Rev. Educação e Fronteiras, Dourados, v. 13, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN:2237-258X
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DA ONTOLOGIA À ECOSOFIA DO TURISMO: AMOROSIDADE E
(AUTO)TRANSPOIESE PARA O TURISMO-TRAMA DO MUNDO N’OVO
DE LA ONTOLOGÌA A LA ECOSOFÌA TURÌSTICA: AMOROSIDADE Y
(AUTO)TRANSPOIESIS PARA EL TURISMO-TRAMA DEL MUNDO N’OVO
FROM ONTOLOGY TO TOURISM ECOSOPHY: LOVINGNESS AND
(SELF)TRANSPOIESIS FOR TOURISM-PLOT OF THE NEW WORLD
Maria Luiza Cardinale BAPTISTA
e-mail: malu@pazza.com.br
Como referenciar este artigo:
BAPTISTA, M. L. C. Da ontologia à ecosofia do turismo:
Amorosidade e (Auto)Transpoiese para o Turismo-Trama do
Mundo N’Ovo. Rev. Educação e Fronteiras, Dourados, v. 13, n.
00, e023014, 2023. e-ISSN: 2237-258X. DOI:
https://doi.org/10.30612/eduf.v13i00.17779
| Submetido em: 15/08/2023
| Revisões requeridas em: 11/10/2023
| Aprovado em: 19/11/2023
| Publicado em: 20/12/2023
Editor:
Profa. Dra. Alessandra Cristina Furtado
Editor Adjunto Executivo:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
Rev. Educação e Fronteiras, Dourados, v. 13, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN:2237-258X
DOI: https://doi.org/10.30612/eduf.v13i00.17779 2
RESUMO: O ensaio apresenta reflexões sobre a urgência de desenvolvimento epistemológico-
teórico-prático de uma Ecosofia do Turismo, diante das demandas contemporâneas no cenário de
caosmose de guerras múltiplas, pandemias, colapso climático e desafios de superação do Antropoceno.
A fundamentação teórica é transdisciplinar e holística, envolvendo Epistemologia da Ciência e do
Turismo, na composição de Ecossistemas Turístico-Comunicacionais-Subjetivos; Complexidade,
Ecologia dos Saberes e Ecologia; Biologia Amorosa, do Conhecimento e Cultural. As estratégias
metodológicas da Cartografia dos Saberes e das Matrizes Rizomáticas são processuais, complexas e
plurimetodológicas no plano operacional, envolvendo dimensões: epistemológica, teórica, metódica e
técnica. O texto traz, como resultados, reflexões sobre o Turismo e sua deriva histórica. Entre o
funcionalismo pragmático desenvolvimentista e o acirramento da crítica do caráter capitalístico, a
Ecosofia do Turismo pode nos ajudar a encontrar sinalizadores para o Turismo-Trama o Turismo
em sua dimensão complexa, ecossistêmica, holística para o Mundo N’Ovo, o Mundo que precisamos
ajudar a construir.
PALAVRAS-CHAVE: Turismo-Trama. Ecosofia. Amorosidade. (Auto)Transpoies. Mundo N’Ovo.
RESUMEN: El ensayo presenta reflexiones sobre la urgencia del desarrollo epistemológico-teórico-
práctico de una Ecosofía del Turismo, dadas las demandas contemporáneas en el escenario de
caosmosis, múltiples guerras, pandemias, colapso climático y desafíos de superación del
Antropoceno. La fundamentación teórica es transdisciplinaria y holística, involucrando la
Epistemología de la Ciencia y el Turismo, en la composición de los Ecosistemas Turístico-
Comunificacionales-Subjetivos; Complejidad, Biologia del Conocimiento, Biologia del Amor y
Biología Cultural. Las estrategias metodológicas de la Cartografía del Conocimiento y las Matrices
Rizomáticas son processuales, complejas y multimetodológicas, en el nivel operativo, involucrando
dimensiones: epistemológica, teórica, metódica y técnica. El texto trae, como resultados, reflexiones
sobre el Turismo y su deriva histórica. Entre el pragmático funcionalismo desarrollista y la
intensificación de la crítica del carácter capitalista, la Ecosofía del Turismo puede ayudarnos a
encontrar señales para el Turismo-Trama el turismo en su dimensión compleja, ecosistémica y
holística para Mundo N'Ovo, el mundo que necesitamos. ayudar a construir.
PALABRAS CLAVE: Turismo-Trama. Ecosofía. Amorosidad. (Auto)Transpoiesis. Mundo N’Ovo.
ABSTRACT: The essay presents reflections on the urgency of epistemological-theoretical-practical
development of an Ecosophy of Tourism, given contemporary demands in the scenario of chaosmosis
multiple wars, pandemics, climate collapse, and challenges of overcoming the Anthropocene. The
theoretical foundation is transdisciplinary and holistic, involving the Epistemology of Science and
Tourism, in the composition of Tourist-Communicational-Subjective Ecosystems; Complexity,
Ecology of Knowledge and Ecology; Love, Knowledge, and Cultural Biology. The Cartography of
Knowledge and Rhizomatic Matrices methodological strategies are procedural, complex, and multi-
methodological at the operational level, involving dimensions: epistemological, theoretical,
methodical, and technical. As a result, the text presents reflections on tourism and its historical drift.
Between pragmatic developmental functionalism and the intensification of criticism of the capitalistic
character, the Ecosophy of Tourism can help us find signposts for Tourism-Weaver Tourism in its
complex, ecosystemic, holistic dimension for New World, the World that we need to help build.
KEYWORDS: Tourism-Plot. Ecosophy. Amorosity. (Self)Transpoiesis. Mundo N’Ovo.
Rev. Educação e Fronteiras, Dourados, v. 13, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN:2237-258X
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Reflexões Iniciais
Este texto está sendo escrito em um cenário de guerras, em sentido amplo, e de uma guerra
mundial, em sentido literal e específico. É difícil dizer isso, mas também é necessário
compreender a grandiosidade dos reflexos de acontecimentos de violência cruzada que se agravam
e dificultam a vida, colocando mesmo em risco a vida, não humana, mas de todos dos seres
vivos, em uma lógica que engloba várias espécies.
O conflito armado entre a Rússia e a Ucrânia, iniciado oficialmente em 24 de fevereiro de
2022, tem envolvido grande parte dos países do planeta, convocados a se posicionar e a promover
ações que expressem claramente esse posicionamento. Naquele dia, o presidente russo, Vladimir
Putin, declarou uma operação militar especial na região de Donbass, na Ucrânia, e, no mesmo
dia, o Conselho de Segurança das Nações Unidas fez um apelo para que ele não avançasse com
seus planos. Em vão.
Seguiu-se um mar de horrores, noticiado cotidianamente já por mais de um ano, trazendo
à tona o fantasma da Guerra Mundial como expressão concreta, perversa e cruel, agravando
drasticamente um cenário que não era ameno, no qual houve eclosão de múltiplos conflitos
internos em lógicas bilaterais entre países, que também geravam fenômenos de grandes migrações
com deslocamentos de hordas de refugiados tentando escapar da morte em todas as suas
dimensões.
As diferenciações de tratamentos dados aos refugiados da Ucrânia e desses refugiados em
relação aos da África evidenciaram que, nem mesmo na eclosão de catástrofes, como a guerra,
não tratamentos correlatos em sentido de acolhimento aos seres da mesma espécie. Refugiados
ucranianos e africanos demostraram que os seres humanos não estão no mesmo barco. As
embarcações são muito diferentes e modo de recepção e o nível de hospitalidade também.
O cenário atual também tem sido denominado de pós-pandêmico, diante do arrefecimento
do número de mortes decorrentes da Pandemia causada pelo vírus da COVID-19, que gerou, entre
os anos 2020 e 2022, dramáticas consequências em escala planetária, em todas as áreas da vida,
inclusive e especialmente no desenvolvimento do Turismo.
As mortes por COVID-19 diminuíram, mas as consequências seguem sendo sentidas,
como as sequelas do acometimento da doença. Sequelas múltiplas, decorrência de variantes de
uma tragédia sanitária, que dizimou parte da população do planeta, quase que imediatamente,
criou uma avalanche de mortes de seres humanos, bem como o fechamento de empresas, de
empreendimentos, a falência de projetos de vida e de negócios, também e particularmente no
Turismo. Não havia como se deslocar, os aeroportos em grande parte foram fechados.
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Inacreditavelmente, quando pensamos nisso hoje, seria impossível de acreditar na
ocorrência se o acontecimento fosse vislumbrado anteriormente. Durante a pandemia, a orientação
era não se movimentar. Então, que seria do Turismo depois disso? Era uma das grandes questões,
associada a outras de exacerbada dramaticidade: “Quem sobreviveria para fazer turismo depois
disso?”.
O cenário decorrente é ainda mais grave quando entendemos que os dois phyluns de
abordagem até agora a guerra e a pandemia viraram o mundo do avesso, expondo feridas
profundas, sufocamentos e mortes, em sentido literal e figurado. Também expuseram evidências
do caráter ecossistêmico, holístico (CREMA, 1989) e de interdependência das condições e
eventuais chances de sobrevivência de todos os seres, dos humanos, entre outros. Fomos
submetidos a rajadas de tempestades com a ação de governantes, demonstrando publicamente, em
alto e bom som, o descaso com o coletivo. Mais que isso, vimos a emergência de mediocridade,
do egoísmo e o surgimento, desde as catacumbas das fachadas de uma sociedade hipócrita, hordas
de aproveitadores do momento dramático para lucrar, para vender, para explorar, expropriar.
Capitalismo por espoliação é injetado na veia, com evidências derramadas todos os dias
pelos meios de comunicação e pelas vivências pessoais nas relações cotidianas e nas buscas de
obter condições nimas de sobrevivência. A cruel pedagogia do rus”, como chamou
Boaventura de Sousa Santos (2020), mas também a cruel pedagogia do capitalismo, gerando e
agravando tempos de barbárie contemporânea. A cruel pedagogia de uma humanidade desumana,
no sentido de que a espécie muito rompeu com as características intrínsecas dos grupos
compostos pelos primeiros representantes de animais humanos na face da terra. A família
ancestral, como nos ensinou Maturana (2004), era colaborativa, amorosa, sem preconceitos e
hierarquias. Convivia segundo a lógica matrística, pautada pela coexistência entre os seres, não
só humanos, numa lógica de convivência amorosa e harmoniosa multiespécie. Como eu disse em
outro texto, infelizmente, já nos demos conta que, como projeto coletivo de espécie de ser vivo, a
humanidade não deu certo (BAPTISTA, 2020). Caminhamos rumo a abismos, despenhadeiros
lamentavelmente criados por nós mesmos.
