Negligência infantil, violências, relacionamentos destrutivos e encarceramento feminino: uma análise de gênero
DOI:
https://doi.org/10.5418/ra2021.v17i32.12469Keywords:
Infância, negligência, violências, mulheres, prisão.Abstract
Este estudo investiga a relação entre negligência e violência infantil, relacionamentos destrutivos e encarceramento feminino, tomando como cenário a trajetória da violência vivenciada desde a infância até a vida adulta por 45 mulheres encarceradas em duas unidades prisionais do estado de Rondônia. Constatou-se que o espaço considerado como “adequado” à mulher sempre foi estruturado pelo modelo patriarcal, colocando a mesma numa posição subalterna em relação ao homem e os espaços prisionais reproduzem essa concepção, uma vez que não foram idealizados para mulheres. Socializadas para naturalizar abusos e violências desde a infância, essas mulheres reproduzem na vida adulta a dinâmica de relacionamentos destrutivos que, para elas, são oportunidades para vivenciar o amor, mesmo que para isso precisem se aproximar da criminalidade. No cárcere, essas mulheres percebem a reprodução das desigualdades de gênero e a ausência do atendimento às suas demandas, mesmo assim, tentam fazer deste espaço um lugar de reflexão e redenção, mesmo sabendo que permanecerão encarceradas nas grades invisíveis do preconceito quando passarem à condição de egressas.
Downloads
References
ALVES, Hellen Virginia da Silva. Quem são as mulheres encarceradas na Penitenciária Estadual Feminina de Rondônia? Uma análise de gênero sobre o perfil da população carcerária feminina. Revista Formação (ONLINE), v. 25, n. 45, maio-ago/2018, p. 231-250. Disponível em: https://revista.fct.unesp.br/index.php/formacao/article/view/5255/4517 Acesso em abr 2019
ANDRADE, Vera Regina Pereira. A soberania patriarcal: o sistema de justiça criminal no tratamento da violência sexual contra a mulher. Revista Brasileira de Ciências Criminais, n 48, p. 260-290, maio/junho, 2004.
BALLONE GJ - Incesto, in. PsiqWeb. Disponível em www.psiqweb.med.br, 2009. Acesso em 10 out.2019
BOM MEIHY, José Carlos Sebe. Manual de história oral. São Paulo: Edições Loyola, 1996.
BONIFAZ, Rosa G. Vaiz. NAKANO, Ana Marcia Spanó. La Violencia Intrafamiliar, El uso de Drogas enlaPareja, desde la Perspectiva de La Mujer Maltratada. Rev Latino-am Enfermagem 2004 março-abril; 12(número especial):433-8 www.eerp.usp.br/rlaenf.
BORGES, Paulo César Corrêa. Direito penal democrático. 1. ed. São Paulo: Lemos e Cruz, 2005.
BORGES, M. (2009). Da observação participante à participação observante: uma experiência de pesquisa qualitativa, in: Ramires, J. C. de L.; Pessôa, V. L. S..(Orgs.). Geografia e pesquisa qualitativa nas trilhas da Investigação,Uberlândia: Assis Editora, , 2009.
BRASIL. Secretaria de Políticas para as Mulheres. Comissão Parlamentar Mista de Inquérito. Brasília: Secretaria de Políticas para as Mulheres, 2013. Disponível em: http://spm.gov.br/publicacoes-teste/publicacoes/2013/relatorio_cpmi_mulher-pdfparte1. Acesso em: out 2017.
CASTRO, Marcos Pereira. A dignidade do preso na execução penal e a responsabilidade do Estado. IN: BORGES, Paulo César Corrêa. Perspectivas Contemporâneas do Cárcere. São Paulo: Editora Unesp, 2010. p. 73-128.
CENTRO PELA JUSTIÇA E PELO DIREITO INTERNACIONAL et al. Relatório sobre mulheres encarceradas no Brasil. 2007. Disponível em: http://www.asbrad.org.br/. Acesso em: 03 jan. 2016.
DAVIS, A. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016.
DELEUZE, Gilles. Désir et plaisir. Magazine Litté- raire, 1994, nº 325, pp. 57-65.
ERTHAL, Tereza Cristina Saldanha. Terapia Vivencial: uma abordagem existencial em psicoterapia. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1989.
FLORES, Nelia Maria Portugal. SMEH, Luciane Najar. Mães presas, filhos desamparados: maternidade e relações interpessoais na prisão. Physis: Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 28(4), e280420, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/physis/v28n4/0103-7331-physis-28-04-e280420.pdf
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Editoras Vozes, 40° Edição, 2012.
HOBSBAWM, Eric. Les primitifs de la revolte dans l’Europe Moderne. Paris, Fayard, 1966.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Contagem Populacional. Rio de Janeiro, 2010.
INFOPEN MULHERES. Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias. Departamento Penitenciário Nacional. Ministério da Justiça. 2014.
KOZEL, Salete. Comunicando e representando: Mapas como construções socioculturais. In.: SEEMANN, Jörn (Org.). A aventura cartográfica: perspectivas, pesquisas e reflexões sobre a cartografia humana. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2005.
LENCIONI, Sandra. Região e Geografia. São Paulo: EDUSP, 2003.
LIMA, Márcia de. Da visita íntima à intimidade da visita: a mulher no sistema prisional. Dissertação (Mestrado). Universidade de São Paulo. São Paulo, 2006. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6136/tde-24032008-085201/pt-br.php> Acesso em jun 2020.
