Pulsos e Impulsos: eventos chave, gatilhos e percepções na engrenagem da violência contra migrantes venezuelanos no Brasil e no Equador

Resumo

A crise na Venezuela gerou o maior deslocamento populacional da história recente da América Latina e a segunda maior onda de refugiados globalmente. A presença dos venezuelanos em alguns países gerou desafios e percepções negativas que alimentaram atitudes xenofóbicas e, em alguns casos, levaram à violência contra os migrantes. Para estudar esse fenômeno, propomos o modelo de um relógio mecânico que ilustra uma interseção complexa de fatores que compreende o que denominamos de engrenagens da violência. O gatilho é um evento-chave que ativa esse mecanismo e a partir dele abordamos a construção e ativação de esquemas cognitivos, a desumanização desses migrantes, a articulação da mídia nesse processo, a reação local e os resultados político-normativos. A análise qualitativa de artigos, relatórios e notícias locais e a realização de entrevistas com atores-chave no processo migratório foi utilizada para avaliar quatro gatilhos no Equador e Brasil. A avaliação descritivo-temporal realizada demonstrou que atitudes violentas somente são engatilhadas quando há um imaginário negativo preliminar sobre os migrantes que, propagado pela mídia, fomenta um cenário de insegurança que instiga a violência e pressiona ações governamentais, de maneira que esses diversos impulsos gerados por um gatilho podem retroalimentar as engrenagens.