Arjan Martins e Rosana Paulino nos emaranhados do Atlântico Negro:

decolonialidade e pensamento afrodiaspórico na arte contemporânea brasileira

Authors

DOI:

https://doi.org/10.30612/nty.v13i21.20598

Keywords:

Mundo atlântico, Arte brasileira contemporânea, Pensamento afrodiaspórico, Arjan Martins, Rosana Paulino

Abstract

Nos últimos tempos o Atlântico tem se revelado muito mais que um mero
espaço geográfico, criou-se em torno dele um campo de disputa historiográfico representativo
e epistemológico, tomado por aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais,
econômicos, científicos e/ou culturais. Sendo assim, este artigo interpreta como o trajeto
atlântico de africanos escravizados para o Brasil, entre os séculos XVI e XIX, tem sido
representado nas obras artísticas visuais de Rosana Paulino (em A Permanência das
Estruturas, 2017) e de Arjan Martins (em Só Vou ao Leblon a Negócios, 2016), no sentido de
observar como as perspectivas decoloniais em torno do Atlântico têm ressoado nas artes
plásticas. Conceitos como Ôrí e Continuum Histórico (Nascimento, 2022); Relação, Filiação,
Extensão (Glissant, 2005, 2021); Atlântico Negro (Gilroy, 2012); e Amefricanidade (Gonzalez,
2020), propostos por intelectuais decoloniais, evocam o espectro da escravidão nesse mundo
atlântico como possibilidade de cura para feridas coloniais que ainda latejam. Traçando o
mesmo caminho que estes teóricos, os artistas abordados reinterpretam a memória colonial
do Brasil, espelhando-se e movendo-se pelo Atlântico, ao passo que também denunciam os
flagelos da escravidão que ainda parasitam nossa sociedade. Reivindicando a humanidade e
a subjetividade que a escravidão lhes negou, eles transformam esse espaço, o Atlântico
algoz, em um vetor para esperançar o presente e romper com as barreiras fronteiriças
epistêmicas, culturais, sociais, dentre outras, que permeiam as artes mediante a um caratér
disciplinador e de conhecimento segmentado que foi cristalizado pelo pensamento moderno
(Bessa-Oliveira, 2022).

Downloads

Download data is not yet available.

Author Biographies

Pedro Alves de Souza Neto, UPE

Licenciando em História pela Universidade de Pernambuco, Campus Petrolina.

Tatiana Silva de Lima, UPE

Doutora em História Social pela Universidade Federal do Ceará (UFC). É professora adjunta do curso
de História da Universidade de Pernambuco (Campus Petrolina), vice-líder do Grupo de Pesquisa em
História e Memória (CNPq) e coordenadora do Grupo de Estudo da História da Escravidão e Liberdade
no Brasil (GEHEL).

References

ADICHIE, Chimamanda Ngozi. O perigo de uma história única. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

ALENCASTRO, Luiz Felipe. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul. São. Paulo: Companhia das Letras, 2000.

ALVES, Castro. Navio Negreiro. Editora Virtual Books Online M&M Editores Ltda: 2000.

ATOS DE REVOLTA | Arjan Martins - Só vou ao Leblon a negócios. YouTube, 2023. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Y7oaRE8Wr5U. Acesso em: 02 dez. 2024.

BENTO, Cida. O pacto da branquitude. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

BESSA-OLIVEIRA, Marcos Antônio. Fronteiras na arte. Arte a partir de fronteiras. Revista Visuais, Campinas, SP, v. 8, n. 2, p. 63–86, 2022. Disponível em: https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/visuais/article/view/17440. Acesso em: 10 jun. 2025. DOI: https://doi.org/10.20396/visuais.v8i2.17440

BOURDIEU, Pierre. As regras da arte: gênese e estrutura do campo literário. Trad. Maria Lucia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

CARNEIRO, Sueli. Dispositivo de racialidade: a construção do outro como não-ser como fundamento do ser. Rio de Janeiro: Zahar, 2023.

CARVALHO, Laerte Ramos de. As reformas pombalinas da instrução pública. São Paulo: EDUSP/Saraiva, 1978.

CONRAD, Robert Edgar. Tumbeiros: o tráfico escravista para o Brasil. São Paulo: Brasiliense,1985.

DAMIÃO, Abraão. Pustrelo. O Renascimento e as Origens da Ciência Moderna: Interfaces Histórico-Epistemológicas. História da Ciência e Ensino: Construindo Interfaces, v. 17, p. 22-49, 2018. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/hcensino/article/view/34411. Acesso em: 27 nov. 2024. DOI: https://doi.org/10.23925/2178-2911.2018v17p22-49

DE SOUSA FILHO, Alípio. O menosprezo do Brasil mestiço e popular: genealogia do elistimo racista na sociedade brasileira. São Paulo Intermeios, 2024.

