Um olhar sobre a construção das identidades femininas: os “causos” de assombração em Caldas, Minas Gerais
DOI:
https://doi.org/10.30612/mvt.v6i10.10578Keywords:
Tradição. Religiosidade. Cotidiano.Abstract
A proposta deste artigo assenta-se em uma análise da formação social da mulher caldense sob o prisma das narrativas de assombração, prática difundida do município mineiro de Caldas e que também se configura como uma crença religiosa popular. Ao adentrarmos na dimensão das práticas e representações coletivas, observamos a construção da mulher enquanto uma idealização edificada sobre preceitos religiosos e que possui um discurso capaz de fornecer elementos que naturalizam uma concepção subordinada, que atuam sobre seu corpo e reprimem suas vontades. Nesse sentido, a primeira parte deste trabalho procura elucidar estes contos populares e os comportamentos considerados desviantes, observados a partir da noção de pecado e protagonizados por mulheres que transgrediram as normas sociais sendo consideradas assombrações que vagam no mundo dos vivos. Na segunda parte, por meio das narrativas de assombração, procuramos evidenciar alguns aspectos das cotidianidades de nossas narradoras. A metodologia utilizada é a história oral combinada com a observação participante, essenciais para o desenvolvimento das pesquisas de campo, uma vez que a crença na existência das assombrações permeia as relações sociais e se debruça exclusivamente sobre a tradição oral.Downloads
References
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Memória do Sagrado: estudos de religião e ritual. São Paulo: Ed. Paulinas, 1985.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Os deuses do Povo: um estudo sobre a religião popular. São Paulo: Brasiliense, 1980.
BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução, Renato Aguiar. Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
CANDIDO, Antonio. Parceiros do Rio Bonito. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2001.
COMAROFF, J; COMAROFF, J. “Etnografia e imaginação histórica. PROA - Revista de Antropologia e Arte [on-line], ano 02, vol. 01, n. 02, nov. 2010: 1-72.
DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. História Oral e narrativa: tempo, memória e identidades. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
FRASER, Mapeando a imaginação feminista: da redistribuição ao reconhecimento e à representação. Revista Estudos Feministas, v. 15, n. 2, p. 291-308, 2007.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas, Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1989.
GINZBURG, Carlo. Os andarilhos do bem: feitiçarias e cultos agrários nos séculos XVI e XVII. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012.
MATOS, Marlise. Movimento e Teoria Feminista: é possível reconstruir a teoria feminista a partir do Sul global? Social Político, v.18, n. 36, p. 67-92, 2010.
MATOS, Raimundo José da Cunha. Corografia histórica da Província de Minas Gerais (1837). Belo Horizonte: Editora Itatiaia; São Paulo: Editora da USP, 1981.
MOHANTY, C. T. 1984. Under Westerns Eyes:Feminist Scholarship and Colonial Discourses. Boundary 2, Durham, v. 12, n. 3, p. 333-358.
MOTT, Luiz. Cotidiano e vivência religiosa: entre a capela e o calundu. In: NOVAIS, Fernando (coord.). História da vida privada no Brasil. Vol. 1. Cotidiano e vida na América Portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
ORTNER, Sherry. Poder e Projeto: Reflexões sobre Agência. In: Grossi, M.; Eckert, C; Fry, P. Conferências e Diálogos: Saberes e Práticas Antropológicas. Blumenau: Editora Nova Letra, 2006. P. 45-80.
PIERRE SANCHIS, J.F. As tramas sincréticas da história. Sincretismo e modernidades no espaço luso-brasileiro. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 28, p.123-138, 1995.
PIMENTA, Reynaldo. O povoamento do planalto da Pedra Branca – Caldas e região São Paulo: Rumograf, 1998. Obra póstuma.
PISCITELLI, Adriana. Recriando a (categoria) mulher? In: ALGRANTI, L. (org). A prática feminista e o conceito de gênero. Textos didáticos, n. 48, p. 7-42, 2002.
POLLACK, Michael. Memória e Identidade Social. Estudos Históricos, n.5, v.10, p 200-212, 1992.
PORTELLI, Alessandro. Tentando aprender um poquinho. Algumas reflexões sobre História Oral. In: Proj. São Paulo, n. 15, p. 13-49, 1999.
PORTO, Liliana. A ameaça do outro: magia e religiosidade no Vale do Jequitinhonha (MG). São Paulo: Attar, 2007.
SÁEZ, Oscar Calavia. Fantasmas Falados: mitos e mortos no campo religioso brasileiro. Campinas: Editora da Unicamp, 1996.
SAHLINS, Marshall. Ilhas de História. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990.
SCOTT, Joan. História da Mulheres. In: A escrita da história. Novas Perspectivas. São Paulo, Ed da Unesp, 1992, p. 62-95.
SIRINELLI, Jean-François. A geração. In: FERREIRA, Marieta de Moraes. AMADO, Janaína. Usos e abusos da História Oral. 5.ed. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2002.
Downloads
Published
How to Cite
Issue
Section
License
Authors must accept the publication rules when submitting the journal, as well as agree to the following terms:
(a) The Editorial Board reserves the right to make changes to the Portuguese language in the originals to maintain the cultured standard of the language, while respecting the style of the authors.
(b) Authors retain the copyright and grant the journal the right to first publication, with the work simultaneously licensed under the Attribution-NonCommercial-ShareAlike 3.0 Brazil (CC BY-NC-SA 3.0 BR) that allows: Share - copy and redistribute the material in any medium or format and Adapt - remix, transform, and create from the material. CC BY-NC-SA 3.0 BR considers the following terms:
- Attribution - You must give the appropriate credit, provide a link to the license and indicate whether changes have been made. You must do so under any reasonable circumstances, but in no way that would suggest that the licensor supports you or your use.
- NonCommercial - You may not use the material for commercial purposes.
- Sharing - If you remix, transform, or create from material, you must distribute your contributions under the same license as the original.
- No additional restrictions - You may not apply legal terms or technological measures that legally restrict others from doing anything that the license permits.
(c) After publication, authors are allowed and encouraged to publish and distribute their work online - in institutional repositories, personal page, social network or other scientific dissemination sites, as long as the publication is not for commercial purposes.