Cultura, identidade e resistência: a música preta como expressão de afirmação

Black Music as an Expression of Affirmation

Autores

DOI:

https://doi.org/10.30612/nty.v13i21.19390

Palavras-chave:

Música Preta Brasileira, Diáspora africana, Resistencia cultural, Identidade negra

Resumo

Este artigo explora a música e as expressões culturais da diáspora africana como formas fundamentais de produção de conhecimento, memória e resistência. A Música Preta Brasileira, é analisada como um reflexo de uma vivência sócio-histórica que se entrelaça com movimentos políticos e culturais de resistência, transcendendo a mera produção musical das pessoas negras (Botelho, 2023). A partir dos conceitos de Maafa (Ani, 1994; Nobles, 2009), que descreve o sofrimento histórico dos povos africanos devido à escravização, e do "Estado de Maafa" (Njeri, 2020), que expande essa perspectiva para as consequências duradouras dessa tragédia nas diásporas africanas, discutimos a importância das manifestações culturais afro-brasileiras, como quilombos e capoeira, como formas de reconstrução identitária e resistência. Nesse contexto, a música emerge como uma ferramenta crucial para a recuperação e fortalecimento da identidade negra, ajudando a mitigar os danos causados pelo genocídio cultural e racial. O artigo se concentra na música como uma estratégia de resistência desde o período da escravização, quando ela foi utilizada para fortalecer a identidade coletiva dos cativos e resistir às opressões. Assim, a música preta não se limita a um gênero específico, mas representa uma expressão contínua de luta e sobrevivência. Além disso, este estudo examina o papel das mulheres negras na música popular brasileira, destacando como suas contribuições frequentemente foram ignoradas ou marginalizadas (Werneck, 2013). Através de exemplos como o blues e o samba, evidenciamos como essas mulheres desafiaram o patriarcado e o racismo, criando formas de expressão que continuam a afirmar sua identidade e resistência no cenário musical contemporâneo.

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Biografia do Autor

Caroline Rodrigues Ferreira, UFRGS

Psicóloga clínica e social. Mestra em Psicologia Social e Institucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), pesquisando sobre relações raciais, feminismo negro e saúde mental. Especialista em Musicoterapia na Faculdade Venda Nova do Imigrante (FAVENI). Formada em 2019 pelo Centro Universitário Metodista IPA e formação em Acompanhamento Terapêutico pela Acurarte. Coautora do livro “Antigos e novos paradigmas: uma abordagem interdisciplinar na construção do conhecimento”, lançado em 2016e coautora do livro “Encruzilhadas históricas e culturais”, lançado em 2024.Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Social, atuando principalmente nos seguintes temas: psicologia, feminismo negro, música, cultura, racismo e interseccionalidade.

Rosane Azevedo Neves da Silva, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Programa de Pós Graduação em Psicologia Social e Institucional PPGPSI-UFRGS

Professora Titular do Departamento de Psicologia Social e Institucional do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Possui Graduação em Psicologia (1980), Especialização em Psicologia Escolar (1983), Mestrado em Psicologia Social e da Personalidade (1991) e Doutorado em Educação (2001). Participa da Linha de Pesquisa "Clínica, subjetividade e política" do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional, desenvolvendo o projeto "Políticas de subjetivação e produção de conhecimento na Psicologia Social contemporânea". ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6486-0630

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Publicado

2025-09-08

Como Citar

Ferreira, C. R., & Silva, R. A. N. da. (2025). Cultura, identidade e resistência: a música preta como expressão de afirmação: Black Music as an Expression of Affirmation. Revista Ñanduty, 13(21), 254–274. https://doi.org/10.30612/nty.v13i21.19390