INFLUÊNCIA DOS MODOS DE VARIABILIDADE CLIMÁTICA SOBRE EVENTOS DE RESSACAS NO LITORAL SUL DO ESPÍRITO SANTO, BRASIL

Autores

  • Branco Eguchi
  • Jacqueline Albino

Resumo

A partir de dados de reanálise de ondas entre os anos de 1948 e 2008 do modelo GOW para o litoral sul do estado de Espírito Santo e da superposição dessas informações com os índices ENSO e SAM, obtidos através da Administração nacional oceânica e atmosférica dos EUA (National Oceanographic and Atmospheric Administration - NOAA), descreveu-se o clima de ressacas marinhas e determinou-se como ENSO e SAM atuam sobre o bloqueio gerado pelo ASAS e alteram os padrões associados a energia, número e evolução das ressacas marinhas extremas associadas grande energia de onda acumulada durante sua passagem. Ressacas marinhas foram definidas como eventos com alturas de ondas superiores à média dos 5% das ondas mais altas do banco dados (H5%) e duração mínima de 24 horas. Os resultados apontaram 208 eventos de ressacas entre 1948 e 2008, com altura limite mínima para ondas de 1,72 m, duração média de 2 dias e direção preferencial de sul/sudeste. No entanto, ressacas com maiores energias acumuladas foram provenientes do quadrante leste e possuem duração máxima de 7 dias. A distribuição temporal das ressacas mostrou maiores números de ressacas com menores durações na primavera e maiores energias de ondas durante o inverno, como reflexo de ressacas mais duradouras nesta estação. A comparação aponta que 53% das ressacas ocorreram sob condições de ENSO neutro combinado com a fase negativa do SAM (56%), salvo durante o verão, no qual as ressacas ocorreram sob efeito de ENSO negativo (50%) e SAM positivos (83%). As ressacas de maior energia se deram preferencialmente com ENSO negativo (2/3) e SAM positivo (2/3), diferentemente das demais ressacas. A combinação de ENSO negativo com SAM positivo resultou no evento com maior energia de onda acumulada, já a combinação com SAM negativo associou-se com a ressaca de menor energia acumulada dentre as demais.  Em termos de evolução energética, ressacas associadas com SAM positivo apresentaram um padrão similar de aumento energético, que ocorreu de forma gradual deste o primeiro dia. O decaimento energético foi similar para as ressacas associadas ao ENSO negativo, com a ressaca se dissipando de forma constante após atingir o pico, com ENSO positivo, apresenta dois picos energéticos antes de se dissipar. Os autores concluem que a migração sazonal do ASAS foi o principal controle do padrão de número e intensidade dos eventos de ressacas. Os modos ENSO e SAM atuam de forma secundária na formação e a evolução das ressacas. A influência do ENSO foi de interferir na intensidade do ASAS, enquanto que a atuação do SAM definiu a intensidade das ressacas. Ressalta-se que a atuação combinada de ENSO e SAM permitiu a ocorrência de ressacas, mesmo durante o cenário de ASAS desfavorável. Além de favorecer a formação de ressacas extremamente energéticas, cuja combinação de ENSO e SAM conferiram características distintas na evolução energética de cada evento. A temporada de ressacas no litoral sul do Espírito tem seu auge entre os meses de julho e setembro e é caracterizada por eventos duradouros e energéticos que evoluem para eventos breves e mais frequentes. Dado a proveniência do quadrante sudeste e sua duração média de dois dias, a ondas de ressacas podem ser associadas a entradas de frentes frias.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Branco Eguchi

Doutor em Agronomia (Energia na Agricultura) [Botucatu] pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho em 2001. Mestre em Agrometeorologia pela ESALQ/USP em 1995.

Referências

ALBINO, J., NETO, N. C., & OLIVEIRA, T. C. A. (2016a). The Beaches of Espírito Santo. In Brazilian Beach Systems (pp. 333-361). Springer, Cham.

ALBINO, J., JIMÉNEZ, J. A., & OLIVEIRA, T. C. (2016b). Planform and mobility in the Meaípe-Maimbá embayed beach on the South East coast of Brazil. Geomorphology, 253, 110-122.

AMARANTE, O.A.C., SILVA, F.J.L., ANDRADE, P.E.P, PARECY, E. (2009) Atlas eólico: Espírito Santo. Agência de Serviços Públicos de Energia do Estado do Espírito Santo (ASPE), Vitória.

ANDRADE, K. (2009). Climatologia e comportamento dos sistemas frontais sobre a América do Sul. 2007. 187 f. Dissertação de Mestrado em Meteorologia – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, São José dos Campos.

