Pulquéria e Nestório: o feminino imperial e a Basileia durante a controvérsia nestoriana (428-431)
DOI:
https://doi.org/10.30612/rehr.v21i40.17988Palavras-chave:
Élia Pulquéria (399-453), Nestório de Constantinopla (428-431), Controvérsia nestorianaResumo
Buscamos discutir a atuação da imperatriz Élia Pulquéria (399-453) no início da controvérsia nestoriana, até às vésperas da realização do concílio de Éfeso (431), tomando por base a construção de um espaço de poder próprio que podemos denominar, junto com Judith Herrin, de “feminino imperial”. Argumentamos que, por ser irmã do imperador Teodósio II (408-450) e a despeito de não exercer nenhum cargo público oficial, Pulquéria partilhava com seu irmão daquilo que chamamos de basileia – ou seja, a prerrogativa de exercer funções públicas de governo com base em preceitos de legitimidade dinástica. Todavia, indo contra o modelo tradicional de basileia feminina construída a partir da ideia de casamento e da geração de filhos, Pulquéria fez-se legitimar por meio de um voto de castidade público e do envolvimento com questões doutrinárias. No contexto da querela doutrinária sobre a Theotokos, a construção desse “feminino imperial” foi por vezes considerada pela historiografia recente como uma tentativa da imperatriz de se fazer associar à Virgem como um modelo de basileia feminino. À luz da documentação tanto presente nas ditas “atas do concílio de Éfeso” quanto na narrativa desses eventos por parte de Nestório (bispo de Constantinopla entre 428 e 431), defendemos que o protagonismo de Pulquéria e a construção de seu “imperial feminino” precisam ser contextualizados com base nas expectativas então vigentes sobre o papel das mulheres no espaço público ou sem perder de vista o funcionamento da construção das redes sociais e de influência no Império tardo antigo.
Downloads
Referências
ATANASSOVA, Antonia. Orthodox Women’s Defense of the Theotokos: The Case of Empress Pulcheria and the Council of Ephesus. 2010, acessado via Columbia Academic Commons em 01/06/2024. DOI: https://doi.org/10.7916/D8RV0Z2Z.
BROWN, Peter. Power and Persuasion in Late Antiquity: Towards a Christian Empire. Madison, WI: University of Wisconsin Press, 1992.
BURGESS, Richard. The accession of Marcian in the light of Chalcedonian apologetic and Monophysite polemic. Byzantinische Zeitschrift. Berlin, v. 86-87, n. 1, p. 47-68, 1994. DOI: https://doi.org/10.1515/byzs.1994.86-87.1.47
BUSCH, Anja. Representatives and Co-Rulers: Imperial Women and the Court in Late Antiquity. In: Davenport, Caillan; McEvoy, Meaghan. The Roman Imperial Court in the Principate and Late Antiquity. Oxford: Oxford University Press, 2023, p. 203-217. DOI: https://doi.org/10.1093/oso/9780192865236.003.0010
CAMERON, Alan. The empress and the poet: paganism and politics at the court of Theodosius II. In: Winkler, John J.; Williams, Gordon. Later Greek Literature. Cambridge: Cambridge University Press, 1982, p. 217-290. DOI: https://doi.org/10.1017/CBO9780511972928.008
CAMERON, Averil. The cult of the Virgin in Late Antiquity: Religious development and myth-making. Studies in Church History. Cambridge, v. 39, p. 1-21, 2004. DOI: https://doi.org/10.1017/S0424208400014959
CÂNDIDO, Maria R. (org.). Mulheres na Antiguidade. Rio de Janeiro: NEA/UERJ, 2012.
COOPER, Kate. Empress and Theotokos: Gender and patronage in the Christological controversy. Studies in Church History. Cambridge, v. 39, p. 39-51, 2004. DOI: https://doi.org/10.1017/S0424208400014984
DAGRON, Gilbert. Naissance d’une capitale: Constantinople et ses institutions de 330 à 451. Paris: Presses Universitaires de France, 1974.
