Direito internacional, descolonização, desenvolvimento: uma releitura da ideia de Estado a partir das TWAILS (Abordagens Terceiro-Mundistas do Direito Internacional).

Autores

DOI:

https://doi.org/10.30612/videre.v14i19.12803

Palavras-chave:

TWAIL, Direito Internacional, Descolonização, Desenvolvimento

Resumo

A dimensão jurídica dos problemas da pobreza e do desenvolvimento é frequentemente negligenciada pelos operadores do Direito Internacional. Da mesma forma, algumas análises do fracasso do Estado no objetivo de erradicar a pobreza esquecem as condicionalidades que surgem da formação e estabelecimento do Estado como unidade política internacionalmente aceitável por excelência. Em um sentido histórico, o Direito não é apenas criado pelo Estado, mas também o cria, moldando a realidade com base em várias exigências da visão de mundo da modernidade-colonialidade. Este artigo explora a ideia de Estado e seus usos na perspectiva das Abordagens do Terceiro Mundo ao Direito Internacional e de outros pensadores relevantes do Sul Global, em especial Quijano, Gonzales, Lugones, Mbembe e Sousa Santos, com o objetivo de articular o papel do Direito como um instrumento do colonialismo e a formação histórica dos Estados do Terceiro Mundo. Utilizando o método de pesquisa bibliográfica, este artigo descreve como eurocentrismo, raça e gênero operaram como traços centrais do empreendimento colonial e continuam a fazê-lo após a descolonização, eminentemente pela noção de desenvolvimento. Nesse sentido, ainda há um viés colonial no Direito e uma verdadeira descolonização só será possível com uma abordagem anamnética da ideia de Estado e de suas funções na história. 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Lucas Daniel Chaves de Freitas, Universidade de Brasília

Doutorando em Direito, Estado e Constituição, Mestre em Desenvolvimento e Cooperação Internacional e Graduado em Direito pela Universidade de Brasília. Especialista em Direito Eleitoral pelo Centro Universitário de Brasília.

Referências

ABRAMS, Philip. Notes on the Difficulty of Studying the State (1977). Journal of Historical Sociology, v. 1, n. 1, p. 58–89, 1988.

BARRETO, Jose-Manuel. Can we decolonise human rights? Open Democracy, ago. 2013. Acesso em: <https://www.opendemocracy.net/openglobalrights/jose-manuel-barreto/can-we-decolonise-human-rights>.

CALVEIRO, Pilar. Violencias de Estado: la guerra antiterrorista y la guerra contra el crimen como medios de control global. Buenos Aires: Siglo XXI Argentina, 2012.

COELHO, André Luiz. Um Novo Modelo de Destituição de Mandatários ou a Releitura de Velhas Práticas?: Reflexões sobre a instabilidade presidencial contemporânea na América Latina. Revista Brasileira de Estudos Políticos, n. 113, 2016, p. 11-50.

D’ASPREMONT, Jean. Comparativism and Colonizing Thinking in International Law. SSRN Electronic Journal, 20 out. 2020. Disponível em < https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=3566052 >. Acesso em 6 out. 2020.

ESLAVA, Luis; BUCHELY, Lina. Security and development? A story about petty crime, the petty state and its petty law. Revista de Estudios Sociales, v. 2019, n. 67, p. 40–55, 2019.

ESLAVA, Luis; PAHUJA, Sundhya. The state and international law: A reading from the global south. Humanity, v. 11, n. 1, p. 118–138, 2020.

ESLAVA, Luis. TWAIL Coordinates. Critical Legal Thinking. 2 abr. 2019. Consultado em 25 set. 20202. Disponível em: <https://criticallegalthinking.com/2019/04/02/twail-coordinates/#translation>. Acesso em 6 out. 2020.

FITZPATRICK, Peter. The Mithology of Modern Law. Londres: Routlegde, 1992.

FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: Editora Nau, 2005.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 23ª ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2007.

GALINDO, George Rodrigo Bandeira. Para que serve a história do direito internacional? Revista de Direito Internacional, v. 12, n. 1, p. 27–29, 2015. Disponível em < https://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/rdi/article/view/3368 >. Acesso em 6 out. 2020.

GALINDO, George Rodrigo Bandeira. Martti Koskenniemi and the historiographical turn in international law. European Journal of International Law, v. 16, n. 3, p. 539–559, 2005. Disponível em < http://www.ejil.org/pdfs/16/3/308.pdf >. Acesso em 6 out. 2020.

