O Outro interno odiado: racismo e (in)segurança ontológica nos discursos da política externa brasileira

Autores

DOI:

https://doi.org/10.30612/rmufgd.v12i24.16746

Palavras-chave:

Raça e Racismo, Política Externa Brasileira, Segurança Ontol´ógica

Resumo

A partir de diálogos mais aprofundados entre a política externa brasileira (PEB) e lentes analíticas pós-estruturalistas (principalmente inspiradas pela psicanálise lacaniana) e pós-coloniais, bem como tendo em vista a lacuna em torno de temas de raça e racismo nos estudos da PEB, este trabalho busca posicionar a questão racial, especialmente o mito da democracia racial, como o verdadeiro alicerce das leituras da identidade brasileira, bem como dos cálculos de preferências e interesses de suas elites. Entendendo “política externa” como uma prática discursiva de construção de fronteiras, o conceito de (in)segurança ontológica é central neste artigo. Privadas do status de cidadãs, as populações negras e indígenas foram (e são) excluídas das narrativas identitárias que definem quem e para quem é o Brasil, de modo que a estabilidade da identidade do brasileiro prevê, necessariamente, a insegurança ontológica (e todas as violências que a ela acompanham) de grande parte da população que habita em seu território. Ao mesmo tempo, faz-se necessário interrogar as condições de possibilidade que permitem, de forma ambígua, que sejam sustentados discursos de Política Externa que afirmam exatamente o contrário, dando centralidade ao componente racial negro e indígena na identidade (inter)nacional do país, mascarando o encarceramento em massa e o genocídio aos quais essas populações são submetidas.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Camila Amorim Jardim, Instituto de Relações Internacionais PUC-Rio

Doutoranda em Relações Internacionais pelo IRI PUC-Rio

Referências

ALFONSO, Daniel A. Bolsonaro’s take on the ‘absence of racism’ in Brazil. Race and Class. v. 00, n. 0, pp 1-17, 2019.

ALTEMANI, H. (2005) Política Externa Brasileira. São Paulo: Saraiva, 2005. 289 p

AMORIM, Camille; SILVA, André Luiz Reis. O Itamaraty e o Movimento Negro: interesses, ideias e práticas nas relações Brasil-África. Revista Brasileira de Ciência Política. n. 35, 2021.

ANIEVAS, A; MANCHANDA, N; SHILLIAM, R. (2015). Confronting the global colour line: an introduction. ANIEVAS, A; MANCHANDA, N; SHILLIAM, R. (2015). In: Race and Racism in International Relations: confronting the global colour line. pp. 1-15.

BERENSKOETTER, Felix. Parameters of a National Biography. European Journal of International Relations. [s.l.], v. 20, n. 1, p. 262-88, 2014.

BHABHA, H. (1990) The Third Space: Interview with Homi Bhabha, in Rutherford, J. (ed) Identity, Community, Culture, Difference, London, Lawrence & Wishart, 1990.

BIONDI, L. (s.a.) Imigração. In: Centro De Pesquisa E Documentação De História Contemporânea Do Brasil. Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro. Disponível em: <https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/IMIGRA%C3%87%C3%83O.pdf > Acesso em: 20 jan. 2023.

BROWNING, C.S. (2015). Nation Branding, National Self-Esteem, and the Constitution of Subjectivity in Late Modernity. Foreign Policy Analysis. n.11, pp.195–214

BROWNING, C.S.; JOENNIEMI, P.(2017) Ontological security, self-articulation and the securitization of identity. Cooperation and Conflict. Vol 52, Issue 1.

BOLSONARO, J. (2018) Discurso transmitido na Avenida Paulista. 22 de Outubro , 2018.

CAMPBELL, D. (1992) Writing Security: United States Foreign Policy and the Politics of Identity. Minneapolis: University of Minnesota Press. 269 p.

CARLSNAES, Walter. Actors, structures and foreign policy analysis. In: Smith, Steve, Hadfield, Amelia, et al. Foreign policy: theories, actors, cases. Oxford: Oxford University Press, 2008.

CERVO, A. L. (2008). Inserção internacional: formação dos conceitos brasileiros. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. v. 1. 297p .

CICALO, A. (2013) From Racial Mixture to Black Nation: Racialising Discourse in Brazil’s African Affairs. Bulletin of Latin American Research. 33, n.1

CROFT, S. and VAUGHAN-WILLIAMS, N. (2017) Fit for Purpose? Fitting Ontological Security Studies “into” the discipline of International Relations: Towards a Vernacular Turn. Cooperation and Conflict, 52, n.1

DARBY, P. and PAOLINI, A (1994): “Bridging International Relations and Postcolonialism”, Alternatives.

