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Rádio Independente de Aquidauana: da fundação à transição para FM

Radio Independente of Aquidauana: from the foundation to the transition to FM

Radio Independente de Aquidauana: de la fundación a la transición a FM

Hélder Samuel dos Santos Lima
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Brasil
Daniela Cristiane Ota
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Brasil

Rádio Independente de Aquidauana: da fundação à transição para FM

Fronteiras: Revista de História, vol. 21, núm. 37, pp. 152-172, 2019

Universidade Federal da Grande Dourados

Copyright Universidade Federal da Grande Dourados 2019

Recepção: 24 Dezembro 2018

Aprovação: 25 Junho 2019

Resumo: Este trabalho teve por objetivo contextualizar o processo histórico de implantação e evolução tecnológica da Rádio Independente (AM 1020 KHz), situada no município de Aquidauana (MS). Após transmitir por cinco décadas em Amplitude Modulada (AM), a emissora migrou para Frequência Modulada (FM) em 2018, passando a transmitir na faixa de 90,9 MHz, representando assim, um marco em sua trajetória. Para o registro do percurso histórico da emissora, recorremos ao método da História Oral aliada a técnica da entrevista semiaberta com o fundador Antônio Rodrigues Garcia e o atual sócio proprietário e diretor geral, Armando de Amorim Anache. Como recurso complementar, foi realizado também estudo exploratório em fontes documentais.

Palavras-chave: Rádio, História, Comunicação, Migração.

Resumen: Este trabajo tuvo por objetivo contextualizar el proceso histórico de implantación y evolución tecnológica de Radio Independente (AM 1020 KHz), situada en el municipio de Aquidauana (MS). Después de transmitir por cinco décadas en Amplitud Modulada (AM), la emisora migró a Frecuencia Modulada (FM) en 2018, pasando a transmitir en el rango de frecuencia 90,9 MHz, representando así un marco en su trayectoria. Para el registro del recorrido histórico de la emisora, recurrimos al método de la Historia Oral aliada la técnica de la entrevista semiabierta con el fundador Antônio Rodrigues García y el actual socio propietario y director general, Armando de Amorim Anache. Como recurso complementario, se realizó también un estudio exploratorio en fuentes documentales.

Palabras clave: Radio, La historia, La comunicación, La migración.

Abstract: This work had for objective to contextualize the historical process of implantation and technological evolution of Radio Independente (AM 1020 KHz), located in the city of Aquidauana (MS). After transmitting for five decades in Modulated Amplitude (AM), the broadcaster migrated to the Modulated Frequency (FM) in 2018, transmitting in the 90.9 MHz band, thus representing a milestone in its trajectory. For the record of the historical route of the station, we used the method of Oral History combined with the semi-open interview technique with the founder Antônio Rodrigues Garcia and the current owner and general director, Armando de Amorim Anache. As an additional resource, an exploratory study on documentary sources was also carried out.

Keywords: Radio, History, Comunication, Migration.

Introdução

Contextualizar o processo histórico de uma comunidade ou organização nem sempre é uma tarefa fácil para pesquisadores e historiadores. Na área da Comunicação, a busca se torna ainda mais difícil quando há escassez de fontes documentais e pesquisas anteriores a respeito do tema, como é o caso da história da radiodifusão no município de Aquidauana.

Situada na região Sudoeste de Mato Grosso do Sul, a cidade que foi fundada em 15 de agosto 1892 é polo da microrregião geográfica denominada Aquidauana, estabelecida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2018). No setor de comunicações, o município conta com estações de rádio que contribuíram e contribuem no processo de difusão de conhecimento e informação numa abrangência que extrapola os limites da área urbana.

Recentemente, Aquidauana contava com duas emissoras que operavam em Amplitude Modulada (AM) na modalidade de Ondas Médias (OM): a Independente (1020 KHz) recém migrada para FM e a Difusora (1340 KHz); uma em Frequência Modulada comercial: a FM América (100,9 MHz); e a comunitária FM Pantanal (87,9 MHz). Neste trabalho, como objeto de pesquisa, optou-se pela Rádio Independente, sendo uma das pioneiras na região a migrar para FM, e por sua trajetória histórica, sendo mais recente apenas que a Rádio Difusora de Aquidauana fundada em 1952 por Elídio Telles de Oliveira1.

A fim de contextualizar o processo de implantação e desenvolvimento da emissora na sociedade aquidauanense, buscamos fontes orais que testemunharam suas experiências a frente da emissora. Além do atual diretor, Armando de Amorim Anache, recorreu-se também ao fundador da rádio, Antônio Garcia Rodrigues.

A reconstrução da memória com a colaboração dos agentes envolvidos possibilitou registrar o período de sua fundação na década de 1960, a comercialização para o grupo Anache de Comunicação no final da década de 1980 e o processo de transição para a faixa de FM, autorizado desde 2017 após regulamentação do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) por meio do decreto presidencial nº 8.139 de 2013.

A metodologia da História Oral

A história oral é uma metodologia de pesquisa qualitativa muito comum em áreas da Ciências Humanas e Sociais tais como Antropologia, História e Sociologia. Segundo Domingues (2012, p. 136), o método consiste em realizar entrevistas gravadas com pessoas que podem testemunhar sobre acontecimentos, conjunturas, instituições, modos de vida ou outros aspectos da história contemporânea.