Como humanidade, deveríamos ter claro, diante dessas grandiosas manifestações, que ou
sobrevivemos todos e contribuímos para a restauração do planeta ou estamos condenados como
espécie de ser vivo. Nessa condenação, comprometemos gravemente a vida de outros seres, que,
diga-se de passagem, têm demonstrado mais inteligência, em sentido amplo, que os humanos.
Digo isto porque tem sido bastante discutida as incoerências e contradições de um ser que se
diz inteligente, por pensar, por ter consciência “Penso, logo existo”, nos ensinou o cogito
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cartesiano e, ao mesmo tempo, e apesar disso, constrói condições e aparatos que podem destruir
com a vida no planeta em segundos, como a bomba atômica, por exemplo.
Deparamo-nos, então, perante os resultados do que vem sendo denominado Antropoceno,
como era geológica caracterizada pelo impacto das ões do humano. Trata-se de uma nova época
geológica que se segue ao holoceno, o período com temperaturas mais quentes após a última
glaciação. O conceito antropoceno deriva etimologicamente do grego anthropos, que significa
humano, e kainos, que significa novo. Foi popularizado em 2000 pelo químico holandês Paul
Crutzen, vencedor do Prêmio Nobel de Química em 1995. Tem sido amplamente discutido por
pensadores contemporâneos, como Massimo de Felice, pesquisador da Universidade de São
Paulo, entre tantos outros autores. Entre os fatores que marcam o Antropoceno, podemos destacar:
o progresso tecnológico que se acelerou após a Primeira Revolução Industrial, o crescimento
populacional de maneira exponencial (NARDY; DI FELICE, 2021) e a multiplicação da produção
e do consumo. Todos inspiram cuidados e remetem a reflexões profundas, com o que se pode
chamar risco planeta ou, mais apropriadamente, penso eu, risco à vida no planeta.
Vivemos um tempo que foi denominado como “tempo das catástrofes”, por Isabelle
Stengers (2015), química, filósofa e historiadora belga, com excelente contribuição na Filosofia
da Ciência. Ela tem parceria com o químico russo Ilya Prigogine (2001), em discussões sobre o
caos e outras temáticas contemporâneas que ajudam a compreender o dramático momento do
planeta e o papel no humano na construção desse cenário. Os dois autores, associando conceitos
da Química à Filosofia da Ciência, nos permitem compreender sinalizadores de como lidar com
as instabilidades dos ecossistemas e a turbulência das substâncias que se concentram e dissipam,
evidenciando que não possibilidade de controle total, mas há pelo menos a possibilidade de
reconhecimento dos Nós, também do que eu venho chamando de Entrelaços Nós (BAPTISTA,
2021), que nos ajudam a nos fortalecer minimamente, para que possamos ampliar a chances de
(sobre)viver. Nesse sentido, a discussão alinha-se aos sinalizadores trazidos aqui neste texto, como
vislumbres de orientações epistêmicas para a construção do Mundo N’Ovo: amorosidade e
(Auto)Transpoiese (BAPTISTA, 2022).
Assim também, para avançar em vislumbres de possibilidades de existir, a ecosofia, como
proposição de uma filosofia ecológica, de uma episteme pautada pelo cultivo de condições de
possibilidade de coexistir, (GUATTARI, 1981) se mostra interessante e urgente. Por isso, este
texto constitui-se em proposição de associação entre Ecosofia e o Turismo, considerando a
significativa potência inerente às matrizes de significação, ao núcleo gerador de significação do
Turismo.
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Da Ontologia do Turismo
Parto do pressuposto, aqui, de que os traços básicos do turismo, espécie de grau zero de
significação, estão relacionados diretamente aos processos de geração e produção de vida. Assim,
o próprio Turismo pode ser potencializado, desde o avesso de sua trama, por isso referido aqui
neste texto e nos meus estudos como Turismo-Trama (BAPTISTA, 2018). É sobre esse turismo
que passo a refletir a partir de agora.
A ontologia é palavra formada pelos elementos do léxico grego: óntos, que equivale a ser
vivo, e -logía em relação a logos, refere-se ao saber ou ciência. Corresponde à ciência que estuda
o ser e foi tratada por Aristóteles como a primeira filosofia, implicando admitir um princípio a
partir do qual é possível entender a diversidade do que existe, e se isso é possível, é porque existem
elementos diferenciadores do ser em si. No caso, podemos associar a ontologia, aqui, portanto, a
um núcleo de significação a respeito do que estamos tratando, ou seja, do Turismo.
Assim, a proposta é conversar desde a ontologia do Turismo, sobre desafios e condições
contemporâneas. Para tanto, apresento agora, em síntese, o resgate da deriva histórica do núcleo
de significação gerador do Turismo, assim como algumas marcas desse universo de produções de
conhecimento, a que venho me referindo como Ecossistemas Turístico-Comunicacionais-
Subjetivos (BAPTISTA, 2020). É importante considerar bases de vieses epistêmicos, que
orientam dinâmicas, processos, práticas, teorias e metodologias, associadas ao universo do
Turismo em diferentes momentos. A processualidade da deriva histórica resulta no que vivemos,
nas ocorrências cotidianas do Turismo e nas múltiplas direcionalidades de abordagens. Assim,
parece fundamental refletir sobre o que é o Turismo, como surge na deriva histórica e como foi
sendo construído seu entendimento.
Resgato a boniteza dos versos de Jorge Drexler (2017), que sintetizam poeticamente
aspectos que tenho refletido em meus estudos nos últimos anos: “Somos uma espécie em viaje.
Nos tenemos pertenencia, solo equipaje”.
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Movimiento
Apenas nos pusimos en dos Pies
Comenzamos a migrar por la sabana
Siguiendo la manada de bisontes
Más allá del horizonte, a nuevas tierras lejanas
Los niños ala espalda y expectantes
Los ojos en alerta, todo oídos
Olfateando aquel desconcertante
Paisaje nuevo, desconocido
Somos una especie en viaje
No tenemos pertenencias, sino equipaje
Vamos con el polen en el viento
Estamos vivos porque estamos en movimiento
Nunca estamos quietos
Somos trashumantes, somos
Padres,hijos, nietos y bisnietos de inmigrantes
Es más mío lo que sueño que lo que toco
Yo no soy de aquí, pero tú tampoco
Yo no soy de aquí, pero tú tampoco
De ningún lado del todo y, de todos
Lados un poco
Atravesamos desierto, glaciares, continentes
El mundo entero de extremo a extremo
Empecinados, supervivientes
El ojo en el viento y en las corrientes
La mano firme en el remo
Cargamos con nuestras guerras
Nuestras canciones de cuna
Nuestro rumbo hecho de versos
De migraciones,de hambrunas
Y así ha sido des de siempre, desde el infinito
Fuimos la gota de agua, viajando en el meteorito
Cruzamos galaxias, vacío,milenios
Buscábamos oxígeno,encontramos sueños Apenas nos
pusimos en dospies
Y nos vimos en la sombra de la hoguera
Escuchamos la voz del desafío
Siempre miramos al río,pensando en la otra rivera
Somos una especie en viaje
No tenemos pertenencias, sino equipaje
Nunca estamos quietos,somos trashumantes
Somos padres,hijos,nietos y bisnietos de inmigrantes
Es más mío lo que sueño,que lo que toco
Yo no soy de aquí,pero tú tampoco
Yo no soy de aquí, pero tú tampoco
De ningún lado del todo y, de todos
Lados un poco
Los mismo con las canciones
Los pájaros,los alfabetos
Si quieres que algo se muera
Déjalo quieto
Movimento
Apenas ficamos em dois pés
Começamos a migrar pela savana
Seguindo o rebanho de bisontes
Mais além do horizonte, para novas terras distantes
As crianças de costas e expectantes
Olhos em alerta, todo ouvidos
Cheirando aquela desconcertante
Nova paisagem, desconhecida
Somos uma espécie em viagem
Não temos pertences, apenas a bagagem
Vamos como pólen ao vento
Estamos vivos porque estamos em movimento
Nunca estamos quietos
Somos nômades, somos
Pais, filhos, netos e bisnetos de imigrantes
É mais meu o que sonho do que o quê toco
Não sou daqui, muito menos você
Não sou daqui, muito menos você
De nenhum lado do todo, de todos os
Lados um pouco
Cruzamos deserto, geleiras, continentes
O mundo inteiro de ponta a ponta
Teimosos, sobreviventes
O olho no vento e nas correntes
A mão firme no remo
Nós carregamos com nossas guerras
Nossas canções de ninar
Nosso curso feito de versos
De migrações, de fomes
E assim tem sido desde sempre, desde o infinito
Nós fomos a gota de água, viajando no meteoro
Cruzamos galáxias, vácuo, milênios
Buscávamos oxigênio, encontramos sonhos
Apenas ficamos em dois pés
E nos vimos na sombra da fogueira
Nós ouvimos a voz do desafio
Sempre olhamos para o rio, pensando na outra margem
Somos uma espécie em viagem
Nós não temos pertences, mas a bagagem
Nós nunca estamos quietos, estamos atrás da
humanidade Somos pais, filhos, netos e bisnetos de
imigrantes
É mais meu o que sonho do que o que toco
Não sou daqui, muito menos você
Não sou daqui, muito menos você
De nenhum lado do todo e, de todos
Lados um pouco
O mesmo com as músicas
Os pássaros, os alfabetos
Se você quer que algo morra
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DOI: https://doi.org/10.30612/eduf.v13i00.17779 8
Deixe-o quieto
Fonte: https://www.letras.mus.br/jorge-drexler/movimiento/traducao.html
Estamos vivos porque estamos em movimento. Este é o ponto. Matriz nômade de uma
espécie que, em sua origem, se relacionava harmonicamente com outros seres, os seres outros,
representantes do universo biótico e abiótico. Nômades que se deslocavam e, no movimento,
renasciam, reinventavam-se, reproduziam-se a si mesmos e entre si, numa lógica
(auto)transpoiética que caracteriza a espécie em transveralizações constantes com o nicho
ecológico, numa relação recursiva de constituinte constituidor. O ser humano é constituinte e
constituidor, produto e produtor do nicho ecológico, numa lógica de coexistência natural e
espontânea (MATURANA; D’AVILA, 2015). Há, portanto, relação direta entre
(Auto)Transpoiese e geração de vida, assim como em relação ao Turismo. Turismo é
dispositivo (auto)transpoiético gerador de vida, em mesma lógica ontológica correspondente à
viagem, à comunicação, às conversas e às com-versações.