DE DURAND, G. M. Deux Dialogues Christologiques. Paris: Éditions du Cerf, 1964.
GRILLMEIER, Alois. Christ in Christian Tradition. Volume 1: From the Apostolic age to Chalcedon (451). Translated by John Bowden. London; New York: Mombray; Westminster John Knox Press, 1965.
HARRIES, Jill. Men without women: Theodosius’ consistory and the business of government. In: Kelly, Christopher (ed.). Theodosius II: Rethinking the Roman Empire in Late Antiquity. Cambridge: Cambridge University Press, 2013, p. 67-89. DOI: https://doi.org/10.1017/CBO9781139839075.007
HERRIN, Judith. The Imperial Feminine in Byzantium. Past and Present. London, v. 169, p. 3-35, 2000. DOI: https://doi.org/10.1093/past/169.1.3
HERRIN, Judith. Late antique origins of the “Imperial Feminine”: Western and eastern empresses compared. Byzantinoslavica. Praga, v. 74, n. 1-2, p. 5-25, 2016.
HOLUM, Kenneth G. Theodosian Empresses: Women and Imperial Domination in Late Antiquity. Berkeley: University of California Press, 1982.
HUMPHRIES, Mark. Family, Dynasty, and the construction of legitimacy from Augustus to the Theodosians. In: Tougher, Shawn (ed.). The Emperor in the Byzantine World. London: Routledge, 2019, p. 13-27. DOI: https://doi.org/10.4324/9780429060984-2
JAMES, Liz. Empresses and Power in Early Byzantium. London: Leicester University Press, 2001.
MARTINDALE, John R. (ed.) The Prosopography of the Later Roman Empire. Volume 2, AD 395-527. Cambridge: Cambridge University Press, 1980.
MATTHEWS, John F. Western Aristocracies and Imperial Court, AD 364-425. Oxford: Clarendon Press, 1990 (1ª edição: 1975). DOI: https://doi.org/10.1093/oso/9780198144991.001.0001
MAYER, Wendy. Constantinopolitan Women in Chrysostom's Circle. Vigiliae Christianae. Leiden, v. 53, n. 3, p. 265-288, 1999. DOI: https://doi.org/10.1163/157007299X00028
MCLYNN, Neil. Imperial Piety in action: The Theodosians in Church. In: Destephen, Sylvain; Dumézil, Bruno; Inglebert, Hervé. Le Prince chrétien de Constantin aux royautés barbares (IVe-VIIIe siècle). Paris: Association des Amis du Centre d’Histoire et Civilisation de Byzance 2018, p. 1-25 (Travaux et mémoires 22/2).
MCGUCKIN, John A. St. Cyril of Alexandria: The Christological Controversy. Its History, Theology, and Texts. Yonkers, NY: St. Vladimir Seminary Press, 2004 (1ª edição: 1994). DOI: https://doi.org/10.1163/9789004312906_002
MILLAR, Fergus. A Greek Roman Empire: Power and Belief under Theodosius II (408-450). Los Angeles; Berkeley: University of California Press, 2007. DOI: https://doi.org/10.1525/california/9780520247031.001.0001
NESTORIUS. Le Livre d’Héraclide de Damas. Traduit en français par F. Nau avec le concours du R. P. Bedjan et de M. Briere. Paris: Letouzey et Ané, 1910.
PRICE, Richard. Marian Piety and the Nestorian controversy. Studies in Church History. Cambridge, v. 39, p. 31-38, 2004. DOI: https://doi.org/10.1017/S0424208400014972
RICHARDSON, J. S. Imperium Romanum: Empire and the Language of Power. The Journal of Roman Studies. London, v. 81, p. 1-9, 1991. DOI: https://doi.org/10.2307/300484
SCHWARTZ, Eduard. Konzilstudien. I. Cassian und Nestorius; II. Über echte und unechte Schriften des Bischofs Proklos von Konstantinopel. Straßburg: Karl J. Trübner, 1914. DOI: https://doi.org/10.1515/9783111554921
SCHWARTZ, Eduard. Die Kaiserin Pulcheria auf der Synode von Chalkedon. In: Festgabe für Adolf Jülicher zum 70. Geburtstag. Tübingen: J. C. B Mohr (Paul Siebeck), 1927, p. 203-212.
