Negro, criança, cabelo de mola: aqui você não entra!(?)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.30612/raido.v15i37.14641

Palavras-chave:

Branquitude, Racialidade, Racismo, Barganha, Infância.

Resumo

Refletir sobre as relações étnico-racias, considerando as implicações históricas e políticas entre negros e de brancos na construção de uma ideologia racial que persiste, é tarefa necessária, uma vez que os contextos de racismo são protagonizados e sofridos diariamente no Brasil desde à infância. O presente artigo se propõe, sob esta lente, a analisar uma obra da literatura infantil discutindo, a partir do seu mote principal - a saber: a exclusão de uma criança negra por crianças brancas, baseada tão somente em cor de pele - as práticas discursivas elaboradas, analisando-as à luz dos debates sobre branquitude. A partir de discursividades retiradas do livro em tela, elegemos duas categorias de discussão: 1) “Todos olharam feio e desprezaram Eduardo por ele ser negro”, em que se refletem efeitos da branquitude desde a infância, na construção de sujeitos sociais e 2) “Tentou novamente se aproximar, dessa vez com bolinhas de gude”, tópico em que se discutem o sujeito negro e os movimentos de barganha que se impõem para adentrar no universo branco. Por fim, evidenciamos que a literatura analisada contribui mais para o reforço do privilégio branco, do que favorece um discurso na trilha da desconstrução de desigualdades raciais.

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Biografia do Autor

Erika de Sousa Mendonça, Universidade de Pernambuco

Érika de Sousa Mendonça
Psicóloga.
Doutora em Psicologia pela UFPE.
Professora Adjunta do Curso de Psicologia da Universidade de Pernambuco.
Professora do Mestrado Profissional em Culturas Africanas, da Diáspora e dos Povos Indígenas (PROCADI-UPE)

Suely Emilia de Barros Santos, Universidade de Pernambuco

Suely Emilia de Barros Santos
Doutora em Psicologia Clínica (UNICAP). Professora Adjunta do curso de Psicologia da Universidade de Pernambuco (UPE). Pesquisadora dos Programas de Pós-Graduação Psicologia Práticas e Inovação em Saúde Mental (PRISMAL), e Saúde e Desenvolvimento Socioambiental (PPGSDS). Coordena o grupo de pesquisa LACS/UPE/CNPq. Coordena a Residência Multiprofissional em Saúde Mental e o Serviço de Atenção Psicológica – SAP/UPE. Colaboradora na Residência em Saúde Coletiva e Agroecologia. Membro do GT – Prática Psicológica em Instituições: atenção, desconstrução e invenção da ANPEPP. E-mail: suely.emilia@upe.br

Tarcia Regina da Silva, Universidade de Pernambuco

Doutorado em Educação pela Universidade Federal da Paraíba (2014), mestrado em Educação pela Universidade Federal da Paraíba (2011) e graduação em Pedagogia pela Fundação de Ensino Superior de Olinda (1998). Professora adjunta da Universidade de Pernambuco.Coordenadora Institucional do Programa de Residência Pedagógica. Pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Culturas Africanas, da Diáspora e dos Povos Indígenas (PROCADI) e do Programa Pós-Graduação em Saúde e Desenvolvimento Socioambiental (PPGSDS). Coordenadora de Desenvolvimento de Graduação da Universidade de Pernambuco.

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Publicado

28.07.2021

Como Citar

Mendonça, E. de S., Santos, S. E. de B., & Silva, T. R. da. (2021). Negro, criança, cabelo de mola: aqui você não entra!(?). Raído, 15(37), 146–162. https://doi.org/10.30612/raido.v15i37.14641

Edição

Seção

Relações étnico-raciais, branquitude e os efeitos de sentido