Desenvolvimento cultural pré-histórico nas terras baixas tropicais da América do Sul: Amazonas e Orinoco
Palavras-chave:
Mudança Climática. Pré-História. Amazônia. Tradições Cerâmicas. Adaptação Cultural.Resumo
As terras baixas tropicais ao leste dos Andes têm proporcionado um desafio para a exploração humana desde a chegada dos primeiros imigrantes. Há uns 12.000 anos atrás o ambiente da região era similar ao das savanas e dos cerrados que ainda existem ao norte e sudeste. Entre 10.000 e 5.000 AP (anos Antes do Presente), a vegetação aberta foi transformada na selva tropical que agora predomina e cuja exuberância
esconde as limitações intrínsecas do clima e do solo para uma exploração humana intensiva e sustentável. A escassa evidência arqueológica durante esta transição identifica pequenos grupos de caçadorescoletores
que utilizavam artefatos de pedra e osso. A aparição da cerâmica em sítios das margens norte e leste em 3.200 AP sugere influências ou migrações do noroeste do continente, mas qualquer tendência a uma vida mais sedentária foi interrompida pelo impacto de uma seca entre 2.500 e 2.000 AP. O desafio para superar a escassez de comida silvestre provavelmente estimulou o conhecimento detalhado da biota e possivelmente incentivou a domesticação da mandioca. Quando foram normalizadas as condições ambientais em 2.000 AP, a distribuição das tradições cerâmicas indica adaptações distintas às condições da várzea e da terra firme. Apesar dos impactos severos sobre as comunidades humanas em três episódios de seca (em 1.500, 1.000 e 700 AP), refletidos em descontinuidades nas seqüências arqueológicas em ambas
as regiões, inexiste evidência de invasões de grupos da várzea e da terra firme através da barreira ecológica produzida pelas primeiras ocupações dos tributários amazônicos. A evidência arqueológica apóia a conclusão de que os grupos indígenas atuais, que mantêm seu modo de vida tradicional, perpetuam uma adaptação de sucesso ao ambiente amazônico ao invés de constituir remanescentes dizimados e aculturados; eles também nos mostram o valor dos conhecimentos indígenas para identificar as regras ecológicas que dominam a região e as maneiras de explorar, ao contrário de destruir, os recursos naturais.
Downloads
Referências
AB’SABER, A. 1977. Espaços ocupados pela expansão dos climas secos na América do Sul, por ocasião dos períodos glaciais quaternários. Paleoclimas. São Paulo, n.3.
ABSY, M. L. 1985. Palynology of Amazonia: the history of the forests as revealed by the palynological record. In: PRANCE, G. T.; LOVEJOY, T. E. (Eds.). Amazonia. Oxford : Pergamon Press, p.72-82.
BARBOSA, A. S. 1992. A Tradição Itaparica: uma compreensão ecológica e cultural do povoamento inicial do planalto central brasileiro. In: MEGGERS, B. J. (Ed.). Prehistoria Sudamericana. Washington DC : Taraxacum, p.145-160.
BALÉE, W. 1987. A etnobotânica quantitativa dos índios Tembé (Rio Gurupí, Pará). Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Belém : MPEG, n.3, v.1, p.29-50. (Série Botânica).
BARSE, W. P. 1990. Preceramic occupations in the Orinoco River valley. Science. n.250, p.1388-1390.
CARNEIRO, R. L. 1978. The knowledge and use of rain forest trees by the Kuikuru Indians of Central Brazil. University of Michigan Anthropological Papers. Ann Arbor. n.67, p.201-216.
CARVAJAL, G. de. 1934. The discovery of the Amazon, according to the account of Friar Gaspar de Carvajal and other documents. Compilado por José Toribio Medina. Editado por H. C. Heaton. Special Publication. New York : American Geographical Society, n.17.
COLSON, A. B. 1983-1984. The spatial component in the political structure of the Carib speakers of the Guiana Highlands: Kapon and Pemon. Antropológica. n.59-62, p.73-124.
CRUXENT, J. M.; ROUSE, I. 1959. An archeological chronology of Venezuela. Social Sciense Monographs VI. Washington DC : Pan American Union.
