O tema das drogas na agenda internacional do Brasil: a definição de uma nova ameaça à segurança nacional na década de 1990

Autores

DOI:

https://doi.org/10.30612/rmufgd.v9i17.10907

Palavras-chave:

Drogas. Brasil. Segurança Internacional.

Resumo

O tráfico de drogas vem ganhando destaque na agenda de segurança internacional desde a década de 1990. Neste período, o tema das drogas passou a ser tratado politicamente como uma ameaça ao sistema internacional, aos estados nacionais e aos indivíduos. A noção de “guerra às drogas” produzida nos Estados Unidos foi internacionalizada e incorporada pelo regime internacional de proibição da ONU, a partir a partir do qual se universalizou. Ela também pautou a presença dos EUA na América Latina, moldando as políticas de drogas desses países. A postura do Brasil com relação ao tema das drogas mudou significantemente nesse período, quando sua dimensão internacional passou a ganhar destaque na agenda política. Nessa esteira, uma série de aparatos legislativos e institucionais foram fortalecidos e instituídos com o objetivo de combater o tráfico de drogas, avaliado como uma ameaça à segurança internacional. O objetivo deste trabalho é compreender como o Brasil incorporou as ideias, diretrizes e políticas estabelecidas internacionalmente ao longo da década de 1990, identificando atores doméstico e internacionais, suas decisões e os mecanismos que permitiram a internalização de diretrizes estabelecidas internacionalmente em torno do problema das drogas.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Priscila Villela, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)

Professora Assistente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Doutoranta do PPGRI San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) e Pesquisadora do Núcleo de Estudos Transnacionais de Segurança (NETS). E-mail: pvillela@pucsp.br / ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2432-8900

 

Referências

ADORNO, Sérgio; SALLA, Fernando. Criminalidade organizada nas prisões e os ataques do PCC. Estudos Avançados, 21 (61), 2007. P. 7-29.

AGÊNCIA ESTADO. Um Novo Acordo sobre as Drogas. O Estado de S. Paulo, Brasília, p. 14, 9 de abril de 1986.

ANDREAS, P.; NADELMANN, E. Policing the Globe: criminalization and crime control in international relations. Oxford: Oxford University Press, 2006.

ANDREAS, P.; PRICE, R. From War Fighting to Crime Fighting: Transforming the American National Security State. International Studies Review, 3, n. 3, p. 31-52, 2001.

BAGLEY, B. M. US Foreign Policy and the War on Drugs: Analysis of a Policy Failure. Journal of Interamerican Studies and World Affairs, 30, n. 2/3, p. 189-212, 1988.

BAGLEY, B. M.; SALMERÓN CASTRO, F. I. Mitos de la militarización : los militares estadunidenses y la guerra contra las drogas.Foro Internacional.1991, p. 30.

BANDEIRA, L. A. M. As relações perigosas: Brasil – Estados Unidos (de Collor a Lula, 1990-2004). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

BEWLEY-TAYLOR, D.; JELSMA, M. Fifty Years of the 1961 Single Convention on Narcotic Drugs: A Reinterpretation. Transnational Institute. 2011.

BIGO, D. When Two Become One: Internal and External Securitization in Europe. In: KELSTRUP, M., WILLIAMS, MICHAEL C. (Ed.). International Relation Theory and the politics of European Integration, Power, Security and Community. London: Routledge, 2000. p. 171-205.

BOITEUX, L. Controle penal sobre as drogas ilícitas: o impacto do proibicionismo no sistema penal e na sociedade. 2006. (Doutorado) -, Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, São Paulo.

BRAGA, I.; MONTEIRO, T. FHC critica a má articulação no combate ao narcotráfico. Estado de S. Paulo, São Paulo, p. 20, 1 de abril de 1999.

BRANDÃO, Guilherme S. A criminalização Das Drogas No Brasil: Uma Genealogia Do Proibicionismo. Revista De Direito, Vol. 9, nº 02, março de 2018, p. 87-117.

BUZAN, B.; HANSEN, L. A Evoluçao Dos Estudos De Segurança Internacional. UNESP, 2012.

BUZAN, B.; WÆVER, O.; DE WILDE, J. Security: A New Framework for Analysis. Lynne Rienner Pub., 1998.

