Capitão Rodrigo Cambará atravessa o portal entre literatura e história

Resumo

A distinção entre história e ficção é imprecisa. A literatura pode apresentar narrativas de ficção como se fossem reais, acontecidas, trazendo personagens reais para a ficção literária. Há semelhanças entre a narrativa histórica e o relato ficcional uma vez que os dois discursos se estruturam da mesma maneira, e da mesma maneira lhes é dado sentido. Whit estabelece uma estreita relação entre historiografia e literatura e textos de ficção. Ao ser possível que um personagem histórico vá ao mundo fictício, torna-se possível o contrário. E foi o que aconteceu quando a figura do gaúcho, ser mitológico e herói; passou ao imaginário popular, não como o homem de ontem, tal qual era, roto e maltrapilho, ladrão de cavalos, mas um ser ideal que  venha materializar a necessidade de uma identidade a ser construída da qual possamos nos orgulhar. A imagem do gaúcho pode ter se construído com a ajuda de um personagem literário; Rodrigo Cambará, que veio se instalar no imaginário do povo gaúcho. O Capitão veio emprestar sua identidade aos gaúchos que optaram por imprimir sua imagem à imagem de um ser quase mitológico, Capitão Rodrigo Cambará. Da arte, formou-se a vida. A literatura e a nostalgia fabricaram o respeito que o gaúcho queria para si. Os Riograndenses preferiram a sua história contada por Erico Verissimo em vez de por historiadores.