Inscritos no Liberalismo: racismo nas Relações Internacionais e a abolição da escravidão no Brasil

Autores

DOI:

https://doi.org/10.30612/rmufgd.v12i24.16695

Palavras-chave:

Racismo, Liberalismo, Relações Internacionais, Brasil

Resumo

O princípio do século XX foi um momento de grandes transformações, dentre as quais a institucionalização do campo de conhecimento das Relações Internacionais. Uma mudança estrutural que ocorreu 30 anos após a abolição da escravidão no Brasil. A despeito de serem eventos históricos objetivamente autônomos um do outro, esse texto argumenta que a possibilidade de tratá-los de forma relacionada amplia a possibilidade de crítica às premissas racistas do liberalismo, um motor ideológico poderoso para ambos acontecimentos. A vitalidade dos estudos críticos em Relações Internacionais ajudou a denunciar as premissas nas quais a disciplina se baseia e a definição daquilo que é de seu interesse. A crítica disciplinar é reconstruída na primeira seção e, na segunda, apresento a marginalização inscrita na legislação brasileira do fim do século XIX e princípio do XX. A técnica de desenvolver as condições para discriminar um setor da população disfarçando isso de garantia da cidadania para um grupo de pessoas previamente escravizadas é um uso sofisticado do liberalismo. Esse uso funciona não apenas para evidenciar toda a crítica do racismo estrutural desenvolvido pela crítica à esse projeto político, que já avançou com pesquisadores de RI, como também para apresentar uma discussão que ainda tem espaço para avançar no campo: a premissa não questionada da homogeneidade dentro das comunidades políticas.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

AGAMBEM, Giorgio. Homo Sacer: sovereign power and bare life. Stanford: Stanford University Press, 1998.

ALONSO, Angela. Flores, Votos e Balas: o movimento abolicionista brasileiro (1868-88). São Paulo, Companhia das Letras: 2015.

ANIEVAS, Alexander.; MANCHANDA, Nivi.; SHILLIAM, Robbie. Confronting the Global Colour Line: an introduction. In: ANIEVAS, Alexander.; MANCHANDA, Nivi.; SHILLIAM, Robbie. Race and Racism in International Relations: confronting the global colour line. London: Routledge, 2015. p. 1-16.

ASHLEY, Richard K. Living on Border Lines: man, poststructuralism, and war. In: DER DERIAN, James; SHAPIRO, Michael J. International/Intertextual Relations: postmodern Readings of World Politics. New York: Lexington Books, 1989. p. 259-322.

BASILE, Marcelo O. N. de. O Império Brasileiro: panorama político. LINHARES, M. Yedda (Org.). História Geral do Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 1990.

BENBOW, Mark E. Birth of a Quotation: Woodrow Wilson and “like writing History with lightning”. The Journal of the Gilded Age and Progressive Era. v 9, n. 4, p. 509-33. 2010.

BEZERRA, Gustavo A. de G. Not Citizens in Waiting. International History and Politics Newsletter – APSA. v 6, Issue. 2, p. 12 – 14. 2020.

BLANEY, David L.; INAYATULLAH, Naeem. Savage Economics: wealth, poverty, and the temporal walls of capitalism. London: Routledge, 2010.

BRAZIL. Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850: Dispõe sobre as terras devolutas do Império. Available at: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l0601-1850.htm access: June 22nd 2021.

________ Lei nº 3.353, de 13 de maio de 1888: declara extinta a escravidão no Brasil. Available at: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/lim3353.htm . Access: June 22nd 2021.

________. Constituição da República dos Estados Unidos do Brazil (February 24th, 1891). Available at: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.htm access: June 23rd 2021.

CASTRO, Hebe Matos. da C. M. G. de. Das cores do Silêncio: os significados da liberdade no sudeste escravista (Brasil século XIX). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1995.

CHALHOUB, Sidney Visões da Liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na corte. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

COSTA, Emília V. da. Da Escravidão ao Trabalho Livre. In: COSTA, E. V. da. Da Monarquia a República. São Paulo: Editora UNESP, 2010ª.

______________. O Mito da Democracia Racial no Brasil. In: COSTA, E. V. da. Da Monarquia a República. São Paulo: Editora UNESP, 2010b.

DEGLER, Carl N. Neither Black nor White: slavery and race relations in Brazil and the United States. New York: Macmillan Publishing, 1971.

DOTY, Roxanne L. The Bounds of ‘Race in International Relations. Millennium, Journal of International Studies. v. 22, n. 3, p. 443-61. 1993.

Du BOIS, W. E. B. The Souls of Black Folk. Oxford: Oxford University Press, 2007.

ELKINS, Stanley. Slavery: a problem in American institutional and intellectual life. New York: The Universal Library, 1959.

FERNANDES, Florestan. A Integração do Negro na Sociedade de Classes. 6ª ed. São Paulo: Contracorrente, 2021.

GARCIA, Ana Saggioro. O Debate Acerca do Estado e sua ‘Internacionalização’: contribuições da Teoria Crítica e do Marxismo para as Relações Internacionais. Monções: revista de Relações Internacionais da UFGD v. 8, n. 15, p. 193-220. 2019.

