As negações do narrador em A hora da estrela e em sua tradução para a língua inglesa: (possíveis) interfaces entre a linguística sistêmico-funcional e a psicanálise
DOI:
https://doi.org/10.30612/raido.v15i37.12837Palavras-chave:
A Hora da Estrela, Tradução Literária, Linguística Sistêmico-Funcional, Psicanálise, Negação.Resumo
Esta pesquisa objetiva analisar ocorrências de negação na voz do narrador de A hora da estrela, de Clarice Lispector, em comparação com sua segunda tradução para a língua inglesa, de modo a explorar o papel discursivo da negação para a construção de sentidos subjetivos do narrador em relação à Macabéa, personagem principal. Esta análise pauta-se em estudos sobre negativas orientados pela Linguística Sistêmico-Funcional (Martin & Rose, 2007; Halliday, 2014; Pagano, 1994), em diálogo com o conceito de negação freudiano (FREUD, 2014). De forma complementar, nos respaldamos também em estudos que tratam da interrelação entre linguagem e psicanálise (DOMINE, 2015; FROTA, 2013, 2015). A análise dos dados localiza-se nas ocorrências em que a marca da negação sinaliza textualmente o inconsciente recalcado do narrador projetado em Macabéa, de quem ele tenta se desvincular. Em seguida buscamos estabelecer um diálogo entre os discursos de negação expressos a partir de uma perspectiva textual e os que se fundamentam na psicanálise. As análises indicam que as negações do narrador revelam seu incômodo próprio projetado em Macabéa. Ao negar-se na personagem, o narrador acaba por reconhecer-se nela, o que foi possível de ser percebido graças à presença da negação em seu texto.
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