O movimento, a desterritorialização
1
, como Guattari e Deleuze denominaram no século
passado, aciona a potência de agenciamento da (auto)transpoiese, da (auto)produção de si mesmo
em transversalizações com o nicho ecológico. Maturana ensinou-nos a autopoiese molecular,
como matriz geradora da produção dos seres vivos. Mesmo que ele, no final de sua vida, tenha
reiterado que a proposição conceitual autopoiese dizia respeito apenas aos seres vivos, desde a
Biologia, a concepção da palavra, como cristalização de sentido, como eu costumo definir as
palavras, soltou aos quatro ventos a combinação da significação auto (relativo a si mesmo) e
poiese (produção) que, no entendimento de outros sujeitos ouvintes, leitores e produtores de
conhecimento, passou a ser usada para outros universos de conhecimento e de produção de vida.
Antes dessa fase, referida em seus estudos como Biologia Cultural, quando o autor passou
a produzir mais diretamente em conjunto com Ximena Ávila, os percursos anteriores tiveram
as reflexões denominadas como Biologia Amorosa e do Conhecimento (MATURANA;
VARELA, 1997), quando ele produzia especialmente com seu ex-aluno e parceiro, o também
biólogo Francisco Varela. Ambos ajudaram a entender a autopoiese e a compreender a
importância do conceito que representa a síntese de autoprodução do ser vivo, também na
transposição para outros universos.
Em síntese, estou associando aqui a origem e o processo natural de produção da vida, com
1
Os autores não se referem à desterritorialização como saída do território geográfico, mas a uma condição de perda
da conexão com o universo existencial conhecido. Trata-se do primeiro movimento das linhas do desejo em que o
sujeito literalmente é potencializado pelo movimento. Daí a conexão neste texto (DELEUZE; GUATTARI, 2004).
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o movimento, a desterritorialização, traço inerente e característico do grau zero de significação do
Turismo, desde um tempo em que a própria denominação, em si Turismo o existia. “Somos
uma espécie em viagem”. Assim, a metáfora da viagem parece emblemática, como profundo sulco
que marca o traço básico do turismo. Lembro que a palavra viagem deriva do Latim viaticum,
“jornada”, originalmente “provisões para uma jornada”, derivado de via, “caminho, estrada”.
Podemos pensar, então, na composição com agem, ação, onde temos viagem é ação no
caminho. Sim, também estamos no caminho de entender mais profundamente o Turismo que me
interessa, o Turismo desde os sulcos profundos, as entranhas do conceito, seu avesso, o Turismo-
Trama.
Lembro-me de Luís Carlos Restrepo (1998), psicanalista colombiano que, há muitos anos,
em livro lindo, me ensinou o termo do Antigo Testamento, splacnisomai, literalmente “sentir com
as tripas”. Fico pensando: “é isso!”. Eu literalmente gosto de sentir com as tripas também os
conceitos. É atrás disso que estou quando mergulho nas palavras, no caso, aqui, nesse em amor,
nesse enamoramento dos conceitos viajem e turismo. Por isso mesmo, eu também tenho chamado
as próprias investigações, como ações de investir em uma direção, ou seja, viagens
investigativas, certamente uma das minhas maiores paixões, mais que isso, bem mais do que
paixão, um amor pleno e absoluto, tanto no que diz respeito aos fazeres quanto aos saberes.
O mesmo ocorre com o termo Comunicação, também característico dos meus estudos, cuja
matriz de significação nos possibilita o encontro com a ideia de construção de pontes, dar
passagem, com-partilhar. O Universo de que trato, portanto, no Turismo, na Comunicação e nos
estudos de Subjetividade é amoroso por excelência, desde as profundezas dos caminhos e
descaminhos de significação. Essa é a tônica da proposição de Ecosofia, Amorosidade e
(auto)transpoiese para o Turismo, que apresento neste texto, como ntese de com-versações
que tenho feito de forma mais ampla em meus projetos e diversas publicações há mais de 10 anos
no Turismo, mais de 30 anos nas outras áreas e quase 60 anos de vida.
Ressalto, aqui, em abordagem também etimológica, que a palavra Turismo deriva do termo
tourism em inglês, que, por sua vez, decorre do francês tour, que significa “dar uma volta”. Sua
origem remota, no entanto, está relacionada ao vocábulo tornus em latim, que quer dizer
movimento ou volta (ORIGEM DA PALAVRA, 2023). Percebo e saliento como existem
conexões entre nossos interesses, entre nossos amores, também conceituais. O conceito com-
versações, expresso assim mesmo, proposto por mim, pretende sinalizar para o conjunto de ações
transversalizadas entre os seres, também entre sujeitos e lugares.
Há vários anos, venho trabalhando com a proposição associada ao Turismo, com projetos
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de pesquisa e parcerias nacionais e internacionais, na produção e investigação de narrativas
(auto)transpoiéticas que se caracterizam por com-versar lugares e sujeitos. Essa proposição
alinha-se, também, ao pensamento de Maturana (1988), quando ele resgata a Ontologia do
Conversar e diz que conversar é dar voltas com, assim como que essa dinâmica está na base das
relações humanas e que correspondem ao nosso traço intrínseco amoroso. Segundo o autor, somos
homo-amans-amans, por natureza da espécie, e isso que nos faz ter a potência autopoiética de se
produzir na recorrência do conversar, nas voltas com, no movimento. Vejam a conexão com a
mesma matriz de significação do Turismo, conexões ontológicas.
Viagem - deriva do Latim viaticum, “jornada”, originalmente “provisões para uma
jornada”, derivado de via, “caminho, estrada” (ORIGEM DA PALAVRA, 2023).
Turismo - deriva do termo tourism em inglês, que, por sua vez, decorre do francês
tour, que significa “dar uma volta”. Sua origem remota, no entanto, está relacionada ao vocábulo
tornus em latim, que quer dizer movimento ou volta.
Conversar, dar voltas com, no movimento (MATURANA, 1988).
Com-versações, expresso assim mesmo, proposto por mim, pretende sinalizar
para o conjunto de ações transversalizadas entre os seres, também entre sujeitos e lugares.
Comunicação do latim, comunicare, ação de tornar comum, partilhar (RABAÇA;
BARBOSA, 1987).
Relembro aqui o raciocínio que discuti em dissertação na área da Comunicação (1995),
publicada posteriormente em livro (1996). Seguindo a ontologia de Comunicação, o momento
comunicacional pode significar o momento do encontro, em que são compartilhados fluxos
informacionais, em suas materialidades e imaterialidades. Essa lógica implica necessariamente
disposição de movimento, no sentido de ir ao encontro, de desalojarmo-nos de nós mesmos,
desterritorializarmo-nos, em direção ao Outro (que é tudo o que é não eu, não necessariamente
outro humano) e em transformação, encontro de corpos. Assim, a comunicação, em sua ontologia,
também se alinha ao caráter inerente à viagem, ao turismo, às conversas, às ‘com-versações.
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Amorosidade: que viagem é esta?
Decidi conversar aqui em destaque sobre Amorosidade, ainda que, como veremos, também
se verifiquem confluências com o conceito de Comunicação. Assim, começo dizendo que se trata
de uma viagem longa falar sobre amorosidade em relação à Ciência, relacionando-a aos mais
diversos universos existenciais e de conhecimento com os quais tenho me envolvido e nos quais
tenho produzido, como é o caso do Turismo, com a proposição de Turismo Amoroso (BAPTISTA
et al., 2020). Costumo dizer que amorosidade não é um conceito, mas é minha orientação de vida.
Amorosidade, condição em-amor, condição em- a-morada, condição enamorada pelo que
faço, estudo, pelos seres com quem convivo, pelos meus lugares existenciais e pelas viagens, todas
as desterritorializações geográficas, imaginárias, existenciais e comunicacionais, em “com-
versações, sem que se possa, ao certo, diferenciar até que ponto estou em uma ou outra.
Ao longo da vida, fui ressignificando a palavra Amor, entendendo que o núcleo de
significação dessa cristalização de sentido só faz sentido em condição ampliada e desvinculada da
lógica capitalística romântica de posse e apropriação do outro como meu amor. Assim, a
condição amorosa foi se mostrando para mim, como a própria condição inerente e intrínseca à
possibilidade de continuar viva, em pulsações geradoras de micro movimentos de reinvenção de
mim mesma, em potência, em alegria, pela simples, singela e, ao mesmo tempo, gigantesca
condição de amar. O encontro com Maturana, então, foi emblemático, avassalador, inicialmente
pelo texto intitulado Emoções e Linguagem na Educação e na Política (1998), e depois com o
contato incessante com seus textos, vídeos e até mesmo com a realização de dois cursos na Escola
Matrística de Santiago do Chile, entre 2020 e 2021. Assim como ocorreu com vários outros
pensadores, que considero espécie de cúmplices amorosos, dessa minha proposição por um
mundo mais amoroso (BAPTISTA et al., 2020). Roland Barthes (1986), Paulo Freire (1987;
1996), Edgar Morin (2020), Rubem Alves (2002), entre outros. Por isso mesmo, venho dizendo
que falo de amor em relação à Ciência e não estou sozinha; ao contrário, estou muito bem
acompanhada.
Em entrevista recente, o pensador Edgar Morin (2020), por exemplo, sintetizou, do alto de
sua sabedora de 101 anos de vida: O egocentrismo deve ser reduzido ao mínimo vital de
conservação. A fraternidade é algo capital”. Nesse sentido, o amor de que falo é o amor como
condição amorosa pela humanidade, como ética da relação e do cuidado. Amor como compaixão
e fraternidade. O amor que nos potencializa para nos produzirmos a nós mesmos e a convivermos
harmoniosamente com seres outros, de todas as espécies, seres humanos e não humanos, sujeitos
elementos do ambiente, sujeitos e lugares, deste e de outros planetas ou dimensões espirituais
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como eu tenho chamado.
