produção de sentidos; nas aulas de Ciências Humanas e da Natureza foi possível observar uma perspectiva mais dialógica, com leitura coletiva e discussão de ideias. Nós argumentamos que o trabalho com os textos e a leitura no processo de alfabetização, sobretudo nas aulas de língua materna, pode ser mais fecundo quando se presta ao diálogo e à construção e ampliação de sentidos pelas crianças.
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