ELIAS, Norbert. O Processo Civilizador: Uma história dos costumes. Vol. 1. Trad. Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.

GERMANO, Beta. Atlântico de Arjan Martins. Arte Que Acontece, 2020. Disponível em: https://www.artequeacontece.com.br/aqa-pesquisa-arjan-martins/. Acesso em: 30 nov. 2024.

GILROY, Paul. O Atlântico negro: modernidade e dupla consciência. Trad. Cid Knipel Moreira. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2012.

GLISSANT, Édouard. Introdução a uma poética da diversidade. Trad. Enilce do Carmo Albergaria. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2005.

_________. Poética da relação. Trad. Marcela Vieira e Eduardo Jorge de Oliveira. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021.

GONZÁLEZ, Ana Luisa. Como curar a ferida colonial? C& América Latina, 2021. Disponível em: https://amlatina.contemporaryand.com/pt/editorial/colectivo-ayllu-frestas/. Acesso em: 30 nov. 2024.

GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano: Ensaios, intervenções e diálogos. Flávia Rios e Márcia Lima (org.). Rio de Janeiro: Zahar, 2020.

HARTMAN, Saidiya. Perder a mãe: Uma jornada pela rota atlântica da escravidão. Trad. José Luiz Pereira da Costa. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021.

INSTITUTO LULA. ESCRAVIDÃO NO BRASIL - professor Luiz Felipe de Alencastro. YouTube, 2013. Disponível em: https://www.youtube.com/playlist?list=PL2eR9h1Ns6Fz3dbfHElnt2ZVgssxrGVlB. Acesso em: 01 dez. 2024.

LAFONT, Anne. A arte dos mundos negros: história, teoria, crítica. Trad. Rita Pascholin, Leo Gonçalves e Vivian Braga dos Santos. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2023.

LAGE, Victor Coutinho. O Atlântico Vermelho: modernidade e marcadores de discriminação. errante, o Internacional fora do lugar, 2021. Disponível em: https://errante.blog/2021/08/12/o-atlantico-vermelho-modernidade-e-marcadores-de-discriminacao-por-victor-coutinho-lage/. Acesso em: 06 jun. 2025.

LIMA, Diane. Não me aguarde na retina. SUR – Revista Internacional de Direitos Humanos, São Paulo (Rede Universitária de Direitos Humanos), v. 15, n. 28, p. 245 – 257, 2018. Disponível em: https://sur.conectas.org/nao-me-aguarde-na-retina/. Acesso em: 27 nov. 2024.

MAMIGONIAN, Beatriz Gallotti. A proibição do tráfico Atlântico e a manutenção da escravidão. In: GRINBERG, Keila.; SALLES, Ricardo. (orgs.). O Brasil Imperial, v. I. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.

MUSEU de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Audiodescrição Arjan Martins: Só vou ao Leblon a negócios. In: Atos de revolta: Outros imaginários sobre independência. Rio de Janeiro: MAM Rio, 2022. Disponível em: https://mam.rio/programacao/atos-de-revolta-arjan-martins-ad/. Acesso em: 02 dez. 2024.

NASCIMENTO, Maria Beatriz. O negro visto por ele mesmo. Alex Ratts (org.). São Paulo: Ubu Editora, 2022.

O NEGRO da Senzala ao Soul. Produção do Departamento de Jornalismo da TV Cultura. São Paulo, 1977. 1 vídeo (45 min). Publicado pelo canal Gabriel Priolli. Disponível em: https://youtu.be/5AVPrXwxh1A. Acesso em: 20 dez. 2024.

OLIMPIA, Taynã. Arjan Martins: Quando o Atlântico transborda. Revista Continente, 2021. Disponível em: https://revistacontinente.com.br/edicoes/252/arjan-martins. Acesso em: 07 jun. 2025.

OLIVEIRA, Flávia. Nome e sobrenome: Rosana Paulino é relevante pela carreira artística, pela seriedade da pesquisa. O Globo, 2018. Disponível em: https://oglobo.globo.com/opiniao/nome-sobrenome-23286470. Acesso em: 06 jun. 2025

ORTEGA, Anna. “Somos muito ingênuos em relação ao poder da imagem”, afirma Rosana Paulino. Jornal da Universidade, UFRGS, Porto Alegre, 2021. Disponível em: https://www.ufrgs.br/jornal/somos-muito-ingenuos-em-relacao-ao-poder-da-imagem-afirma-rosana-paulino. Acesso em: 06 jun. 2025.

OSORIO, Luiz Camillo. Conversa com Arjan Martins. Prêmio PIPA, 2018. Disponível em: https://www.premiopipa.com/2018/09/conversa-com-arjan-martins-por-luiz-camillo-osorio-2/. Acesso em: 06 jun. 2025.

