A descolonialidade e o paradigma da vida concreta na restauração dos direitos na América Latina

Autores

DOI:

https://doi.org/10.30612/videre.v13i27.11769

Palavras-chave:

Descolonialidade. Paradigma da vida. Povos Indígenas. Direitos. América Latina

Resumo

O intenso processo de extermínio dos povos indígenas e assimilação forçada da cultura nacional/moderna dizimou grande parte das populações originárias do Continente Americano. Mesmo após a independência das colônias, existe a continuidade do poder colonial, agora, sob outra faceta, e fora das estruturas formais político-jurídicas, que atuam na intersubjetividade dos imaginários sociais, por meio da dominação, da exploração e do conflito. Esse novo padrão de poder é denominado de colonialidade do poder e toma o conceito de raça para dominar e subalternizar os povos indígenas, restringindo seus direitos e modos de viver. A colonialidade agiu não somente sobre as terras e os recursos dela provindos, mas também sobre a produção de conceitos e do imaginário social provocando uma violenta destruição das culturas e das formas de existir na América Latina. O branco/europeu foi identificado como referência, olhando-se tudo a partir desta condição, desta posição que organiza as percepções de mundo segundo as suas categorias únicas e legitimamente válidas. A categoria da colonialidade foi utilizada para pensar a interpretação e aplicação dos direitos dos povos indígenas, sendo que a correlação entre direito e colonialidade revela efeitos práticos a partir da (não)efetivação dos direitos, verificando-se a situação-condição dos povos indígenas involucra na violência e no risco de extermínio colonial. Neste sentido, a crítica de Enrique Dussel, sobre a negação da vida dos excluídos, que se encontram na exterioridade do sistema mundo, é fundamental, requerendo a urgente necessidade de rompimento com essa lógica e a construção de um outro mundo possível e factível.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Kellyana Bezerra de Lima Veloso, Centro Universitário São Lucas Ji-Paraná/RO

Mestre em Direito. Pesquisadora do IBIS e Professora do Curso de Direito do Centro Universitário São Lucas Ji-Paraná.

Raquel Páscoa da Veiga Frade Santana, Centro Universitário São Lucas Ji-Paraná/RO

Professora do Centro Universitário São Lucas de Ji-Paraná, em Rondônia, do Curso de Direito. Doutora em Filosofia pela Universidade de Pisa em Itália, em regime de co-tutela com a Universidade Nova de Lisboa, Portugal, tendo o título de doutorado revalidado pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), no Brasil.

Referências

BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília, n. 11, pp. 89-117, maio-agosto de 2013. Disponível em: https://ayalaboratorio.files.wordpress.com/2017/06/ballestrin-luciana-amc3a9rica-latina-e-o-giro-decolonial.pdf. Acesso em: 10 mar. 2020.

BRASIL. PALÁCIO DO PLANALTO. Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro de 1988. Brasília: Senado Federal, 2020.

BURGOS, Elizabeth. Meu nome é Rigoberta Menchú: e assim nasceu minha consciência. Tradução: Lólio Lourenço de Oliveira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.

BUSSO, Hugo e MONTOYA, Angélica Montes. Entrevista a Ramón Grosfoguel. Polis, v. 6, n. 18, 2007. Disponível em: http://polis.revues.org/4040. Acesso em: 24 fev. 2020.

CASTRO-GÓMEZ, Santiago y GROSFOGUEL, Ramón. Prólogo. Giro decolonial, teoría crítica y pensamiento heterárquico. In: CASTRO-GÓMEZ, Santiago y GROSFOGUEL, Ramón (Orgs.). El giro decolonial: reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos; Instituto Pensar; Pontificia Universidad Javeriana; Siglo del Hombre Editores y Universidad Central, 2007. p. 9-24. Disponível em: http://www.unsa.edu.ar/histocat/hamoderna/grosfoguelcastrogomez.pdf. Acesso em: 10 mar. 2020.

CLASTRES, Pierre. Do etnocídio. In: CLASTRES, Pierre. Arqueologia da violência: pesquisas de antropologia política. Prefácio de Bento Prado Jr. Tradução de Paulo Neves. Publicado em 1980. São Paulo: Editora Cosac & Naify, 2004.

DAMÁZIO, Eloise da Silveira Petter e SPAREMBERGER, Raquel Fabiana Lopes. Discurso constitucional colonial: um olhar para a decolonialidade e para o “novo” Constitucionalismo Latino-Americano. Pensar, Fortaleza, v. 21, n. 1, p. 271-297, jan./abr. 2016. Disponível em: http://periodicos.unifor.br/rpen/article/view/2939/pdf. Acesso em: 16 mar. 2020.