EBERLE, J. (2017) Narrative, desire, ontological security, transgression: fantasy as a factor in international politics. Journal of International Relations and Development. v. 22 n.4, p. 1-26, Maio, 2017.

EDKINS, J.; PIN-FAT, V. “The Subject of the Political”. In: EDKINS, J. PERSRAM, N., PIN-FAT, V. (eds): Sovereignty and Subjectivity. London: Lynne Rienner Publishers, pp.1-18.

EPSTEIN, C. (2010) Who speaks? Discourse, the subject and the study of identity in international politics. European Journal of International Relations. 17 (2) pp.327-350

ESTEVES, P.; FONSECA, J. M. ; GOMES, G. Z. (2016) Is there a Brazilian solution for every African problem? Brazilian Health Cooperation in Angola (2006-2015). Carta Internacional (USP), v. 11, p. 152, 2016.

FANON, F. (1961). The Wretched of the Earth. Grove Press.

FERNANDES, M.; GAMA, C.F.P.S. (2016) Modernization in-between: The ambivalent role of Brazil in contemporary peacebuilding efforts in Africa. In: KENKEL, K.M. and CUNLIFFE, P. Brazil as a Rising Power: Intervention Norms and the Contestation of Global Order. New York: Routledge. pp.65-80.

FERREIRA, R.F. (2002) O Brasileiro, o racismo silencioso e a emancipação do afrodescendente. Psicologia e Sociedade, 14 (1): 69-86; jan/jun.

GIDDENS, A. (1991). The Consequences of Modernity. Polity Press. 186p. GUZZINI, S. (ed.) (2012). The Return of Geopolitics in Europe? Social Mechanisms and Identity Crises. Cambridge Studies in International Relations.

GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural de amefricanidade. Tempo brasileiro. Rio de Janeiro, v. 92, n. 93, p. 69-82, 1988.

GUZZINI, S. The return of geopolitics in Europe? Social mechanisms and foreign policy identity crises. Cambridge: Cambridge University Press, 2012.

HALL, S. (2017) The Fateful Triangle: Race, Ethnicity, Nation. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press. 229p.

HANSEN, L. (2006) Security as Practice: Discourse analysis and the Bosnian War. London and New York: Routledge. 239p.

HERMANN, Charles F. Changing course: when governments choose to redirect foreign policy. International Studies Quarterly, v. 34, n. 1, p. 3-21, 1990.

HENDERSON, E.A. Hidden in plain sight: Racism in international relations theory. In: ANIEVAS, A; MANCHANDA, N; SHILLIAM, R. (2015). Race and Racism in Internacional Relations: confronting the global colour line. pp. 19-43.

KINNVALL, C. (2017) Feeling ontologically (in)secure: States, traumas and the governing of gendered space. Cooperation and Conflict. Vol 52, Issue 1.

KINNVALL, C. and MITZEN, J. (2017) An introduction to the special issue: Ontological securities in world politics. Cooperation and Conflict. Vol 52, Issue 1, pp. 3 – 11. Available at: https://doi.org/10.1177/0010836716653162

KRISHNA, S. (2002) In one innings: National identity in postcolonial times. In: CHOWDRY, G. and NAIR, S. Power, Postcolonialism and International Relations: Reading race, gender and class. Routledge, 324p.

LAFER, Celso. A identidade internacional do Brasil e a Política Externa Brasileira: Passado, Presente e Futuro. 2ª Edição. São Paulo: Perspectiva, 2014.

LIMA, M. R. S. (2005) A política externa brasileira e os desafios da cooperação Sul-Sul. Revista Brasileira de Política Internacional,v. 48, n.1. 2005. p. 24-59.

MBEMBE, A. (2017) Critique of Black Reason. Durham: Duke University Press. 215p.

MESQUITA, Gustavo. The Rise and Fall of the Anti-Racism Agenda in Brazil from Lula to Bolsonaro. BRASILIANA: Journal for Brazilian Studies. v. 10 n. 1 (2021).

MILLS, C. (1999) The Racial Contract. Ithaca: Cornell University Press.

NANDY, A.(1989) The Intimate Enemy: Loss and Recovery of Self under colonialism, India, 1989.

