Vozes do Necrotério Social: o que pessoas em situação de rua têm a falar?

Autores

  • Caroline Francielle Alves Universidade Estadual de Goiás (UEG)
  • Viviane Pires Viana Silvestre Universidade Estadual de Goiás (UEG)
  • Sostenes Cezar de Lima Universidade Estadual de Goiás (UEG)

DOI:

https://doi.org/10.30612/raido.v13i33.9769

Palavras-chave:

Pessoas em situação de rua. De(s)colonialidade. Silenciamento. Morte. Fala.

Resumo

Este artigo tem como objetivo problematizar, sob uma ótica de(s)colonial, a lógica da colonialidade que impera sobre as pessoas em situação de rua no Brasil. Para tanto, nos pautamos em Maldonado-Torres (2007, 2017, 2018), Quijano (2007), Spivak (2010), Mbembe (2016), entre outros/as. Trazemos um apanhado geral sobre as pessoas em situação de rua no país, discutindo o processo de desumanização e morte desses sujeitos e problematizamos a condição de fala da pessoa que se encontra socialmente morta. Apresentamos, então, duas narrativas de pessoas em situação de rua, buscando compreender o que esses indivíduos têm a falar, pois é preciso combater o silenciamento que está intricado em grupos sociais minorizados. Essas narrativas foram construídas por meio de conversas realizadas em duas instituições que atendem pessoas em situação de rua em uma cidade de médio porte do Estado de Goiás. Ao trazer à tona essas vozes do necrotério social (REZENDE, 2017), empreendemos um esforço de(s)colonial, na expectativa de possibilitar que a sociedade que assiste, ou até mesmo pratica, violência e morte desses indivíduos consiga construir um atitude mínima de solidariedade emocional com essas vítimas (MAYA NETO, 2018).

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Biografia do Autor

Caroline Francielle Alves, Universidade Estadual de Goiás (UEG)

Graduada em Letras - Português/inglês pela Universidade Estadual de Goiás (2016). Mestranda no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Educação, Linguagem e Tecnologias (PPG-IELT/UEG))

Viviane Pires Viana Silvestre, Universidade Estadual de Goiás (UEG)

É docente efetiva no curso de graduação em Letras: Português e Inglês (CCSEH) e no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Educação, Linguagem e Tecnologias (PPG-IELT) da Universidade Estadual de Goiás. Possui graduação em Letras: Português e Inglês (2005), mestrado (2008) e doutorado (2016) em Letras e Linguística pela Universidade Federal de Goiás. Realizou estágio doutoral (sanduíche no país/CNPq) na Universidade de São Paulo, sob supervisão da profa. Dra. Walkyria Monte Mór, e estágio de pós-doutoramento no PPGLL da UFG, sob supervisão da profa. Dra. Rosane Rocha Pessoa. Atualmente, participa do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) como coordenadora institucional do PIBID/UEG, Edital Capes n.7/2018. É uma das líderes do Grupo de Pesquisa "Formação de professoras/es de línguas" (UFG/CNPq) e pesquisadora integrante do Projeto Nacional de Letramentos: Linguagem, Cultura, Educação e Tecnologia (USP/CNPq). Interessa-se por pesquisas na área de educação linguística e formação de professores/as de línguas, com ênfase nos seguintes temas: colaboração, formação crítica docente, letramento(s) crítico(s), perspectivas de(s)coloniais, estágio supervisionado e Pibid.

Sostenes Cezar de Lima, Universidade Estadual de Goiás (UEG)

Graduado em Letras. Mestre e doutor em Linguística pela Universidade de Brasília (UnB), com pesquisa na área de Análise de Gêneros e Análise de Discurso Crítica. É docente no curso de Letras e no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Educação, Linguagem e Tecnologias (PPG-IELT), da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Câmpus Anápolis de Ciências Socioeconômicas e Humanas. Tem experiência em Linguística, com ênfase em Análise do Discurso Crítica, Análise Crítica de Gêneros, Sociolinguística e Educação em Língua Portuguesa.

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Publicado

13.12.2019

Como Citar

Alves, C. F., Silvestre, V. P. V., & Lima, S. C. de. (2019). Vozes do Necrotério Social: o que pessoas em situação de rua têm a falar?. Raído, 13(33), 28–54. https://doi.org/10.30612/raido.v13i33.9769

Edição

Seção

TEMÁTICA: PRÁTICAS LINGUÍSTICAS E (DES)COLONIALIDADES