Intervenções humanitárias e teoria crítica no Brasil: inibições e alternativas radicais ao paradigma da Paz Liberal

Autores

  • Miguel Borba de Sá Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

DOI:

https://doi.org/10.30612/rmufgd.v8i15.11533

Palavras-chave:

Intervenções humanitárias. Minustah. Teoria Crítica.

Resumo

A baixa penetração no Brasil de teorias críticas ao intervencionismo humanitário reflete-se na escassez de trabalhos acadêmicos capazes de questionar frontalmente a Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (Minustah). Este artigo busca suprir parcialmente estas lacunas mediante a apresentação de ferramentas teóricas disponíveis alhures, em paralelo às observações feitas durante trabalho de campo no Haiti. O objetivo é romper as inibições quanto às objeções radicais à chamada Paz Liberal de modo a abrir caminho para uma teorização crítica brasileira que possa ir além daquela já disponível no mundo acadêmico anglo-saxão.

Recebido em: setembro de 2019

Aceito em: fevereiro de 2020

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Miguel Borba de Sá, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Professor Doutor da Universidade Federal de Santa Catarina.

Referências

ABDENUR, A.; CALL, C. A “Brazilian way”? Brazil’s approach to peacebuilding. Order from Chaos – Foreign Policy in a Troubled World. Brookings Institute. Geoeconomics and global issues. Paper 5, February, 2017.

AMORIM, C. Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Celso Amorim, na sessão de abertura da Reunião Internacional de Alto Nível sobre o Haiti. Brasília: Ministério das Relações Exteriores, 23 de Maio de 2006.

ANAM, S. Peacebuilding: the Shift towards a Hybrid Peace Approach. Global & Strategis, vol. 9, n. 1, p.37-48, 2015.

BARROS, R. et. al. A Medicina Veterinária Militar Brasileira em Operações de Paz: Experiências Colhidas na Missão da Organização das Nações Unidas para Estabilização do HAITI. Coleção Meira Mattos: revista das Ciências Militares – ECEME, vol. 7, n. 29, pp.121-129, Maio/Agosto, 2013.

BHUTA, N. Against State-Building. Constellations, vol. 15, n. 4, p. 517-542, 2008.

BLANCO, R.; GUERRA, L. A Minustah como uma missão civilizadora: uma análise crítica da política internacional para estabilização do Haiti. Revista de Estudos Internacionais, vol. 8, n. 3, p. 259-275, 2017.

BORBA DE SÁ, M. “Haitianismo”: colonialidade e biopoder no discurso político brasileiro. Tese de doutorado em Relações Internacionais, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2019.

BORBA DE SÁ, M.; SAID, M.; WANSETTO, R. Militarização Tipo Exportação: o perigo da Indústria Humanitária brasileira. Le Monde Diplomatique, 04/05/2017.

BRAGA, C. Os desafios iniciais da participação das Forças Armadas Brasileiras na MINUSTAH. In: HAMANN, E.; TEIXEIRA, C. (Orgs.). A participação do Brasil na MINUSTAH (2004-2017): percepções, lições e práticas relevantes para futuras missões. Edição especial – coletânea de artigos. Rio de Janeiro: Igarapé/CCOPAB, 2017.

BURGUIERES, M. Feminist Approaches to Peace: Another Step for Peace Studies, Millennium: Journal of International Studies, vol. 19, n,1,p.1-18,1990.

CARPENTER, C. Feminism, Nationalism and Globalism: Representations of Bosnian “War Babies” in the Western Print Media. In: SOJBERG, L.; VIA, S. (eds.). Gender, War and Militarism: feminist perspectives. Santa Barbara: Praeger, 2010.

CARVALHO, V. A música brasileira na MINUSTAH: a arte do soldado como diplomacia. In: HAMANN, E.; TEIXEIRA, C. (Orgs.). A participação do Brasil na MINUSTAH (2004-2017): percepções, lições e práticas relevantes para futuras missões. Edição especial – coletânea de artigos. Rio de Janeiro: Igarapé/CCOPAB, 2017.