SCHWARTZ, Eduard. Acta Conciliorum Oecumenicorum. Tomus 1: Concilium Universale Ephesenum (AD 431). Volumen I: Acta Graeca. Berlin; Leipzig: Walter de Gruyter, 1927-1929, 8 fasc.
SILVA, Gilvan V. Reis, santos e feiticeiros: Constâncio II e os fundamentos místicos da basileia (337-361). Vitória: EDUFES, 2015 (2ª edição).
SLOOTJES, Daniëlle. Dynamics of Power: The Nestorian controversy, the Council of Ephesus of 431, and the Eastern Imperial Court. In: Davenport, Caillan; McEvoy, Meaghan. The Roman Imperial Court in the Principate and Late Antiquity. Oxford: Oxford University Press, 2023, p. 240-261. DOI: https://doi.org/10.1093/oso/9780192865236.003.0012
SÓCRATES DE CONSTANTINOPLA. Histoire Ecclésiastique. Texte grec de l’édition G. C. Hansen. Traduction par Pierre Périchon, S.J. et Pierre Maraval. Notes par Pierre Maraval. Paris: Les Éditions du Cerf, 2004-2007, 4v.
SOZOMENO. Histoire Ecclésiastique. Texte Grec de l’édition de J. Bidez. Introduction par Bernard Grillet et Guy Sabbah. Traduction par André-Jean Festugière, o.p. Annotation par Guy Sabbah. Paris: Les Éditions du Cerf, 1983-2008, 4v.
SMITH, Rowland. The imperial court of the later Roman empire, c. AD 300-c. AD 450. In: Spawforth, A. J. S. (ed.). The Court and Court Society in Ancient Monarchies. Cambridge: Cambridge University Press, 2007, p. 157-232. DOI: https://doi.org/10.1017/CBO9780511482939.006
VAN NUFFELEN, Peter. Un héritage de paix et de piété: Étude sur les histoires ecclésiastiques de Socrate et de Sozomene. Leuven: Peeters, 2004.
VAN NUFFELEN, Peter. Episcopal succession in Constantinople (381-450 C.E.): The local dynamics of power. Journal of Early Christian Studies. Baltimore, v. 18, n. 3, p. 425-451, 2010. DOI: https://doi.org/10.1353/earl.2010.0000
WESSEL, Susan. Cyril of Alexandria and the Nestorian Controversy: The Making of a Saint and of a Heretic. Oxford: Oxford University Press, 2004. DOI: https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199268467.001.0001
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Revista Eletrônica História em Reflexão

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Os autores devem aceitar as normas de publicação ao submeterem a revista, bem como, concordam com os seguintes termos:
(a) O Conselho Editorial se reserva ao direito de efetuar, nos originais, alterações da Língua portuguesa para se manter o padrão culto da língua, respeitando, porém, o estilo dos autores.
(b) Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 3.0 Brasil (CC BY-NC-SA 3.0 BR) que permite: Compartilhar — copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato e Adaptar — remixar, transformar, e criar a partir do material.
A CC BY-NC-SA 3.0 BR considera os termos seguintes:
- Atribuição: Você deve dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer circunstância razoável, mas de nenhuma maneira que sugira que o licenciante apoia você ou o seu uso.
- NãoComercial: Você não pode usar o material para fins comerciais.
- CompartilhaIgual: Se você remixar, transformar, ou criar a partir do material, tem de distribuir as suas contribuições sob a mesma licença que o original.
- Sem restrições adicionais: Você não pode aplicar termos jurídicos ou medidas de caráter tecnológico que restrinjam legalmente outros de fazerem algo que a licença permita.