Mais tarde, na Amazônia, em uma palestra de abertura do ano acadêmico para a pós-
graduação de toda instituição, no ano de 2015, lembro ter afirmado que amorosidade, muito longe
de ingenuidade, é a nossa única chance de sobrevivência como planeta. A declaração continua
valendo para mim. O período de encontros com a Floresta, depois de 2010, representou para mim
uma grande transformação e ampliação de saberes, de aprendizados com a exuberância do bioma
amazônico, com a natureza de pessoas fortes e simples, na mesma proporção, que fazem dos
contrastes, diferenças e desafios seus barcos de passagens para o outro lado do rio (FARIAS,
2017), apresentando a Amazônia como uma matriz epistêmica, que pode ser pensada como
ensinamento para reaprendermos a ser mundo (COLFERAI, 2014).
Bem, eu estudo o que proponho. Penso que o mundo precisa de mais amorosidade, como
ética do cuidado e da relação! É preciso ser amoroso, desde as minúcias do cotidiano, buscando
acolher o outro e fazer disso o alimento da vida! O Turismo também precisa ser assim, cuidadoso,
amoroso, responsável ecossistemicamente
2
! Que tenhamos todos sempre o amor nosso de cada
dia, como sustento de alegria, para seguir viagem, na pesquisa, na vida e nos textos com nossos
relatos investigativos! E por falar nisso, vamos adiante.
Por uma Ecosofia do Turismo
Para falar sobre a proposição de uma Ecosofia do Turismo, é importante compartilhar uma
síntese de minhas ‘com-versações’ com a Ecosofia nos últimos tempos. Assim, parto da ontologia
do conceito, para não perder o costume e orientação geral deste artigo e de minhas produções. A
origem remota do termo nos remete a 1973, quando o filósofo norueguês Arne Naess o propôs,
em seu artigo, Os Movimentos Ecológicos Profundos e a Longo Alcance: Um Resumo e ecologia
profunda: um resumo. A matriz etimológica de ecosofia corresponde à união da palavra grega
οἶκος (oikos), que significa casa e σοφία (sofia), que é traduzida como conhecimento ou sabedoria
(CAPRA, 1991). Dessa matriz decorre o entendimento de Naess de ecosofia como filosofia
ecológica. O mesmo cientista é a referência para a proposição de Ecologia Profunda, que vem
sendo substrato de grandes transformações dos pressupostos que transversalizam universos
investigativos desde a Biologia, a Química, a Física, avançando para universos mais amplos como
2
Apresentei a proposta Responsabilidade Ecossistêmica, em 2016, na Conferência Magistral no Congreso
Iberoamericano de Turismo y Responsabilidad Social (CITURS), em La Coruña, Espanha. Não se trata de uma
simples questão semântica, em relação às discussões de Responsabilidade Social, mas de uma questão epistêmica, de
descentramento da lógica do Antropoceno, convidando à responsabilidade do todo pelo todo.
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as chamadas Ciências Humanas e Sociais. Adotar uma postura ecosófica, que seja coerente com
a visão de ecologia profunda, tem sido sinalizado como urgência contemporânea, para o
enfrentamento de grandes emergências, como a crise ambiental, climática, sanitária, de
crescimento populacional, a fome e a pobreza.
Capra e Luisi (2014, p.448), nesse sentido, mencionam o pensador ambiental Lester
Brown, comentando seu livro intitulado Plan B, lançado em 2008, em que está demonstrado o
“[...] círculo vicioso da pressão demográfica e da pobreza [que] levam ao esgotamento dos
recursos redução do volume dos lençóis freáticos, retração das florestas, colapsos das indústrias
de pesca, erosão dos solos”. O esgotamento de recursos tem nos levado a condições dramáticas,
pois, agravado pelas mudanças climáticas, gera estados deficientes cujos governos não podem
mais garantir a segurança de seus cidadãos, alguns dos quais, em desespero, voltam-se ao
terrorismo”. Assim, caminhamos para despenhadeiros existenciais, em sentido individual e
coletivo, cujo resultado é também o que estamos encontrando e que venho salientando desde o
início deste texto: a guerra, a pandemia, as catástrofes ambientais e sociais, a desesperança, o
desespero, a morte em sentido literal e figurado, para seres cujos representantes empoderados
economicamente ainda se acreditam inteligentes, ao mesmo tempo, em que seguem criando
condições de suas próprias mortes e de uma espécie que brotou espontaneamente na deriva de
transformações dos seres vivos, como espécie amorosa, pautada pela lógica matrística de
coexistência entre todos os seres, coexistência multiespécie, reconhecendo-se como integrante da
natureza.
Lembro-me, nesse sentido, de um episódio com o qual entrei em contato, como jornalista,
editora de Geral do Jornal O Vale Paraibano, no interior de São Paulo, sediado em São José dos
Campos. Esta é uma cidade com forte presença armamentista, onde a indústria bélica se
desenvolveu fortemente, assim como a indústria aeronáutica. Entre as histórias dessa cidade está
o registro de um suicídio do filho de uma das grandes indústrias armamentistas, que deixou um
bilhete para o pai com a informação: “Pai, armas são feitas para isto!”
3
. Pelas próprias regras do
Jornalismo, não há registros oficiais do acontecimento, mas a história era vez por outra lembrada
na Redação do Jornal, em que trabalhei por mais de dois anos, especialmente quando se comentava
as contradições de uma indústria armamentista, que gera emprego, que gera recursos, mas que
também gera morte, literalmente vive disso. Lembro-me também, por exemplo, do
estranhamento que me causava quando empresários do setor, em entrevista, lamentavam-se sobre
3
Pelas próprias regras do Jornalismo, não registros oficiais do acontecimento, mas a história era vez por outra
lembrada.
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a crise econômica, as dificuldades de comercialização e usavam o argumento: “Estamos em
entressafra! [de guerras!]”.
Tudo isso me direciona ao questionamento, que tenho sintetizado com uma frase da canção
de Caetano Veloso, bastante conhecida, intitulada Cajuína: “Existirmos, a que será que se
destina?”. Isso vale para mim, para você, para a Ciência, o Jornalismo, o Turismo. Por isso mesmo,
estamos aqui, nessa reflexão ensaística, esta sintetizada na proposição de uma Ecosofia do
Turismo. Como universo complexo transversal de produção de saberes, o Turismo tem se
desenvolvido, em seus saberes e fazeres, com um fio da vida costurado a outras linhas de tempo,
como a das interfaces com que venho trabalhando especialmente Comunicação e Estudos de
Subjetividade mas, em sentido ainda mais amplo, alinhado à linha de tempo de desenvolvimento
da Ciência, em sua complexa trama holística, e o Capitalismo, também passível de ser
vislumbrado com ecossistema complexo e rizomático, que concentra e dissipa a partir de pontos
de confluência e de passagem, contagiando, contaminando a todos e a tudo, capitalismo por
excelência, capitalismo por espoliação, como nos ensinou David Harvey (2005; 2008).
Assim, parece crucial resgatar a proposição inicial de Arne Naess, quando se referiu à
ecosofia, como uma filosofia de harmonia com a natureza ou equilíbrio ecológico, sinalizando, já
no século passado, para desafios com os quais nos deparamos agora à beira de muitos abismos
existenciais. Nesse sentido, o termo, para mim, representa uma espécie de síntese dos pressupostos
epistemológicos, com os quais venho trabalhando na Ciência, que defino como ecossistêmica,
complexa, caosmótica, holística, pautada pela ecologia profunda. Existe confluência ecosófica
entre essas visões. A visão holística é mais ampla e pressupõe que os saberes precisam considerar
o todo e as conjunções, múltiplas (CREMA, 1989; GOSWAMI, 2008). São diferentes ênfases.
Enquanto o holismo é o todo, o complexo prioriza a compreensão pelas relações
complexas da teia-trama dos sistemas, em movimento contínuo de recursões organizacionais, que
nos ensinam que o caos não é desordem, mas nos leva a padrões de organizações sobre os quais
não temos total controle (MORIN, 2003). Estes sistemas, por sua vez, só fazem sentido se forem
lugares geradores de vida, ecossistemas, que, por sinal, só existem em conexões complexas. Já
a ecologia profunda, em sintonia com essas outras visões, chama a atenção ainda para a conexão
e o alinhamento de valores de todos os seres, rompendo com a supremacia do humano, que
caracteriza a era geológica do Antropoceno. Desse modo, a ecologia profunda seria o avesso da
ecologia, no sentido com que venho trabalhando o avesso, como a expressão da trama-teia da vida
complexa, onde se mostram os nós e entrelaços que sustentam a Fachada, com suas materialidades
e ênfases da engrenagem capitalística.
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Ressalto, ainda, que meu contato com a Ecosofia tem sido marcado também pelo viés
esquizoanalista, pelas minhas contínuas com-versações com os textos de lix Guattari e Gilles
Deleuze (2004). Guattari, em texto enxuto, mas denso e profícuo, sintetiza a sua proposição de
ecosofia em livro intitulado As três ecologias (1981), quando propõe: ecologia mental (subjetiva),
ecologia social e ecologia ambiental. Neste texto, o autor traz sinalizadores de discussão
aprofundada sobre os grandes problemas globais contemporâneos e a urgência de posturas ético-
políticas, para evitar o colapso planetário em vários sentidos. É interessante, nesse sentido, o
destaque do autor para o que chama de “paradoxo lancinante”:
[...] o desenvolvimento contínuo de novos meios técnico-científicos
potencialmente capazes de resolver as problemáticas ecológicas dominantes e
determinar o equilíbrio das atividades socialmente úteis sobre a superfície do
planeta e, de outro lado, a incapacidade das forças sociais organizadas e das
formações subjetivas constituídas de se apropriar desses meios para torná-los
operativos (GUATTARI, 1981, p. 12).
Chegamos então a um ponto crucial, com a reflexão de Guattari, que demonstra a urgência
de uma Ecosofia do Turismo. Na deriva histórica de desenvolvimento do Turismo e de seus
saberes correspondentes, rumo à consolidação de um universo de investigação consolidado não
denomino Ciência do Turismo, porque isso seria incoerente com uma visão holística ,
reconhecemos valores intrínsecos e profundos em sua condição transversal, plural,
transdisciplinar, de relevância para tudo e para todos.