De acordo com Matos e Senna (2011, p. 98), a metodologia se desenvolveu na década de 1950 nos Estados Unidos com o advento do gravador e quando grupos de historiadores constituíram instituições, lançaram revistas e seminários sobre o método. No Brasil, a metodologia foi introduzida na década de 1970, com crescimento significativo a partir de 1990 (DOMINGUES, 2012).

Segundo Thompson (1992, p. 17), a história oral contribui para o resgate da memória nacional, mostrando-se um método bastante promissor para a realização de pesquisa não só de História, mas em diferentes áreas. “É preciso preservar a memória física e espacial, como também descobrir e valorizar a memória do homem. A memória de um pode ser a memória de muitos, possibilitando a evidência dos fatos coletivos”.

Para Leite (2004, p. 18), a história oral permite “levantarmos as impressões daqueles que, por motivos vários, não expressaram sua versão em texto escrito, sua análise sobre um evento histórico do qual foram atores ou testemunhas”. Matos e Senna (2011, p.101) acrescentam que a fonte oral “pode não ser um dado preciso, mas possui dados que, às vezes, um documento escrito não possui”. Segundo as autoras, a metodologia:

[...] se impõe como primordial para compreensão e estudo do tempo presente, pois só através dela podemos conhecer os sonhos, anseios, crenças e lembranças do passado de pessoas anônimas, simples, sem nenhum status político ou econômico, mas que viveram os acontecimentos de sua época (MATOS E SENNA, 2011, p. 101).

Alberti (1990, p. 52) lembra que a história oral prioriza a realização de entrevistas com pessoas que participaram ou testemunharam acontecimentos, conjunturas, visões de mundo, que ajudaram o pesquisador a se aproximar do objeto de estudo. “Trata-se de estudar acontecimentos históricos, instituições, grupos sociais, categorias profissionais, movimentos, etc.”, explica.

Há três modos pelos quais podemos construir uma história oral: a narrativa da história de uma única vida – o que não significa uma biografia individual, mas, a partir de uma narrativa específica, o redesenho da história de toda uma classe ou comunidade e até mesmo o fio condutor de uma série complexa de eventos; uma coletânea de narrativas – pode ser que uma narrativa de vida isolada não dê conta da complexidade de um objeto científico qualquer, além disso a coletânea de narrativas permite que construções de interpretações históricas mais amplas sejam realizadas; e, finalmente, a análise cruzada – a evidência oral é uma fonte de informações a partir da qual se organiza um texto expositivo, ou seja, o pesquisador junta análises e interpretações das evidências com as histórias de vida integrais (MOURA; ROCHA, 2017, p.172).

Ao abordar a entrevista como procedimento de pesquisa em Comunicação, Moura e Rocha (2017, p. 163) reforçam que no contexto de estudos de entrevista e história oral, tanto a escrita quanto as narrativas orais “não são fontes excludentes entre si, mas complementam-se mutuamente”. De acordo com a pesquisadoras, as fontes orais “não são meros sustentáculos das formas escritas tradicionais, pois são diferentes em sua constituição interna e utilidade inerente”. Desta forma, aliado ao suporte metodológico da história oral, recorremos a entrevista em profundidade, comumente utilizada em pesquisas de comunicação, no intuito de possibilitar as fontes a definição dos termos de suas respostas de forma livre e espontânea.

Duarte (2011, p. 62) destaca que a entrevista em profundidade busca “intensidade nas respostas, não-quantificação ou representação estatística”. O teórico explica que a entrevista em profundidade auxilia na descrição, desenvolvimento conceitual e teste de conceitos. Moura e Rocha (2017) acrescentam que as entrevistas em profundidade apostam na flexibilidade e exploram ao máximo o tema investigado. A entrevista em profundidade pode ser de dois tipos: aberta e semiaberta. As abertas são não-estruturadas e o modelo é baseado numa questão central. Já as do tipo semiaberta partem de um roteiro-base com questões semiestruturadas.

Em nossa pesquisa, optamos por registrar a história de vida do fundador da Rádio Independente, Antônio Garcia, através do depoimento oral. A técnica da entrevista semiaberta, embora norteada por um roteiro base, possibilitou estabelecer um diálogo com as fontes deixando-as à vontade para responder sobre os fatos que marcaram época na emissora de forma espontânea e não engessada.

Um breve relato da história da radiodifusão

Assim como em outros países do mundo, as emissoras em Amplitude Modulada (AM) são as pioneiras e as responsáveis pelo surgimento deste meio de comunicação no Brasil. A primeira transmissão oficial, ainda que precária, aconteceu em 7 de setembro de 1922 durante as comemorações do Centenário da Independência, no Rio de Janeiro, à época capital federal. A pedido da Repartição Geral dos Telégrafos, a Westinghouse, empresa norte-americana, realizou uma demonstração pública de radiodifusão sonora. Na ocasião, os alto-falantes transmitiram o discurso de presidente Epitácio Pessoa de uma estação experimental instalada no Corcovado (FERRARETTO, 2001).

Além da transmissão por meio dos alto-falantes, o discurso pôde ser acompanhado por autoridades civis e militares através dos receptores distribuídos pela Westinghouse. Os equipamentos utilizados na transmissão do Centenário da Independência constituiriam um ano depois a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro (ZUCULOTO, 2012).

