A banalidade e o extraordinário no cotidiano de filhas e filhos de mães lésbicas

Autores

  • Mônica Fortuna Pontes GEPSID/UERJ

DOI:

https://doi.org/10.30612/nty.v8i12.15303

Palavras-chave:

homoparentalidade, filhos, direitos LGBT

Resumo

A maioria das pesquisas e trabalhos realizados sobre famílias homoparentais são baseados naquilo que pessoas adultas relatam. Sejam profissionais da Medicina e da Psicologia, pensadores da Sociologia, da Antropologia e do Direito, sejam os próprios pais e mães. Filhas e filhos raramente fazem parte das produções sobre o assunto. O presente texto, no entanto, foi pensado e produzido a partir das narrativas de onze filhas e dois filhos de mães lésbicas naquilo que elas e eles enxergam de ordinário e extraordinário em suas famílias. A partir da cartografia realizada, serão discutidos alguns aspectos do que vem a ser “famílias como as outras”, no contexto das homoparentalidades em sociedades heteronormativas, brasileira e francesa. Os relatos obtidos nas entrevistas apontam um cotidiano familiar feito de encontros, desencontros, desafios e trocas afetivas, ou seja, como ocorre nas múltiplas configurações familiares. Contudo, as semelhanças entre as famílias começam a borrar a partir das interações sociais dessas filhas e filhos, à medida que a vida privada se mistura com a pública. Assim, percebem que, aos olhos sociais, há diferenças nas semelhanças, há desigualdades entre suas famílias e a de colegas. No banal do dia-a-dia em família emerge o extraordinário da homoparentalidade. Nas entrevistas foram observadas repercussões distintas relacionadas aos caminhos percorridos, na busca por aquisição de direitos LGBT, judiciário no Brasil e legislativo na França. Assim, entre o ordinário e o extraordinário, essas/es filhas/os confrontam adversidades e as transformam em potência de reinvenção.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

BORGES, Hélia. 2019. A clínica contemporânea e o abismo do sentido. Rio de Janeiro: 7 letras.

BORRILLO, Daniel. 2010. Homofobia: História e crítica de um preconceito. Belo Horizonte: Autêntica.

CADORET, Anne. 2014. Des parents comme les autres. Homosexualité et parenté. 2ª ed. Paris: Odile Jacob.

CÔTÉ, Isabel et al. 2019. “Récits d’enfants sur leur constellation familiale: les liens relationnels au sein des familles lesboparentales avec donneur connu au Québec”. Devenir, 2 (31): 125-143.

DAVIS, Erin.; FRIEL, Lisa. 2001. “Adolescent sexuality: disentangling the effects of family structure and family context”. Journal of marriage and family, n. 63, p. 669-681.

DELEUZE, Gilles.; PARNET, Claire. 1998. Diálogos. São Paulo: Escuta.

DIAS, Maria Berenice. 2009. União homoafetiva: o preconceito & a justiça. 4. ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais.

FASSIN, Eric. 2008. L’inversion de la question homossexuelle. Paris: Éditions Amsterdam.

FLAKS, David. et al. 1995. “Lesbians Choosing Motherhood: A Comparative Study of Lesbian and Heterosexual Parents and Their Children”. Developmental Psychology, 31 (1), p. 105-114.

FOUCAULT, Michel. 1988. História da Sexualidade 1: A vontade de saber. São Paulo: Graal.

FOUCAULT, Michel. 1979. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal.

FOUCAULT, Michel. 2010. Em defesa da sociedade. São Paulo: WMF Martins Fontes.

GROSS, Martine. 2013. Parent ou homo, faut-il choisir? Idées reçues sur l’homoparentalité. Paris: Le cavalier bleu.

FULCHER, Megan.; SUTFIN, Erin.; PATTERSON, Charlotte. 2008. “Individual Differences in Gender Development: Associations with Parental Sexual Orientation, Attitudes, and Division of Labor”. Sex Roles, n. 58, p. 330-341.

GOLDBERG, Abbie. 2007. “(How) Does It Make a Difference? Perspectives of Adults with Lesbian, Gay, and Bisexual Parents”. American Journal of Orthopsychiatry, 77 (4), p. 550-562.

