Convergências entre o orgânico e o inorgânico no pensamento sistêmico de Aziz Nacib Ab’sáber: uma discussão a partir das paisagens de exceção
DOI :
https://doi.org/10.5418/ra2025.v21i45.19219Mots-clés :
enclaves, redutos, domínios morfoclimáticosRésumé
Refletir acerca de um pequeno corte no campo da corpulenta obra de Aziz Nacib Ab’Sáber (1924-2012) já se projeta como esforço hercúleo diante do compromisso de imergir na complexidade de suas ideias. Ciente disso, o presente artigo tem por objetivo colocar olhares sobre a convergência entre a dimensão orgânica e inorgânica no pensamento e produção científica do geógrafo em apreço. Para tanto, a discussão de tais imbricações partiu da sua tradicional regionalização físico-geográfica dada pelos domínios morfoclimáticos, mas propondo um ponto focal nas chamadas paisagens de exceção dadas pelos enclaves e redutos. O que se constatou foi uma originalidade científica notória cimentada em uma racionalização alternativa do pensamento sistêmico, e que ao operacionalizar os princípios de zonalidade e azonalidade se fez exitoso em integralizar o dominante e a exceção no contexto do território brasileiro. Sua proposição resulta em uma franca aderência entre as paisagens de exceção e os contextos espaciais de destacada excepcionalidade e providos de patrimônio ambiental de grande valor, sendo que tais espacialidades tendencialmente se consubstanciam a partir de controles inorgânicos dados por elementos abióticos da paisagem (rupestrebiomas, orobiomas, psamobiomas, etc.). É crível considerar que, com essas bases, Ab’Sáber semeia princípios ainda de grande valia para a sistematização de práticas geoconservacionistas e para orientar programas específicos no âmbito do planejamento voltado às áreas de exceção, como a criação de unidades de conservação e geoparques.
Téléchargements
Références
AB’SÁBER, A. N. Conhecimentos sobre as flutuações climáticas do Quaternário no Brasil. Boletim da Sociedade Brasileira de Geologia, v. 6, n. 1, p. 41-48, 1957.
AB’SÁBER, A. N. (1964) O relevo brasileiro e seus problemas. In: AZEVEDO, A. (Org.) Brasil, a Terra e o Homem. São Paulo: Cia Editorial Nacional.
AB’SÁBER, A. N. Um Conceito de Geomorfologia à Serviço das Pesquisas sobre o Quaternário. Geomorfologia, n. 18, 1969.
AB’SÁBER, A. N. Potencialidades paisagísticas brasileiras. Geomorfologia, n. 55, 28p, 1977.
AB’SÁBER, A. N. Espaços ocupados pela expansão dos climas secos na América do Sul, por ocasião dos períodos glaciais quaternários. Paleoclimas, 1977. 19p.
AB’SÁBER, A. N. (1989) Introdução. In: MARTINELLI, G. Campos de Altitude. Petrópolis: Index: 16-29.
AB’SÁBER, A. N. Sertões e sertanejos: uma geografia humana sofrida. Estudos Avançados, v. 13, n. 36, p. 7-59, 1999.
AB’SÁBER, A. N. Fundamentos da geomorfologia costeira do Brasil Atlântico inter e subtropical. Revista Brasileira de Geomorfologia, v. 1, n. 1, p. 27-43, 2000.
AB'SABER, A. N. Incursões à pré-história da América tropical. Viagem incompleta: a experiência brasileira (1500-2000). Tradução. São Paulo: SENAC, 2000. Disponível em:https://biblio.fflch.usp.br/AbSaber_AN_1082325_IncursoesAPreHistoriaDaAmericaTropical.pdf. Acesso em: 15 out. 2024.
AB’SÁBER, A. N. Litoral do Brasil. Metalivros: São Paulo, 2001. 281p.
AB’SÁBER, A. N. Os domínios de natureza no Brasil. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. 159p.
AB’SÁBER, A. N. Brasil: paisagens de exceção: o litoral e o Pantanal Mato-grossense: patrimônios básicos. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 182p, 2006.
AB’SÁBER, A. N. O paleodeserto de Xique-Xique. Estudos Avançados, v. 20, n. 56, p. 301-306, 2006.