Enquanto no cenário nacional a primeira estação de rádio foi implantada em 1923 na então capital federal Rio de Janeiro, no estado de Mato Grosso Uno o rádio surge inicialmente na modalidade recepção com a fundação do Rádio Clube em Campo Grande no dia 25 de dezembro de 1924.

Um grupo de pessoas se reuniu na Biblioteca Pública, à Avenida Afonso Pena, às 17 horas daquele dia, para criar um centro de encontro familiar em Campo Grande. A ideia era reunir amigos para ouvir rádio, uma invenção ainda muito recente no Brasil da época (PORTAL RÁDIO CLUBE MS, 20172)

Apesar de Campo Grande ter sido o primeiro local de recepção sonora em Mato Grosso do Sul, a primeira transmissão ocorreu no município de Corumbá com a rádio “A voz de Corumbá” instalada inicialmente em 1930 pelo engenheiro corumbaense Carlos Miguel Mônaco. Com recursos próprios, o engenheiro montou um transmissor de pequena potência na garagem de sua residência. A emissora foi inaugurada oficialmente em 13 de junho de 1935, mas não ficou muito tempo no ar e logo se transformou em um serviço de alto-falante (BÁEZ apud, MOREIRA, 2010, p. 7).

Em Aquidauana, na região sudoeste do estado, o rádio começa também de forma artesanal através do precursor Elídio Teles de Oliveira com o serviço de alto-falante na década de 1950. Em 16 março de 1952, é inaugurada a Rádio Difusora de Aquidauana representando o pioneirismo da radiodifusão no município de Aquidauana.

Posteriormente, surgiram: a Rádio Independente em 1962, objeto de estudo deste trabalho e a rádio FM América em 1989 (ROBBA, 1992). Em 1998, foi instituída a Associação Beneficente Renascer Aquidauanense responsável pela rádio comunitária FM Renascer (87,9 MHz), atualmente FM Pantanal. A emissora teve sua licença aprovada pela Comissão de Educação do Congresso Nacional em 2002 (SENADO NOTÍCIAS, 2002) e está regulamentada pela Anatel desde 2003.

De Martelinho à Independente

A história da Rádio Independente de Aquidauana se confunde com a história de Antônio Rodrigues Garcia. Natural de Campo Grande, o fundador da emissora nasceu em 30 de dezembro de 1922 e aos 18 anos de idade, na década de 1940, passa a residir no município de Ponta Porã na fronteira com o Paraguai, para servir ao Exército Brasileiro.

Em 1942, com 20 anos de idade, o então sargento Garcia se estabelece no município de Bela Vista para atuar no 10° Regimento de Cavalaria Independente (RCI), após ter solicitado transferência de Ponta Porã-MS, onde serviu de 1940 a 1942 (AQUIDAUANA NEWS, 2004). Em Bela Vista, também na região de fronteira, conheceu Emígdia Armôa (in memorian), na época com 16 anos de idade. Após um ano de namoro, em 1943, acontece a união matrimonial que resulta nos três filhos: Luiz, Edson (in memorian) e Geraldo (O PANTANEIRO, 2015).

Em 25 de outubro de 1943, em plena Segunda Guerra Mundial, numa cerimônia bastante discreta pois Garcia, sendo militar e em estado de alerta não poderia se casar sem autorização de seu comandante, o casal contrai as suas núpcias às oito horas da noite na Igreja Matriz de Santo Afonso. Com o término da guerra, Garcia decidiu deixar a carreira militar. Em 31 de março de 1945 deu baixa. Agora, paisano e casado, volta para Ponta Porã onde havia permanecido sua família. Em 1950, o casal e os três filhos nascidos em Ponta Porã retornam para Bela Vista para, em 01 de julho de 1952, se mudarem para Aquidauana (AQUIDAUANA NEWS, 2004).

Embora o trabalho efetivo numa estação de rádio tenha se concretizado em Aquidauana, Antônio Garcia conta que foi aluno do Instituto Técnico Monitor LDTA de São Paulo na década de 1950 quando ainda residia em Ponta Porã. O curso profissionalizante para conserto de rádio era oferecido na modalidade à distância por meio de correspondência. Inicialmente o intuito do curso era adquirir conhecimento técnico necessário para construir uma estação de rádio em Pedro Juan Caballero no Paraguai. No entanto, o desconhecimento da legislação de radiodifusão do país vizinho o fez desistir da inciativa.

Em Bela Vista, conforme relato, Antônio Garcia trabalhou com o serviço de alto-falantes. A experiência no ramo somado ao conhecimento do curso de conserto de rádio o credenciou para atuar, na década de 1950, como técnico em eletrônica da Rádio Difusora de Aquidauana a convite do proprietário e fundador Elídio Teles de Oliveira. “Eu vim para Aquidauana em 1952 já com o convite para trabalhar na Rádio Difusora. Trabalhei por quase dez anos. Eu era locutor e, também, cuidava do transmissor” (GARCIA, A. R., 2016).

Segundo ele, na Difusora a proximidade e amizade estabelecida com o técnico de rádio Francisco Romero, foi fundamental na troca de experiências a respeito de conhecimentos técnicos de radiodifusão. “Na época, ele me ensinou como fazer uma estação de rádio, pois como ele era o técnico operacional, ele havia acompanhado o Elídio Teles de Oliveira na construção da rádio” (GARCIA, A. R., 2016).

