Como centralizar raça e racismo nas RI à luz do debate sobre a Agenda 2030?

Autores

DOI:

https://doi.org/10.30612/rmufgd.v12i24.16760

Palavras-chave:

Raça, Racismo, Agenda 2030, Objetivos do Desenvolvimento Sustentável

Resumo

O texto aborda a formulação e implementação da Agenda 2030 a partir de uma perspectiva crítica racializada na análise dos ODS. Uma vez que os ODS foram construídos a partir de uma base prática e intelectual ocidentalista, constituem uma linguagem de política internacional de perpetuação das desigualdades de cunho étnico-racial que tem muitas dificuldades em promover transformações nos países do Sul Global. O texto se baseia em uma análise crítica do discurso, avaliando os principais documentos oficiais da Agenda 2030, bem como um conjunto da literatura sobre temas raciais. Argumenta-se que a falta de representatividade racial na Agenda 2030 limita seu potencial e gera dissonâncias na sua efetividade como uma agenda global, ilustrando sobre o papel da filosofia Ubuntu como uma perspectiva racializada alternativa. O estudo conclui que a eficácia da Agenda 2030 depende da incorporação de perspectivas não ocidentais, especialmente no que diz respeito às questões étnico-raciais, e defende uma abordagem mais crítica e inclusiva para promover uma implementação mais efetiva dos ODS.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Thiago Gehre Galvão, Universidade de Brasília - Instituto de Relações Internacionais

Coordenador do Programa Estratégico UnB 2030: Sustentabilidade e Desenvolvimento Inclusivo da Universidade de Brasília. Doutor em Relações Internacionais (UnB, 2011) e professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (2015). Pesquisa e ensina sobre Relações Internacionais do Brasil, Estudos de Desenvolvimento, Cooperação Sul-Sul, Educação Global e Estudos Críticos de Segurança. Trabalhou na Presidência da República Brasileira entre 2012 e 2015, na Assessoria de Cooperação Internacional Federativa e na Comissão Nacional de População e Desenvolvimento (CNPD). Atualmente, está pesquisando sobre BRICS, Política Visual Global, Pensamento Criativo e sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e a Agenda 2030.

Maria Victória Venâncio Romero, Universidade Federal da Bahia

Universidade Federal da Bahia, Salvador (BA), Brasil

Natalia Mendonça Gonçalves, Universidade de Brasília

Universidade de Brasília, Brasília (DF), Brasil

Referências

ALEJANDRO, Audrey. Western Dominance in International Relations? The Internationalization of IR in Brazil and India. 2018. London: Routledge.

ÁFRICA DO SUL. Building a Better World: The Diplomacy of Ubuntu - White Paper on South Africa’s Foreign Policy. Cape Town, 2011.

ALMEIDA, Silvio Luiz de. O que é racismo estrutural?. Belo Horizonte: Letramento, 2019.

ANIEVAS, Alexander; MANCHANDA, Nivi; SHILLIAM, Robbie. "Confronting the Global Colour Line: An Introduction". In: ANIEVAS, Alexander; MANCHANDA, Nivi; SHILLIAM, Robbie (eds.). Race and Racism in International Relations: Confronting the Global Colour Line. New York: Routledge, 2015.

BAKHTIN, M. M. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico da linguagem. 16ª ed. São Paulo: Hucitec, 2014.

BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria do discurso: fundamentos semióticos, 3.ed. São Paulo: Humanitas, 2002.

BASTOS, C. L; KELLER, V. Aprendendo a aprender. Petrópolis: Vozes, 1995.

BENHABIB, S. Dignity in Adversity: Human Rights in Troubled Times. Cambridge: Polity Press, 2011.

BRASIL. Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde - Datasus. Óbitos maternos. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sim/cnv/mat10uf.def. Acesso em: 16 set. 2021.

CANEDO, D. “Cultura é o quê”. Reflexões Sobre o Conceito de Cultura e a Atuação dos Poderes Públicos. Salvador: UFBA, mai. 2009.

CUCHE, Denys. O Conceito de Cultura nas Ciências Sociais. Tradução de Viviane Ribeiro. 2 ed. Bauru: EDUSC, 2002.

DU BOIS, W. E. B. Worlds of color. New York, Mainstream Publishers, 1961.

FANON, Frantz. Por uma revolução africana: textos políticos. Rio de Janeiro: Zahar, 2021.

FERREIRA, Sibelle. A razão negra e os direitos humanos: as políticas internacionais contra a discriminação racial. 2017.

FLOR, Wanderson. Filosofia Africana: Ubuntu, com Wanderson Flor. Entrevista concedida a Murilo Ferraz, Marcos Carvalho Lopes e Adilbênia Machado. Podcast Filosofia Pop, 16 nov. 2015. Disponível em: https://open.spotify.com/episode/02TCg055iHGDpieDUaEQb6?si=3TSwI2_WStC_9KqWErav_w. Acesso em: 08/04/2021.

GONZALEZ, Lélia. 2020. Por um Feminismo Afro-Latino-Americano: Ensaios, Intervenções e Diálogos. Rio Janeiro: Zahar. 375 pp.

GRANGE, L. The Philosophy of Ubuntu and Education in South Africa. Education and Humanism, 2011, p. 67-78.

GROSFOGUEL, Ramón. A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI. Revista Sociedade e Estado –, [S.L], v. 31, n. 1, jan./abr. 2016.

HENDERSON, Errol A. "Hidden in plain sight: racism in international relations theory". In: ANIEVAS, Alexander; MANCHANDA, Nivi; SHILLIAM, Robbie (eds.). Race and Racism in International Relations: Confronting the Global Colour Line. New York: Routledge, 2015.