GOMES, Ana Suelen Tossige; MATOS, Andityas Soares de Moura Costa. O estado de exceção no Brasil republicano / The state of exception in Brazilian Republic. Revista Direito e Práxis, v. 8, n. 3, p. 1760–1787, 2017. Disponível em <https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistaceaju/article/view/21373>. Acesso em 26 set. 2020.

GONZALES, Lélia. A categoria político-cultural de amefricanidade. Tempo Brasileiro, n. 92, p. 69–82, 1988.

GONZALES, Lélia. Racismo e Sexismo Na Cultura Brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje, v. Anpocs, p. 223–243, 1984.

HEIDEMANN, Francisco G.. Do sonho do progresso às políticas de desenvolvimento. In Políticas Públicas e Desenvolvimento – Bases epistemológicas e modelos de análise. 2ª ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2010.

KOSKENNIEMI, Martii. The Gentle Civilizer of Nations: The Rise and Fall of International Law. Cambridge: Cambridge University Press, 2001.

LORCA, Arnulf Becker. Legal Thinking and Political Imagination. Harvard International Law Journal. v. 47, n. 1, 2006. Disponível em: <http://ssrn.com/abstract=1370389>. Acesso em 6 out. 2020.

LUGONES, María. Colonialidade y Género. Tabula Rasa, n. 9, p. 73–101, 2008. Disponível em: <http://repositorio.unan.edu.ni/2986/1/5624.pdf>. Acesso em 6 out. 2020.

MELOSSI, Dario. El Estado de control social. México: Siglo XXI Editores, 1992.

MUTUA, Makau; ANGHIE, Antony. What is TWAIL? Proceedings of the Annual Meeting (American Society of International Law. v. 94 abr 5-8, 2000, pp. 31-40.

O’DONNELL, Guillermo. The State as Law: Contributions and Ambivalences. Democracy, Agency, and the State: Theory with Comparative Intent. Nova York: Oxford University Press, 2010.

PAHUJA, Sundhya, Decolonising international law: development, economic growth and the politics of universality, Cambridge: Cambridge University Press, 2011.

PAHUJA, Sundhya. The Poverty of Development and the Development of Poverty in International Law. In: Select Proceedings of the European Society of International Law. Oxford: Oxford University Press, 2012. Disponível em: <https://papers.ssrn.com/abstract=3100654>. Acesso em 26 set. 2020.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do Poder, Eurocentrismo e América Latina. A colonialidade do saber. In: Eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas, p. 227–278, 2005.

QUIJANO, Aníbal. El Trabajo. Argumentos - UAM Xochimilco, n. 72, p. 145–163, 2013. Disponível em: <http://www.scielo.org.mx/pdf/argu/v26n72/v26n72a8.pdf>.. Acesso em 6 out. 2020.

RAJAGOPAL, B. International law from below: Development, social movements, and Third World resistance. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

RÍOS-FIGUEROA, Julio. The “New Militarism” and the Rule of Law in Latin American Democracies. In: SIEDER, Rachel; Ansolabehere, Karina; Alfonso, Tatiana. Routledge Handbook of Law and Society Latin America. Abingdon: Routledge, 2019.

ROSER, Max; ORTIZ-OSPINA, Esteban. Global Extreme Poverty. Ourrworldindata.org. Disponível em https://ourworldindata.org/extreme-poverty. Acesso em 6 out. 2020.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Para além do Pensamento Abissal: Das linhas globais a uma ecologia de saberes. Revista Crítica de Ciências Sociais, 78, 2007, 3-46.

SANTOS, Boaventura de Sousa. A cruel pedagogia do vírus. Coimbra: Edições Almedina, 2020.

SCHMITT, CARL. O Conceito do Político. Coimbra: Almedina, 2015.

TODOROV, Tzevan. A conquista da América: a questão do outro. 4ª ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010.

Downloads

Publicado

2022-07-29

Como Citar

Freitas, L. D. C. de. (2022). Direito internacional, descolonização, desenvolvimento: uma releitura da ideia de Estado a partir das TWAILS (Abordagens Terceiro-Mundistas do Direito Internacional). Revista Videre, 14(29), 68–94. https://doi.org/10.30612/videre.v14i19.12803

Edição

Seção

Artigos