Na década de 1960, após atuar na rádio Difusora de Aquidauana, Antônio Garcia decidiu concretizar o sonho que trouxe consigo de Ponta Porã, o de implantar uma estação de rádio dando início, assim, a construção de forma manual da segunda emissora aquidauanense: a Rádio Independente.

Era preciso comprar os equipamentos numa fábrica autorizada só que eu pensei: - “Mas eu não tenho dinheiro para mandar fazer uma rádio, comprar ela pronta? Eu vou fazer ela”. Eu construí desde o toca-discos, com dois motores que havia ganho, sem prato, só os motores. Fiz a mesa de som, numa dessas oficinas ali na esquina da rua Estevão Alves Corrêa. Utilizamos pistões de automóveis que eram de alumínio. Fundimos a peça que eram os pratos para o motorzinho. Fiz a consola do princípio ao fim. A caixa, o circuito, depois o transmissor também. Tudo feito à mão (GARCIA, A. R., 2016).

A primeira vez que foi ao ar em 1961, em caráter experimental, a emissora estava situada na Rua Assis Ribeiro junto ao prédio da Casa Tamashiro, local onde Antônio Garcia residia com a família. Para o êxito da iniciativa, o fundador da emissora reitera a parceria estabelecida com o ex-técnico da Difusora, Francisco Romero.

O Chico Romero gostava muito de mim, porque eu era um companheiro de conversa, de trabalho. Ele que me orientava. O dia que eu liguei o transmissor para ir ao ar ele ficou surpreso [...] estava tudo certo e no ar com 250 watts. Isso foi em 1961, porque em 1962 eu já tinha da Comissão Técnica de Rádio, a frequência. Mandaram eu entrar em experiência e me deram o prefixo ZYX 20 (GARCIA, A. R., 2016).

Na época, a Independente era conhecida como Rádio Martelinho. “Eu estava lá numa tarde trabalhando, justamente na construção do transmissor, e umas moças que vieram visitar minha esposa perguntaram: essa que é a martelinho?”, recorda-se o fundador. Segundo Robba (1992, p.81), o nome faz referência ao trabalho artesanal desenvolvido por Antônio Garcia durante a implantação da emissora. No dia da inauguração, o jornalista Álvaro Pontes, em seu discurso de saudação, comentou que ela havia sido construída a “martelo”. Por isso passou a denominar-se “a emissora do martelinho”.

A rádio funcionou inicialmente com equipamentos manuais desde o microfone até a torre de transmissão que possuía 42 metros de altura. Os primeiros equipamentos da estação foram compostos por um microfone feito com um pedaço de lata, um alto-falante, um transformador e 10 metros de fio.

[...] entramos no ar até eu ir podendo trocar o microfone e comprar o gravador de fita. A rádio funcionou durante uns doze anos com equipamentos que eu havia construído. Depois, eu fiz uma mesa de som nova com válvulas modernas. Até a torre foi a gente que fez. Essa torre, que os atuais donos compraram, está em cima da base que eu construí. Montei ela de baixo para cima sem tirar os pés do chão. Levantei ela já com os estais (GARCIA, A. R., 2016).

Os equipamentos manuais foram aprovados pelo Departamento Nacional de Telecomunicações (DENTEL) sendo considerados “dignos da confiança dos seus técnicos e fiscais do funcionamento do rádio no Brasil”. De acordo com Antônio Garcia, a construção manual dos equipamentos “não foi um “milagre” da técnica, mas, um “milagre” da força de vontade e da certeza de que poderíamos fazê-lo, embora não com a perfeição de uma indústria de equipamentos de estações de Rádio [...]” (PANTANAL NEWS, 2007).

Após conseguir a concessão para operar, Antônio Garcia começou a construção do Edifício Garcia, situado na Rua José Bonifácio, Bairro Alto de Aquidauana, para abrigar a sede da emissora, inaugurada oficialmente com transmissão regular em 1º de maio de 1962. No térreo, ficava o estúdio e demais salas que abrigavam as instalações da rádio. Já no piso superior, foi construída a residência da família onde o fundador reside atualmente.

Imagem 1 – Sede da Rádio Independente na década de 1960
Imagem 1 – Sede da Rádio Independente na década de 1960
Fonte: Fotografia do acervo do autor

A atual torre de transmissão da Rádio Independente fica situada na rua Joaquim Nabuco, 498 no bairro Alto, mesmo local onde o fundador Antônio Garcia Rodrigues implantou o primeiro transmissor da estação radiofônica.

A programação no pós-fundação

Desde a fundação, a rádio Independente se pautou em oferecer entretenimento, difusão da cultura local e prestação de serviço para as comunidades rurais e ribeirinhas no pantanal sul-mato-grossense. Na área rural, os capatazes das fazendas e demais trabalhadores utilizavam o rádio como meio para se orientar das atividades diárias tais como: a hora de se levantar para tomar o chimarrão, fazer café, degustar o quebra-torto e sair para a lida no campo.

A população se mantinha informada dos acontecimentos locais através do programa Notas ao Meio Dia apresentado pelo próprio Antônio Garcia Rodrigues. Nesta época, o fundador ficou conhecido como repórter 120 numa alusão ao número de seu registro profissional (PANTANAL NEWS, 2007). O bordão do locutor durante a abertura do programa era:

Atenção, 12 horas! Quando os ponteiros dos relógios se encontram em meio à jornada solar em nossas terras, num amplexo significativo, apresentamos: notas ao meio dia. Informando e comentando casos e coisas sob a responsabilidade do jornalista 120 (BLOG DO ARMANDO ANACHE, 2007).

