Ao passo da hipoterapia:
Agenciamentos múltiplos na medicina contemporânea
DOI:
https://doi.org/10.30612/nty.v9i13.15549Palavras-chave:
Hipoterapia, Ciência, AgenciamentoResumo
Pretende-se, no presente artigo, refletir sobre as múltiplas formas de medicalização da vida que ressurgem nos contextos contemporâneos. A partir do trabalho etnográfico em centros de hipoterapia (terapia assistida por cavalo) de Minas Gerais, circunscrevo a relação de coexistência entre terapeutas, cavalos, praticantes de hipoterapia, trabalhadores, familiares, equipamentos de montaria e tantos outros envolvidos na busca pela manutenção da saúde por meio de uma técnica que vem ganhando contornos diferentes em cada contexto. A partir desse chão etnográfico, a narrativa que compõe este texto se encarrega de duas tarefas: primeiro, refletir sobre a vinculação intra e interespecífica que têm como finalidade a manutenção da saúde humana por meio da hipoterapia; em segundo lugar, deslocar o entendimento sobre a medicalização da vida para o âmbito dos estudos sociais da ciência. O artigo leva em conta a multiplicidade inevitável dos fenômenos que compõem as tramas da técnica e do corpo, as práticas de tratamento e cura, assim como as categorizações médicas, as quais ao modificarem-se transformam toda uma rede de agentes que buscam a preservação da saúde por meio das terapias complementares. Afinal, como justificar os benefícios que a relação com os cavalos traz para a saúde senão pelas conexões com a linguagem, pelas hipóteses científicas ou pelas políticas públicas? Argumenta-se, portanto, que perspectivas universalistas sobre as ciências do corpo tendem a abstrair a compreensão dos fenômenos e suprimir a produção das evidências ciêntíficas a uma especialidade ou outra, enquanto a hipoterapia se multiplica interdisciplinarmente em formas localizadas de operação do conhecimento científico.
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