Entre asilo e escolas: a formação do modelo brasileiro para o tratamento da idiotia

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.30612/rehr.v21i39.19052

Palabras clave:

relações franco-brasileiras, circulação, história da psiquiatria, história da infância, assistência à infância

Resumen

O presente artigo busca analisar as trocas franco-brasileiras acerca do tratamento da criança idiota na primeiras décadas do século XX com o objetivo de demonstrar a unicidade da resposta brasileira no que tange esta questão, procurando comprovar a existência de um modelo “hibrido” no Brasil. Analisa-se o diagnóstico da idiotia desde a leitura dada pelo alienismo clássico francês de Philippe Pinel, quando a doença era entendida como irremediável, até a leitura dada a partir da segunda metade do século XIX, como uma doença passível de cura pela educação. O artigo aborda as disputas entre modelos de tratamento na França: o modelo "asilo-escola", proposto por Désiré-Magloire Bourneville, e o modelo que o substituiu no começo do século XX das escolas especiais anexas às escolas normais - proposto por Alfred Binet e Théodore Simon. Ao analisar esta disputa entre modelos, localizam-se similaridades e diferenças entre os dois modelos franceses e o que era praticado na primeira seção psiquiátrica dedicada ao tratamento infantil no Brasil, o Pavilhão Bourneville, localizado no Hospital Nacional de Alienados no Rio de Janeiro. Ao fazer esta investigação, podemos concluir que o tratamento médico-educacional do idiota no Brasil pode ser considerado um “modelo híbrido” entre o modelo “asilo-escola” e o das escolas anexas por conta das necessidades internas do Brasil, que passava a valorizar a infância como recurso importante para a modernização do país e que seguia uma agenda própria, fruto da escolha dos médicos e cientistas do período, que se alinhavam aos desejos e prioridades da Primeira República. 

Descargas

Los datos de descargas todavía no están disponibles.

Biografía del autor/a

Gabriel Weiss Roma, Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz

Doutorando em História das Ciências e da Saúde pela Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz.
Mestre em História das Ciências e da Saúde pela mesma instituição.

Citas

BARRANDON, Adèle. La parenthèse médico-pédagogique : une tentative éphémère d’assistance de l’enfant aliéné à la fin du XIXe siècle. In: Revue d’histoire du XIXe siècle. Paris: Société de 1848, vol. 58, no. 1, pp. 229-248, 2019. DOI: https://doi.org/10.4000/rh19.6500

BINET, Alfred; SIMON, Théodore. Les enfants anormaux: guide pour l'admission des enfants anormaux dans les classes de perfectionnement. 1ª Ed, Paris: Librarie A. Colin, 1907. DOI: https://doi.org/10.3406/binet.1907.2465

BOURNEVILLE, Désiré-Magloire. Assistance, traitement et éducation des enfants idiots et dégénérés: rapport fait au Congrès national d'assistance publique (session de Lyon, juin 1894). 1ª Ed, Paris: Progrès médical, 1895.

BOURNEVILLE, Desire-Magloire. Recherches sur l'épilepsie, l'hystérie et l'idiotie. 1ª Ed, Paris: Publications du Progrès Médical, 1883.

BOURNEVILLE, Désiré-Magloire. Classe ou école spéciales pour les enfants arriérés. 1ª Ed, Paris: Publications du Progrés Médical, 1899.

BOURNEVILLE, Désiré-Magloire. [Correspondência]. Destinatário: Antônio Fernandes Figueira. Bicêtre, França, 18 jun. 1904. carta.

BOURNEVILLE, Desiré-Magloire. Les Enfants Anormaux au point de vue intellectuel et moral Par Le Dr.Bourneville, médicin de Bicêtre. 1ª Ed, Paris: Publications du Progrés Médical, 1905.

BOURNEVILLE, Désiré-Magloire. Instructions aux infirmiers et infirmières de la Section des Enfans de Bicêtre. 1ª Ed, Bicêtre: Imprimerie des Enfants, 1908.

BRASIL. Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Relatório Apresentado ao Presidente da República dos Estados Unidos do Brazil pelo Dr. J.J Seabra Ministro da Justiça e Negócios Interiores em Março de 1903. 1ª Ed, Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1903.

BRASIL. Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Relatório Apresentado ao Exmo. J.J Seabra, ministro da Justiça e Negócios Interiores pelo Dr. Afrânio Peixoto, diretor interno do Hospital Nacional de Alienados, 1904 - 1905. 1ª Ed, Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1905.

BRESCIANI, Maria Stella M. Londres e Paris no século XIX: o espetáculo da pobreza. 7ª Ed, São Paulo: Brasiliense, 2004.

