Rev. Educação e Fronteiras, Dourados, v. 13, n. 00, e023013, 2023. e-ISSN:2237-258X
DOI: https://doi.org/10.30612/eduf.v13i00.17799 12
190 – O Senhor também se relaciona mediatamente por meio do Escravo com
a coisa; o Escravo, enquanto consciência-de-si em geral, se relaciona também
negativamente com a coisa, e a suprassume. Porém, ao mesmo tempo, a coisa
é independente para ele, que não pode, portanto, através do seu negar, acabar
com ela até a aniquilação; ou seja, o Escravo somente a trabalha. Ao contrário,
para o Senhor, através dessa mediação, a relação imediata vem-a-ser como a
pura negação da coisa, ou como gozo – o qual lhe consegue o que o desejo
não conseguia: acabar com a coisa e aquietar-se no gozo. O desejo não o
conseguia por causa da independência da coisa; mas o Senhor introduziu o
Escravo entre ele e a coisa, e assim se conclui somente com a dependência da
coisa, e puramente a goza; enquanto o lado da independência deixa-o ao
Escravo, que a trabalha (Ibid., p. 148).
Tendo em vista que o outro só se revela a partir da reciprocidade do sujeito, o
reconhecimento a partir do outro, o objeto, o Escravo, ele mesmo é também sujeito. Dentro
dessa estrutura relacional, portanto, cada autoconsciência se relaciona com a outra, seja como
uma autoconsciência do sujeito sobre o objeto ou como a autoconsciência do objeto sobre o
sujeito. As relações intersubjetivas são sempre relações de servidão e escravidão. O Senhor se
confronta com a outra consciência-de-si, a do Escravo. Mas, para reafirmar-se em sua certeza
e autoreconhecimento, o Senhor domina o Escravo, negando a este toda a alteridade e tudo que
lhe é essencial, quer dizer, ao Escravo. Nesse movimento de dominação, o Senhor suprassume
o outro, pois o outro não é outro para ele.
Nesse ato de suprassunção/dominação ao submeter o Escravo, o Senhor depende de que
este o reconheça como Senhor. Dessa maneira, o Escravo supera sua condição de consciência
submetida à do Senhor, enquanto este, dependendo do reconhecimento e do trabalho daquele,
rebaixa-se a uma condição inferior. Assim, invertem-se, dialeticamente, as posições das
consciências, e quem antes era sujeito, agora se reduz a objeto, e o objeto se eleva a sujeito. Em
breve síntese, o espírito vai tomando consciência-de si, a consciência individual, que a nega
para transformá-la em consciência para-si, quando toma consciência do outro, que, ao negar,
retorna à consciência de si, na qual a consciência está integrada com todos os outros.
Sartre e a luta pós-colonial
Sartre é talvez o maior interlocutor e parceiro intelectual de Fanon; por isso, existe entre
ambos um grau de confidencialidade que não se mede por um ou dois momentos, mas por uma
grande bandeira defendida em conjunto: a luta contra a colonização. Se começarmos a
investigar a recepção que Fanon faz da obra de Sartre, especialmente pelas críticas negativas