DESCOLA, P. 1989. La selva culta: simbolismo y praxis en la ecología de los Achuar. Quito : AbyaYala.
DOUGHERTY, B.; CALANDRA, H. 1981-1982. Excavaciones arqueológicas en la Loma Alta de Casarabe, Llanos de Moxos, Departamento del Beni, Bolivia. Relaciones de la Sociedad Argentina de Antropología. n.14, v.2, p.9-48.
DOUGHERTY, B.; CALANDRA, H. 1984-1985. Ambiente y arqueología en el oriente boliviano: a Província Iténez del Departamento Beni. Relaciones de la Sociedad Argentina de Antropología. n.16, p.37-61.
EDEN, M. 1990. Ecology and Land Management in Amazonia. London : Belhaven.
GOLDMAN, I. 1979. The Cubeo: Indians of the Northwest Amazon. Urbana : University of Illinois Press.
GREENBERG, J. H. 1987. Language in the Americas. Stanford : Stanford University Press.
HENLEY, P. 1982. The Panare: Tradicion and Change on the Amazonian Frontier. New Haven : Yale University Press.
HILBERT, P. P. 1968. Archaolögische Untersuchungen am mittleren Amazonas. Marburger Stüdien zur Völkerkunde 1. Berlin : Dietrich Reimar Verlag.
KERR, W. E.; CLEMENT, C. R. 1980. Práticas agrícolas de conseqüências genéticas que possibilitaram aos índios da Amazônia uma melhor adaptação às condições ecológicas da região. Acta Amazônica. n.10, p.251-261.
KERR, W. E.; POSEY, D. A. 1984. Informações adicionais sobre a agricultura dos Kayapó. Interciência. n.9, p.392-400.
LATHRAP, D. W. 1970. The Upper Amazon. New York : Praeger.
LEIGH JR., E. G.; RAND, A. S.; WINDSOR, D. M. (Eds.). 1982. The Ecology of a Tropical Forest. Washington DC : Smithsonian Institution Press.
LIZOT, J. 1978. Connaissance et usage des plantes sauvages chez les Yanomami. In: WAGNER, E.; ZUCCHI, A. (Eds.). Unidad y Variedad. Caracas : Instituto Venezuelano de Investigaciones Científicas, p.129-171.
MEGGERS, B. J. 1979. Climatic oscillation as a factor in the prehistory of Amazonia. American Antiquity. n.44, p.252-266.
MEGGERS, B. J. 1987. Oscilación climática y cronología cultural en el Caribe. Actas de Tercer Simposio de la Fundación de Arqueología del Caribe. Washington DC, p.23-54.
MEGGERS, B. J. 1990. Reconstrução do comportamento locacional pré-histórico na Amazônia. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, n.6, p.183-203.
MEGGERS, B. J. 1991. Cultural evolution in Amazonia. In: RAMBO, A. T.; GILLOGLY, K. (Eds.). Profiles in Cultural Evolution. Anthropological Papers. Museum of Anthropology – University of Michigan: Ann Arbor. n.85, p.191-216.
MEGGERS, B. J. 1992a. Amazonia: real or conterfeit paradise? The Review of Archaeology. n.13, v.2, p.25-40.
MEGGERS, B. J. 1992b. Prehistoric population density in the Amazon Basin. In: VERANO, J. W.; UBELAKER, D. H. (Eds.). Disease and Demography in the Americas. Washington DC : Smithsonian Institution Press, p.197-205.
MEGGERS, B. J. 1994. Archeological evidence for the impact of mega-Niño events on Amazonia during the past two millennia. Climatic Change. n.28, p.321-338.
MEGGERS, B. J. 1995. Archaeological perspectives on the potential of Amazonia for intensive exploitation. In: NISHIZAWA, T.; UITTO, J. I. (Eds.). The Fragile Tropics of Latin America. Tokyo, United Nations : University Press, p.68-93.
MEGGERS, B. J. 1996a. Amazonia: Man and Culture in a Counterfeit Paradise. Second Edition. Washington DC : Smithsonian Institution Press.