BRIER, Pascal. La séparation des enfants anormaux. In: Une histoire de l’éducation physique dans les instituts médico-éducatifs 1838-1909: De la gymnastique médicale à l’éducation physique scolaire. 1ª Ed, Paris: Presses universitaires de Paris-Nanterre, 2022. p. 335-358. DOI: https://doi.org/10.4000/books.pupo.16514

CAVÉ, Isabelle. L’échelle métrique d’Alfred Binet (1857-1911) comme outil de diagnostic de la débilité mentale: contexte historique, médical, politique et social (1876-1911). In: Recherches & éducations. Nantes: Nantes Université, n. HS, online, 2019. DOI: https://doi.org/10.4000/rechercheseducations.6261

CHAPPEY, Jean-Luc. Sauvagerie et civilisation: une histoire politique de Victor de l'Aveyron. 1ª Ed, Paris: Fayard, 2017.

DORON, Claude-Olivier. Félix Voisin and the genesis of abnormals. In: History of Psychiatry. Nova Iorque: SAGE Publications, v. 26, n. 4, p. 387-403, 2015. DOI: https://doi.org/10.1177/0957154X15604789

FIGUEIRA, Antonio Fernandes. Educação das Crianças Idiotas. In: Século XX: Revista de Letras, Artes e Ciências, Rio de Janeiro: s/editora, ano 1, n. 1, pp.21-28, 1905

FIGUEIRA, Antônio Fernandes. Assistência pública: assistência à infância e particularmente o que se refere às medidas a adotar contra a mortalidade infantil. Educação das crianças deficientes - Relatório apresentado ao Congresso Nacional de Assistência Pública e Privada. In: Brazil-Médico. Rio de Janeiro: Policlínica Geral do Rio de Janeiro, ano 22, n. 41, p.401-415, 1908.

FIGUEIRA, Antonio Fernandes. Educação médico-pedagógica dos atrasados. In: Archivos Brasileiros de Psiquiatria, neurologia e Medicina Legal. Rio de Janeiro: Hospital Nacional de Alienados, ano 6, n. 3-4, pp. 320-331, 1910.

FIGUEIRA, Antônio Fernandes. Desenvolvimento mental da primeira infância. In: O Brazil-Médico: Revista semanal de medicina e cirurgia. ano XXXII, nº 3, pp. 22-23, 1918.

FOUCAULT, Michel. O Poder Psiquiátrico (1973-1974). 1ª Ed, São Paulo: Martins Fontes, 2006.

GATEAUX-MENNECIER, Jacqueline. Bourneville, la Médecine Mentale et l'Enfance. 1ª Ed, Paris: L'Hartmann, 2003.

GAVROGLU, Kostas. The STEP (Science and Technology in the European Periphery) Initiative: Attempting to Historicize the Notion of European Science. In: Centaurus. Turnhout: Brepols, vol. 54, n. 4, p. 311-327, 2012. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1600-0498.2012.00285.x

HUERTAS, Rafael. Historia de la psiquiatría, ¿por qué?, ¿para qué?: tradiciones historiográficas y nuevas tendencias. In: Frenia - Revista de Historia de la Psiquiatría. Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, v.1, n.1, pp.9-36, 2001.

JEANNE, Yves. Désiré Magloire Bourneville, rendre leur humanité aux enfants «idiots». In: Reliance. Toulouse: Édition érès, v. 24, n. 2, p. 144-148, 2007. DOI: https://doi.org/10.3917/reli.024.0144

LACHAPELLE, Sofie. Educating idiots: Utopian ideals and practical organization regarding idiocy inside nineteenth-century French asylums. In: Science in Context. Cambridge: Cambridge University Press, v. 20, n. 4, p. 627-648, 2007. DOI: https://doi.org/10.1017/S0269889707001470

MAIA Eusébio. Relatório Apresentado ao Exmo. J.J Seabra, ministro da Justiça e Negócios Interiores pelo Dr. Afrânio Peixoto, diretor interno do Hospital Nacional de Alienados, 1904 - 1905. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1905.

MONCORVO FILHO, Arthur. História da proteção à infância no Brasil (1500-1922). Rio de Janeiro: Paulo Pongetti, 1927.

MUÑOZ, Pedro Felipe Neves de; FACCHINETTI, Cristiana; DIAS, Allister Andrew Teixeira. Suspeitos em observação nas redes da psiquiatria: o Pavilhão de Observações (1894-1930). In: Memorandum: Memória e História em Psicologia. Belo Horizonte: FAFICH, v. 20, p. 83-104, 2011.

MUÑOZ, Pedro Felipe Neves de. Clínica, Laboratório e eugenia: uma história transnacional das relações Brasil-Alemanha. 1ª Ed., Rio de Janeiro: Fiocruz/ Puc-Rio, 2018.

