Ética de pesquisa e relações de poder: reflexões decoloniais e provocações metodológicas em Linguística Aplicada

Autores

DOI:

https://doi.org/10.30612/raido.v14i36.11714

Palavras-chave:

Ética de pesquisa. Relações de poder. Linguística Aplicada. Pensamento decolonial. Etnografia escolar.

Resumo

Neste artigo, objetivamos discutir sobre princípios de ética e relações de poder em pesquisas acadêmicas realizadas no âmbito da Linguística Aplicada. Para tanto, partimos de uma perspectiva decolonial de língua e ética e articulamos as reflexões aqui tecidas com interpretações de dados obtidos em pesquisa de cunho etnográfico realizada nas séries iniciais do ensino fundamental de uma escola pública da região sudeste do Brasil. Nossas discussões se originam a partir da constatação da relação controversa que pode se estabelecer entre universidade e escola, na qual uma instância é tida como produtora e a outra, como consumidora de conhecimentos. A partir de nossa análise, argumentamos que a pesquisa etnográfica que transcende a elaboração de conhecimentos sobre a escola, visando à construção de conhecimentos com a escola, tem grande potencial para promover interações mais horizontais e dialógicas entre esta e a universidade. Concluímos a discussão com alguns questionamentos e provocações acerca do fazer ético de pesquisa em Linguística Aplicada.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Marianna Cardoso Reis Merlo, Universidade Federal do Espírito Santo

Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Linguística da UFES.

Doutoranda pelo mesmo programa.

Pesquisa sobre educação linguística de inglês para crianças.

Camila Oliveira Fonseca, Universidade Federal de Minas Gerais

Doutoranda do Poslin-UFMG

Mestre pelo PPGEL-UFES

Referências

ARCHANJO, R. Linguística Aplicada: uma identidade construída nos CBLA. RBLA, v. 11, n. 3, pp. 609-632, 2011.

ANDRÉ, M.E.D.A. Etnografi a da prática escolar. Campinas: Papirus, 1996.

ANDREOTTI, V. O. Conhecimento, escolarização, currículo e vontade de “endireitar” a sociedade através da educação. Revista Teias, v. 14, n. 33, pp. 215-227, 2013.

BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. [s.l]: Hucitec, [1929] 2006.

BRAIT, B. Bakhtin: Conceitos-chave. São Paulo, Editora Contexto, 2008.

CAVALCANTI, M. C. Um olhar metateórico e metametodológico em pesquisa em linguística aplicada: implicações éticas e políticas. In: L.P. MOITA LOPES (org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial, 2006. pp. 233-252.

CAVALCANTI, M. C.; MOITA LOPES, L.P. Implementação de pesquisa na sala de aula de línguas no contexto brasileiro. Trabalhos em Linguística Aplicada, v. 17, n. 1, pp. 133-144, 1991.

CAVALCANTI, M. C_.; CESAR, A. Repensando questões sobre o conceito de língua na pesquisa aplicada realizada em contextos de minorias linguísticas no Brasil. Comunicação apresentada no VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais. Coimbra: Universidade de Coimbra, Coimbra, 2004.

CRESWELL, J. W. Research design: qualitative, quantitative and mixed methods approaches. Thousand Oaks: Sage, 2009.

DE LISSOVOY, N. Decolonial pedagogy and the ethics of the global. Discourse: Studies in the Cultural Politics of Education, v. 31, n. 3, p. 279-293, 2010.

GARCEZ, P.M.; SCHULZ, L. Olhares circunstanciados: etnografi a da linguagem e pesquisa em Linguística Aplicada no Brasil. D.E.L.T.A., v. 31, n. especial, p. 1-34, 2015.

GEERTZ, C. The interpretation of cultures: selected essays by Cli ord Geertz. New York: Basic Books, 1973.

HALL, S. Da diáspora: identidades e mediações culturais, 1ª ed., Belo Horizonte: UFMG, 2003.

HELLER, M.; McELHINNY, B. Language, Capitalism, Colonialism: Toward a Critical History. Toronto: University of Toronto Press, 2017.

JORDÃO, C.M. Apresentação: de rumos e passagens. In: ______. A linguística aplicada no Brasil: rumos e passagens. Campinas: Pontes editores, 2016. pp. 11-13.

JUSTINIANO, A.C. Sobre rótulos e clichês: pesquisar o ensino de língua na escola ou com a escola pública? In: D.M. FERRAZ; C.J. KAWACHI-FURLAN (org.), Educação linguística em línguas estrangeiras. Campinas: Pontes, 2018. pp. 183-195.

LUCENA, M.I.P. Práticas de linguagem na realidade da sala de aula: contribuições da pesquisa de cunho etnográfico em Linguística Aplicada. D.E.L.T.A., v. 31, n. especial, pp. 67-95, 2015.

MENEZES DE SOUZA, L. M. T. Sobre agência, autoria e teorias decoloniais: você não sabe com quem está falando? Palestra de abertura do IV Encontro do Projeto Nacional de Letramentos. São Paulo: USP, 2019.

