Resistência bicha na literatura ctônica do Lampião da esquina
DOI:
https://doi.org/10.30612/raido.v15i38.14583Palavras-chave:
Literatura LGBT . Ditadura cis-hétero-militar. Literatura bicha. Resistência LGBT .Resumo
Pretendo desenvolver o conceito de “Literatura ctônica”, para adjetivar os textos publicados na coluna literária do Lampião da Esquina. Nesse sentido, seu valor transgressivo resulta do processo dialógico de recepção. Em minha leitura, essas literaturas habitavam uma zona de indeterminação: nem a margem nem o centro. Habitavam o subterrâneo. O ctônico traduz-se em uma relação agonística radical que expõe a ficcionalidade excludente da norma literária. Os sentidos fixados por ela “universalizam-se”, de modo que apagam sua identidade e seu particularismo branco, cis, heterossexual, magro, urbano, cristão, de classe. Todo o resto será julgado, criticado, valorado e excluído tendo por base a identidade ausente do “universal”. Assim, interpreto a transgressão lampiônica como uma possibilidade de sonhar, delirar concretamente a partir da resistência e da contestação bicha.
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