Da mesma forma que o programa “A hora do Fazendeiro”, apresentado na rádio Educação Rural pelo ícone do rádio sul-mato-grossense Carlos Achucarro, conhecido como Juca Ganso, (CAMPO GRANDE NEWS, 2015), a Independente conquistou seus ouvintes através de uma linguagem simples e popular do rádio.

A emissora destinava boa parte de sua programação diária para avisos, cumprindo, assim, a função social de prestação de serviço levando ao homem do campo informações provenientes de pessoas que estavam na área urbana. Luiz Armôa Garcia, filho do fundador da Independente, também atuou como locutor e relata a experiência na emissora no período em que os recados eram os principais atrativos da programação:

Nessa época a comunicação no Pantanal era difícil. Não havia telefone, nem celular. O fazendeiro que não tivesse um rádio amador, usava as emissoras, tanto a Independente quanto a Difusora para mandar notícias. Era comum alguém, por exemplo, pedir para avisar o fulano de tal na fazenda tal para esperar ele tal dia e em tal lugar. Ou ainda mandavam notícias daqui da cidade: “o fulano foi operado e está passando bem”; ou então, “ morreu”. Era o meio de mandar notícias (GARCIA, L. R. A., 2016).

Durante a apresentação do “Notas ao Meio Dia”, o locutor se baseava essencialmente na leitura de recados dos ouvintes que chegavam por correspondências e a reprodução de músicas preferencialmente do gênero sertanejo. Posteriormente, com o avanço da tecnologia, a emissora passou a atender pedidos de música e recados por telefone e atuou, também, na cobertura institucional de solenidades e ações da Prefeitura e da Câmara Municipal. No caso específico do poder legislativo, a Independente chegou a retransmitir as sessões do legislativo.

Os locutores tocavam músicas sertanejas como velhas cartas3, aquelas músicas antigas, que eram músicas mesmo, não como essas de hoje. Os locutores atendiam pedidos por telefone. Haviam programas com outros tipos de música. Eu tenho ainda um bloco de discos de doze polegadas, LPs. [...] hoje eu já não teria condições de lidar com rádio, porque mudou tudo, mas foi uma experiência muito boa (GARCIA, A. R., 2016).

Dentre os “causos” da rádio numa época que a informação era transmitida unicamente pelas ondas da Amplitude Modulada, Antônio Garcia cita que um dos locutores, num momento de descontração, inventou um fato para atrair a atenção dos ouvintes:

Tínhamos um companheiro que foi da Noroeste, Salviano de Oliveira que escutava a rádio o dia inteiro e resumia os acontecimentos. Uma vez ele trouxe um fato interessante. Ele disse que havia caído um avião no Amazonas, não sei quando; não sei onde, nem sei como, nem quantos morreram. Eu então peguei as informações e construí a notícia. O avião joguei no chão, inventei. Ele ria (GARCIA, A. R., 2016).

Com a escassez de recursos numa época em que o meio rádio ainda estava ganhando espaço comercial, a empresa optou por preencher seus quadros por membros da própria família. Além dele, a esposa Emígdia Armôa Garcia, conhecida pela sociedade aquidauanense como dona Tôta, atuava na emissora como diretora comercial e os três filhos auxiliavam na locução durante os programas. “Nós não fizemos grandes coisas, mas fizemos uma rádio local. A preocupação era com Aquidauana” (GARCIA, A. R., 2016). Em relato ao portal de notícias Pantanal News (2007), o fundador lembra que ao final do programa Notas ao Meio Dia, a “mensagem ao jovem” fazia sucesso nas ondas da emissora:

Ele era esperado, disse-nos um amigo do Pulador4, em silêncio respeitoso por toda a família como se fosse um momento de oração, por causa da página final. Nesta página falávamos como um homem liberto de dogmas humanos, com muito amor instando a que respeitemos pai e mãe e a todos da comunidade humana como irmãos que somos, por parte do gênio que criou e alimenta a vida (PANTANAL NEWS, 2007).

Da mesma forma que a estação pioneira Difusora, a Rádio Independente abriu espaço para artistas locais e regionais. “Délio e Delinha vieram fazer show e se apresentaram na Difusora. O Teixeirinha esteve aqui. Não eram artistas locais, mas vieram fazer algum show e estiveram aqui na rádio” (GARCIA, L. R. A., 2016).

Em termos de programação, do início até o fim da década de 1980, a rádio Independente se pautou por priorizar os gêneros radiofônicos de entretenimento com prioridade para programas musicais com enfoque para hits sertanejos caipira e de raiz; e de prestação de serviços por meio dos informes e avisos direcionados para as comunidades rurais.

Embora a tecnologia permita com que as pessoas tenham acesso a outras culturas por meio do rádio, é através do local que o rádio assegura a proximidade entre ouvintes e locutores. O uso de bordões, comumente utilizados durante os programas da Independente e de outras emissoras, como “amigo ouvinte”, “caro ouvinte”, “minha comadre, meus amigos” reforça os laços de proximidade entre locutor e ouvinte. Criado como um meio de massa com o objetivo de transmitir sua mensagem a milhares de pessoas, o rádio é voltado para o individual pois o locutor fala diretamente para o ouvinte.

