A Organização do Tratado de Cooperação Amazônica e o regionalismo superficial brasileiro em dois tempos

Autores

DOI:

https://doi.org/10.30612/mones.v14i27.19630

Palavras-chave:

Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, regionalismo superficial, Política Externa Brasileira, Amazônia

Resumo

O presente artigo busca caracterizar a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) como um exemplo concreto de regionalismo superficial assimétrico brasileiro em relação à Amazônia. A justificativa para o estudo reside na necessidade de entender as dinâmicas que moldam as políticas regionais brasileiras, principalmente em um momento de crescente internacionalização das questões ambientais. A Amazônia, com sua importância geopolítica, ecológica e econômica, tem sido objeto de constantes pressões, tanto no âmbito diplomático quanto nas esferas econômica e ambiental. Compreender essas pressões e como elas afetam as ações do Brasil na OTCA é crucial para avaliar a eficácia e as limitações da política externa brasileira na região. Nesse sentido, faz-se primeiramente uma abordagem teórico-conceitual sobre como o regionalismo superficial pode explicar as ações do Brasil para a integração e defesa da região no âmbito da OTCA. Combinando revisão bibliográfica, pesquisa documental e método histórico-comparativo, o texto analisa de que forma as políticas externas brasileiras durante os governos de Geisel e a primeira metade de Lula III para a região amazônica, bem como a relevância da cooperação internacional horizontal entre países do Sul Global na pauta do Itamaraty, convergem no sentido de promover avanços institucionais à OTCA devido às pressões externas. O artigo argumenta que, embora tenham sido formuladas em contextos internos e internacionais distintos, tais governos apresentam similaridades notáveis, principalmente no que diz respeito à busca por autonomia e à diversificação de parcerias.

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Biografia do Autor

Rafael Assumpção Rocha, Universidade Federal de Pelotas (UFPel)

Doutor em Relações Internacionais pelo Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB, 2017), mestre em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC, 2013) e mestre em Estudos Estratégicos e Relações Internacionais pela Universidade de Paris XIII (2005). Graduado em Relações Internacionais pelo Centro Universitário Curitiba (2003). Atualmente, é professor adjunto na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), atuando no curso de Relações Internacionais. Entre 2018 e 2024, foi docente no Curso de Relações Internacionais e desempenhou funções como coordenador de curso, coordenador do Núcleo Amazônico de Pesquisa em Relações Internacionais (NAPRI), membro do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão, assessor internacional e membro do Conselho Editorial da Editora da Universidade Federal de Roraima (UFRR). Suas áreas de pesquisa incluem: Segurança Internacional, Teoria das Relações Internacionais, Direito Humanitário, Política Externa Brasileira, Governança Global, Cooperação Internacional, Gênero nas Relações Internacionais, Responsabilidade de Proteger e Empreendedorismo Normativo.

Demetrius Cesário Pereira, ESPM e do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.

Doutor em Ciência Política (USP), professor de Relações Internacionais da ESPM e do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.

Luciene Patricia Canoa de Godoy, Centro Universitário Belas Artes de São Paulo

Doutora em Geografia Humana (USP), professora de Relações Internacionais do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo

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Publicado

2025-10-15

Como Citar

Rocha, R. A., Pereira, D. C., & Godoy, L. P. C. de. (2025). A Organização do Tratado de Cooperação Amazônica e o regionalismo superficial brasileiro em dois tempos. Monções: Revista De Relações Internacionais Da UFGD, 14(27), 108–131. https://doi.org/10.30612/mones.v14i27.19630

Edição

Seção

Artigos dossiê “Os Processos Integração Regional e os Desafios do Século XXI: Desenvolvimento Sustentável, Direitos Humanos e Fronteiras”.