CASTRO-GÓMEZ, S. Ciências sociais, violência epistêmica e a “invenção do outro”. In: LANDER, E. (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais – perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005.

CHERY, D. “Water for Profit: Neocolonialism as Cannibalism”. Dancing with our Gods, 22/05/2017.

CLAUHS, A. Os Impactos da Formação Multiétnica na Liderança Militar Brasileira em Missões de Paz. Coleção Meira Mattos: revista das Ciências Militares – ECEME, vol. 7, n. 29, pp.99-111, Maio/Agosto, 2013.

CONING, C. Adaptive Peacebuilding. International Affairs, Vol. 94, n.2, p.301–317, 2018.

CONSTANTINOU, C.; OPONDO, S. Engaging the ‘ungoverned’: The merging of diplomacy, defence and development. Cooperation and Conflict, vol. 51, n.3, p.307-324, 2016.

COX, R. Social Forces, States and World Orders: Beyond International Relations Theory. Millennium - Journal of International Studies, vol.10, n.2, p.126-155, 1981.

DILLON, M.; REID, J. The Liberal Way of War: killing to make life live. London/New York: Routledge, 2009.

DUFFIELD, M. Development, Security and Unending War: Governing the World of Peoples. Malden: Polity Press, 2007

_______ . Human Security: Linking Development and Security in an Age of Terror. In: New Interfaces between Security and Development (panel). Bonn: 11th General Conference of the EADI, 21-24 September, 2005.

DUSSEL, E. Europa, modernidade e eurocentrismo. In: LANDER, E.(Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais – perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005.

ENLOE, C. Bananas, Beaches and Bases: making feminist sense of international politics. Berkley: University of California Press, 2014.

FACCHINI, J.; TOLEDO, A. Da transformação de conflitos à paz híbrida: uma análise das ideias de Paul Lederach e Roger Mac Ginty. Revista Brasileira de Estudos de Defesa, vol. 4, n. 2, p.153-174, jul./dez., 2017.

FAO – Food and Agricultural Organization of the United Nations. “Petrocaribe: 10 years of struggle against hunger and poverty”. Special Publication, [S./L.: s./n.], 2015.

FOUCAULT, M. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de

Janeiro: Ed. Graal, 1988.

FOX, G. Humanitarian Occupation. Cambridge: Cambridge University Press, 2008.

GOMES, A. Da Paz Liberal à Virada Local: Avaliando a Literatura Crítica sobre Peacebuilding. Monções: Revista de Relações Internacionais da UFGD. Dourados, vol. 2, n.3, p.46-76, jul./dez., 2013.

GOMES, M. Analysing interventionism beyond conventional foreign policy rationales: the engagement of Brazil in the United Nations Stabilization Mission in Haiti (MINUSTAH), Cambridge Review of International Affairs, published online, 2016.

GROVOGUI, S. Beyond Eurocentrism and anarchy: memories of International order and institutions. New York: Palgrave Macmillan US, 2006.

HAMANN, E.; CEZNE, E. Brazilian Peacekeeping: Challenges and Potentials in Turbulent Landscapes at Home and Internationally. PRIO Policy Brief, n.22, 2016.

HEATHERSHAW, J. Unpacking the Liberal Peace: The Dividing and Merging of Peacebuilding Discourses. Millennium: Journal of International Studies. Vol. 36, .n 3, p. 597-622, 2008.

HEINE, J.; THOMPSON, A. Fixing Haiti: MINUSTAH and beyond. Tokyo/New York/Paris: United Nations University Press, 2011.

HENRIQUES, J. Racismo em português: O lado esquecido do colonialismo. 1 ed. Rio de Janeiro: Tinta da China, 2017.

HIRST, M. Aspectos conceituais e práticos da atuação do Brasil em cooperação sul-sul: os casos de Haiti, Bolívia e Guiné Bissau. Texto para Discussão, n.1687. Rio de Janeiro: IPEA, Janeiro de 2012.