LIRA, Margaret Olinda de Souza Carvalho e. RODRIGUES, Vanda Palmarella. RODRIGUES, Adriana Diniz. Couto, Telmara Menezes, GOMES, Nadirlene Pereira, DINIZ, Normélia Maria Freire. Abuso sexual na infância e suas repercussões na vida adulta. Texto Contexto Enferm, 2017; 26(3).
LOEBER, R. Development and risk factors of juvenile antisocial behavior and delinquency.
Clinical Psychology Review, n. 10, p. 1-41, 1990.
MATOS, Patrícia Francisca de; PESSÔA, Vera Lúcia Salazar. Observação e entrevista: construção de dados para a pesquisa qualitativa em geografia agrária. In: RAMIRES, Julio Cesar de L; PESSÔA, Vera Lúcia S. (Org.) Geografia e pesquisa qualitativa: nas trilhas da investigação. Uberlândia: Assis, 2009, p. 279-291.
MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 2015.
MOTTA, Artur Francisco Mori Rodrigues. A dignidade da pessoa humana e sua definição. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVI, n. 119, dez 2013. Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=14054.>. Acesso em jun 2020.
NASCIMENTO SILVA, Maria das Graças Silva. Geografia e Gênero em Assentamentos Rurais: Espaço de Poder. In: SILVA, Joseli Maria; SILVA, Cesar Pinheiro da. (org.) Espaço, gênero e poder: conectando fronteiras. Ponta Grossa. Toda palavra, 2011. ISSN: 978-85-62450-23-5.
NASCIMENTO SILVA, Maria das Graças Silva. SILVA, Joseli Maria. Interseccionalidades, gênero e sexualidades na análise espacial. Ponta Grossa, Todapalavra, 2014.
PFEIFFER, Lúcia. SALVAGNI, Edila Pizzato. Abuso sexual na infância e adolescência. Jornal de Pediatria - Vol. 81, Nº5(supl), 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/jped/v81n5s0/v81n5Sa10.pdf
PIMENTEL, Elaine. Amor bandido: as teias afetivas que envolvem a mulher no tráfico de drogas. VI Congresso Português de Sociologia. 2005. Disponível em: http://www.aps.pt/vicongresso/pdfs/708.pdf
PLANO DIRETOR DO SISTEMA PENITENCIÁRIO DO ESTADO DE RONDÔNIA. RELATÓRIO DA SITUAÇÃO ATUAL DO SISTEMA PENITENCIÁRIO. 2008. Disponível em: https://www.mpro.mp.br/documents/10180/580287/Plano+Diretor+Sistema+Penitenci%C3%A1rio+RO.pdf/b9d96f4b-c04f-4177-a931-d6450633e57a
QUEIROZ, Nana. Presos que Menstruam, a brutal vida das mulheres – tratadas como homens – nas prisões brasileiras. 1ed. Rio de Janeiro – São Paulo: Record, 2015.
REEBYE, P. Aggression during early years: infancy and preschool. The Canadian Child and Adolescent Psychiatry Review, v. 14, n. 1, p. 16-20, 2005.
SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani. Gênero, patriarcado e violência. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2004.
SAUDINO, K. J. Behavioral genetics and child temperament. Journal of Developmental &
Behavioral Pediatrics, v. 26, n. 3, p. 214-223, 2005.
SEGNINI, Liliana Rolfsen Petrilli. Acordes dissonantes: assalariamento e relações de gênero em orquestras. In: ANTUNES, Ricardo (Org.). Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2006, p.321-336.
SCHILDER, P. The image and appearence of th human body. Nova Iorque, Internacional University Press, Inc, 1950 apud ERTHAL, Tereza Cristina Saldanha. Terapia vivencial: uma abordagem existencial em psicoterapia. Rio de Janeiro: Vozes, 1989, p.60.
SILVA, Joseli Maria. Geografias subversivas: discursos sobre o espaço. Ponta Grossa, PR: Todapalavra, 2009.
SOARES, Bruna; ANDRADE, Angotti Batista de. Entre as Leis da Ciência, do Estado e de Deus: O surgimento dos presídios femininos no Brasil. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Antropologia Social do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2011.
STELLA, Claudia. SEQUEIRA, Vânia Conselheiro. Guarda de filhos de mulheres presas e a ecologia do desenvolvimento humano. Revista Eletrônica de Educação, v. 9, n. 3, p. 379-394, 2015. Disponível em:
THORNBERRY, T. P. Empirical support for interactional theory: a review of the literature.
In: HAWKINS, J. D. (Ed.). Some current theories of crime and deviance. New York:
Cambridge University Press, 1996. p. 198-235.
TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. Londrina: EDUEL, 2012.
_____________ Paisagens do medo. São Paulo: Editora Unesp, 2005.
VARELLA, Dráuzio. Prisioneiras. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
Downloads
Published
How to Cite
Issue
Section
License
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:Autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 3.0 Brasil que permitindo o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e publicação inicial nesta revista.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre em http://opcit.eprints.org/oacitation-biblio.html.)
Authors who publish with this journal agree to the following terms:
Authors retain copyrights and grant the Journal the right of first publication with the work simultaneously licensed under a Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 3.0 Brasil that allows others to share the work with an acknowledgement of the work's authorship and initial publication in this Journal.
Authors are permitted to enter into separate, additional contractual arrangements for the non-exclusive distribution of the Journal's published version of the work (e.g., post it to an institutional repository or in a book chapter), with an acknowledgement of authorship and initial publication in this journal.
Authors are permitted and encouraged to publish and share their work online (e.g., in institutional repositories or on their website) prior to and during the submission process, as it can lead to productive exchanges, as well as increase the impact and citation of published work (See The Effect of Open Access - http://opcit.eprints.org/oacitation-biblio.html.)