De acordo com Chantler e Harris (1998, p.21), o locutor no rádio, não fala para as massas por meio de um gigantesco sistema de transmissão de mensagens, mas fala “para uma pessoa, como se estivesse conversando com ela, bebendo juntos uma xícara de café ou um copo de cerveja”. Esta relação de confiança ouvinte-locutor, tem sido durante anos a fórmula do sucesso na Rádio Independente de Aquidauana.

O processo de comercialização e a nova direção

Envolvido em inúmeras ações sociais no município de Aquidauana, Emígdia Armôa Garcia e Antônio Rodrigues Garcia tiveram participação ativa na fundação da primeira creche da cidade denominada “Bezerra de Menezes”5. Na sociedade aquidauanense, participaram do Lions Clube e do Clube da Melhor Idade (O PANTANEIRO, 2010).

Em 1984, numa visita ao então deputado estadual Armando Anache6 na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul propuseram a venda da emissora. Além de deputado estadual, Armando Anache figurava como um respeitado empresário do setor de comunicação. Em Corumbá, além da Sociedade Rádio Clube, o grupo Anache dirigia o Cine Anache, inaugurado em 1963 exibindo os mais famosos filmes da cinematografia mundial (CORREIO DE CORUMBÁ, 2015).

Trabalhamos durante vinte e tantos anos. A minha companheira que era diretora comercial, porque eu não lido com dinheiro. Ela que fazia este serviço, mas ela estava cansada do trabalho. Foi então que resolvemos vender para o Armando. Fomos à Campo Grande, falamos com ele na Assembleia e realizamos o negócio (GARCIA, A. R., 2016).

O atual diretor e proprietário, Armando de Amorim Anache, filho do ex-deputado estadual Armando Anache, assumiu a emissora em 1985. Naquele ano, a Independente ainda funcionava na rua José Bonifácio, 616, onde foi construído o Edifício Garcia. Em 1988, a potência da emissora passou de 250 watts para 10 kilowatts e em 1994, passa a funcionar em novo endereço: na rua 15 de agosto, 98, no bairro Alto.

Além da alteração de endereço, a emissora passou por reformulação com estúdio moderno, novos equipamentos e avançou no processo de informatização pelo qual os meios de comunicação vivenciavam na década de 1990. A escolha do município de Aquidauana para ampliar o Grupo Anache no setor de comunicações foi baseada em critérios geográficos e geopolíticos.

Se você olhar o mapa de Mato Grosso do Sul, Corumbá está na fronteira. Aí você tem Campo Grande no centro e Aquidauana bem próximo a 135 km de Campo Grade. Nós tentamos emissoras de Campo Grande, mas não conseguimos e aí conseguimos em Aquidauana. E por que isso? Por uma questão geográfica e poder abranger o estado (ANACHE, 2016).

De acordo com Armando de Amorim Anache, o objetivo era criar uma rede de rádio em Mato Grosso do Sul cobrindo com sinal radiofônico Aquidauana, Corumbá e Campo Grande através da Central Pantaneira de Notícias (CPN) nos moldes da Central Brasileira de Notícias (CBN) que é vinculada ao grupo Globo de Comunicação.

Na época, o grupo Anache administrava em Corumbá a Sociedade Rádio Clube (AM 1410 KHz). Fundada em 27 de novembro de 1956, a emissora tinha como sócios: Armando Anache, Fause Anache, Laurita Anache e João Anache, respectivamente pai e tios do diretor da Rádio Independente de Aquidauana (OTA, 2006). “Nós chegamos a fazer transmissão Aquidauana – Corumbá. A ideia era formar uma rede estadual com uma programação com formato padrão, mas cada uma com sua parte local, com a sua particularidade”, comenta (ANACHE, 2016).

Em Campo Grande, o grupo Anache tentou viabilizar a aquisição da Sociedade Rádio Difusora que na época pertencia a Ueze Zahran7, proprietário da Rede Matogrossense de Televisão. “Tentamos, mas o Ueze não queria se desfazer da emissora. Depois ele se desfez e comprou a filha do Pedro Pedrossian. Com a aquisição da Difusora, nós fechávamos a rede Corumbá, Aquidauana e Campo Grande”, explica.

Em 17 de outubro de 1991, o grupo Anache cobriu a visita do Papa João Paulo II à capital do estado numa transmissão em rede para as rádios Independente de Aquidauana e Rádio Clube de Corumbá. Na ocasião, duas missas presididas pelo Papa João Paulo II, foram transmitidas ao vivo. Participaram do momento histórico o operador e técnico de externas Valceli Corrêa, o motorista Dinonísio GG, os jornalistas e radialistas Armando de Amorim Anache e Arnaldo Gomes da Costa (AQUIDAUANA NEWS, 2005).

Imagem 2 – Equipe de cobertura da visita do Papa João Paulo II em 1991
Imagem 2 – Equipe de cobertura da visita do Papa João Paulo II em 1991
Fonte: Pantanal News

De acordo com a direção, os programas da rádio Independente sempre tiveram como enfoque o tripé: música, esporte e notícia, priorizando o jornalismo de proximidade voltado para as comunidades de Aquidauana e Anastácio. Armando Anache explica que os ouvintes demonstram preferência pelos acontecimentos de caráter local, por estarem mais próximos da realidade. “Eu dei mais prioridade para o jornalismo, principalmente para o comunitário, ou seja, voltado para a comunidade. Pois as pessoas querem saber o que acontece na esquina dela não o que acontece lá na China”, observa (ANACHE, 2016).