NASCIMENTO, Abdias. O Quilombismo: Documentos de uma militância pan-africanista. 3ª ed. revisada. São Paulo: Perspectiva, 2019.

OLIVEIRA, Ananda Vilela da Silva. Epistemicídio e a academia de Relações Internacionais: o Projeto UNESCO e o pensamento afrodiaspórico sobre o Brasil e seu lugar no mundo. Dissertação (Mestrado em Relações Internacionais) – Instituto de Relações Internacionais, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2020.

PAULA, F.R.de (2016) Brazil comes to the future: Living time and space in the International Orders of Competition. Doctoral thesis. Virginia Polytechnic Institute and State University – Doctorate of Philosophy in Social, Political, Ethical and Cultural Thought.

PINHEIRO, L. Política Externa Brasileira. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. (Coleção Descobrindo o Brasil).

PINHEIRO, Letícia. Traídos pelo desejo: um ensaio sobre a teoria e a prática da política externa brasileira contemporânea. Contexto internacional, v. 22, n. 2. p.305-335, 2000.

PUTNAM, Robert D. Diplomacia e Política Doméstica. A Lógica dos Jogos de Dois Níveis. Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 18, n. 36, p. 147-174, 2010.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. In: QUIJANO, Aníbal. A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latinoamericanas. Buenos Aires: CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, 2005.

RIBEIRO, Djamila. (2018) Quem tem medo do feminismo negro? Companhia das letras, 120p.

SANTOS, B. S. (2002) Between Prospero and Caliban: Colonialism, Postcolonialism, and Inter-identity. Luso-Brazilian Review, v.39, n.2. pp.9-43

SANTOS, Camila dos; GOMES, Maíra Siman; FERNÁNDEZ, Marta. ‘Two Brazils’: Renegotiating Subalternity Through South-South Cooperation in Angola. Brazilian Political Science Review, v. 13, 2019.

SANTOS, L. BNDES: internacionalização de empresas e o subimperialismo brasileiro. GEOUSP Espaço e Tempo (Online), [S. l.], v. 22, n. 1, p. 115-137, 2018. DOI: 10.11606/issn.2179-0892.geousp.2018.115940. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/geousp/article/view/115940. Acesso em: 30 jan. 2023.

SARAIVA, Miriam Gomes. The democratic regime and the changes in Brazilian foreign policy towards South America. Brazilian Political Science Review, v. 14, 2020.

SARAIVA, Miriam Gomes. As estratégias de cooperação Sul-Sul nos marcos da política externa brasileira de 1993 a 2007. Revista Brasileira de Política Internacional. v. 50, n. 2, p. 42-59, 2007.

SOUZA, J. (2017) A elite do atraso: da escravidão à lava jato. Rio de Janeiro: Leya, 239p.

STAVRAKAKIS, Yannis. Lacan and the political. London and New York: Routledge, 1999.

STAVRAKAKIS, Yannis. The Lacanian Left. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2007.

SOLOMON, Ty. The politics of subjectivity in American foreign policy discourses. Minneapolis: University of Michigan Press, 2015.

TRAPP, Rafael Petry. O antirracismo no Brasil e a Conferência de Durban: identidades transnacionais e a constituição da agenda política do Movimento Negro (1978-2010). Revista Cadernos do Ceom v. 24, n. 35, 2011.

VIEIRA, M.A. (2017) (Re-)imagining the ‘Self’ of Ontological Security: The Case of Brazil’s Ambivalent Postcolonial Subjectivity. Millennium: Journal of International Studies. pp.1-23

VIGOYA, M. V. As cores da masculinidade: Experiências intersseccionais e práticas de poder na Nossa América.

VIGEVANI, T. CEPALUNI, G. (2007) A Política Externa de Lula da Silva: A Estratégia da Autonomia pela Diversificação. Contexto Internacional. Rio de Janeiro, v. 29, n.2. p.273- 335, jul./dez. 2007.

ZEHFUSS, M. (2001). Constructivism and Identity: A Dangerous Liaison. European Journal of International Relations 7(3): 315-348.

Downloads

Publicado

2024-08-19

Como Citar

Amorim Jardim, C. (2024). O Outro interno odiado: racismo e (in)segurança ontológica nos discursos da política externa brasileira . Monções: Revista De Relações Internacionais Da UFGD, 12(24), 166–195. https://doi.org/10.30612/rmufgd.v12i24.16746

Edição

Seção

Artigos Dossiê - Dossiê "Racismos e Antirracismos nas/para as Relações Internacionais”