AB’SÁBER, A. N. Geomorfologia do sítio urbano de São Paulo. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2007. 335p.
ARAÚJO, D. S. D.; HENRIQUES, R. P. B. (1984) Análise florística das restingas do estado do Rio de Janeiro. In: LACERDA, L. D.; ARAÚJO, D. S. D.; CERQUEIRA, R.; TURCQ, B. (Eds.) Restingas: origem, estrutura, processos. CEUUFF: NITEROI: 477p.
ASSINE, M. L. Aspectos da estratigrafia das sequências pré-carboníferas da Bacia do Paraná no Brasil. Tese de doutorado, Programa de Pós-Graduação em Geologia Sedimentar, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996.
BAUERMANN, S. G.; BEHLING, H. Dinâmica paleovegetacional da Floresta com Araucária a partir do final do Pleistoceno: o que mostra a palinologia. In: FONSECA, C. R.; SOUZA, A. F.; LEAL-ZANCHET, A. M.; DUTRA, T.; BACKES, A.; GANADO, G. (Eds.) Floresta com Araucária: ecologia, conservação e desenvolvimento sustentável. Ribeirão Preto: Holos Editora, 2009. 328p.
BERTOLDO, E.; PAISANI, J. C.; OLIVEIRA, P. E. Registro de Floresta Ombrófila Mista nas regiões sudoeste e sul do Paraná, Brasil, durante o PleistocenoHoloceno. Hoehnea, v. 41, n. 1, p. 1-8, 2014.
BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Física global: esboço metodológico. Caderno de Ciências da Terra, n. 13, 1971.
CAVALCANTI, L. S. C. Da descrição de áreas à Teoria dos Geossistemas: uma abordagem epistemológica sobre sínteses naturalistas. Tese (Doutorado em Geografia), Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2013. 205p.
CERQUEIRA, R. (2000) Biogeografia das restingas. In: ESTEVES, S. A.; LACERDA, L. D. (Eds.) Ecologia de restingas e lagoas costeiras. NUPEMUFRJ: Macaé: 66-75
CHORLEY, R. J.; KENNEDY, B. A. Physical Geography: a system approach. London: Prentice Hall, 1971.
COUTINHO, L. M. Biomas brasileiros. São Paulo: Oficina de Textos, 2016. 128p.
ENGELS, F. A dialética da Natureza. 6° Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. 238p.
ERHART, H. A teoria bio-resistásica e os problemas biogeográficos e paleobiológicos. Notícia Geomorfológica. Campinas, n. 11, p. 51-58, 1966.
ISACHENKO, A. G. Principles of landscape science and Physical Geography Regionalization. Melbourne, 1973. 311p.
MEDEIROS, J. C.; CESTARO, L. A. As diferentes abordagens para definir brejos de altitude, áreas de exceção no Nordeste brasileiro. Sociedade e Território, v. 31, n. 2, p. 97-119, 2019.
MESCOLOTTI, P. C. Planície fluvial e campo de dunas eólicas do médio rio São Francisco: cronologia de depósitos e sucessão de eventos geológicos no Quaternário do Brasil. Tese (Doutorado), Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Rio Claro, 2021. 95p.
MILANI, E. J.; MELO, J. H. G.; SOUZA, P. A.; FERNANDES, L. A.; FRANÇA, A. B. Bacia do Paraná. In.: Cartas Estratigráficas - Boletim de Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, 2007, p. 265-287
MODENESI-GAUTTIERI, M. C.; NUNES, L. H. Processos geocriogênicos quaternários nas cimeiras da Mantiqueira, com considerações climáticas. Revista do Instituto Geológico, São Paulo, v. 19, n. ½, p. 19-30, 1998.
MONBEIG, P. Pioneiros e fazendeiros de São Paulo. São Paulo: Hucitec, 1984.
MONTEIRO, C. A. F. (2010) Domínios e províncias nos quadros de natureza brasileira, na visão de Ab’Sáber. In: MODENESI-GAUTIERRI, M. C.; BARTORELLI, A.; MANTESSO-NETO, V.; CARNEIRO, C. D. R.; LISBOA, M. B. A. L. (Orgs.). A obra de Aziz Nacib Ab’Sáber. São Paulo: Beca: 325-333
MORRONE, J. J. América do Sul e Geografia da vida: comparação de algumas propostas de regionalização. In: CARVALHO, C. J. B.; ALMEIDA, E. A. B. Biogeografia da América do Sul: padrões e processos. São Paulo: Roca, 2010. 306p.
