A fluída condição dos nipo-brasileiros nas relações étnico-raciais no Brasil
DOI:
https://doi.org/10.30612/mvt.v8i15.15476Palavras-chave:
nipo-brasileiros, minoria positiva, racismo recreativoResumo
Questionamos a posição do nipo-brasileiro nas relações étnico-raciais brasileiras e partiremos de Edward Telles (2003a; 2003b) que propõe uma classificação racial a partir da análise das relações tanto verticais (relações de poder econômico) como horizontais (relações de sociabilidade). Sugerimos a hipótese de que os nipo-brasileiros são interpretados ora como próximos aos “brancos” e ora como “não-brancos” dependendo do contexto nas relações étnico-raciais no Brasil. Na primeira condição são utilizados pela branquitude como “minoria positiva” (KEBBE; MACHADO, 2008; TSUDA, 2000) que ascendeu de forma meritocrática da condição inferiorizada de “perigo amarelo” e devem servir de exemplo para outras minorias étnico-raciais do país. Este argumento fomenta uma falsa simetria entre minorias que deslegitimaria as políticas afirmativas de cotas raciais para acesso ao ensino superior, por exemplo. Entretanto, argumentamos que essa interpretação desconsidera as múltiplas razões (imigração tutelada, capital cultural, cooperativismo) que explicam a mobilidade dos mesmos. Já na segunda condição, eles são tratados cotidianamente com discriminações entendidas como “piadas” relembrando-os da condição de racializados. Os relatos de vivência escolar coletados em 2017 demonstram situações de racismo recreativo (MOREIRA, 2020) recorrentes no ambiente escolar como o determinismo que naturaliza o bom desempenho do estudante nipo-brasileiro criando uma expectativa infundada sobre o mesmo. Entendemos que a proposta de análise exposta ressalta como as classificações raciais no contexto brasileiro são ambíguas, fluídas e pode colaborar com o debate sobre a construção de identidade nacional e crítica a suposta democracia racial presente no país.Downloads
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