O Turismo, em seus fazeres e saberes, nos diz respeito a todos. De um modo ou de outro,
Gaia, o Planeta Terra, é marcado profunda e constantemente pelo Turismo, seja em seus traços
ontológicos ou em suas peculiaridades derivadas do acoplamento histórico ao viés do Capitalismo
Mundial Integrado. Dessa maneira, foi percorrido um extenso processo de teorização, iniciando-
se com a visão administrativa e de gestão do turismo, que conta com uma vasta produção. Este
percurso seguiu para uma abordagem crítica, contribuindo para a compreensão dos limites e
enganos inerentes a uma lógica desenvolvimentista do turismo, muitas vezes disfarçada sob uma
aparência de hospitalidade comercial e sustentabilidade. O objetivo final foi atingir uma visão
sistêmica, permitindo a compreensão das diversas conexões e relações de interdependência
envolvidas.
A proposição ecosófica, aqui apresentada, não nega saberes, mas propõe ampliações de
olhares e conexões, orientada por uma epistemologia que combina a visão holística, com
pressupostos de complexidade, de ecologia profunda, compreendendo a caosmose (GUATTARI,
1992) contemporânea de caos, osmose no cosmo como desafios para a sobrevivência de todos
os ecossistemas, assim como o ecossistema do Turismo, que denomino Trama. Nesse sentido, nas
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reflexões sobre fenômenos como turismofobia, turistificação e gentrificação, que expõem em
carne viva, a céu aberto”, as feridas existenciais, sociais e econômicas, em todas as instâncias
da vida, produzidas por práticas turísticas impensadas, voltadas ao objetivo maior do Capitalismo,
que é gerar e acumular Capital.
Durante a pandemia, Edgar Morin (2020) nos ofereceu uma síntese reflexiva orientativa,
em livro intitulado “É hora de mudarmos de via. As Lições do Coronavírus”, no qual defende o
surgimento de um humanismo regenerado. Penso, nesse sentido, que a Ecosofia do Turismo nos
convida a pensar também em um Turismo regenerado. Maturana, em seu último livro, propôs uma
“Revolução Reflexiva”. Seu questionamento constante, nos textos e nos seminários, nos leva a
refletir: o que estamos fazendo para que possamos seguir nos produzindo em harmonia com nosso
nicho ecológico? Eu posso deslizar a reflexão para nosso universo investigativo e perguntar: que
turismo vamos continuar produzindo, ensinando, construindo cientificamente? O que queremos
com nossas produções e como podemos fazê-las amorosas, eticamente responsáveis e
agenciadoras de potência de (auto)transpoiese?
Em outros modos de indagar: vamos seguir com práticas que levem ao ódio ao Turismo,
aos turistas, práticas que conduzam à destruição dos ecossistemas, dos patrimônios e da
subjetividade? Vamos seguir semeando precarização do trabalho, com esmaecimento do gosto,
do gozo inerente às desterritorializações desejantes do turismo, em sua ontologia do movimento,
da viagem, da condição intrínseca de nômades em coexistência pacífica e harmoniosa com o
ambiente?
Rumo ao Turismo-Trama Ecosófico para o Mundo N’Ovo
Depois das reflexões aqui apresentadas, imagino estejam sinalizados em síntese, como
esboços desafios, urgências e vislumbres do nosso tempo, decorrentes do acoplamento teórico-
conceitual-existencial, expresso na composição Turismo-Trama Ecosófico Amoroso e
(Auto)Transpoiético para o Mundo N’Ovo. Retomo, no entanto, em síntese. O turismo é
trama, porque é produzido em ecossistemas complexos subjetivos que se transversalizam, em
dinâmicas e processos de desterritorializações, reinventando mundos, reinventando seres, práticas
produtivas, relações, tecnologias, procedimentos, com-versações de lugares e sujeitos
(BAPTISTA, 2018; 2020; 2021).
O Turismo deve ser Ecosófico e Amoroso, pautado pela ética da relação e do cuidado,
orientado por políticas públicas comprometidas com a interação entre as três ecologias,
reconhecendo que elas são transversalizadas por outras, em uma grandiosa e complexa trama de
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feixes, fluxos atratores, ritornelos, nós, sujeitos, lugares, entrelaços, nós, enfim... O Turismo
precisa ser gerador e gerado pelo Mundo N’Ovo, o que está para nascer, em lógica recursiva
inerente à própria condição de brotação da vida.
O Turismo, ontologicamente, tem vinculações diretas com a produção de vida e, nesse
sentido, fazendo jus a essa ontologia, necessita alinhar-se às dimensões de sabedoria ecológica,
para, e somente assim, contribuir para sua (auto)transpoiese, bem como para a (auto) transpoiese
de lugares e sujeitos. Dizendo de outra maneira, a autoprodução do planeta, da humanidade, passa
pelas interações, conexões, desterritorializações desejantes com dispositivos fundantes da
existência de vida.
Ontologicamente, viagem, turismo e comunicação, com-versações compõem a
potencialidade geradora de (auto)transpoiese, de produção nos e dos nichos ecológicos. O
acionamento de sabedoria ecológica, de ecosofia, oferece sinalizadores potentes de onde podemos
seguir, assim como a ecologia dos saberes e a conexão com a sabedoria dos povos originários.
Nesse sentido, alinhado com a Teoria de Gaia, de James Lovelock, Aiton Krenak (2020),
um dos tantos sábios indígenas do Brasil, nos ensina: “Somos microcosmos do organismo Terra,
precisamos nos lembrar disso” (p. 72). Ele faz um alerta, apresentando uma equação crucial:
“Ou você ouve a voz de todos os outros seres que habitam o planeta, ou faz guerra contra a vida
na Terra” (p. 73).
Haveria muito mais a dizer, muitos outros parceiros teóricos e existenciais de com-
versações ecosóficas para mencionar, mas o texto, como inscrição datada, corresponde a marcas
em um determinado território comunicacional. Este vai ficando por aqui. Termino com a fala de
esperança, de Krenak, porque penso que, em meio às agruras das intempéries, aos desastres e
catástrofes, temos que seguir cultivando o verbo esperançar, que nos ensinou Paulo Freire. É
também por isso que proponho e defendo uma Ecosofia do Turismo, que também pode ser
depreendida nas palavras de Ailton Krenak (2020), em texto escrito durante a pandemia, intitulado
A Vida não é Útil:
Quando pensamos na possibilidade de um tempo além deste, estamos sonhando
com um mundo onde nós, humanos, teremos que estarmos reconfigurados para
podemos circular. Vamos ter que produzir outros corpos, outros afetos, sonhar
outros sonhos para sermos acolhidos por esse mundo e nele podermos habitar.
Se encararmos as coisas dessa forma, isso que estamos vivendo hoje não será
apenas uma crise, mas uma esperança fantástica, promissora (KRENAK, 2020,
p. 47).
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Sobre os autores
Maria Luiza Cardinale BAPTISTA
Universidade de Caxias do Sul (UCS), Caxias do Sul RS Brasil. Professora e pesquisadora do
Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade da Universidade de Caxias do Sul.
Coordenadora do Amorcomtur! Grupo de Estudos e Produção em Comunicação, Turismo,
Amorosidade e Autopoiese (CNPq-UCS). Doutorado em Ciências (ECA-USP) Estágio Pós-
doutoral no Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura do Amazonas (PPGSCA-
UFAM).
Rev. Educação e Fronteiras, Dourados, v. 13, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN:2237-258X
DOI: https://doi.org/10.30612/eduf.v13i00.17779 21
CRediT Author Statement
Reconhecimentos: Agradeço às ‘com-versações’ com os integrantes do Amorcomtur! Grupo
de Estudos em Comunicação, Turismo, Amorosidade e Autopoiese (UCS/CNPq), que são
inspirações para os meus textos.
Financiamento: Não aplicável.
Conflitos de interesse: Não há conflitos de interesse.
Aprovação ética: O trabalho é um ensaio teórico-reflexivo, resultante de muitos estudos
pessoais da autora, em Turismo, Comunicação e Subjetividade. Não comprometimento
ético na reflexão.
Disponibilidade de dados e material: Pela lógica de ensaio, não disponibilidade de dados.
Contribuições dos autores: Autoria única. Contribuição integral.
Processamento e edição: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
Rev. Educação e Fronteiras, Dourados, v. 13, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN:2237-258X
DOI: https://doi.org/10.30612/eduf.v13i00.17779 1
FROM ONTOLOGY TO TOURISM ECOSOPHY: LOVINGNESS AND
(SELF)TRANSPOIESIS FOR TOURISM-PLOT OF THE NEW WORLD
DA ONTOLOGIA À ECOSOFIA DO TURISMO: AMOROSIDADE E
(AUTO)TRANSPOIESE PARA O TURISMO-TRAMA DO MUNDO N’OVO
DE LA ONTOLOGÌA A LA ECOSOFÌA TURÌSTICA: AMOROSIDADE Y
(AUTO)TRANSPOIESIS PARA EL TURISMO-TRAMA DEL MUNDO N’OVO
Maria Luiza Cardinale BAPTISTA
e-mail: malu@pazza.com.br
How to reference this paper:
BAPTISTA, M. L. C. From ontology to tourism ecosophy:
Lovingness and (Self)Transpoiesis for Tourism-Weaver of the New
World. Rev. Educação e Fronteiras, Dourados, v. 13, n. 00,
e023014, 2023. e-ISSN: 2237-258X. DOI:
https://doi.org/10.30612/eduf.v13i00.17779
| Submitted: 15/08/2023
| Revisions required: 11/10/2023
| Approved: 19/11/2023
| Published: 20/12/2023
Editor:
Prof. Dr. Alessandra Cristina Furtado
Deputy Executive Editor:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
Rev. Educação e Fronteiras, Dourados, v. 13, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN:2237-258X
DOI: https://doi.org/10.30612/eduf.v13i00.17779 2
ABSTRACT: The essay presents reflections on the urgency of epistemological-theoretical-practical
development of an Ecosophy of Tourism, given contemporary demands in the scenario of chaosmosis
multiple wars, pandemics, climate collapse, and challenges of overcoming the Anthropocene. The
theoretical foundation is transdisciplinary and holistic, involving the Epistemology of Science and
Tourism, in the composition of Tourist-Communicational-Subjective Ecosystems; Complexity,
Ecology of Knowledge and Ecology; Love, Knowledge, and Cultural Biology. The Cartography of
Knowledge and Rhizomatic Matrices methodological strategies are procedural, complex, and multi-
methodological at the operational level, involving dimensions: epistemological, theoretical,
methodical, and technical. As a result, the text presents reflections on tourism and its historical drift.