CAMPOS, M. S.; ALVAREZ, M. C. Pela metade Implicações do dispositivo médico-criminal da “Nova” Lei de Drogas na cidade de São Paulo. Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 29, n. 2, 2019.

CAMPOS, M. S. Entre doentes e bandidos: A tramitação da lei de drogas (nº 11.343/2006) no Congresso Nacional. Revista de Estudos Empíricos em Direito, v. 2, p. 156-173, 2015.

CARDOSO, F. H. Discurso na Sessão Especial sobre Drogas, da Assembleia Geral das Nações Unidas (Nova York, 8 de Junho de 1998). Brasília: Biblioteca da Presidência da República 1998.

CARVALHO, S. A Política Criminal de Drogas No Brasil - Estudo Criminológico e Dogmático. São Paulo: Editora Saraiva, 2013.

CARVALHO, J.C. Regulamentação e criminalização das drogas no Brasil: A Comissão Nacional de Fiscalização de Entorpecentes. Rio de Janeiro: Multifoco, 2013.

CERVO, A. L. Inserção Internacional: formação dos conceitos brasileiros. . São Paulo: Editora Saraiva, 2008.

CERVO, A. L.; BUENO, C. História da política exterior do Brasil. São Paulo: Ed. Ática, 2011.

CORRÊA, L. F. D. S. O Brasil nas Nações Unidas: 1946-2006. Fundação Alexandre de Gusmão, 2007.

CÂMARA DOS DEPUTADOS. CPI do Narcotráfico. BRASIL, G. F. D. Brasília 1991.

DAMMERT, L. Militarization of Public Security in Latin America:Where Are

the Police? In: SANTOS, M. G. e RANDALL, S. J. C. (Ed.). Papers in Military and Strategic Studies: Latin American Security.Calgary: Centre for Military and Strategic Studies., 2013.

DEL OLMO, R. A Face Oculta das Drogas. Rio de Janeiro: Editora Revan, 1990.

DEPARTMENT OF STATE. International Narcotic Control Strategy Report (INCSR) 1996 South America. Washington: Bureau of International Narcotics and Law Enforcement Affairs (INL) 1996.

DEPARTMENT OF STATE. International Narcotic Control Strategy Report (INCSR) 1997 South America.. Washington: Bureau of International Narcotics and Law Enforcement Affairs (INL) 1997.

DEPARTMENT OF STATE. International Narcotic Control Strategy Report (INCSR) 1998. Washington: Bureau of International Narcotics and Law Enforcement Affairs (INL) 1998.

DEPARTMENT OF STATE. International Narcotic Control Strategy Report (INCSR) 1999. Washington: Bureau of International Narcotics and Law Enforcement Affairs (INL) 2000.

DEPARTMENT OF STATE. International Narcotic Control Strategy Report (INCSR) 2020. Washington: Bureau of International Narcotics and Law Enforcement Affairs (INL) 2020.

EDWARDS, A.; GILL, P. After transnational organised crime? The politics of public safety In: EDWARDS, A. e GILL, P. (Ed.). Transnational Organised Crime: Perspectives on global security New York: Routledge, 2003. p. 264-281.

EVELIN, G.; FARIA, T. Wálter Maierovitch: um juiz em guerra RevistaIstoé, 23 de junho de 1999.

FAFT. Annual Report 1999-2000:Financial Action Task Force on Money Laundering. OCDE. Paris 2000.

FEITOSA, G. R. P.; PINHEIRO, J. A. D. O. Lei do Abate, guerra às drogas e defesa nacional. Revista Brasileira de Política Internacional, 55, p. 66-92, 2012.

FOLHA DE S. PAULO. País quer prender 10 maiorestraficantes. Jornal Folha de São Paulo. p. 19 de abril de 1996.

HERZ, M. Brazil, Andean Region and U.S Regional Security Policy. In: LOVEMAN, BRIAN (Ed.). Addicted to Failure: U.S Security Policy in Latin America and the Andean Region. Lanhan: Rowman & Littlefield Publishers Inc., 2006. p. 197- 223.

HUYSMANS, J. International Politics of Insecurity: Normativity, Inwardness and the Exception. European Journal of International Relations, 4, n. 4, p. 479-505, 1998.