HIDALGO, A.; GARCÍA, S.; CUBILLO, A.; MEDINA, N. Los Objetivos del Buen Vivir. Una propuesta alternativa a los Objetivos de Desarrollo Sostenible. Iberoamerican Journal of Development Studies, v.8, 2019, p. 6-57.

IPEA. ODS – Metas Nacionais dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: Proposta de Adequação. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. 2018.

KATONGOLE, E. Ethics in the workplace and the power of culture: Is Ubuntu acurse or a blessing? In: RAIDT, E. H. Ethics in the Workplace. Johannesburg: St. Augustine Publications, 2001, p. 11-16.

KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Editora Cobogó, 2019.

LOPES, A. M. H. Descolonização e Racismo: Atualidade e crítica. In: Sankofa, Revista de História da África e de Estudos da Diáspora Africana. Ed. USP, Ano IV, n. 8, 2011.

MARCONI, M. de A. e LAKATOS, E. M. Técnicas de Pesquisa: pesquisa, planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de dados. Revisada e ampliada. São Paulo, SP: Atlas, 1999.

MATSHE, Getrude. Born On the Continent - Ubuntu. [s.l.]: CreateSpace Independent Publishing Platform, 2012.

MBEMBE, Achille. Crítica da Razão Negra. Lisboa: Antígona Editores, 2013.

MUNASINGHE, M. Environmental Economics, and Sustainable Development. World Bank, Washington DC, 1993.

NASCIMENTO, Alexandre. Ubuntu como fundamento. Revista de Estudos Culturais e Afrobrasileiros, v. 20, 2014.

NICOLAIDES, A. Gender Equity, Ethics, and Feminism: Assumptions of an African Ubuntu Oriented Society. Journal of Social Sciences, 42:3, 2015, p. 191-210.

NUNES, T. S. Pan-Africanismo e Libertação: A Luta Anti-Colonial de Abdias do NASCIMENTO. Revista Idealogando, ano 2, v. 2, n. 1, 2018, p. 221-226.

ONU. Glossário de termos do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5: Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas. Organização das Nações Unidas, 2016.

ONU. Glossário de termos do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 6: Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todas e todos.Organização das Nações Unidas, 2018.

ONU. Glossário de termos do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 7: Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todas e todos.Organização das Nações Unidas, 2018.

ONU. Glossário de termos do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 9: Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação. Organização das Nações Unidas, 2016.

ONU. Glossário de termos do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 11: Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. Organização das Nações Unidas, 2018.

ONU. Glossário de termos do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 12: Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis.Organização das Nações Unidas, 2019.

ONU. Glossário de termos do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 13: Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos.Organização das Nações Unidas, 2017.

ONU. Glossário de termos do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14: Conservar e usar sustentavelmente os oceanos, os mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável.Organização das Nações Unidas, 2018.

ONU. Marco de Parceria das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável no Brasil 2017-2021. Nações Unidas no Brasil. 2016.

ONU. Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável: Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio), Brasil, v. 1, n. 1, p. 1-49, out./2015.

ONU MULHERES. Mulheres Negras destacam potencial dos ODS para inclusão da população negra e eliminação do racismo. Disponível em: http://www.onumulheres.org.br/noticias/mulheres-negras-destacam-potencial-dos-ods-para-inclusao-da-populacao-negra-e-eliminacao-do-racismo/. Acesso em: 2 ago. 2021.

PEREIRA, A. C. J. Pensamento social e político do movimento de mulheres negras: o lugar de ialodês, orixás e empregadas domésticas em projetos de justiça social. 2016.

QUADROS. M. F. Descolonizando as relações internacionais: a raça e o racismo como categoria de análise. Semina - Revista dos Pós-Graduandos em História da UPF, v.18, n.1, p.39-57, 5 Nov. 2019.

QUIJANO, A. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e Ciências Sociais. In: A Colonialidade do Saber: Eurocentrismo e Ciências Sociais. Perspectivas Latino-Americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005, p. 117-142.

RAMOSE, M. African Philosophy through Ubuntu. Harare: Mond Books, 1999, p.

-66.

_______. A Importância Vital do “Nós”. Revista do Instituto Humanitas Unisinos, São Leopoldo, edição 353, dez. 2010, p. 8-11.

SWANSON, D. Ubuntu, uma “alternativa ecopolítica” à globalização econômica neoliberal. Revista do Instituto Humanitas Unisinos, São Leopoldo, edição 353, dez. 2010, p. 11-13.

VAN DIJK,Teun A. Discurso e Poder. São Paulo. Contexto, 2018.

VITALIS, Robert. White world order, black power politics: The birth of American International relations. NY: Cornell University Press, 2015.

VOLÓCHINOV, Valentin (Círculo de Bakhtin). Marxismo e filosofia da linguagem. Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. São Paulo: Editora 34, 2017.

WAGHID, Y. On the Educational Potential of Ubuntu. In: TAKYI-AMOAKO, E. J.; ASSIÉ-LUMUMBA, N. T. Re-Visioning Education in Africa. Palgrave Macmillan, 2018, p. 55-65.

Downloads

Publicado

2024-08-19

Como Citar

Galvão, T. G., Romero, M. V. V., & Gonçalves, N. M. (2024). Como centralizar raça e racismo nas RI à luz do debate sobre a Agenda 2030?. Monções: Revista De Relações Internacionais Da UFGD, 12(24), 81–105. https://doi.org/10.30612/rmufgd.v12i24.16760

Edição

Seção

Artigos Dossiê - Dossiê "Racismos e Antirracismos nas/para as Relações Internacionais”