Between pragmatic developmental functionalism and the intensification of criticism of the capitalistic
character, the Ecosophy of Tourism can help us find signposts for Tourism-Weaver Tourism in its
complex, ecosystemic, holistic dimension for New World, the World that we need to help build.
KEYWORDS: Tourism-Weaver. Ecosophy. Lovingness. (Self)Transpoiesis. New World.
RESUMO: O ensaio apresenta reflexões sobre a urgência de desenvolvimento epistemológico-
teórico-prático de uma Ecosofia do Turismo, diante das demandas contemporâneas no cenário de
caosmose, de guerras múltiplas, pandemias, colapso climático e desafios de superação do
Antropoceno. A fundamentação teórica é transdisciplinar e holística, envolvendo Epistemologia da
Ciência e do Turismo, na composição de Ecossistemas Turístico- Comunicacionais-Subjetivos;
Complexidade, Ecologia dos Saberes e Ecologia; Biologia Amorosa, do Conhecimento e Cultural. As
estratégias metodológicas Cartografia dos Saberes e das Matrizes Rizomáticas são processuais,
complexas e plurimetodológicas, no plano operacional, envolvendo dimensões: epistemológica,
teórica, metódica e técnica. O texto traz, como resultados, reflexões sobre o Turismo e sua deriva
histórica. Entre o funcionalismo pragmático desenvolvimentista e o acirramento da crítica do caráter
capitalístico, a Ecosofia do Turismo pode nos ajudar a encontrar sinalizadores para o Turismo-
Trama o Turismo em sua dimensão complexa, ecossistêmica, holística para o Mundo N’Ovo, o
Mundo que precisamos ajudar a construir.
PALAVRAS-CHAVE: Turismo-Trama. Ecosofia. Amorosidade. (Auto)Transpoies. Mundo N’Ovo.
RESUMEN: El ensayo presenta reflexiones sobre la urgencia del desarrollo epistemológico-teórico-
práctico de una Ecosofía del Turismo, dadas las demandas contemporáneas en el escenario de
caosmosis, múltiples guerras, pandemias, colapso climático y desafíos de superación del
Antropoceno. La fundamentación teórica es transdisciplinaria y holística, involucrando la
Epistemología de la Ciencia y el Turismo, en la composición de los Ecosistemas Turístico-
Comunificacionales-Subjetivos; Complejidad, Biologia del Conocimiento, Biologia del Amor y
Biología Cultural. Las estrategias metodológicas de la Cartografía del Conocimiento y las Matrices
Rizomáticas son processuales, complejas y multimetodológicas, en el nivel operativo, involucrando
dimensiones: epistemológica, teórica, metódica y técnica. El texto trae, como resultados, reflexiones
sobre el Turismo y su deriva histórica. Entre el pragmático funcionalismo desarrollista y la
intensificación de la crítica del carácter capitalista, la Ecosofía del Turismo puede ayudarnos a
encontrar señales para el Turismo-Trama el turismo en su dimensión compleja, ecosistémica y
holística para Mundo N'Ovo, el mundo que necesitamos. ayudar a construir.
PALABRAS CLAVE: Turismo-Trama. Ecosofía. Amorosidad. (Auto)Transpoiesis. Mundo N’Ovo.
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Initial Reflections
This text is written in a scenario of wars in the broadest sense and a world war in the literal
and specific sense. It is difficult to say this, but it is also necessary to understand the magnitude
of the consequences of events of mutual violence that aggravate and complicate, even endanger
life, not only human life but that of all living beings, in a logic that encompasses several species.
The armed conflict between Russia and Ukraine, which officially began on February 24,
2022, has affected a large part of the world's countries, which are called upon to take a stand and
promote actions that clearly express this position. On that day, Russian President Vladimir Putin
declared a "special military operation" in the Ukrainian region of Donbas, and on the same day,
the United Nations Security Council appealed to him not to go ahead with his plans, in vain.
What followed was a sea of horrors, reported daily for more than a year, which brought to
light the specter of world war as a concrete, perverse, and cruel expression, drastically
exacerbating a scenario that was no longer gentle, in which numerous internal and interstate
conflicts broke out in bilateral logic, which also gave rise to phenomena of large migrations with
streams of refugees trying to escape death in all its dimensions.
The different treatment of refugees from Ukraine and refugees from Africa has shown that
even in the case of disasters, such as wars, there is no uniform treatment in the sense of receiving
beings of the same kind. The Ukrainian and African refugees have shown that people are not ‘in
the same boat’. The ships are very different, and the type of reception and level of hospitality is
also very different.
The current scenario has also been called post-pandemic, given the reduction in the number
of deaths resulting from the pandemic caused by the COVID-19 virus, which generated, between
2020 and 2022, dramatic consequences on a planetary scale, in all areas of life, including and
especially in the development of Tourism.
Deaths from COVID-19 have decreased, but the consequences continue to be felt, such as
the consequences of contracting the disease. Multiple sequelae, resulting from variants of a health
tragedy, which decimated part of the planet's population, almost immediately, created an
avalanche of deaths of human beings, as well as the closure of companies, and enterprises, the
bankruptcy of life projects and businesses, also and particularly in Tourism. There was no way to
travel, the airports were largely closed.
Unbelievably, when we think about it today, it would be impossible to believe in the
occurrence if the event had been glimpsed previously. During the pandemic, the advice was not
to move. So, what would become of Tourism after that? It was one of the big questions, associated
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with others of heightened drama: “Who would survive to do tourism after that?”.
The resulting scenario is even more serious when we understand that the two phylums of
approach so far war and the pandemic have turned the world inside out, exposing deep wounds,
suffocation, and deaths, in a literal and figurative sense. They also exposed evidence of the
ecosystemic, holistic character (CREMA, 1989) and the interdependence of the conditions and
possible chances of survival of all beings, of humans among other beings. We were also subjected
to gusts of storms with the actions of government officials, publicly demonstrating, loud and clear,
the disregard for the collective. More than that, we saw the emergence of mediocrity, selfishness,
and the emergence, from the catacombs of the facades of a hypocritical society, hordes of people
taking advantage of the dramatic moment to profit, to sell, to exploit, to expropriate.
Capitalism by spoliation is injected into the vein, with evidence spilled everyday through
the media and personal experiences in everyday relationships and in the quest to obtain minimum
conditions for survival. “The cruel pedagogy of the virus”, as Boaventura de Sousa Santos (2020)
called it, but also the cruel pedagogy of capitalism, generating and aggravating times of
contemporary barbarism. The cruel pedagogy of inhuman humanity, in the sense that the species
has long since broken with the intrinsic characteristics of the groups composed of the first
representatives of human animals on the face of the earth. The ancestral family, as Maturana
(2004) taught us, was collaborative, loving, and without prejudice and hierarchies. He lived
according to the matristic logic, guided by the coexistence between beings, not just humans, in a
logic of loving and harmonious multispecies coexistence. As I said in another text, unfortunately,
we have already realized that, as a collective project of a species of living beings, humanity has
not worked (BAPTISTA, 2020). We walk towards abysses, pitifully created cliffs of our own
making.
As humanity, we should be clear, in the face of these grandiose manifestations, that either
we all survive and contribute to the restoration of the planet, or we are doomed as a species of
living beings. In this condemnation, we seriously compromise the lives of other beings, who, by
the way, have demonstrated more intelligence, in a broad sense, than humans. I say this because
the inconsistencies and contradictions of a being that calls itself intelligent, for thinking, for
having consciousness “I think, therefore I am”, as the Cartesian cogito taught us - and at the
same time and despite this, builds conditions and apparatuses that can destroy life on the planet in
seconds, such as the atomic bomb, for example.
We are therefore, faced, here with the results of what has been called the Anthropocene, a
geological era characterized by the impact of human actions. This is a new geological epoch that
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follows the Holocene, the period with warmer temperatures after the last glaciation. The concept
"anthropocene" etymologically derives from the Greek anthropos, which means human, and
kainos, which means new. It was popularized in 2000 by Dutch chemist Paul Crutzen, winner of
the Nobel Prize in Chemistry in 1995. It has been widely discussed by contemporary thinkers,
such as Massimo de Felice, a researcher at the University of São Paulo, among many other authors.
Among the factors that mark the Anthropocene, we can highlight: the technological progress that
accelerated after the First Industrial Revolution, exponential population growth (NARDY; DI
FELICE, 2021), and the multiplication of production and consumption. They all inspire care and
lead to deep reflections, with what can be called planetary risk or, more appropriately, I think,
risk to life on the planet.
Ultimately, we live in a time called the “time of catastrophes” by Isabelle Stengers (2015),
a Belgian chemist, philosopher, and historian who contributed excellently to the philosophy of
science. She has partnered with Russian chemist Ilya Prigogine (2001) in discussions about chaos
and other contemporary themes that help to understand the planet’s dramatic moment and the
human role in building this scenario. The two authors, by associating concepts from Chemistry to
the Philosophy of Science, allow us to understand signs of how to deal with the instabilities of
ecosystems and the turbulence of substances that concentrate and dissipate, showing that there is
no possibility of total control, but there is at least the possibility of recognizing the We, also
what I have been calling We Interlaces (BAPTISTA, 2021), which help us to strengthen ourselves
minimally so that we can expand the chances of (over)living. In this sense, the discussion is
aligned with the signposts brought here in this text, as glimpses of epistemic guidelines for
building the New World: Lovingness and (Self)Transpoiesis (BAPTISTA, 2022).
Likewise, to advance in glimpses of possibilities of existence, ecosophy, as a proposition
of an ecological philosophy, of an episteme guided by the cultivation of conditions of possibility
of coexistence, (GUATTARI, 1981) proves to be interesting and urgent. Therefore, this text
constitutes a proposal for an association between Ecosophy and Tourism, considering the
significant power inherent to the matrices of meaning and the meaning-generating core of tourism.
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The Ontology of Tourism
Here, the basic features of tourism, a kind of zero degree of significance, are directly
related to processes of generation and production of life. Thus, Tourism itself can be enhanced,
from the inside out of its weaver, which is why it is referred to here in this text and in my studies
as Tourism-Weaver (BAPTISTA, 2018). It is this tourism that I will reflect on from now on.