JOBIM, N. Uma tarefa que começa em casa. Folha de S. Paulo, 22 de novembro de 1996. Disponível em: http: //www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/11/22/opiniao/9.html.

KRASNER, S. D. Structural Causes and Regime Consequences: Regimes as Intervening Variables. International Organization, 36, n. 2, p. 185-205, 1982.

LABATE, B. C.; RODRIGUES, T. Politicas de Drogas no Brasil: Conflitos e Alternativas. Campinas: Mercado de Letras, 2018.

LAFER, C.; FONSECA JR, G. Questões para a diplomacia no contexto internacional das polaridades indefinidas. In: FONSECA JR, G. e CASTRO, S. H. N. (Ed.). Temas de Política Externa Brasileira II. São Paulo: Terra & Paz, 1997. p. 49-78.

LIMA, M. R. S.; HIRST, M. O Brasil e os Estados Unidos: Dilemas e Desafios de uma Relação Complexa. In: FONSECA JR., G. e CASTRO, S. H. N. (Ed.). Temas de Política Externa Brasileira II. São Paulo: Paz & Terra, 1994.

MACHADO, L. O. Medidas institucionais para o controle do tráfico de drogas e da lavagem de dinheiro e seus efeitos geoestratégicos na região Amazônica brasileira. Cadernos IPPUR, XXI, n. 1, p. 7-32, 2007.

MARTINS FILHO, J. R. As Forças Armadas brasileiras e o Plano Colômbia. In: CASTRO, C. (Ed.). Amazônia e Defesa Nacional. Rio de Janeiro: Editora GV, 2006. p. 13-30.

MCDONALD, M. Securitization and the Construction of Security. Journal of International Relations, 14, n. 4, p. 463-587, 2008.

MIYAMOTO, S. A Política de Defesa Brasileira e a Segurança Regional. Contexto Internacional, 22, n. 2, p. 431-473, 2000.

MRE. Resenha de Política Exterior do Brasil. Brasília: Ministério das Relações Exteriores 1996.

MRE. Resenha de Política Exterior do Brasil (2º Semestre de 2001). Ministério das Relações Exteriores 2001.

O ESTADO DE S. PAULO. Brasil rota importante para tráfico de droga. Edição de 22 de Outubro de 1982. P. 25.

O ESTADO DE S. PAULO. ONU adverte: o Brasil ameaçado pelos tóxicos. Edição de 13 de Janeiro de 1987. P. 11.

O ESTADO DE S. PAULO. O Problema dos Tóxicos. Edição de 30 de Janeiro de 1985. P. 12.

ONU. Report of the International Narcotics Control Board for 1983. (INCB), I. N. C. B. Nova York: United Nations 1983.

ONU. United Nations Convention against Illicit Traffic in Narcotic Drugs and Psychotropic Substances. UNODC. New York 1988.

ONU. Report of the International Narcotics Control Board for 1990. New York: International Narcotics Control Board (INCB) 1990.

ONU. Report of the International Narcotics Control Board for 1992. New York: International Narcotics Control Board (INCB) 1992.

ONU. Report of the International Narcotics Control Board for 1994. New York: International Narcotics Control Board (INCB) 1994.

ONU. Report of the International Narcotics Control Board for 1995. New York: International Narcotics Control Board (INCB) 1995.

ONU. Report of the International Narcotics Control Board for 1997. New York: International Narcotics Control Board (INCB) 1997.

ONU. XX United Nations General Assembly Special Session (UNGASS) Devoted to Countering the World Drug Problem Together. Political Declaration Guiding Principles of Drug Demand Reduction and Measures to Enhance International Cooperation to Counter the World Drug Problem.New York and Vienna: United Nations Publications 1998.

PEREIRA, P. Securitização do Crime Organizado Transnacional nos Estados Unidos na década de 1990. 2011. (Tese (doutorado)) - Ciências Políticas, UNICAMP, Campinas, SP.

PEREIRA, P. Os Estados Unidos e a ameaça do crime organizado transnacional nos anos 1990. Revista Brasileira de Política Internacional, 58, n. 1, p. 84-107, 2015.