MERLO, M. C. R. Inglês para crianças é ‘para inglês ver’? Políticas linguísticas, formação docente e educação linguística nas séries iniciais do ensino fundamental no Espírito Santo. 2018. 272 p. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) – Programa de Pós-Graduação em Linguística: Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2018.

MERLO, M. C. R.; CASOTTI, J.B.C. A linguística aplicada para além de seu lugar na linguística. In: LINS, M.P.P.; CAPISTRANO JÚNIOR, R.; MARLOW, R.M. O lugar na linguística: percursos de uma (r)evolução. Vitória: PPGEL/UFES/ GM Gráfi ca e Editora, 2019, pp. 221-240.

MIGNOLO, W. Retos decoloniales, hoy. In: BORSANI, M.E.; QUINTERO, P (orgs.). Los desafíos decoloniales de nuestros días: pensar em colectivo. Neuquén: Educo, 2014. pp. 23-46.

MIGNOLO, W. What Does It Mean to Decolonize? In: MIGNOLO, W.; WALSH, C. On Decoloniality: Concepts, Analytics, Praxis. Durham: Duke University Press, 2018, p. 105-134.

MOITA LOPES, L.P. Tendências atuais da pesquisa na área de ensino/aprendizagem de línguas no Brasil. Letras, v, 1, n. 4, pp. 7-13, 1992.

MOITA LOPES, L.P. Uma linguística aplicada mestiça e ideológica: interrogando o campo como linguista aplicado. In: ______. (org.), Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial, 2006a. pp. 13-44.

MOITA LOPES, L.P. Linguística aplicada e vida contemporânea: problematização dos construtos que têm orientado a pesquisa. In: ______. (org.), Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo, Parábola Editorial, 2006b. pp. 85-108.

MOITA LOPES, L.P. Da aplicação de Linguística à Linguística Aplicada Indisciplinar. In: PEREIRA, R.C.; ROCA, P. (org.) Linguística aplicada: um caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2009. pp. 11-24.

MONTE MÓR, W. Investigating Critical Literacy at the University in Brazil. Critical literacy: theories and practices, 2007, v.1, n.1, pp. 41-51, 2007. Disponível em: http://www.criticalliteracyjournal.org/. Acesso em: 01 dez. 2016.

MONTE MÓR, W. Foreign languages teaching, education and the new literacies studies: expanding views. In: LEFFA, V. (org.) New Challenges in Language and Literature. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2009. pp. 177-189.

MOTTA-ROTH, D.; SELBACH, H.V.; FLORÊNCIO, J.A. Conversações indisciplinares na linguística aplicada brasileira entre 2005-2015. In: JORDÃO, C. M. A linguística aplicada no Brasil: rumos e passagens. Campinas: Pontes Editores, 2016. pp. 17-57.

QUIJANO, A. Colonialidade do poder e classificação social. In: SANTOS, B. S.; MENESES, M. P. (org.) Epistemologias do Sul. Coimbra: Almedina, 2009. p. 73-117.

RAJAGOPALAN, K. Por uma linguística crítica: linguagem, identidade e a questão ética. São Paulo: Parábola, 2003.

RAJAGOPALAN, K. Repensar o papel da linguística aplicada. In: MOITA LOPES, L.P. (Org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial, 2006. pp. 149-168.

SIGNORINI, I. 1998. Do residual ao múltiplo e ao complexo: o objeto da pesquisa em Linguística Aplicada. In: ______; CAVALCANTI, M.C (org.), Linguística aplicada e transdisciplinaridade. Campinas: Mercado de Letras, 1998. pp. 89-98.

SOUSA SANTOS, B. Por uma concepção multicultural de direitos humanos. Revista Crítica de Ciências Sociais, v. 48, n.1, pp. 11-32, 1997.

SOUSA SANTOS, B. MENESES, M.P. (org.) Epistemologias do Sul. São Paulo: Editora Cortez, 2009.

SPIVAK, G. C. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.

TELLES, J.A. É pesquisa, é? Ah, não quero não, bem!” Sobre pesquisa acadêmica e sua relação com a prática do professor de línguas. Linguagem e ensino, v. 5, n. 2, pp. 91-116, 2002.

TODD, S. Learning from the other: Levinas, psychoanalysis, and ethical possibilities in education. Albany: State University of New York Press, 2003.

WALSH, C. (Re)pensamiento crítico y (de)colonialidad. In: ______. (org.). Pensamiento crítico y matriz (de)colonial: Reflexiones latinoamericanas. Quito: Ediciones Abya-yala, 2005, pp. 13-35.

Downloads

Publicado

10.12.2020

Como Citar

Merlo, M. C. R., & Fonseca, C. O. (2020). Ética de pesquisa e relações de poder: reflexões decoloniais e provocações metodológicas em Linguística Aplicada. Raído, 14(36), 37–55. https://doi.org/10.30612/raido.v14i36.11714

Edição

Seção

30 anos da ALAB: desafios, rupturas e possibilidades de pesquisa em Linguística Aplicada