ARAGÃO, J.O.R. (1998) - O Impacto do ENSO e do Dipolo do Atlântico no Nordeste do Brasil. Bulletin de l'Institut Français d'Etudes Andines, 27(3):839–844. DOI: 10.1590/S1415-43662009000400014

BEU, C. M. L., & AMBRIZZI, T. (2006). Variabilidade interanual e intersazonal de frequencia de ciclones no Hemisfério Sul. Rev. Bras. Meteorol, 21, 44-55.

BULHÕES, E. M. R., FERNANDEZ, G. B., DE OLIVEIRA FILHO, S. R., PEREIRA, T. G., & DA ROCHA, T. B. (2014). Impactos costeiros induzidos por ondas de tempestade entre o Cabo Frio e o Cabo Búzios, Rio de Janeiro, Brasil. Quaternary and Environmental Geosciences, 5(2).

CARDOZO, A. B., CUSTÓDIO, I. S., REBOITA, M. S., & GARCIA, S. R. (2015). Climatologia de frentes frias na américa do sul e sua relação com o modo anular sul. Revista Brasileira de Climatologia, 17.

CARLSON, T. N. (1991), Mid‐Latitude Weather Systems, 507 pp., Am.Meteorol. Soc., Boston, Mass.

CASTELLE, B., BUJAN, S., FERREIRA, S., & DODET, G. (2017). Foredune morphological changes and beach recovery from the extreme 2013/2014 winter at a high-energy sandy coast. Marine Geology, 385, 41-55.

CAVALCANTI, I. F. A., & KOUSKY, V. E. (2009). Frentes frias sobre o Brasil. Tempo e clima no Brasil. São Paulo: Oficina de Textos, 135-47.

CHANG, E. K., LEE, S., & SWANSON, K. L. (2002). Storm track dynamics. Journal of climate, 15(16), 2163-2183.

COWELL, P. J., & THOM, B. G. (1994). Morphodynamics of coastal evolution (pp. 33-86). Cambridge University Press, Cambridge, United Kingdom and New York, NY, USA.

DA SILVEIRA PEREIRA, N. E., & KLUMB-OLIVEIRA, L. A. (2015). Analysis of the influence of ENSO phenomena on wave climate on the central coastal zone of Rio de Janeiro (Brazil). Revista de Gestão Costeira Integrada-Journal of Integrated Coastal Zone Management, 15(3), 353-370.

DE SOUZA, T. A., BULHÕES, E., & DA SILVA AMORIM, I. B. (2016). Ondas de tempestade na costa Norte Fluminense. Quaternary and Environmental Geosciences, 6(2).

DIRETORIA DE HIDROGRAFIA E NAVEGAÇÃO. CENTRO DE HIDROGRAFIA DA MARINHA. Banco nacional de dados oceanográficos. Previsões de maré. Disponível em http://www.mar.mil.br/dhn/chm/box-previsao-mare/tabuas/40280Jan2017.htm. Acesso em: 07 de janeiro de 2020.

DISSANAYAKE, P. M. P. K., BROWN, J., & KARUNARATHNA, H. (2015). Impacts of storm chronology on the morphological changes of the Formby beach and dune system, UK. Natural Hazards and Earth System Science, 15(7), 1533-1543.

DURÁN, R., GUILLÉN, J., RUIZ, A., JIMÉNEZ, J. A., & SAGRISTÀ, E. (2016). Morphological changes, beach inundation and overwash caused by an extreme storm on a low-lying embayed beach bounded by a dune system (NW Mediterranean). Geomorphology, 274, 129-142.

EARLIE, C., MASSELINK, G., & RUSSELL, P. (2018). The role of beach morphology on coastal cliff erosion under extreme waves. Earth Surface Processes and Landforms, 43(6), 1213-1228.

FOGT, R. L., & BROMWICH, D. H. (2006). Decadal variability of the ENSO teleconnection to the high-latitude South Pacific governed by coupling with the southern annular mode. Journal of Climate, 19(6), 979-997.

GAN, M. A., & RAO, V. B. (1991). Surface cyclogenesis over South America. Monthly Weather Review, 119(5), 1293-1302.

GODOI, V. A., BRYAN, K. R., & GORMAN, R. M. (2018). Storm wave clustering around New Zealand and its connection to climatic patterns. International Journal of Climatology, 38, e401-e417.

GODOI, V. A., RIBEIRO, C. E. P., & TORRES JR, A. R. (2014). An overview of events of high sea waves at the mouth of Guanabara Bay Pan-American. J Aquat Sci, 9(2), 70-87.

GONG, T., FELDSTEIN, S. B., & LUO, D. (2010). The impact of ENSO on wave breaking and southern annular mode events. Journal of the atmospheric sciences, 67(9), 2854-2870.

GOTELLI, N. J., & ELLISON, A. M. (2016). Princípios de estatística em ecologia. Artmed Editora.

