A negritude pós-diáspora: entre cativeiros coloniais e potências sensíveis nas representações estético-visuais de videoclipes nacionais

between colonial captivity and sensible potencies in visual representations of Brazilian music videos

Autores

  • Jéser Abílio de Souza Doutorando em Relações Internacionais, IRI/PUC-Rio, Instituto de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro https://orcid.org/0000-0001-8168-0682
  • Maria Lidia Mattos Valdivia Doutoranda em Relações Internacionais, IRI/PUC-Rio, Instituto de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro https://orcid.org/0000-0001-5670-3985

DOI:

https://doi.org/10.30612/nty.v13i21.19402

Palavras-chave:

experiência negra, videoclipes de rap, cotidiano da negritude, estratégias estético-visuais, semiótica tensiva, pós-diáspora

Resumo

Este artigo tem como objetivo compreender a experiência negra em uma dimensão de tensão e significação (Zilberberg, 2006; 2011), localizada nos videoclipes nacionais “Crime Bárbaro” de Rincon Sapiência (2018) e “A Cena” de Rashid (2015), a fim de problematizar os efeitos do racismo no cotidiano brasileiro e as possibilidades de sobrevivência negra no Brasil contemporâneo. O argumento principal adota o entendimento de que as estratégias estético-visuais mobilizadas pelos artistas negros jogam com o olhar para tornar explícito o racismo sobre pessoas negras, ao passo que o cotidiano da negritude e as potências sensíveis são articuladas e tensionadas. A análise recorreu a proposta metodológica da semiótica tensiva para realizar a descrição dos elementos estético-visuais dos videoclipes de rap selecionados. Em seguida, realizou-se uma exploratória crítica dos achados, com suporte do debate racial proposto pela intelectualidade negra das Ciências Sociais. Identificou-se um conjunto de estratégias estético-visuais, como a tonificação das emoções corporificadas, a progressão tônica da representação da violência, os enquadramentos precisos e fechados, as transições espaciais e temporais e a aceleração vs. desaceleração do andamento e direção. Concluiu-se que a experiência da negritude pós-diáspora habita fluxos atemporais e lugares sobrepostos, aprisionada em cativeiros coloniais contínuos pela permanência dos efeitos da escravidão, os quais impedem a plena emancipação da população negra. Por outro lado, os videoclipes também mobilizaram estratégias de sobrevivência e de resistência, como a fuga e o enfrentamento, para evidenciar o constante processo de (re)criação, adaptação e negociação presente no conflito diário das pessoas negras no interior das estruturas de racialização.

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Biografia do Autor

Jéser Abílio de Souza, Doutorando em Relações Internacionais, IRI/PUC-Rio, Instituto de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Doutorando em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação do Instituto de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Pesquisador integrante do Grupo de Pesquisa NELC: Núcleo de Estudos Linguísticos e Culturais da UNESP/CNPq e do Grupo de Pesquisa GERAL: Grupo de Estudos sobre Raça e América Latina - UFMG/CNPq. Mestre em Ciência Política pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais. Pós-Graduando em História da África e da Diáspora Atlântica pelo Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos. Áreas de atuação: política internacional, política externa brasileira, identidade e representações, raça e gênero, metodologias interpretativas, estudos anti-/pós-/decoloniais e afrodiaspóricos e análises do discurso.

Maria Lidia Mattos Valdivia, Doutoranda em Relações Internacionais, IRI/PUC-Rio, Instituto de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Doutoranda em Relações no Instituto de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (IRI PUC-Rio) e bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Mestra em Relações Internacionais pelo mesmo programa. Membro do grupo de pesquisa INANA (UFRJ) com ênfase em feminismos dissidentes e do Laboratório de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares sobre o Continente Africano e as Afro-diásporas (Lepecad PUC-Rio).

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Publicado

2025-09-08

Como Citar

Souza, J. A. de, & Valdivia, M. L. M. (2025). A negritude pós-diáspora: entre cativeiros coloniais e potências sensíveis nas representações estético-visuais de videoclipes nacionais: between colonial captivity and sensible potencies in visual representations of Brazilian music videos. Revista Ñanduty, 13(21), 166–190. https://doi.org/10.30612/nty.v13i21.19402