GOLOMBOK, Susan.; SPENCER, Ann.; RUTTER, Michael. 1983. “Children in lesbian and singleparent households: psychosexual and psychiatry appraisal”. J. Child Psychology Psychiatry, 24(4), p. 551-572.

GOLOMBOK, Susan et al. 2003. “Children with Lesbian Parents: A Community Study”. Developmental Psychology, 39(1), p. 20-33.

hooks, bell. 1984. Feminist theory from margin to center. Cambridge: South End Press.

MACCALLUM, Fiona; GOLOMBOK, Susan. 2004. “Children raised in fatherless families from infancy: a follow-up of children of lesbian and single heterossexual mothers at early adolescence”. Journal of psychology and psychiatry, n. 45, p. 1407-1419.

PONTES, Mônica. 2019. Filhas e filhos de mães lésbicas: caminhos e margens no Brasil e na França. Tese de Doutorado em Psicologia Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ.

RABINOW, Paul; DREYFUSS, Hubert. 1995. Michel Foucault. Uma trajetória filosófica. Para além do estruturalismo e da hermenêutica. Rio de Janeiro: Forense Universitária.

ROLNIK, Sueli. 2014. Cartografia sentimental, Porto Alegre: Meridional e Editora da UFRGS.

ROZÉE, Virginie. “L’homomaternité issue de l’assistance médicale à la procréation en France: état des lieux d’un recours transnational”. In: BORRILLO, E. ; FASSIN, E. (dir.). Dossier “La bioéthique en débat: angles vifs et points morts”. Raison Publique: Presses universitaires de Rennes, 2012. Disponível em : <http://www.raison-publique.fr/article531.html >. Acesso em: 20 fev 2018

RUBIN, Gayle. 1989. “Reflexionando sobre el sexo: notas para uma teoria radical de la sexualidade”. In: VANCE, Carole. (org.). Placer y peligro: explorando la sexualidad femenina. Madrid: Revolución, p. 113-190.

SEDGWICK, Eve. 2007. “A epistemologia do armário”. Cadernos Pagu, n. 28, p. 19-54.

TEDESCO, Silvia.; SADE, Christian.; CALIMAN, Luciana. 2013. “A entrevista na pesquisa cartográfica”. Fractal, Revista de Psicologia, 25(2), p. 299-322.

VANFRAUSSEN, Katrien; PONJAERT-KRISTOFFERSEN, Ingrid; BREWAEYS, Anne. 2002. “What does it mean for youngsters to grow up in a lesbian family created by means of donor insemination?”. Journal of reproductive and infant psychology, 20(4), p. 237-52.

VECHO, Oliver. ; SCHNEIDER, Benoît. 2005. “Homoparentalité et développement de l'enfant : bilan de trente ans de publications”. La psychiatrie de l’enfant, Paris, 48(1), p. 271-328.

WAINRIGHT, Jennifer; RUSSEL, Stephen; PATTERSON, Charlotte. 2004. “Psychosocial Adjustment, School Outcomes, and Romantic Relationships of Adolescents With Same-Sex Parents”. Child Development, 75(6), p. 1886-1898.

WAINRIGHT, Jennifer; PATTERSON, Charlotte. 2006. “Delinquency, Victimization, and Substance Use Among Adolescents with Female Same-Sex Parents”. Journal of Family Psychology, 20 (3), p. 526-530.

ZAMBENETETTI, Gustavo.; SILVA, Rosane. 2011. “Cartografia e genealogia: aproximações possíveis para a pesquisa em psicologia social”. Psicologia & Sociedade, 23(3), p.454-463.

ZIMBRÃO, Adélia. 2018. Igualdade de diferença em tensão: disputas travadas por reconhecimento de direitos na arena legislativa. Tese de Doutorado em Psicologia Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ.

Downloads

Publicado

2020-10-26

Como Citar

Pontes, M. F. (2020). A banalidade e o extraordinário no cotidiano de filhas e filhos de mães lésbicas. Revista Ñanduty, 8(12), 45–72. https://doi.org/10.30612/nty.v8i12.15303