Ao passo da hipoterapia:

Agenciamentos múltiplos na medicina contemporânea

Autores

  • Ítalo Cassimiro Costa (PPGAn / UFMG / CAPES

DOI:

https://doi.org/10.30612/nty.v9i13.15549

Palavras-chave:

Hipoterapia, Ciência, Agenciamento

Resumo

Pretende-se, no presente artigo, refletir sobre as múltiplas formas de medicalização da vida que ressurgem nos contextos contemporâneos. A partir do trabalho etnográfico em centros de hipoterapia (terapia assistida por cavalo) de Minas Gerais, circunscrevo a relação de coexistência entre terapeutas, cavalos, praticantes de hipoterapia, trabalhadores, familiares, equipamentos de montaria e tantos outros envolvidos na busca pela manutenção da saúde por meio de uma técnica que vem ganhando contornos diferentes em cada contexto. A partir desse chão etnográfico, a narrativa que compõe este texto se encarrega de duas tarefas: primeiro, refletir sobre a vinculação intra e interespecífica que têm como finalidade a manutenção da saúde humana por meio da hipoterapia; em segundo lugar, deslocar o entendimento sobre a medicalização da vida para o âmbito dos estudos sociais da ciência. O artigo leva em conta a multiplicidade inevitável dos fenômenos que compõem as tramas da técnica e do corpo, as práticas de tratamento e cura, assim como as categorizações médicas, as quais ao modificarem-se transformam toda uma rede de agentes que buscam a preservação da saúde por meio das terapias complementares. Afinal, como justificar os benefícios que a relação com os cavalos traz para a saúde senão pelas conexões com a linguagem, pelas hipóteses científicas ou pelas políticas públicas? Argumenta-se, portanto, que perspectivas universalistas sobre as ciências do corpo tendem a abstrair a compreensão dos fenômenos e suprimir a produção das evidências ciêntíficas a uma especialidade ou outra, enquanto a hipoterapia se multiplica interdisciplinarmente em formas localizadas de operação do conhecimento científico.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Livro

BRASIL. Ministério da Saúde. 2018. Manual de implantação de serviços de práticas integrativas e complementares no SUS. 1ª ed. Brasília, Ministério da Saúde.

COULTER, Kendra. 2016. Animals, Work, and the Promise of Interspecies Solidarity.1ª edição. Londres, Palgrave Macmillan.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. 2017. Mil Platôs – Capitalismo e Esquizofrenia. Vol. 1. 2ª ed. Rio de Janeiro, Editora 34.

FOUCAULT, Michel. 1989. Microfísica do poder. Rio de Janeiro, Graal.

GIDDENS, Anthony. 1991. As consequências da Modernidade. Tradução de Raul Fiker. São Paulo, Editora Unesp.

HARAWAY, Donna. 2003. O Manifesto das Espécies de Companhia: Cães, Pessoas e a Outridade Significante. Tradução de Sandra Michelli da Costa Gomes. Chicago, PricklyParadigm Press.

ILLICH, Ivan. 1975. A expropriação da saúde: nêmesis da medicina. Tradução de José Kosinski de Cavalcanti. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira.

LATOUR, Bruno. 2019. Jamais Fomos Modernos: ensaio de antropologia simétrica. 4ª ed. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo, Editora 34.

LATOUR, Bruno; WOOLGAR, Steve. 1997. A vida de laboratório: a produção dos fatos científicos. 1ª ed. Rio de Janeiro, Editora RelumeDumará.

LEI FEDERAL nº 13.830, 2019.

LÉVI-STRAUSS, Claude. 2008. Antropologia Estrutural. Tradução de Beatriz Perrone-Moisés. São Paulo, Cosac Naify.

ORTEGA, Francisco; VIDAL, Fernando. 2019. Somos nosso cérebro? Neurociências, subjetividade, cultura. 1ª ed. Tradução de Alexandre Martins. São Paulo, n-1 edições.

