A fronteira como espaço de trabalho e as fronteiras do trabalho
os circuitos de roupas de segunda mão em Dourados, Ponta Porã (Brasil) e Pedro Juan Caballero (Paraguai)
DOI:
https://doi.org/10.30612/rel.v16i32.19961Palavras-chave:
Economia política das cidades, Circuitos da economia urbana, Brechós, Trabalho, FronteiraResumo
Este artigo visa trazer algumas reflexões acerca das atividades e firmas que compõem os circuitos de roupas de segunda mão na cidade de Dourados (MS), compreendendo as dinâmicas de fluxos envolvendo a zona de fronteira entre Brasil e Paraguai, em especial que atravessam as cidades-gêmeas de Ponta Porã (Brasil) e Pedro Juan Caballero (Paraguai). A partir de informações coletadas por meio de entrevistas e trabalho de campo com agentes mobilizadores, foi possível reconhecer a importância que esse espaço fronteiriço possui para abastecer o circuito de roupas de segunda mão na cidade de Dourados. Todavia, com base nessa análise, além das relações de comércio e analisando seus diferentes usos do território – ora como recurso, ora como abrigo, observa-se que o espaço fronteiriço também guarda formas de trabalho produtivo e criativo, especialmente na atividade de “garimpo” das roupas, ao mesmo tempo em que essa feição do circuito inferior de roupas de segunda mão borram as frágeis fronteiras da “formalidade” e da “informalidade”, sobretudo pela indissociabilidade empiricamente reconhecida no tempo e no espaço do trabalho produtivo e reprodutivo realizado majoritariamente por mulheres que compõem e dinamizam esses circuitos.
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