MUEHE, D. (1984) Evidências de recuo dos cordões litorâneos em direção ao continente no litoral do Rio de Janeiro. In: LACERDA, L. D.; ARAÚJO, D. S. D.; CERQUEIRA, R.; TURCQ, B. (Eds.) Restingas: origem, estrutura, processos. CEUUFF: NITEROI: 477p.
OLIVEIRA FILHO, A. T.; FONTES, M. A. L.; VIANA, P. L.; VALENTE, A. S. M.; SALIMENA, F. R. G.; FERREIRA, F. M. O mosaico de fitofisionomias do Parque Estadual do Ibitipoca. In: FORZZA, R. C.; MENINI NETO, L.; SALIMENA, F. R. G.; ZAPPI, D. (Orgs.) Flora do Parque Estadual do Ibitipoca e seu entorno. Juiz de Fora: Ed. da UFJF, 2013. 382p.
PONTES, H. S.; FERNANDES, L. A.; MELO, M. S.; GUIMARÃES, G. B.; MASSUQUETO, L. L. Características litofaciológicas e aspectos genéticos de feições cársticas na Formação Furnas e Arenito Vila Velha no município de Ponta Grossa (Paraná, Brasil). Revista Brasileira de Geomorfologia, v. 23, n. 1, p. 1206-1224, 2022.
RIZZINI, C. T. Tratado de fitogeografia do Brasil (2° ed.). Rio de Janeiro: Âmbito Cultural Edições Ltda., 1997. 747p.
RODELA, L. G.; TARIFA, J. R. Unidades ambientais do Parque Estadual do Ibitipoca, Minas Gerais. GEOUSP: Espaço e Tempo, v. 10, p. 97-116, 2001.
SUGUIO, K.; MARTIN, L. Geomorfologia das restingas. In: II SIMPÓSIO DE ECOSSISTEMAS DA COSTA SUL E SUDESTE BRASILEIRA: ESTRUTURA, FUNÇÃO E MANEJO. Anais... Águas de Lindoia, p. 185-205, 1990.
TANSLEY, A. G. The use and abuse of vegetational concepts and terms. Ecology, v. 16, p. 284-307, 1935.
TRICART, J. As relações entre a pedogênese e a morfogênese. Notícia Geomorfológica, v. 8, p. 5-18, 1968.
TRICART, J. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE, Diretoria Técnica/SUPREN, 1977. 91 p.
TRICART, J.; CAILLEUX, A. Cours de géomorphologie. Introduction à la géomorphologie climatique. Paris: Centre du documentation universitaire, 1957. 228p.
VITTE, A. C. A construção da Geomorfologia no Brasil. Revista Brasileira de Geomorfologica, v. 12, n. 3, p. 91-108, 2011.
WALTER, H. Vegetação e zonas climáticas. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária. 5° ed., 1984.
Téléchargements
Publié-e
Comment citer
Numéro
Rubrique
Licence
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:Autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 3.0 Brasil que permitindo o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e publicação inicial nesta revista.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre em http://opcit.eprints.org/oacitation-biblio.html.)
Authors who publish with this journal agree to the following terms:
Authors retain copyrights and grant the Journal the right of first publication with the work simultaneously licensed under a Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 3.0 Brasil that allows others to share the work with an acknowledgement of the work's authorship and initial publication in this Journal.
Authors are permitted to enter into separate, additional contractual arrangements for the non-exclusive distribution of the Journal's published version of the work (e.g., post it to an institutional repository or in a book chapter), with an acknowledgement of authorship and initial publication in this journal.
Authors are permitted and encouraged to publish and share their work online (e.g., in institutional repositories or on their website) prior to and during the submission process, as it can lead to productive exchanges, as well as increase the impact and citation of published work (See The Effect of Open Access - http://opcit.eprints.org/oacitation-biblio.html.)