MEGGERS, B. J. 1996b. Possible impact of mega-Niño events on precolumbian populations of the Caribbean area. Ponencias del Primero Seminario de Arqueología del Caribe. Altos de Chavón : República Dominicana, p.156-176.
MEGGERS, B. J. 1997. La Amazonía en vísperas del contacto europeo: perspectivas etnohistóricas, ecológicas y antropológicas. In: GABAI, R. V.; FLORES ESPINOSA, J. (Eds.). Arqueología, antropología e historia en los Andes. Lima : IEP/BCRP, p.93-113.
MEGGERS, B. J. 1998. La cerámica temprana en América del Sur; invención independiente o difusión? Revista de Arqueología Americana. n.13.
MEGGERS, B. J.; DIAS, O. F.; MILLER, E. Th.; PEROTA, C. 1987. Implications of archeological distributions in Amazonia. In: HEYER, W. R.; VANZOLINI, P. E. (Eds.). Proceedings of a Workshop on Neotropical Distribution Patterns. Rio de Janeiro : Academia Brasileira de Ciências, p.275-294.
MEGGERS, B. J.; DANON, J. 1988. Identification and implications of a hiatus in the archeological sequence on Marajó Island, Brazil. Journal of the Washington Academy of Sciences, n.78, 245-253.
MEGGERS, B. J.; EVANS, C. 1957. Archeological Investigations at the Mouth of the Amazon. Bureau of American Ethnology Bul. Washington DC : Smithsonian Institution, n.167.
MEGGERS, B. J.; EVANS, C. 1983. Lowland South America and the Antilles. In: JENNINGS, J. D. (Ed.). Ancient South Americans. San Francisco : W. H. Freeman, p.287-335.
MIGLIAZZA, E. C. 1982. Linguistic prehistory and the refuge model in Amazonia. In: PRANCE, G. T. (Ed.). Biological Diversification in the Tropics. New York : Columbia University Press, p.497-519.
MILLER, E. Th. 1987. Pesquisas arqueológicas paleoindígenas no Brasil Ocidental. In: NUÑEZ, L.; MEGGERS, B. J. (Eds.). Investigaciones paleoindias al sur de la línea ecuatorial. Estudios Atacameños. San Pedro de Atacama (Chile) : Universidad del Norte, n.8. p.37-61.
MILLER, E. Th. et al. 1992. Arqueologia: ambiente/desenvolvimento; Arqueologia nos empreendimentos hidrelétricos da Eletronorte: resultados preliminares. Brasília : Eletronorte.
OEA – ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. 1974. Marajó, um estudo para o seu desenvolvimento. Washington DC : Secretaria Geral da Organização dos Estados Americanos.
PEROTA, C. 1990. Adaptação agrícola no Baixo Xingu. In: MEGGERS, B. J. (Ed.). Prehistoria Sudamericana. Washington DC : Taraxacum,p.211-218.
POSEY, D. A. 1987. Etnobiologia e ciência de folk: sua importância para a Amazônia. KOHLHEPP, G; SCHRADER, A. (Eds.). Homem e natureza na Amazônia Tübinger Geographischer Studien, n.95, p.95-108.
PRANCE, G. T. (Ed.). 1982. Biological Diversification in the Tropics. New York : Columbia University Press.
PRICE, D. 1990. Our readers write. Current Anthropology. n. 31, p.386.
PROUS, A. 1991. Fouilles de l’abri du Boquete, Minas Gerais, Brésil. Journal de la Société des Américanistes. n.77, p.77-109.
RALEGH, W. 1811. The discoverie of the large, rich, and beautiful empire of Guiana...performed in the yeere 1595. Hakluyt’s Collection of Early Voyages, Travels, and Discoveries, of the English Nation. London, n.4, p.115-156.
REICHEL-DOLMATOFF, G. 1974. Cosmology as ecological analysis: a view from the rainforest. Man. n.11, p.307-318.
ROOSEVELT, A. C. 1980. Parmana: Prehistoric Maize and Manioc Subsistence along the Amazon and Orinoco. New York : Academic Press.