Ontology is a word formed by elements from the Greek lexicon: óntos, equivalent to a
living being, and -logía to logos, which refers to knowledge or science. It corresponds to the
science that studies being and is treated by Aristotle as the first philosophy, implying admitting a
principle from which it is possible to understand the diversity of what exists, and if this is possible,
it is because there are differentiating elements of being itself. In this case, we can associate
ontology here, therefore, with a core of meaning regarding what we are dealing with, that is,
Tourism.
Therefore, the proposal is to talk from the ontology of Tourism, about contemporary
challenges and conditions. To this end, I now present, in summary, the rescue of the historical
drift of the core of meaning that generates Tourism, as well as some marks of this universe of
knowledge production, which I have been referring to as Tourist-Communicational-Subjective
Ecosystems (BAPTISTA, 2020). It is important to consider bases of epistemic biases, which guide
dynamics, processes, practices, theories, and methodologies, associated with the universe of
Tourism, at different times. The processualism of historical drift results in what we experience, in
the everyday occurrences of Tourism and the multiple directions of approaches. Therefore, it
seems essential to reflect on what Tourism is, how it arises in historical drift, and how its
understanding was constructed.
Here I rescue the beauty of Jorge Drexler's verses (2017), which poetically summarize
aspects that I have reflected on in my studies in recent years: We are a species on a journey. We
have no belongings, only baggage.
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Movimiento
Apenas nos pusimos en dos Pies
Comenzamos a migrar por la sabana
Siguiendo la manada de bisontes
Más allá del horizonte, a nuevas tierras lejanas
Los niños ala espalda y expectantes
Los ojos en alerta, todo oídos
Olfateando aquel desconcertante
Paisaje nuevo, desconocido
Somos una especie en viaje
No tenemos pertenencias, sino equipaje
Vamos con el polen en el viento
Estamos vivos porque estamos en movimiento
Nunca estamos quietos
Somos trashumantes, somos
Padres,hijos, nietos y bisnietos de inmigrantes
Es más mío lo que sueño que lo que toco
Yo no soy de aquí, pero tú tampoco
Yo no soy de aquí, pero tú tampoco
De ningún lado del todo y, de todos
Lados un poco
Atravesamos desierto, glaciares, continentes
El mundo entero de extremo a extremo
Empecinados, supervivientes
El ojo en el viento y en las corrientes
La mano firme en el remo
Cargamos con nuestras guerras
Nuestras canciones de cuna
Nuestro rumbo hecho de versos
De migraciones,de hambrunas
Y así ha sido des de siempre, desde el infinito
Fuimos la gota de agua, viajando en el meteorito
Cruzamos galaxias, vacío,milenios
Buscábamos oxígeno,encontramos sueños Apenas nos
pusimos en dospies
Y nos vimos en la sombra de la hoguera
Escuchamos la voz del desafío
Siempre miramos al río,pensando en la otra rivera
Somos una especie en viaje
No tenemos pertenencias, sino equipaje
Nunca estamos quietos,somos trashumantes
Somos padres,hijos,nietos y bisnietos de inmigrantes
Es más mío lo que sueño,que lo que toco
Yo no soy de aquí,pero tú tampoco
Yo no soy de aquí, pero tú tampoco
De ningún lado del todo y, de todos
Lados un poco
Los mismo con las canciones
Los pájaros,los alfabetos
Si quieres que algo se muera
Déjalo quieto
Movement
We had just begun walking upright
We began to migrate through the savannah
Following the herd of bison
Beyond the horizon, to new, distant lands
The children on the back, expectant
Eyes peeled, all ears
Sniffling out that puzzling
New landscape, unknown
We are a species in transit
We don’t have belongings, we have baggage
We go with the pollen in the wind
We’re alive because we are in movement
We’re never still, we are nomadic
We are parents, children, grandchildren and great-
grandchildren of immigrants
What I dream is more of mine than what I touch
I’m not from here, but neither are you
I’m not from here, but neither are you
Not completely from one place and
A little from everywhere
We crossed deserts, glaciers, continents
The whole world from end to end
Stubborn, survivors
The eye on the wind and the currents
The hand firm on the oar
We carry our wars with us, our lullabies
Our path made of verses, of migrations, of famines
And that’s how it has always been
Since before time
We were the drop of water traveling in the meteorite
We crossed galaxies, the void, millennia
We were searching for oxygen
We found dreams
We had just begun walking upright
And we saw ourselves in the bonfire’s shadow
We listened to the voice of the challenge
We always look at the river
Thinking about the opposite shore
We are a species in transit
We don’t have belongings, we have baggage
We’re never still, we are nomadic
We are parents, children, grandchildren and great-
grandchildren of immigrants
What I dream is more of mine than what I touch
I’m not from here, but neither are you
I’m not from here, but neither are you
Not completely from one place and
A little from everywhere
It’s the same with songs, birds, alphabets:
If you want something to die, keep it still
Source: https://genius.com/Genius-english-translations-jorge-drexler-movimiento-english-translation-
lyrics
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We are alive because we are in motion. This is the point. Nomadic matrix of a species,
which, in its origin, related harmoniously with other beings, the other beings, representatives of
the biotic and abiotic universe. Nomads who moved and, in movement, were reborn, reinvented,
and reproduced themselves and each other, in an (self)transpoietic logic that characterizes the
species in constant transversalizations with the ecological niche, in a recursive relationship of
constituent former. The human being is a constituent and constituted, a product in and a producer
of the ecological niche, a logic of natural and spontaneous coexistence (MATURANA; D’AVILA,
2015). There is, therefore, a direct relationship between (Self)Transpoiesis and the generation of
life, just as there is concerning Tourism. Tourism is a (self)transpoietic device that generates life,
in the same ontological logic corresponding to travel, communication, talks, and com-
versações
1
.
The movement, deterritorialization
2
, as Guattari and Deleuze called it in the last century,
activates the agency power of (self)transpoiesis, of the (self)production of oneself in
transversalizations with the ecological niche. Maturana taught us molecular self-poiesis, as a
generating matrix to produce living beings. Even though he, at the end of his life, reiterated that
the conceptual proposition of self-poiesis concerned only living beings, since Biology, the
conception of the word, as a crystallization of meaning, as I usually define words, released to the
four winds the combination of the meaning self (relative to oneself) and “poiese” (production)
which, in the understanding of other listening subjects, readers and producers of knowledge, began
to be used for other universes of knowledge and production of life. Before this phase, referred to
in his studies as Cultural Biology, when the author began to produce more directly together with
Ximena D´Ávila, the previous paths had reflections referred to as Biology of Love and Knowledge
(MATURANA; VARELA, 1997) when it was produced especially with his former student and
partner, fellow biologist Francisco Varela. Both helped me understand self-poiesis and the
importance of the concept that represents the synthesis of the self-production of living beings, also
in transposition to other universes.
In summary, I am associating here the origin and the natural process of production of life,
with movement, and deterritorialization, an inherent and characteristic feature of the zero degree
of meaning of Tourism, since a time when the name itself Tourism - did not exist. “We are a
1
“Com-versações” (Conversations), expressed like this, proposed by me, intends to signal the set of transversal
actions between beings, also between subjects and places.
2
The authors do not refer to deterritorialization as a departure from geographic territory, but to a condition of loss of
connection with the known existential universe. This is the first movement of the lines of desire in which the subject
is empowered by the movement. Hence the connection in this text (DELEUZE; GUATTARI, 2004).
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traveling species.” Thus, the travel metaphor seems emblematic, like a deep groove that marks
the basic feature of tourism. I remember that the word travel derives from the Latin viaticum,
“journey”, originally “provisions for a journey”, derived from via, “path, road”. We can think,
then, of the composition with agem, action, where we have journey is action on the path. Yes,
we are also on the path of understanding more deeply the Tourism that interests me, Tourism from
the deep grooves, the innards of the concept, its reverse, the Tourism-Weaver.
I remember Luís Carlos Restrepo (1998), a Colombian psychoanalyst who, many years
ago, in a beautiful book, taught me the Old Testament term, splacnisomai, literally, “feeling with
your guts”. I keep thinking: “That’s it!” I literally like to feel the concepts with my gut too. That's
what I'm after when I dive into words, in this case, this “on love, falling in love with the concepts
of travel and tourism. For this reason, I have also called investigations themselves, actions of
investing in a direction, that is, investigative trips, certainly one of my greatest passions, more
than that, much more than passion, a full and absolute love, both in terms of actions and
knowledge.
The same occurs with the term Communication, also characteristic of my studies, whose
matrix of meaning allows us to encounter the idea of building bridges, giving way, com-
partilhar(sharing). The Universe that I deal with, therefore, in Tourism, Communication and
Subjectivity studies is loving par excellence, from the depths of the paths and detours of meaning.
This is the keynote of the proposition of Ecosophy, Lovingness, and (self)transpoiesis for
Tourism, which I present in this text, as a synthesis of com-versações that I have made more
broadly in my projects and various publications for more than 10 years in Tourism, more than 30
years in other areas, and almost 60 years of life.
I emphasize here, also using an etymological approach, that the word Turismo derives
from the term tourism in English, which, in turn, derives from the French tour, which means “to
take a walk”. Its remote origin, however, is related to the word tornus in Latin, which means
movement or return (ORIGEM DA PALAVRA, 2023). I notice and highlight how there are
connections between our interests, and between our loves, which are also conceptual. The concept
com-versações, expressed in this way, proposed by me, intends to signal the set of transversal
actions between beings, also between subjects and places. For several years, I have been working
with the proposition associated with Tourism, with research projects and national and international
partnerships, in the production and investigation of (self)transpoietic narratives, which are
characterized by com-versações places and subjects. This proposition also aligns with the
thinking of Maturana (1988), when he rescues the Ontology of Conversation and says that
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conversing is going around with, as well as that this dynamic is at the basis of human
relationships and corresponds to our intrinsic loving trait. According to the author, we are homo-
amans-amans, by nature of the species, and this is what makes us have the selfpoietic power, to
be produced in the recurrence of conversation, in the returns with, in movement. See the
connection with the same matrix of meaning as Tourism, ontological connections.
Viagem (Travel) - derives from the Latin viaticum, “journey”, originally
“provisions for a journey”, derived from via, “way, road” (ORIGEM DA PALAVRA, 2023).