PAIVA, Alessandra Simões. A virada decolonial na arte brasileira. São Paulo: Mireveja, 2022.

PEDROSA, Adriano (org.). MASP de bolso. São Paulo: MASP, 2020. Disponível em: https://masp.org.br/acervo/obra/a-permanencia-das-estruturas. Acesso em: 2 dez. 2024.

PIMENTEL, Jonas. Rosana Paulino: a mulher negra na arte. Gelédes, 2016. Disponível em: https://www.geledes.org.br/rosana-paulino-mulher-negra-na-arte/. Acesso em: 30 nov. 2024.

REIS, Rodrigo Ferreira dos. Ôrí e memória: o pensamento de Beatriz Nascimento. Sankofa: Revista de História da África e dos Estudos da Diáspora, ano XIII, n. XXIII, p. 15, abril/2020. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/sankofa/article/view/169143/160374. Acesso: 12 dez. 2024.

ROCHA, Matheus. Arjan Martins reinventa o modo de representar pessoas negras nas artes plásticas. Folha de S. Paulo, 2021. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/09/arjan-martins-reinventa-o-modo-de-representar-pessoas-negras-nas-artes-plasticas.shtml. Acesso em: 05 jun. 2025.

RODRIGUES, Marcelino Euzebio; OLIVEIRA, Luis Fernandes de. Rotas Brasilis no Atlântico Negro. Poíesis Pedagógica, Catalão, v. 17, n. 1, p. 2-15, 2020. DOI: 10.5216/rppoi.v17i1.58359. Disponível em: https://periodicos.ufcat.edu.br/index.php/poiesis/article/view/58359. Acesso em: 23 dez. 2024. DOI: https://doi.org/10.5216/rppoi.v17i1.58359

SANTOS, Adalberto. Pensando na arte da Diáspora. Repertório, [S. l.], n. 29, p. 51–67, 2018. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/revteatro/article/view/25458. Acesso em: 27 nov. 2024. DOI: https://doi.org/10.9771/r.v0i29.25458

SANTOS, Luís Carlos Ferreira dos; OLIVEIRA, Eduardo David de. Filosofar desde os arquipélagos: filosofia afrodiaspórica como disputa de imaginários. Voluntas: Revista Internacional de Filosofia, [S. l.], v. 10, p. 97–109, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/voluntas/article/view/40050. Acesso em: 23 dez. 2024. DOI: https://doi.org/10.5902/2179378640050

SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil, 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

SELIGMANN-SILVA, Márcio. A virada testemunhal e decolonial do saber histórico. Campinas: Editora da Unicamp, 2022. DOI: https://doi.org/10.7476/9788526816473

SILVA, Francisco Rômulo do Nascimento. Po_ética das Mermazárias. Revista Boletim - Observatório da Diversidade Cultural, v. 96, p. p. 93-118, 2022. Disponível: https://observatoriodadiversidade.org.br/boletins/. Acesso em: 02 nov. 2024.

SILVEIRA, Mariana de Moraes. Transatlântico. 2021. Disponível em: https://www.transatlantic-cultures.org/fr/catalog/transatlantico. Acesso em: 30 nov. 2024.

SIMÕES, Igor Moraes. Onde estão os negros? Apagamentos, racialização e insubmissões na arte brasileira. PORTO ARTE: Revista de Artes Visuais, [S. l.], v. 24, n. 42, 2019. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/PortoArte/article/view/98263. Acesso em: 10 jun. 2025. DOI: https://doi.org/10.22456/2179-8001.98263

SOTO, Raianna Morais. A classificação racial como organizadora da modernidade: Uma análise afrocentrada sobre a colonialidade do poder. Dissertação em Relações Internacionais, Universidade Federal da Bahia, 2019.

SOUTO, Stéfane Silva de Souza. Aquilombar-se: Insurgências negras na gestão cultural contemporânea. Revista Metamorfose, Vol. 4, nº 4. 2020, p. 132-145. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/metamorfose/article/view/34426. Acesso em: 01 dez. 2024.

WISSENBACH, Maria Cristina Cortez. Letramento e Escolas. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz; GOMES, Flávio dos Santos (orgs.). Dicionário da Escravidão e Liberdade: 50 textos críticos. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

Published

2025-09-08

How to Cite

Souza Neto, P. A. de, & Lima, T. S. de. (2025). Arjan Martins e Rosana Paulino nos emaranhados do Atlântico Negro:: decolonialidade e pensamento afrodiaspórico na arte contemporânea brasileira. Revista Ñanduty, 13(21), 84–121. https://doi.org/10.30612/nty.v13i21.20598