Genealogia intelectual de mulheres: Indicadores e trajetórias nas ciências biológicas no Brasil a partir dos anos 1950

Autores

DOI:

https://doi.org/10.30612/rehr.v20i38.19142

Palavras-chave:

Gênero, Mulheres cientistas, Indicadores, Trajetórias, Genealogia

Resumo

A partir da experiência pioneira de três pesquisadoras do Instituto Oswaldo Cruz, que ingressaram na instituição no início da década de 1960, analisamos o impacto de suas trajetórias na formação de novas gerações de mulheres, atravessando os meados do século XX até a atualidade. O objetivo foi traçar a genealogia intelectual de Monika Barth, Anna Kohn e Delir Corrêa Gomes a fim de complexificar, pelo viés de gênero, nosso entendimento acerca da conformação das ciências biomédicas no Brasil. A investigação se utiliza das ferramentas de busca oferecidas pelas Plataformas Acácia e Lattes/CNPq, juntamente com o cruzamento de fontes arquivísticas e orais, combinando análise quantitativa e qualitativa. As “matriarcas” dessa genealogia inserem-se num contexto histórico em que novos agentes ingressam num cenário em transformação, caracterizado pela expansão de papéis sociais femininos e pelo aprofundamento da institucionalização científica em nosso país. Diplomadas em História Natural, atuaram em temas e técnicas emergentes e contribuíram para a qualificação profissional de quatro gerações de cientistas até os dias atuais, formando uma descendência majoritariamente feminina e multidisciplinar. Conclui-se com a percepção da participação ativa e fundamental de mulheres, ainda pouco visibilizadas em nossa historiografia, no processo de construção, expansão e reprodução institucional da ciência brasileira em diferentes especialidades, no passado e no presente. Por fim, lança questionamentos, a serem aprofundados, acerca das assimetrias e interseccionalidades que atravessam as relações profissionais entre grupos sociais distintos nas diferentes temporalidades.

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Biografia do Autor

Lia Gomes Pinto de Sousa, Núcleo de Estudos de Gênero - Pagu / Unicamp

Historiadora formada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Doutora em História das Ciências e da Saúde pela Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). Atua na área de História das Ciências e Gênero, com ênfase em profissionalização científica de mulheres. Pós-doutoranda do INCT Caleidoscópio no Núcleo de Estudos de Gênero - Pagu/Unicamp; Campinas, SP, Brasil; liagps@unicamp.br

Maria Margaret Lopes, Núcleo de Estudos de Gênero - Pagu / Unicamp

Geóloga e Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Pesquisadora Convidada do
Pagu/Unicamp e membro do Comitê Gestor do INCT Caleidoscópio. Bolsista 1C-CNPq, Orientadora Plena n° USP 1512006 no Programa Interunidades em Museologia-PPGmus do Museu de Arqueologia e Etnologia-MAE/USP, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil. mmlopes@unicamp.br

Karla Adriana Martins Bessa, Núcleo de Estudos de Gênero - Pagu / Unicamp

Historiadora formada pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e Doutora em História Social pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Professora dos Programas de Pós-Graduação em Multimeios (Instituto de Artes) e do Doutorado em Ciências Sociais (IFCH) na mesma instituição. Vice-coordenadora do INCT Caleidoscópio: Instituto de Estudos Avançados em Iniquidades, Desigualdades e Violências de Gênero e Sexualidade e suas Múltiplas Insurgências (UNB/CNPq), onde coordena o setor de Divulgação Científica, e Pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero- Pagu/Unicamp; Campinas, SP, Brasil. kbessa@unicamp.br

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Publicado

23-12-2024

Como Citar

Sousa, L. G. P. de, Lopes, M. M., & Bessa, K. A. M. (2024). Genealogia intelectual de mulheres: Indicadores e trajetórias nas ciências biológicas no Brasil a partir dos anos 1950. Revista Eletrônica História Em Reflexão, 20(38), 504–528. https://doi.org/10.30612/rehr.v20i38.19142

Edição

Seção

Artigos do Dossiê