PÉLICIER. Yves; THUILLIER, Guy. Pour une historie des enfants en France (1830-1914). In: Revue Historique. Paris: Presses Universitaires de France, t. 261, Fasc 1, nº 529, p.99-130, 1979.

PETITJEAN, Patrick. Entre Ciência e Diplomacia: A organização da influência científica francesa na América Latina, 1909-1940. In: A Ciência nas Relações Brasil-França (1850-1950). 1ª Ed., São Paulo: Edusp/FAPESP, 1996. p. 89-120.

PINEL, Philippe. Medico-Philosophical Treatise on Mental Alienation. 1ª Ed., Oxford: Wiley-Blackwell Publication, 2008. DOI: https://doi.org/10.1002/9780470712238

RAJ, Kapil. Tradução por: Juliana Freire-ALÉM DO PÓS-COLONIALISMO... E PÓS-POSITIVISMO Circulação e a História Global da Ciência. In: Revista Maracanan. Rio de Janeiro: Uerj, n. 13, pp. 164-175, 2015. DOI: https://doi.org/10.12957/revmar.2015.20133

RIZZINI, Irene. O século perdido: raízes históricas das políticas públicas para a infância no Brasil.1ª Ed., Rio de Janeiro: Universitária Santa Úrsula, 1997.

ROCHA, Ana Cristina SM. O teste Stanford-Binet no Brasil: uma análise das revisões de Pernambuco e do Rio de Janeiro (1925-1935). In: Revista Brasileira de História da Ciência. Rio de Janeiro: Revista Brasileira de História da Ciência, v. 17, n. 1, p. 276-295, 2024. DOI: https://doi.org/10.53727/rbhc.v17i1.937

ROMA, Gabriel; SANGLARD, Gisele; MUÑOZ, Pedro Felipe Neves de. Educando a criança anormal: o tratamento da idiotia segundo Fernandes Figueira e Bourneville: um estudo sobre o intercâmbio franco-brasileiro. In: Projeto História. São Paulo: EDUC, v.75, p.120-147, 2022. DOI: https://doi.org/10.23925/2176-2767.2022v75p120-147

ROSENBERG, Charles. Introduction: Framing disease: Illness, society and history. In: Framing Disease - Studies in Cultural History. 1ª Ed., New Brunswick: Rutgers University Press, 1992. pp. xiii-xxvi

SANGLARD, Gisele (org.). Amamentação e políticas para a infância no Brasil: a atuação de Fernandes Figueira, 1902-1928. 1ª Ed., Rio de Janeiro: Editora Fiocruz. 2016.

SCHLICHT, Laurens. Connaître et éduquer l’«idiot»: Des précurseurs Roch Ambroise Sicard, Jean Itard et Édouard Séguin à l’institutionnalisation des pratiques autour de 1900. In: Revue d’histoire des sciences humaines. Paris: Éditions de la Sorbonne, n. 38, p. 119-138, 2021. DOI: https://doi.org/10.4000/rhsh.5943

SEGUIN, Édouard. Idiocy: And Its Treatment by the Physiological Method. 1ª Ed., Nova Iorque: William Wood & Co, 1866.

SIMPSON, Murray. The moral government of idiots: moral treatment in the work of Seguin. in: History of Psychiatry. Nova Iorque: SAGE Publications, v. 10, n. 38, p. 227-243, 1999. DOI: https://doi.org/10.1177/0957154X9901003804

SOUZA, Vanderlei Sebastião de. A política biológica como projeto: a “eugenia negativa” e a construção da nacionalidade na trajetória de Renato Kehl (1917-1932). Dissertação (Mestrado em História das Ciências e da Saúde) – Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, Rio de Janeiro. 2006.

STEPAN, Nancy. “A hora da eugenia”: raça, gênero e nação na América Latina. 1ª Ed., Rio de Janeiro: Editora Fiocruz. 2005.

TRICHET, Yohan. Étude sur l’idiotisme chez Philippe Pinel. In: L'Évolution Psychiatrique. Amsterdam: Elsevier, v. 81, n. 1, p. 202-220, 2016. DOI: https://doi.org/10.1016/j.evopsy.2015.04.004

VENÂNCIO, Ana Teresa. As faces de Juliano Moreira: luzes e sombras sobre seu acervo pessoal e suas publicações. In: Revista Estudos Históricos. Rio de Janeiro: FGV/CPDOC, v. 2, n. 36, pp. 59-74, 2005.

Publicado

02/05/2025

Cómo citar

Roma, G. W. (2025). Entre asilo e escolas: a formação do modelo brasileiro para o tratamento da idiotia. Revista Eletrônica História Em Reflexão, 21(39), 28–56. https://doi.org/10.30612/rehr.v21i39.19052