HORKHEIMER, M. Critical Theory: Selected Essays. New York: Continuum International Publishing Group, 2002.

HUTCHINGS, K. Gendered Humanitarianism: reconsidering the ethics of war. In: Sylvester, C. (ed.). Experiencing War. London/New York: Routledge, 2011.

IGNATIEFF, M. Nation-Building Lite. New York Times, July 28th, 2002.

JABRI, V. Peacebuilding, the local and the international: a colonial or a postcolonial rationality?. Peacebuilding, vol.1, n.1, p.3-16, 2013.

_______ . Post-colonialism: a post-colonial approach to peacebuilding. In: RICHMOND, O. et al. (orgs.). The Palgrave Handbook of Disciplinary and Regional Approaches to Peacebuilding. London: Palgrave-Macmillan, 2016.

KALIL, M.; NAPOLEÃO, T. Stabilization as securitization of Peacebuilding? The experience of Brazil and MINUSTAH in Haiti. Brasiliana – Journal of Brazilian Studies, vol. 3, n. 2, p.87-112, March, 2015.

KAWAGUTI, L. A República Negra: Histórias de um repórter sobre as tropas brasileiras no Haiti. Rio de Janeiro: Ed. Globo, 2006.

KENKEL, K. Interests, Identity and Brazilian Peacekeeping Policy. Perspective of the World Review, vol. 3, n.2, p.9-36, 2011.

KLEIN, N. The Shock Doctrine: the rise of disaster capitalism. London: Penguin Books, 2007.

LARNER, W.; WALTERS, W. Global Governmentality: Governing international spaces. London and New York: Routledge, 2004.

LULA DA SILVA, L. I. Não vamos nos esquecer do Haiti. El País, Opinião-Tribuna, 25/02/2014.

MAC GINTY, R. International Peacebuilding and Local Resistance: hybrid forms of peace. London: Palgrave Macmillan, 2011.

MAC GINTY, R.; RICHMOND, O. The fallacy of constructing hybrid political orders: a reappraisal of the hybrid turn in peacebuilding. International Peacekeeping, vol. 23, n. 2, p.1-21, 2015.

MASON, A.; WHEELER, N. Realist objections to humanitarian intervention. In: BARRY, H. Ethical dimensions of global change. London: Palgrave-Macmillan, 1996.

MBEMBE, A. What is post-colonial thinking? Eurozine, 09/01/2008.

MENDONÇA, M. Brasil no Haiti, um caso de sucesso: uma análise da missão brasileira no Haiti. In: HAMANN, E.; TEIXEIRA, C. (Orgs.). A participação do Brasil na MINUSTAH (2004-2017): percepções, lições e práticas relevantes para futuras missões. Edição especial – coletânea de artigos. Rio de Janeiro: Igarapé/CCOPAB, 2017.

MITCHELL, A.; RICHMOND, O. Hybrid forms of peace: from everyday agency to post-liberalism. London: Palgrave Macmillan, 2012.

MIGNOLO, W. Histórias locais/Projetos Globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.

MORENO, M.; Braga, C.; Gomes, M. Trapped Between Many Worlds: A Post-colonial Perspective on the UN Mission in Haiti (MINUSTAH). International Peacekeeping, vol. 19, n. 3, p. 377-392, 2012.

NASSER, F. Projeção de Poder e Solidariedade na Estratégia Diplomática de Participação Brasileira em Operações de Paz da Organização das Nações Unidas. In: KENKEL, K.; MORAES, R. (Orgs.). O Brasil e as operações de paz em um mundo globalizado: entre a tradição e a inovação. Brasília: IPEA, 2012.

NOGUEIRA, J. From Failed States to Fragile cities: Redefining spaces of humanitarian practice. Third World Quarterly, vol. 38, n. 7, p. 1437-1453, February, 2017.

PARIS, R. Broadening the Study of Peace Operations. International Studies Review, vol. 2, n. 3, p. 27-44, Autumn, 2000.

