A formação do campo da engenharia sanitária e ambiental no Brasil: aproximações e tensões entre o saneamento, a saúde e o meio ambiente na História da Ciência (1960-2022)

Resumo

O artigo analisa o processo de construção do campo da Engenharia Sanitária e Ambiental (ESA) no Brasil. Dois argumentos são defendidos: (1) a constituição do campo da ESA é um processo histórico que se configurou a partir de conflitos em meio a projetos políticos e movimentos que tensionaram a fronteira entre o meio ambiente, o saneamento e a saúde; (2) nesse processo de configuração, a saúde aparece de forma secundária e marcada por um tecnicismo recorrente no campo das engenharias. Para entender os meandros históricos desse processo, são utilizados alguns aportes teóricos da história das ciências, visando captar como as próprias divergências nas denominações, como comunidade científica, campo e coletivo de pensamento ajudam a compreender como a ESA se constituiu no Brasil. Para além da fixidez conceitual, buscam-se chaves interpretativas que contribuam para esse entrecruzamento de domínios em disputa que compõem a ESA. Desse modo, o texto reivindica uma historicidade que tem como ponto de partida as discussões sobre o saneamento e a saúde na Primeira República, passando pelas mobilizações internacionais em torno da questão ambiental nos anos 1960 e 1970. Por último, a correlação saneamento, meio ambiente e saúde é investigada a partir da Revista Engenharia Sanitária e Ambiental, entre 2004 e 2022, periódico importante do campo. As reflexões teóricas, a análise bibliográfica e do material empírico apontam para a importância da história das ciências na compreensão da identidade socioprofissional e dos parâmetros epistemológicos da ESA e como ambos atendem a demandas sociais no tempo histórico.