GOZZO, L. F., DA ROCHA, R. P., REBOITA, M. S., & SUGAHARA, S. (2014). Subtropical cyclones over the southwestern South Atlantic: Climatological aspects and case study. Journal of Climate, 27(22), 8543-8562.

HAMMER, Ø. (2012). PAST PAleontological STatistics Version 2.17 Reference Manual. Natural History Museum, university of oslo, 229.

HAMMER, Ø., HARPER, D. A., RYAN, P. D. (2001) - PAST: Paleontological statistics software package for education and data analysis. Palaeontologia electronica, 4(1), 9.

HENDON, H. H., THOMPSON, D. W., & WHEELER, M. C. (2007). Australian rainfall and surface temperature variations associated with the Southern Hemisphere annular mode. Journal of Climate, 20(11), 2452-2467.

HOLTHUIJSEN, L. H. (2007). Linear wave theory (oceanic waters). Waves in oceanic and coastal waters, 106-142.

HUANG, B., THORNE, P. W., BANZON, V. F., BOYER, T., CHEPURIN, G., LAWRIMORE, J. H., MENNE, M. J., SMITH, T. M., VOSE, R. S. & ZHANG, H. M. (2017). Extended reconstructed sea surface temperature, version 5 (ERSSTv5): upgrades, validations, and intercomparisons. Journal of Climate, 30(20), 8179-8205.

INNOCENTINI, V., ARANTES, F. O., & PRADO, S. C. C. (2003). Modelo de ondas aplicado ao caso 5-8 de maio de 2001. Revista Brasileira de Meteorologia, 18(01), 97-104.

KOUSKY, V. E., KAGANO, M. T., & CAVALCANTI, I. F. (1984). A review of the Southern Oscillation: oceanic‐atmospheric circulation changes and related rainfall anomalies. Tellus A, 36(5), 490-504.

KOUSKY, V. E., KAGANO, M. T., & CAVALCANTI, I. F. (1984). A review of the Southern Oscillation: oceanic‐atmospheric circulation changes and related rainfall anomalies. Tellus A, 36(5), 490-504.

L’HEUREUX, M. L., & THOMPSON, D. W. (2006). Observed relationships between the El Niño–Southern Oscillation and the extratropical zonal-mean circulation. Journal of Climate, 19(2), 276-287.

LARKIN, N.K.; HARRISON, D.E. (2005) - On the definition of El Niño and associated seasonal average U.S. weather anomalies. Geophysical Research Letters, 31(L12705):1-4. DOI: 10.1029/2005GL022738.

LINS-DE-BARROS, F. M., KLUMB-OLIVEIRA, L., & DE FRANÇA LIMA, R. (2018). Avaliação histórica da ocorrência de ressacas marinhas e danos associados entre os anos de 1979 e 2013 no litoral do estado do Rio de Janeiro (Brasil). Journal of Integrated Coastal Zone Management/Revista de Gestão Costeira Integrada, 18(2), 85-102.

LORENZ, D. J., & HARTMANN, D. L. (2001). Eddy–zonal flow feedback in the Southern Hemisphere. Journal of the atmospheric sciences, 58(21), 3312-3327.

LÜBBECKE, J. F., BURLS, N. J., REASON, C. J., & MCPHADEN, M. J. (2014). Variability in the South Atlantic anticyclone and the Atlantic Niño mode. Journal of Climate, 27(21), 8135-8150.

MARSHALL, A. G., HEMER, M. A., HENDON, H. H., & MCINNES, K. L. (2018). Southern annular mode impacts on global ocean surface waves. Ocean Modelling, 129, 58-74.

MARSHALL, A. G., HUDSON, D., WHEELER, M. C., HENDON, H. H., & ALVES, O. (2012). Simulation and prediction of the Southern Annular Mode and its influence on Australian intra-seasonal climate in POAMA. Climate dynamics, 38(11-12), 2483-2502.

MASSELINK, G., HUGHES, M., & KNIGHT, J. (2014). Introduction to coastal processes and geomorphology. Routledge.

MENDOZA, E. T., & JIMÉNEZ, J. A. (2009). Regional vulnerability analysis of Catalan beaches to storms. In Proceedings of the Institution of Civil Engineers-Maritime Engineering (Vol. 162, No. 3, pp. 127-135). Thomas Telford Ltd.

NIMER, E. (1989). Climatologia do brasil. IBGE.

NOGUEIRA, I. C. M. (2014). Caracterização do clima de ondas na bacia do espírito santo através de modelagem numérica. Dissertação (Mestrado em Engenharia Oceânica) Universidade Federal de Rio de Janeiro/COPPE. p. 128.

PARISE, C. K., CALLIARI, L. J., & KRUSCHE, N. (2009). Extreme storm surges in the south of Brazil: atmospheric conditions and shore erosion. Brazilian Journal of Oceanography, 57(3), 175-188.