_______ . Saving Liberal Peacebuilding. Review of International Studies. vol. 36, n. 2, p. 337-365, April, 2010.

PATRICK, I. Aquilo que resta de nós: um pedido de socorro de haitianas estupradas por soldados da ONU. Belo Horizonte: Editora Páginas, 2017.

PETERSON, S. (ed.). Gendered states: feminist (re)visions of international relations theory. Boulder: Lynne Rienner, 1992.

POWER, S. Bystanders to genocide: Why the United States Let the Rwandan Tragedy Happen. Atlantic Monthly, published online, September 2001.

PUGH, M. The political economy of peacebuilding: a critical theory perspective. International Journal of Peace Studies, vol. 10, n. 2,p.23-42, Autumn/Winter, 2005.

QUIJANO, A. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, E. (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais – perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005.

SABARATNAM, M. Avatars of Eurocentrism in the critique of the liberal peace. Security Dialogue, vol. 44, n. 3, p. 259-278, 2013.

__________ . Decolonising intervention: international state-building in Mozambique. London/New York: Rowman & Littlefield, 2017.

SEGAL, L. Is the future female? Troubled thoughts on contemporary feminism. London: Virago, 1987.

SEGUY, F. A catástrofe de janeiro de 2010, a “Internacional Comunitária” e a recolonização do Haiti. Campinas, 2014, 398p. Tese de Doutorado – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Orientador: Ricardo Antunes.

________ . Humanitarismo e questão racial no Haiti. Lutas Sociais, vol.19 n.34, p.143-157, jan./jun. 2015.

SEITENFUS, R. Elementos para uma diplomacia solidária: a crise haitiana e os desafios da ordem internacional contemporânea. Carta Internacional, vol. 1, n.1, p.5-12, Março, 2006.

_________ . Reconstruir Haití: entre la esperanza y el tridente imperial. Santo Domingo: CLACSO/Fundación Juan Bosch, 2016.

SOUZA NETO, D. O Brasil, o Haiti e a MINUSTAH. In: KENKEL, K.; MORAES, R. (Orgs.). O Brasil e as operações de paz em um mundo globalizado: entre a tradição e a inovação. Brasília: IPEA, 2012.

TAYLOR, I. Liberal Peace, Liberal Imperialism: a Gramscian critique. In: RICHMOND, O. (Org.). Palgrave advances in peacebuilding: critical developments and approaches. London: Palgrave Macmillan, 2010.

TICKNER, A. Feminist perspectives on International Relations. In: CARLSNAES, S. et. al. (eds). Handbook of International Relations. London: Sage, 2002.

ULYSSE, G. Why Haiti Needs New Narratives: A Post-Quake Chronicle. Trilingual Edition. Middletown, Connecticut: Wesleyan University Press, 2015.

VALLER FILHO, W. O Brasil e a Crise Haitiana: a cooperação técnica como instrumento de solidariedade e de ação diplomática. Brasília: FUNAG, 2007.

VÄRYNEN, T. Gender and Peacebuilding. In: RICHMOND, O. (ed.). Palgrave advances in peacebuilding: critical developments and approaches. London: Palgrave Macmillan, 2010.

VIANA, S. A Minustah e a participação brasileira. Revista Senso Comum, n.1, Dossiê Temático, p.22-37, 2009.

VICTOR, F. Terra Desolada: o que o Brasil deixou pra trás no Haiti. Revista Piauí, ed. 155, ago/2019.

WHEELER, N. Saving Strangers: Human Intervention in International Society. New York: OUP, 2002.

Downloads

Publicado

2019-06-30

Como Citar

Sá, M. B. de. (2019). Intervenções humanitárias e teoria crítica no Brasil: inibições e alternativas radicais ao paradigma da Paz Liberal. Monções: Revista De Relações Internacionais Da UFGD, 8(15), 133–164. https://doi.org/10.30612/rmufgd.v8i15.11533

Edição

Seção

Artigos Dossiê - Teoria das Relações Internacionais no Brasil