Paisagens portuárias

Uma etnografia das relações entre humanos e pombos no porto de Santos

Authors

  • Sarah Faria Moreno PPGAS/UFRGS

DOI:

https://doi.org/10.30612/nty.v9i13.15552

Keywords:

Humanos e animais, Porto de Santos, Cidades

Abstract

Portos são lugares de trânsito de pessoas, mas, sobretudo, das mais diversas cargas. Neste artigo demonstro, a partir de uma pesquisa etnográfica sobre a relação entre humanos e animais, como é a paisagem portuária em Santos – SP. Para além de um simples cais onde atracam navios para que realizem a carga e descarga dos mais variados produtos, uma vez ali, é possível entender que há uma série de sujeitos humanos e não humanos interatuando não como agentes isolados, mas compondo esta paisagem conjuntamente. As reflexões propostas aqui partem de uma pesquisa que teve como foco as relações entre pessoas e pombos urbanos, animais considerados pragas no contexto portuário de Santos, onde foi instituído um programa de controle para que estas aves, cuja população aumentava a cada ano devido à expansão das atividades portuárias, não causassem danos à saúde ou à economia. Ao acompanhar este programa de controle, ficou claro que olhar para os pombos no porto significava olhar para uma série de sujeitos outros ali presentes, cada qual à sua maneira, como: trabalhadores, grãos, maquinários, instituições e autoridades, animais, edificações, barreiras físicas para o controle de animais, entre tantos outros. A partir desta etnografia, bem como de um resgate histórico do porto por meio de notícias, é possível admitirmos, por fim, que o porto possui sua própria ecologia, que abarca, principalmente, sujeitos indesejados humanos e não humanos que parecem não pertencer a qualquer outro lugar e configuram ideias de desordem e impureza.

Downloads

Download data is not yet available.

References

ABREU DA SILVEIRA, Flávio Leonel; PEREIRA DA SILVA, Matheus Henrique. Urubus-de-cabeça-preta (Coragyps atratus), garças-brancasgrandes (Ardea alba) e peixeiros na pedra do peixe: experiências conviviais interespecíficas na cidade. Iluminuras, Porto Alegre, v. 18, n. 45, p. 432-450, ago/dez, 2017.

ANDREU, Carolina Toledo. Avifauna aquática do complexo estuarino de Santos-Cubatão: diversidade, riqueza, composição e status de conservação. 2019. Dissertação (Mestrado em Biodiversidade de Ambientes Costeiros) Universidade Estadual de São Paulo.

APROBATO FILHO, N. O Couro e o Aço: sob a mira do moderno: a ‘aventura’ dos animais pelos ‘jardins’ da Paulicéia, final do século XIX/início do século XX. 2006. Tese (Doutorado em História Social). Universidade de São Paulo.

AUGÉ, Marc. Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. Campinas: Papirus, 2012.

BEVILAQUA, Ciméa. Espécies invasoras e fronteiras nacionais: uma reflexão sobre os limites do Estado. Anthropologicas, v.24, n.1, p. 104-123, 2013.

BEVILAQUA, Ciméa. “Direito(s) e agências não-humanas: como julgar os atos de um animal?” In: BEVILAQUA, C. & VANDER VELDEN, F. (orgs.), Parentes, vítimas, sujeitos: perspectivas antropológicas sobre relações entre humanos e animais. Curitiba: Ed. UFPR; São Carlos: EdUFSCar, 2016.

BORSELLINO, Laura. Animales liminales en la urbe: Espacios, resistencia y convivencia. Revista Latinoamericana de Estudios Criticos Animales. Ano II, vol. I, 2015.

BLUME, Luís Henrique dos S. “O Porto Maldito: modernização, epidemias e moradia da população pobre em Santos no final do século XIX”. In: FENELON, Déa Ribeiro (org.). Cidades. vol. 1. São Paulo: Olho D'Água, 1999.

CARRIÇO, José Marques. O Plano de Saneamento de Saturnino de Brito para Santos: construção e crise da cidade moderna. Risco: revista de pesquisa em arquitetura e urbanismo da IAU/USP, n.22, v.2, p. 30-46, 2015.

CUNHA, Icaro A. da. Fronteiras da gestão: os conflitos ambientais das atividades portuárias. Revista de Administração Pública. v. 40, n. 6, p. 1019-1040, 2006.

DOUGLAS, Mary. Pureza e perigo: ensaio sobre a noção de poluição e tabu. Rio de Janeiro: Edições 70, 1991.

FARAGE, Nádia. “De ratos e outros homens: resistência biopolítica no Brasil moderno”. In: LÉPINE, C; HOFBAUER, A; SCHWARCZ, L. M. (Org.) Manuela Carneiro da Cunha: o lugar da cultura e o papel da Antropologia. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2011.

HARAWAY, Donna. Staying with the Trouble. Durham and London: Duke University Press, 2016.

IBAMA. Instrução Normativa nº 141, de 19 de dezembro de 2006: Regulamenta o controle e o manejo ambiental da fauna sinantrópica nociva.

IBAMA. Instrução Normativa nº 03, de 31 de janeiro de 2013: Decreta a nocividade do Javali e dispõe sobre o seu manejo e controle.

INGOLD, Tim. The perception of the environment. London: Routledge, 2000.

JEROLMAK, Colin. How pigeons became rats: The Cultural-Spatial Logic of Problem Animals. Social Problems, vol. 55, n.1, p. 72–94, 2008.

JEROLMAK, Colin. The global piegon. Chicago: University of Chicago Press, 2013.

LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos. São Paulo: Anhembi, 1957.

LOPES, Betralda. O Porto de Santos e a febre-amarela. 1975. Dissertação (Mestrado em História). Universidade de São Paulo.

MAXIMINO, Eliete P. B. O meio ambiente portuário e a arqueologia histórica industrial: o caso do Porto de Santos. eGesta – Revista Eletrônica de Gestão de Negócios. v.3, n.4, p. 1-18, 2007.

MORENO, Sarah F. As múltiplas maneiras de ser dos pombos e seus afetos: como pombos e outras aves cativam os seres humanos. Mediações, Londrina, v. 24 n. 3, set.-dez, 2019a.

MORENO, Sarah F. Presenças incômodas no Porto de Santos: Uma etnografia das relações entre humanos, pombos, grãos e outros sujeitos. 2019. Dissertação (Mestrado em Antropologia) Universidade Federal de São Carlos.

OSÓRIO, Andréa. A cidade e os animais: expulsão, proteção e novas sensibilidades urbanas entre os séculos XIX e XXI. Teoria e Sociedade, Belo Horizonte, n. 21.1, jan./jun., 2013.

SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada: Ensaio de ontologia fenomenológica. Petrópolis:Vozes, 2007.

SICK, Helmut. Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

SORDI, Caetano. Presenças ferais: invasão biológica, javalis asselvajados (Sus scrofa) e seus contextos no Brasil Meridional em perspectiva antropológica. 2017. Tese (Doutorado em Antropologia). Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Published

2021-06-23

How to Cite

Moreno, S. F. (2021). Paisagens portuárias: Uma etnografia das relações entre humanos e pombos no porto de Santos. Revista Ñanduty, 9(13), 272–301. https://doi.org/10.30612/nty.v9i13.15552

Issue

Section

Dossiê - Humanos e outros que humanos em paisagens multiespecíficas