PRESIDÊNCIA. Política Nacional Antidrogas (PNAD). Brasília: Presidência da República 2002.

RODRIGUES, F. Direitos são ‘prejudicados' afirma General a Vereadores. Para Senna tropas do exército não são “batalhão de assistência social”. Folha de S. Paulo, São Paulo, p. 5, 23 de novembro de 1994.

RODRIGUES, P. L. Maciel diz que narcotráfico já se tornou epidemia. Estado de S. Paulo. P. 5, 9 de junho de 1998.

RODRIGUES, T. Narcotráfico e militarização nas Américas: vício de guerra. Contexto Internacional, 34, p. 9-41, 2012.

RODRIGUES, T.; LABATE, B. C. Brazilian Drug Policy: Tension Between Repression and Alternatives. In: CAVNAR, C.;LABATE, B. C., et al (Ed.). Drug Policies and the Politics of Drugs in the Americas. Switzerland: Springer International Publishing, 2016. p. 187 - 208.

SAAD, Luísa G. Fumo de negro: a criminalização da maconha no Brasil (1890-1932). Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia (UFBA). Salvador, 2013.

SILVA, Luiza Lopes. A questão das drogas nas relações internacionais: uma perspectiva brasileira. Brtasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2013.

SHELLEY, L. Transnational organized crime: an imminent threat to the nation- state? 48, n. 2, p. 463-489, 1995.

SILVA, L. L. A Questão das Drogas nas Relações Internacionais: uma perspectiva brasileira. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2013.

SOUZA, L. A. F. D. Dispositivo militarizado da segurança pública. Tendências recentes e problemas no Brasil. Sociedade e Estado, 30, p. 207-223, 2015.

THE WHITE HOUSE. National Security Decision Directive (NSDD-221).The White House. Washignton 1986.

TOKATLIAN, J. G. The War on Drugs and the Role of SOUTHCOM. In: BAGLEY, B. M. e ROSEN, J. D. (Ed.). Drug Trafficking, Organized Crime, and Violence in the Americas Today.Florida: University Press of Florida, 2015. p. 67-86.

TORCATO, Carlos Eduardo Martins. A história das drogas e sua proibição no Brasil. Tese, Universidade de São Paulo / Programa de Pós-Graduação em História Social, São Paulo, 2016.

TOLEDO, M. Bope fará "viagem de instrução" ao Haiti. Jornal Folha de S. Paulo, 11 de janeiro de 2011. Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1101200812.htm>.

VALENTE, R.; ODILLA, F. Brasil sofreu pressão dos EUA contra "Lei do Abate". Folha de S. Paulo, 4 de setembro de 2011. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0409201105.htm.

VILLA, R. EUA-América do Sul: dinâmicas do complexo de segurança regional. In: CEPIK, M. (Ed.). Segurança internacional: práticas, tendências e conceitos. São Paulo: Hucitec, 2010. p. 23-59.

VILLELA, P. A “guerra às drogas” e a transnacionalização do policiamento estadunidense no Brasil: as relações entre a Polícia Federal e a DEA entre os anos 1990 e 2000. São Paulo: Programa de Pós-graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) – Tese (Doutorado em Relações Internacionais), 2020.

WALKER III, W. O. The Limits of Coercive Diplomacy: U.S. Drug Policy and Colombian State Stability, 1978-1997. In: FRIMAN, H. R. e ANDREAS, P. (Ed.). The Illicit Global Economy and State Power. Oxford: Rowman & Littlefield Publishers, 1999. cap. 6, p. 143-171.

WALT, S. M. The Renaissance of Security Studies. International Studies Quarterly, 35, n. 2, p. 211-239, 1991.

WILLIAMS, P. Transnational criminal organisations and international security. Survival, 36, n. 1, p. 96-113, 1994/03/01 1994.

Downloads

Publicado

2020-06-29

Como Citar

Villela, P. (2020). O tema das drogas na agenda internacional do Brasil: a definição de uma nova ameaça à segurança nacional na década de 1990. Monções: Revista De Relações Internacionais Da UFGD, 9(17), 235–272. https://doi.org/10.30612/rmufgd.v9i17.10907

Edição

Seção

Artigos Dossiê - Crime e Relações Internacionais