Cartografias em conflito nas práticas de acolhimento de refugiados indígenas: a corporificação de um sentido alternativo de espacialidade e temporalidade na desmobilização de um abrigo indígena no norte do Brasil
DOI:
https://doi.org/10.30612/rmufgd.v13i25.17278Palavras-chave:
Abrigos indígenas, política necrocolonial, cartografia da mobilidadeResumo
No presente artigo, examinamos a situação dos refugiados indígenas em Roraima, Brasil, e refletimos sobre a forma como as práticas de acolhimento afetam sua subjetividade. Analisamos a desmobilização do abrigo Pintolândia, focando particularmente na recusa dos seus residentes em se mudarem, de modo a apresentar o acolhimento de refugiados como uma prática que fere a subjetividade dos indivíduos, ao mesmo tempo que é um espaço corporificado que representa uma possibilidade ainda não concretizada. Através deste exame, refletimos sobre a forma como a sua agência, política e subjetividade desafiam a dinâmica espacial estabelecida pelas poderosas estruturas que gerem abrigos para refugiados. Para tanto, este artigo está dividido em três seções. O primeiro traz uma narrativa contextual das práticas de moradia da população indígena migrante em Roraima, mapeando a evolução das estratégias de acolhimento ao longo dos anos. A segunda secção aborda as complexidades e contradições do acolhimento de refugiados indígenas num quadro concebido para a população refugiada em geral, examinando o impacto nos seus direitos específicos como povos indígenas. A seção final enfoca a desmobilização do abrigo Pintolândia, apresentando a estratégia de mudança como mecanismo da governamentalidade e interpretando a resistência indígena à realocação como expressão de espacialidade e temporalidade alternativas.
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