DUSSEL, Enrique Domingos. 1492 o encobrimento do outro: a origem do mito da modernidade. Conferências de Frankfurt / Enrique Dussel. Tradução: Jaime A. Clasen. Petrópolis: Vozes, 1993.

DUSSEL, Enrique Domingos. Europa, modernidade e Eurocentrismo. In: LANDER, Edgardo (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: Colección Sur Sur, CLACSO, 2005.

DUSSEL, Enrique Domingos. Ética da libertação: na idade da globalização e da exclusão. 2ª ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2002.

DUSSEL, Enrique Domingos. Filosofia da Libertação na América Latina. Coleção Reflexão Latino-Americana. São Paulo: Edições Loyola; Editora Unimep, 1980.

DUSSEL, Enrique Domingos. A Filosofia da Libertação frente aos estudos pós-coloniais, subalternos e a pós-modernidade. Revista Direito e Práxis, Rio de Janeiro, v. 8, n. 4, p. 3232-3254, 2017. Disponível em: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistaceaju/article/view/31230. Acesso em: 12 mar. 2020.

FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.

GEDIEL, José Antônio Peres [et al]. Direitos em conflito: movimentos sociais, resistência e casos judicializados. vol 1. Curitiba: Kairós, 2015.

HESPANHA, António Manuel. Pluralismo Jurídico e Direito Democrático. São Paulo: Annablume, 2013.

KEHL, Maria Rita. O fio que dá sentido à vida. Publicado em 25 de novembro de 2013. Disponível em: https://www.geledes.org.br/o-fio-que-da-sentido-a-vida-maria-rita-kehl/. Acesso em: 05 abril 2020.

LAS CASAS, Bartolomé de. O paraíso destruído: a sangrenta história da conquista da América Espanhola. Tradução de Heraldo Barbuy. Porto Alegre: L&PM, 2011.

LUDWIG, Celso Luiz. Para uma filosofia jurídica da libertação: Paradigmas da Filosofia, Filosofia da Libertação e Direito Alternativo. 2ª ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2011.

LUDWIG, Celso Luiz. Direitos Humanos: fundamentação transmoderna. In: GEDIEL, José Antônio Peres [et al]. Direitos Humanos e Políticas Públicas. Curitiba: Universidade Positivo, 2014. p. 11-36.

LUDWIG, Celso Luiz. A transformação da filosofia da libertação. Revista da Faculdade de Direito da UFPR, Curitiba, v. 44, p. 43-59, 2006. Disponível em: http://revistas.ufpr.br/direito/article/view/9414/6506. Acesso em: 19 mar. 2020.

LUDWIG, Celso Luiz. Filosofia da Libertação. In: BARRETTO, Vicente de Paulo (Org.). Dicionário de Filosofia do Direito. Unisinos: Editora Unisinos Co-edição Renovar, 2006. p. 326-333.

MACHADO, Roberto. Foucault, a ciência e o saber. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.

MIGNOLO, Walter D. A gnose e o imaginário do sistema mundial colonial/moderno. In: Histórias locais / Projetos globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Tradução de Solange Ribeiro de Oliveira. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. p. 23-76.

PAZELLO, Ricardo Prestes. Direito insurgente e movimentos populares: o giro descolonial do poder e a crítica marxista ao direito. 8 agosto de 2014. 545 fls. Tese (Doutorado em Direito). Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2014. Disponível em: http://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/36287/R%20-%20T%20-%20RICARDO%20PRESTES%20PAZELLO.pdf?sequence=1. Acesso em: 05 mar. 2020.

PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. De saberes e de territórios: diversidade e emancipação a partir da experiência latino-americana. In: De los saberes de la emancipación y de la dominación. Buenos Aires: CLACSO, 2008. Disponível em: http://biblioteca.clacso.edu.ar/clacso/gt/20160224041201/04porto.pdf. Acesso em: 02 mar. 2020.

PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. Da geografia às geo-grafias: um mundo em busca de novas territorialidades. In: La Guerra Infinita: Hegemonía y terror mundial. Buenos Aires: CLACSO, 2002. Disponível em: http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/clacso/gt/20101018013328/11porto.pdf. Acesso em: 02 mar. 2020.