ROOSEVELT, A. C. 1991. Moundbuilders of the Amazon. San Diego : Academic Press. ROOSEVELT, A. C.; HOUSLEY, R. A.; IMAZIO DA SILVEIRA, M.; MARANCA, S.; JOHNSON, R. 1991. Eighth millennium pottery from a prehistoric shell midden in the Brazilian Amazon. Science. n.254, p.1621-1624.
ROOSEVELT, A. C. et al. 1996. Paleoindian cave dwellers in the Amazon: the peopling of the Americas. Science. n.272, p.373-384.
ROUSE, I. 1978. The La Gruta sequence and its implications. In: WAGNER, E.; ZUCCHI, A. (Eds.). Unidad y Variedad. Caracas : Instituto Venezuelano de Investigaciones Científicas, p.203-229.
ROUSE, I.; ALLAIRE, L. Caribbean. In: TAYLOR, R. E.; MEIGHAN, C. W. (Eds.). 1978. Chonologies in New World Archaeology. New York : Academic Press. p.431-481.
SANOJA, M. 1979. Las culturas formativas del oriente de Venezuela; la Tradición Barrancas del bajo Orinoco. Caracas : Biblioteca de la Academia Nacional de la Historia. (Serie Estudios, Monografías y Ensaios, 6).
SANOJA, M. 1981. De la recolección a la agricultura. Historia General de la América. Caracas : Academia Nacional de la Historia (Venezuela) y Instituto Panamericano de Geografía e Historia, v.3.
SANOJA, M. 1982. Los hombres del maís y de la yuca: ensayo sobre los sistemas agrarios precolombinos del Nuevo Mundo. Caracas : Monte Avila Editores.
SANOJA, M.; VARGAS ARENAS, I. 1983. New light on the prehistory of eastern Venezuela. Advances in World Archaeology. v.2, p.205-244.
SCHMITZ, P. I. 1987. Prehistoric hunters and gatherers of Brazil. Journal of World Prehistory. n.1, p.333-413.
SIMÕES, M. F. 1978. Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas na Bacia Amazônica. Acta Amazônica. n.7, p.297-300.
SIMÕES, M. F. et al. 1987. Pesquisas arqueológicas. Revista de Arqueologia. Belém, n. 4, v.1, p.1-136.
TANKERSLEY, K. B. 1997. Keeping track of time: dating Monte Alegre and the peopling of South America. The Review of Archaeology. n.18, p.28-34.
VAN DER HAMMEN, T. 1982. Paleoecology of tropical South America. In: PRANCE, G. T. (Ed.). Biological Diversification in the Tropics. New York : Columbia University Press. p.60-66.
VARGAS ARENAS, I. 1979. Investigaciones arqueológicas en Parmana. Caracas : Biblioteca de la Academia Nacional de la Historia. (Serie Estudios, Monografías y Ensayos 20).
VICKERS, W. 1989. Los Sionas y Secoyas: su adaptación al ambiente amazónico. Quito : Ediciones AbyaYala.
VON HILDEBRAND, M. 1987. Hombre y naturaleza; una interpretación indígena del ecosistema amazónico. In: KOHLHEPP, G.; SCHRADER, A. (Eds.). Homem e natureza na Amazônia. Tübinger Geographische Studien. n.95, p.125-139.
WAGLEY, C. 1977. Welcome of Tears: the Tapirapé Indians of Central Brazil. New York, Oxford University Press.
WILLIAMS, D. 1985. Petroglyphs in the prehistory of northern Amazonia and the Antilles. Advances in World Archaeology. n.4, p.335-387.
WILLIAMS, D. 1992. El arcaico en el noroeste de Guyana y los comienzos de la horticultura. In: MEGGERS, B. J. (Ed.). Prehistoria Sudamericana. Washington DC : Taraxacum. p.233-251.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autoras e autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 3.0 Brasil, permitindo o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e publicação inicial nesta revista.
- Autoras e autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autoras e autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online, como em repositórios institucionais ou em páginas pessoais, a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).