Nos programas do formato informativo, a emissora apostou, todos estes anos, no imediatismo da notícia com a transmissão do fato diretamente do local do acontecimento. De acordo com Ortriwano (1985), a mobilidade é uma das características vantajosas do rádio, pois permitiu que o radiojornalismo se fortalecesse através do imediatismo da notícia. Segundo a pesquisadora, a transmissão radiofônica pode ser realizada diretamente do local do acontecimento de forma simultânea. “Com a utilização das unidades móveis de transmissão, as emissoras praticamente se ‘deslocam’, podendo transmitir de qualquer lugar dentro do seu raio de ação” (ORTRIWANO, 1985, p. 79).

Na década de 1990, a Independente de Aquidauana passou a contar com a unidade móvel conhecida como “vermelhinho” uma alusão ao celta vermelho, carro de reportagens externas dotado de transceptor em VHF e telefonia móvel celular (AQUIDAUANA NEWS, 2004). A iniciativa possibilitou a emissora transmitir ao vivo e de forma imediata os flashs com acontecimentos do cotidiano local priorizando o jornalismo. O formato de programação da Independente não se difere de outras emissoras AMs do restante do País.

Na década de 1980, com a implantação das FMs no Brasil, houve a especialização das emissoras. Segundo Ortriwano (1985), a transmissão em AM seguiu uma tendência de programação com o foco em prestação de serviço, notícia e esporte, com prioridade para um modelo de rádio falado. Já as FMs investiram em um modelo de programação voltado para o musical, com pequenos flashes de notícia no intervalo da programação.

Em 2002, a Independente priorizando o gênero jornalístico no formato programa esportivo comprou, com exclusividade, os direitos de transmissão da Copa do Mundo da Coréia e do Japão. Os jogos foram transmitidos via satélite, diariamente, numa parceria com a Rede Gaúcha Sat da Rede Brasil Sul afiliada da Rede Globo na região sul. Na ocasião, ouvintes da área rural, sobretudo do Pantanal Sul, que têm no rádio o único veículo de comunicação disponível, puderam acompanhar as partidas do mundial pelas Ondas Médias da Independente (AQUIDAUANA NEWS, 2002).

Em 16 de agosto de 2004, a Rádio Independente estreou nova programação passando a ser afiliada à Jovem Pan Sat com a transmissão de programas em rede. O estabelecimento da parceria para transmissão em rede não é uma particularidade da emissora aquidauanense. Em Mato Grosso do Sul, outras emissoras utilizam-se desta prática há anos. Segundo Moreira (2002, p. 104), na década de 1980, as emissoras AM foram beneficiadas pela utilização dos satélites. “O formato talk radio, que desde a década de 1970 tinha como peculiaridades a ênfase em informações locais, teve seu perfil alterado”.

A Migração para FM

Em todo o Brasil, a sucessão de acontecimentos favorecendo as transmissões em FM colocou o rádio AM em desvantagem no mercado da mídia de massa desde o início da década de 90. Além da qualidade do áudio superior na transmissão das rádios FMs, as AMs sofrem com as dificuldades impostas pelas indústrias que fabricam aparelhos receptores que trazem a opção de sintonia apenas para faixa de frequência em FM.

Este conjunto de fatores afastou gradativamente os ouvintes e reflete diretamente no Market-share8das emissoras na venda de espaços publicitários, o que coloca em risco sua sobrevivência. Para superar a desvantagem em relação ao FM e se manter em condições de igualdade na concorrência por ouvintes e anunciantes, uma das alternativas apontadas pelo Governo Federal e pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) foi propor a migração das emissoras AMs para a faixa de FM.

Em processo de transição para a faixa de FM desde 2014, a Rádio Independente é uma das emissoras em Ondas Médias (OM) no País que atenderam aos requisitos do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) para a migração, estabelecida através do Decreto 8.139 de 07 de novembro de 2013, assinado pela presidente Dilma Rousseff (PT).

O termo aditivo entre a emissora e o MCTIC foi assinado no dia 31 de julho de 2017. A assinatura dos termos aditivos é um dos últimos passos para concretizar a migração para FM. Após a assinatura, a emissora deve encaminhar projeto técnico de instalação da estação em FM à Secretaria de Radiodifusão (SRD) e solicitar à Anatel a autorização de uso da radiofrequência. A partir da liberação, os veículos já podem começar a transmitir a programação na nova faixa de FM (MCTIC, 2018).

Em Aquidauana, a Independente foi a pioneira a migrar para FM. O início das transmissões se deu no dia 29 de novembro de 2018 e a emissora passou a ser enquadrada na classe A2 do Ministério das Comunicações podendo chegar a 30 kilowatts de potência. A frequência de 1020 KHz no AM foi desativada e a emissora passa a ser sintonizada na frequência 90,9 MHz.