GILPIN, Robert. War & Change in World Politics. Cambridge: Cambridge University Press, 1981.

GONZALEZ, Lélia. A Categoria Político-Cultural da Amefricanidade. In.: GONZALEZ, L. Primavera para as Rosas Negras. s/l: Diáspora Africana, 2018b. p. 321 – 334.

_____________. Cidadania de Segunda Classe. In.: GONZALEZ, Lélia: Primavera para as Rosas Negras. S/L: Diáspora Africana, 2018c. p. 345 – 362.

_____________. Debate: a cidadania e a questão étnica. In.: GONZALEZ, Lélia: Primavera para as Rosas Negras. S/L: Diáspora Africanaª 2018a. p. 230 – 254.

_____________. Primavera para as Rosas Negras. In.: GONZALEZ, Lélia: Primavera para as Rosas Negras. S/L: Diáspora Africana, 2018d. p. 369 – 379.

HENDERSON, Errol. A. Hidden in Plain Sight: racism in international relations theory. In: ANIEVAS, Alexander.; MANCHANDA, Nivi.; SHILLIAM, Robbie. (ed) Race and Racism in International Relations: confronting the global colour line. London: Routledge, 2015. p. 19 – 43.

HOFFMANN, Stanley. An American Social Science: International Relations. Daedalus. v. 106, n. 3, p. 41-60. 1977.

HORNE, Gerald. The Deepest South: the United States, Brazil and the African Slave Trade. New York: New York University Press, 2007.

INAYATULLAH, Naeem; BLANEY, David L. International Relations and the Problem of Difference. New York: Routledge, 2004.

LOCKE, John Second Treatise of Government. Indianapolis: Hackett Publishing Company, 1980.

MARINHO, J. S. et all. “Manifesto”. In.: A República. Nº1, Ano 1, December 3rd 1870.

MAYBLIN, Lucy. Never Look Back: political thought and the abolition of slavery. Cambridge Review of International Affairs. v. 26, n. 1, p. 93-110. 2013.

MEARSHEIMER, John J. The Tragedy of Great Power Politics. New York: W. W. Norton & Company, 2001.

MILLS, Charles W. The Racial Contract. Ithaca: Cornell University Press, 1999.

MOURA. Clóvis O Negro, de bom escravo a mau cidadão? Rio de Janeiro: Conquista, 1977.

PERSAUD, Randolph B.; WALKER, Robert B. J. Apertura: race in International Relations. Alternatives: Global, Local, Political. v. 26, n. 4, p. 373 – 76. Oct. –Dec. 2001.

REIS, Letícia V. de S. O Mundo de Pernas para o ar: a capoeira no Brasil 3ª ed. Curitiba: CRV, 2010.

SANTOS, Myrian Sepúlveda dos. A prisão dos Ébrios, Capoeiras e Vagabundos no Início da Era Republicana. Topoi. v. 5, n. 8, p. 138-69. 2004.

SCHMIDT, Brian C. The Political Discourse of Anarchy: a disciplinary history of International Relations. Albany: State University of New York Press, 1998.

SCHWARCZ, Lilian M.; STARLING, Heloisa M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

SHILLIAM, Robbie Forget English Freedom, Remember Atlantic Slavery: common law, commercial law and the significance of slavery for classical political economy. New Political Economy. v. 17, n. 5, p. 591-609. 2012.

SILVA, Alberto da C. e. Um Rio Chamado Atlântico: a África no Brasil e o Brasil na África. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2003.

SOARES, Carlos E. L. A Capoeira Escrava e Outras Tradições Rebeldes no Rio de Janeiro, 1808-1850. 2ª ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2004.

SOUZA, Antonio R. M de. Da Desumanização e da Norma: a construção social das noções de vadio e vagabundo em meio as atribulações da fabricação do Estado-nação no Brasil (1870-1900). 2010. Master Dissertation – Department of Social Service, PUC-Rio, Rio de Janeiro, 2010.

THOMPSON, Debra. Through, Against and Beyond the Racial State: the transnational stratum of race. Cambridge Review of International Affairs. v. 26, n. 1, p. 131-51. 2013.

VITALIS, Robert. The Graceful and Generous Liberal Gesture: making racism invisible to American International Relations. Millennium – Journal of International Studies. V. 29, n. 2, p. 331-56. 2000.

___________. White World Order, Black Power Politics: the birth of American International Relations. Ithaca: Cornell University Press, 2015.

WALTZ, Kenneth. Theory of International Politics. Reading: Addison-Wesley Publishing Company, 1979.

Downloads

Publicado

2024-08-19

Como Citar

de Góes Bezerra, G. A. (2024). Inscritos no Liberalismo: racismo nas Relações Internacionais e a abolição da escravidão no Brasil. Monções: Revista De Relações Internacionais Da UFGD, 12(24), 20–49. https://doi.org/10.30612/rmufgd.v12i24.16695

Edição

Seção

Artigos Dossiê - Dossiê "Racismos e Antirracismos nas/para as Relações Internacionais”