QUIJANO, Aníbal. Bien Vivir: entre el desarrollo y la des/colonialidad del poder. In: QUIJANO, Aníbal. (Org.). Des/colonialidade y bien vivir: un nuevo debate en América Latina. 1 ed. Lima: Editorial Universitaria; Cátedra América Latina y la Colonialidad del Poder; Universidade Ricardo Palma, 2014.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder e classificação social. In: SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula (Orgs.). Epistemologias do Sul. Coimbra: Almedina, 2009. p. 73-115.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidad del poder y clasificación social. In: CASTRO-GÓMEZ, Santiago y GROSFOGUEL, Ramón (Orgs.). El giro decolonial: reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos; Instituto Pensar; Pontificia Universidad Javeriana; Siglo del Hombre Editores y Universidad Central, 2007. p. 93-125. Disponível em: http://www.unsa.edu.ar/histocat/hamoderna/grosfoguelcastrogomez.pdf. Acesso em: 05 mar. 2020.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Edgardo (org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais – perspectivas latino-americanas. Tradução de Júlio César Casarin Barroso Silva. Buenos Aires: CLACSO, 2005, p. 227-278.

QUIJANO, Aníbal. Dom Quixote e os moinhos de vento na América Latina. Dossiê América Latina. Estudos Avançados, 19 (55), 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ea/v19n55/01.pdf. Acesso em: 05 mar. 2020.

QUIJANO, Aníbal. El movimiento indígena y las cuestiones pendientes en América Latina. El Cotidiano, México, v. 23, n. 151, p. 107-120, septiembre-octubre/2008. Disponível em: http://www.redalyc.org/pdf/325/32511865013.pdf. Acesso em: 05 mar. 2020.

QUIJANO, Aníbal. Notas sobre a questão da identidade e nação no Peru. Estudos Avançados, 6(16), 1992.

QUIJANO, Aníbal. ¡Qué tal Raza!. In: Ecuador Debate. Etnicidades e identificaciones. n. 48, diciembre 1999, p. 141-152, Quito: CAAP. Disponível em: http://repositorio.flacsoandes.edu.ec/handle/10469/5724#.Wme9aq6nHIU. Acesso em: 05 mar. 2020.

QUIJANO, Aníbal. Un fantasma recorre el mundo. Estudos Avançados, 12(34), 1998.

QUIJANO, Aníbal. Otro horizonte de sentido histórico. América Latina em movimento, n. 441, p. 2-5, febrero de 2009. Disponível em: https://www.alainet.org/sites/default/files/alai441w.pdf. Acesso em: 05 mar. 2020.

QUIJANO, Aníbal. (Org.). Cuestiones y horizontes: de la dependencia histórico-estructural a la colonialidad/descolonialidad del poder. Selección y prólogo a cargo de Danilo Assis Clímaco. Coleccíon Antologías. 1 ed. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: CLACSO, 2014.

RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

SEGATO, Rita Laura. Aníbal Quijano y la perspectiva de la colonialidad del poder. In: QUIJANO, Aníbal. (Org.). Des/colonialidade y bien vivir: un nuevo debate en América Latina. 1 ed. Lima: Editorial Universitaria; Cátedra América Latina y la Colonialidad del Poder; Universidade Ricardo Palma, 2014. p. 35-72.

SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. O renascer dos povos indígenas para o Direito. Curitiba; Juruá, 1998.

SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. Os direitos invisíveis. Texto apresentado no XXI Encontro Anual da ANPOCS, 1997.

SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. O direito envergonhado (O direito e os índios no Brasil). Revista IIDH, Costa Rica, v. 15, p. 145-165, jan./jun. 1992.

SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. Os direitos invisíveis. Texto apresentado no XXI Encontro Anual da ANPOCS, 1997.

WOLKMER, Antonio Carlos. Paradigmas, historiografia crítica e direito moderno. Revista da Faculdade de Direito UFPR, Curitiba, a. 28, n. 28, p. 55-67, 1994/95. Disponível em: http://revistas.ufpr.br/direito/article/view/9368/6461. Acesso em: 29 mar. 2020.

WOLKMER, Antonio Carlos. [et. al.]. Historicidade Crítica do Constitucionalismo Latino-Americano e Caribenho. Revista Direito e Práxis, Rio de Janeiro, v. 8, n. 4, p. 2843-2881, 2017. Disponível em: http://www.e-publicacoes.uerj.br/ojs/index.php/revistaceaju/article/view/31217/22177. Acesso em: 18 mar. 2020.

Downloads

Publicado

2021-08-30

Como Citar

Veloso, K. B. de L., & Santana, R. P. da V. F. (2021). A descolonialidade e o paradigma da vida concreta na restauração dos direitos na América Latina. Revista Videre, 13(27), 264–288. https://doi.org/10.30612/videre.v13i27.11769

Edição

Seção

Artigos