Artigo em Coletâneas

ADELMAN, Miriam; THOMPSON, Kirrilly. 2017. “IntroductiontoEquestrianCultures in Globaland Local Contexts”. In: ADELMAN, Miriam; THOMPSON, Kirrilly (eds.). Equestrian Cultures in Global and Local Contexts. Curitiba, Springer; Wayville, Springer, p.1-14.

BAYLES, Grégory; BEMILLI, Céline. 2009. “Aurignacian animal exploitation at Solutré (Saône-et-Loire, France)”. In FONTANA, L. et al. (eds.). In search of total animal exploitation by Upper Palaeolithic and Mesolithic hunter-gatherer societies. Lisboa, Proceedings of the XV th UISPP congress 2006. Oxford, BAR International Series, X, 2009, p.37-47.

PICKEL-CHEVALIER, Sylvine. 2017. “Globalization and Equestrian Culture: The Case of Equitation in the French Tradition”. In: ADELMAN, Miriam; THOMPSON, Kirrilly (eds.). Equestrian Cultures in Global and Local Contexts. Curitiba, Springer; Wayville, Springer, p.81-104.

Artigo em periódico

BERNÁLDEZ-SÁNCHEZ, Eloísa; GARCÍA-VIÑAS, Esteban. 2019. “The equids represented in cave art and currenthorses: a proposal to determine morphological differences and similarities”. Anthropozoologica, Paris, 54(1):1-12.

BOTELHO, Luiz A. de Arruda. 1997. “A hipoterapia na medicina de reabilitação”. Revista Acta Fisiátrica, São Paulo, 4(1): 44-46.

SEGATA, Jean et al. 2017. “Apresentação”. Horizontes Antropológicos: antropologia e animais, Porto Alegre, 9-16.

SOUZA, Iara Maria de Almeida. 2017. “Corpos comensuráveis: produção de modelos animais nas ciências biomédicas”. Horizontes Antropológicos: antropologia e animais, Porto Alegre, 275-302.

TEIXEIRA, Ivana. 2016. “Relações interespecíficas de cuidado no sistema convencional brasileiro: uma análise antropológica sobre a dinâmica da zooterapia”. Iluminuras, Porto Alegre, 17(42): 390-424.

TSING, Anna. 2012 [2015]. “Margens indomáveis: cogumelos como espécies companheiras”. Ilha, Florianópolis,17(1): 178-201.

UEXKÜLL, Thure Von. 2004. “A teoria da Umwelt de Jakob von Uexküll”. Galáxia, São Paulo,7: 19-48.

Monografia, dissertação e teses acadêmicas

MAGALDI, Felipe. 2018. A Unidade das Coisas Nise da Silveira e a genealogia de uma psiquiatria rebelde no Rio de Janeiro, Brasil. Tese de Doutorado em Antropologia Social, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Trabalhos obtidos na Internet

ALMADA, Emmanuel Duarte; OLIVEIRA, Ricardo Alexandre Pereira de. 2019. Dos sentidos da carroça: cavalos urbanos em disputa por carroceiros e por empreendedores da libertação animal. In: https://ocs.ige.unicamp.br/ojs/react/article/view/2858

CESARINO, Letícia. 2015. Estudos pós-coloniais da ciência e tecnologia: desafios e possibilidades. In: http://ocs.ige.unicamp.br/ojs/react/issue/view/70

GOFFMAN, Erving. 1891 [2004]. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Tradução de Mathias Lambert. In: http://www.aberta.senad.gov.br/medias/original/201702/20170214-114707-001.pdf

ORGANIZAÇÃO Mundial da Saúde. 2019. WHO Global Reporton Traditional and Complementary Medicine. Geneva, 2019. Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO. In: https://www.who.int/health-topics/traditional-complementary-and-integrative-medicine#tab=tab_1

Downloads

Publicado

2021-06-23

Como Citar

Costa , Ítalo C. (2021). Ao passo da hipoterapia: : Agenciamentos múltiplos na medicina contemporânea. Revista Ñanduty, 9(13), 226–253. https://doi.org/10.30612/nty.v9i13.15549

Edição

Seção

Dossiê - Humanos e outros que humanos em paisagens multiespecíficas