PEZZA, A. B., & AMBRIZZI, T. (2003). Variability of Southern Hemisphere cyclone and anticyclone behavior: Further analysis. Journal of Climate, 16(7), 1075-1083.

PHYSICAL SCIECES DIVISION. Earth System Research Laboratory. National Oceanic and Atmospheric Administration. 20CR Climate Indices: Southern Annular Mode. Disponível em: https://www.esrl.noaa.gov/psd/data/20thC_Rean/timeseries/monthly/SAM/. Acesso em 10 de novembro de 2019.

PIANCA, C., MAZZINI, P. L. F., & SIEGLE, E. (2010). Brazilian offshore wave climate based on NWW3 reanalysis. Brazilian Journal of Oceanography, 58(1), 53-70.

RAHMSTORF, S. (2017). Rising hazard of storm-surge flooding. Proceedings of the National Academy of Sciences, 114(45), 11806-11808.

RAO, V. B., DO CARMO, A. M. C., & FRANCHITO, S. H. (2002). Seasonal variations in the Southern Hemisphere storm tracks and associated wave propagation. Journal of the atmospheric sciences, 59(6), 1029-1040.

REBOITA, M. S., ROCHA, R. D., & AMBRIZZI, T. (2005). Climatologia de ciclones sobre o Atlântico Sul utilizando métodos objetivos na detecção destes sistemas. In CONGRESSO ARGENTINO DE METEOROLOGIA (Vol. 9).

REBOITA, M. S., & AMBRIZZI, T. (2006). Monitoramento dos Ciclones Extratropicais no Hemisfério Sul. In Congresso Brasileiro de Meteorologia (Vol. 14).

REBOITA, M. S., AMBRIZZI, T., & ROCHA, R. P. D. (2009). Relationship between the southern annular mode and southern hemisphere atmospheric systems. Revista Brasileira de Meteorologia, 24(1), 48-55.

REBOITA, M. S., DA ROCHA, R. P., AMBRIZZI, T., & GOUVEIA, C. D. (2014). Trend and teleconnection patterns in the climatology of extratropical cyclones over the Southern Hemisphere. Climate Dynamics, 45(7-8), 1929-1944.

REGUERO, B. G., MENÉNDEZ, M., MÉNDEZ, F. J., MÍNGUEZ, R., & LOSADA, I. J. (2012). A Global Ocean Wave (GOW) calibrated reanalysis from 1948 onwards. Coastal Engineering, 65, 38-55.

SATYAMURTY, P., & DE MATTOS, L. F. (1989). Climatological lower tropospheric frontogenesis in the midlatitudes due to horizontal deformation and divergence. Monthly Weather Review, 117(6), 1355-1364.

SILVA, G. A. M., AMBRIZZI, T., & MARENGO, J. A. (2009). Observational evidences on the modulation of the South American Low Level Jet east of the Andes according the ENSO variability. In Annales geophysicae: atmospheres, hydrospheres and space sciences (Vol. 27, No. 2, p. 645).

SIMMONDS, I., KEAY, K., & LIM, E. P. (2003). Synoptic activity in the seas around Antarctica. Monthly Weather Review, 131(2), 272-288.

SUN, X., COOK, K. H., & VIZY, E. K. (2017). The South Atlantic subtropical high: climatology and interannual variability. Journal of Climate, 30(9), 3279-3296.

THOMPSON, D. W., & WALLACE, J. M. (2000). Annular modes in the extratropical circulation. Part I: Month-to-month variability. Journal of climate, 13(5), 1000-1016.

VENEGAS, S. A., MYSAK, L. A., & STRAUB, D. N. (1997). Atmosphere–ocean coupled variability in the South Atlantic. Journal of Climate, 10(11), 2904-2920.

VERA, C. S., P. K. VIGLIAROLO, AND E. H. BERBERY (2002), Cold season synoptic‐ scale waves over subtropical South America, Mon. Weather Rev., 130, 684–699.

YOU, Z. J., & LORD, D. (2008). Influence of the El Niño–Southern Oscillation on NSW Coastal Storm Severity. Journal of Coastal Research, 24(sp2), 203-207.

ZAR, J. H. (1996). Biostatistical analysis, 3rd edn Prentice Hall International. London

Downloads

Publicado

06-04-2021

Como Citar

Eguchi, B., & Albino, J. (2021). INFLUÊNCIA DOS MODOS DE VARIABILIDADE CLIMÁTICA SOBRE EVENTOS DE RESSACAS NO LITORAL SUL DO ESPÍRITO SANTO, BRASIL. Revista Brasileira De Climatologia, 28, 165–183. Recuperado de https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/rbclima/article/view/14344

Edição

Seção

Artigos