Foi uma grande emoção quando, ao lado da minha querida mulher e guerreira de todas as horas, Tereza Cristina, com Valmir Amaral e nossas equipes técnicas, ouvi a primeira música na Independente FM, em 90,9MHz [...] a data de 29 de novembro de 2018 entra para a história da Organização Armando Anache. Às 9h54 daquela quinta-feira, entrou no ar a primeira música, com Frank Sinatra interpretando ‘New York, New York’, um sucesso eterno; o transmissor que operava em AM foi desligado às 14h20, encerrando as suas transmissões (O PANTANEIRO, 2018).

O atual diretor da Independente conta que, desde a década de 1980, o grupo tentou implantar emissoras em FM nos municípios de Aquidauana e Corumbá. Segundo ele, em 1985 quando atuava na Rádio Globo do Rio de Janeiro, o jornalista recém-formado tentou convencer o pai, Armando Anache, da necessidade de adquirir uma concessão de FM. “Olha, o grande lance, agora, é FM. Sem largar o AM, mas vamos também para o ramo de FM, não tem como não ir. Fomos ao Ministério das Comunicações e não havia canal disponível nem para Corumbá nem para Aquidauana”, comentou (ANACHE, 2016).

Após esperar mais de trinta anos pela implantação de uma emissora na faixa de FM, o grupo pretende levar ao ar uma programação diferenciada. “Vem um amigo meu lá do Rio de Janeiro para me auxiliar no início. Ele montou várias FMs lá que estão em primeiro lugar, então ele sabe um pouquinho e eu quero aprender com ele, porque eu sempre fui de AM”, explica (ANACHE, 2016).

Antes de migrar, a emissora contava com uma grade de programas que priorizava entretenimento com foco em música, esportes e espaço para programas religiosos de denominação evangélica e católica com a transmissão da missa dominical. Já a programação esportiva era retransmitida numa parceria com a Rede Tupi de Rádio do Rio de Janeiro.

Com a migração para FM, a emissora trabalha para colocar no ar uma grade com programação durante 24 horas por dia. Na Internet, a Rádio Independente pode ser ouvida pelo portal (www.pantanalnews.com.br) e há uma interação entre o ouvinte e o locutor por meio de canais de mensagem como o Whatsapp e também através da página da emissora no Facebook (https://www.facebook.com/RadioIndependente).

Considerações Finais

É inegável que em Aquidauana o rádio marcou gerações, construiu cenários no imaginário dos ouvintes e, claro, contou histórias. Não se pode deixar de mencionar também que, embora, os meios tenham se adaptado as mudanças tecnológicas, o rádio vai continuar sendo o principal veículo local por conta do seu caráter de proximidade estabelecido com os receptores sobretudo de áreas rurais.

Neste trabalho, optamos por contextualizar a história da Rádio Independente de Aquidauana por meio da memória e dos testemunhos dos personagens envolvidos durante este percurso. A iniciativa nos permitiu compreender como as fontes utilizadas experimentaram e vivenciaram o percurso de fortalecimento da emissora da fundação até os dias atuais.

Embora a experiência tenha nos permitido utilizar outros materiais que não somente os documentos disponíveis na Internet ou na imprensa, foi necessário uma preocupação maior e rigor com a linguagem. Mesmo com a riqueza de detalhes propiciado pelo relato das fontes utilizados, é inegável que ainda há muito o que historicizar.

Em trabalhos futuros, pretendemos registrar o trabalho dos radialistas que atuaram no setor de radiodifusão em Aquidauana. O testemunho de locutores e radialistas que atuaram em emissoras do município nos trarão boas histórias, não somente por conta da experiência e vivência, mas também pela relação amistosa e de confiança que estabeleceram com os ouvintes em todos estes anos. Afinal, como pontua Guimarães Neto (2000), as recordações não são “meras exposições da memória, mas um olhar através do tempo múltiplo, um olhar que reconstrói, decifra, revela e permite a passagem de um tempo a outro e, especialmente trazem a possibilidade de atualização do passado no presente”.

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Notas

1 Fundador da Rádio Difusora de Aquidauana, foi recenseador da Prefeitura Municipal e sócio do Jornal Correio do Sul. Considerado o pioneiro da radiodifusão em Aquidauana, começou com serviço de alto-falante até fundar a primeira rádio do município (VARGAS, 2002).
2 Disponível em: http://www.radioclube.org.br/historia/. Acesso em: 25 jan. 2018.
3 Música de composta por Tonico, Tinoco e Zé Paioça. (LETRAS MUS, 2016). Disponível em: https://www.letras.mus.br/tonico-e-tinoco/1025093/. Acesso em: 20 jul. 2016.
4 Colônia no município de Anastácio (MS) habitada por migrantes do estado de Pernambuco (DOMINGUES, 2012).
5 Expoente da doutrina espírita no Brasil (O PANTANEIRO, 2010).
6 Presidente por duas vezes da Associação Comercial e Industrial de Corumbá (ACIC), prefeito de Corumbá e três vezes deputado estadual de 1983 a 1995 (CORREIO DE CORUMBÁ, 2015). Disponível em: http://www.correiodecorumba.com.br/?s=noticia&id=15770. Acesso em: 24 maio de 2018.
7 Empresário sul-mato-grossense bem-sucedido, é proprietário da Copagaz e de uma Rede de TV afiliada à Rede Globo (ESTADÃO, 2013).
8 O Market Share é um termo em inglês que significa a participação da empresa e dos concorrentes no mercado. (KOTLER, 2011). É o Market Share que mostra o quanto cada emissora detém do mercado para comercialização de anúncios.
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