A negritude pós-diáspora: entre cativeiros coloniais e potências sensíveis nas representações estético-visuais de videoclipes nacionais
between colonial captivity and sensible potencies in visual representations of Brazilian music videos
DOI:
https://doi.org/10.30612/nty.v13i21.19402Palavras-chave:
experiência negra, videoclipes de rap, cotidiano da negritude, estratégias estético-visuais, semiótica tensiva, pós-diásporaResumo
Este artigo tem como objetivo compreender a experiência negra em uma dimensão de tensão e significação (Zilberberg, 2006; 2011), localizada nos videoclipes nacionais “Crime Bárbaro” de Rincon Sapiência (2018) e “A Cena” de Rashid (2015), a fim de problematizar os efeitos do racismo no cotidiano brasileiro e as possibilidades de sobrevivência negra no Brasil contemporâneo. O argumento principal adota o entendimento de que as estratégias estético-visuais mobilizadas pelos artistas negros jogam com o olhar para tornar explícito o racismo sobre pessoas negras, ao passo que o cotidiano da negritude e as potências sensíveis são articuladas e tensionadas. A análise recorreu a proposta metodológica da semiótica tensiva para realizar a descrição dos elementos estético-visuais dos videoclipes de rap selecionados. Em seguida, realizou-se uma exploratória crítica dos achados, com suporte do debate racial proposto pela intelectualidade negra das Ciências Sociais. Identificou-se um conjunto de estratégias estético-visuais, como a tonificação das emoções corporificadas, a progressão tônica da representação da violência, os enquadramentos precisos e fechados, as transições espaciais e temporais e a aceleração vs. desaceleração do andamento e direção. Concluiu-se que a experiência da negritude pós-diáspora habita fluxos atemporais e lugares sobrepostos, aprisionada em cativeiros coloniais contínuos pela permanência dos efeitos da escravidão, os quais impedem a plena emancipação da população negra. Por outro lado, os videoclipes também mobilizaram estratégias de sobrevivência e de resistência, como a fuga e o enfrentamento, para evidenciar o constante processo de (re)criação, adaptação e negociação presente no conflito diário das pessoas negras no interior das estruturas de racialização.
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