Turismo (Tourism) - derives from the term tourism in English, which, in turn,
derives from the French tour, which means “to take a walk”. Its remote origin, however, is related
to the word tornus in Latin, which means movement or return.
Conversar (Talk), go around with, in the movement (MATURANA, 1988).
Com-versações (Conversations), expressed like this, proposed by me, intends to
signal the set of transversal actions between beings, also between subjects and places.
Comunicação (Communication) from Latin, comunicare, action of making
common, sharing (RABAÇA; BARBOSA, 1987).
I recall here the reasoning I discussed in a dissertation on Communication (1995), later
published in a book (1996). Following the Communication ontology, the communicational
moment can mean the moment of ‘meeting’, in which informational flows are shared, in their
materialities and immaterialities. This logic necessarily implies a willingness to move, in the sense
of meeting, dislodging ourselves, deterritorializing ourselves, towards the Other (which is
everything that is not me, not necessarily another human), and towards transformation, meeting
of bodies. Thus, communication, in its ontology, is also aligned with the inherent character of
travel, tourism, conversations, com-versações.
Lovingness: what trip is this?
I decided to talk here about Lovingness, although, as we will see, there are also confluences
with the concept of Communication. So, I start by saying that this is a long journey, talking about
love concerning Science, relating it to the most diverse existential and knowledge universes with
which I have been involved and in which I have produced, as is the case of Tourism, with the
proposition of Lovely Tourism (BAPTISTA et al., 2020). I often say that lovingness is not a
concept, but it is my life orientation. Lovingness, condition em-amor(“on-love”), condition
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em- a-morada(“in-dwelling”), a condition enamorada (enamored) with what I do, study, with
the beings I live with, with my existential places and also with my travels, all the geographical
deterritorializations, the imaginary, existential, and communicational, in com-versações,
without it being possible, for sure, to differentiate to what extent I am in one or the other.
Throughout my life, I have given new meaning to the word Love, understanding that the
core meaning of this crystallization of meaning only makes sense in an expanded condition and is
disconnected from the romantic capitalistic logic of possession and appropriation of the other as
my love. Thus, the loving condition was showing itself to me, as the very condition inherent
and intrinsic to the possibility of remaining alive, in pulsations generating micro-movements of
reinvention of myself, in power, in joy, for the simple, simple and at the same time gigantic
condition of love. The meeting with Maturana, then, was emblematic, and overwhelming, initially
due to the text entitled Emotions and Language in Education and Politics (1998), and then with
the incessant contact with her texts, videos and even taking two courses at the School Matristic of
Santiago de Chile, between 2020 and 2021. As happened with several other thinkers, whom I
consider kind of loving accomplices, of my proposition “for a more loving world (BAPTISTA
et al., 2020). Roland Barthes (1986), Paulo Freire (1987; 1996), Edgar Morin (2020), Rubem
Alves (2002), among others. That's why I've been saying that I talk about love concerning Science
and I'm not alone; on the contrary, I am very well accompanied.
In a recent interview, the thinker Edgar Morin (2020), for example, summarized from the
height of his knowledge of 101 years of life: “Egocentrism must be reduced to the vital minimum
of conservation. Fraternity is something capital.” In this sense, the love I speak of is love as a
loving condition for humanity, as an ethics of relationship and care. Love is compassion and
fraternity. The love that empowers us to produce ourselves and live harmoniously with other
beings, of all species, human and non-human beings, elements of the environment, subjects, and
places, from this and other planets or spiritual dimensions like me I have called.
Later, in the Amazon, in a lecture opening the academic year for postgraduate courses at
every institution, in 2015, I remember saying that lovely, far from naivety, is our only chance of
survival as a planet. The statement remains valid for me. The period of encounters with the Forest,
after 2010, represented for me a great transformation and expansion of knowledge, of learning
from the exuberance of the Amazon biome, from the nature of strong and simple people, in the
same proportion, who make contrasts, differences and challenges their passage boats to the other
side of the river (FARIAS, 2017), presenting the Amazon as an epistemic matrix, which can be
thought of as a teaching for us to relearn how to be a world (COLFERAI, 2014).
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Well, I study what I propose. I think the world needs more lovingness, such as ethics of
care and relationships! It is necessary to be lovely, from the details of everyday life, seeking to
welcome others and make this the food of life! Tourism also needs to be like this, careful, loving,
ecosystemically responsible
3
! May we all always have our daily love, as a source of joy, to
continue our journey, in research, in life, and in texts with our investigative reports! And speaking
of which, let's move on.
For an Ecosophy of Tourism
To talk about the proposition of an Ecosophy of Tourism, it is important to share a
synthesis of my com-versaçõeswith Ecosophy in recent times. Thus, it starts from the ontology
of the concept, so as not to lose the custom and general orientation of this article and my
productions. The remote origin of the term takes us back to 1973, when the Norwegian
philosopher Arne Naess proposed it, in his article, Deep and Long-Range Ecological Movements:
A Summary and deep ecology: a summary. The etymological matrix of ecosophy corresponds to
the union of the Greek word οἶκος (oikos), which means house, and σοφία (sofia), which is
translated as knowledge or wisdom (CAPRA, 1991). From this matrix comes Naess's
understanding of ecosophy as ecological philosophy. The same scientist is a reference for the
proposition of Deep Ecology, which has been the substrate of major transformations in the
assumptions that transversal investigative universes from Biology, Chemistry, and Physics are
advancing to broader universes such as the so-called Human and Social Sciences. Adopting an
ecosophical stance, which is consistent with a vision of deep ecology, has been highlighted as a
contemporary urgency to face major emergencies, such as the environmental, climate, health
crisis, population growth, hunger, and poverty.
Capra and Luisi (2014, p.448), in this sense, mention the environmental thinker Lester
Brown, commenting on his book entitled Plan B, released in 2008, which demonstrates the “[...]
vicious circle of demographic pressure and poverty [which] leads to the depletion of resources
reduction in the volume of groundwater, shrinkage of forests, the collapse of fishing industries,
soil erosion”. The depletion of resources has led us to dramatic conditions, as worsened by climate
change it generates “deficient states, our governments can no longer guarantee the safety of their
3
I presented the Ecosystem Responsibility proposal, in 2016, at the Master Conference at the Ibero-American
Congress of Tourism and Social Responsibility (CITURS), in La Coruña, Spain. This is not a simple semantic issue,
in relation to Social Responsibility publications, but an epistemic issue, of decentering the logic of the Anthropocene,
inviting the responsibility of the whole for the whole.
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citizens, some of whom, in desperation, turn to terrorism”. Thus, we are heading towards
existential cliffs, in an individual and collective sense, the result of which is also what we are
finding and which I have been highlighting since the beginning of this text: war, the pandemic,
environmental and social catastrophes, hopelessness, despair, death in a literal and figurative
sense, for beings whose economically empowered representatives still believe they are intelligent,
at the same time that they follow conditions of their deaths and of a species that sprouted
spontaneously in the drift of transformations of living beings, as a loving species, guided by
matristic logic of coexistence between all beings, multispecies coexistence, recognizing oneself
as part of nature.
I remember, in this sense, an episode with which I came into contact, as a journalist, and
general editor of the Jornal O Vale Paraibano, in the interior of São Paulo, based in São José dos
Campos. This is a city with a strong arms presence, where the weapons industry developed
strongly, as well as the aeronautical industry. Among the stories of this city is the record of suicide
by the son of one of the large arms industries, who left a note for his father with the information:
“Dad, guns are made for this!”
4
. According to the rules of Journalism, there are no official records
of the event, but the story was occasionally remembered in the Paper’s Newsroom, where I worked
for more than two years, especially when the contradictions of an arms industry that generates
employment, generates resources, but also generates death, literally “lives off it”. I also remember,
for example, the strangeness it caused me, when businesspeople in the sector, in interviews,
lamented about the economic crisis, and the difficulties in marketing and used the argument: “We
are in the off-season! [of wars!]”.
All of this leads me to the question, which I have summarized with a phrase from Caetano
Veloso's well-known song, entitled Cajuína: Existirmos, a que será que se destina?(“Exist,
what is it intended for”). This goes for me, for you, for Science, Journalism, and Tourism. For this
very reason, we are here, in this essayistic reflection, which is summarized in the proposition of
an Ecosophy of Tourism. As a complex transversal universe of knowledge production, Tourism
has developed, in its knowledge and practices, with a thread of life sewn to other timelines, such
as the interfaces with which I have been working especially Communication and Subjectivity
Studies but, in an even broader sense, aligned with the development timeline of Science, in its
complex holistic weaver, and Capitalism, also capable of being glimpsed as a complex and
rhizomatic ecosystem, which concentrates and dissipates from points of confluence and in
4
According to the rules of Journalism, there are no official records of the event, but the story was remembered from
time to time.
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passing, infecting, contaminating everyone and everything, capitalism par excellence, capitalism
by plunder, as David Harvey taught us (2005; 2008).
Thus, it seems crucial to rescue Arne Naess's initial proposition, when he referred to
ecosophy, as a philosophy of harmony with nature or ecological balance, signaling, already in the
last century, to challenges that we now face on the edge of many existential abysses. In this sense,
the term, for me, represents a kind of synthesis of the epistemological assumptions with which I
have been working in science, which I define as ecosystemic, complex, chaosmotic, holistic, and
guided by deep ecology. There is an ecosophical confluence between these views. The holistic
view is broader and presupposes that knowledge needs to consider the whole and multiple
conjunctions (CREMA, 1989; GOSWAMI, 2008). There are different emphases.
While holism is the whole, the complex prioritizes understanding the complex
relationships of the web-weave of systems, in a continuous movement of organizational
recursions, which teaches us that chaos is not disorder, but leads us to patterns of organizations
about which we do not know total control (MORIN, 2003). These systems, in turn, only make
sense if they are places that generate life, ecosystems, which, by the way, only exist in complex
connections. Deep ecology, in line with these other visions, also draws attention to the connection
and alignment of values of all beings, breaking with the supremacy of the human, which
characterizes the geological era of the Anthropocene. In this way, deep ecology would be the
opposite of ecology, in the sense in which I have been working with the reverse, as the expression
of the web-weave of complex life, where the knots and interweaves that support the Façade are
shown, with its materialities and emphases of capitalistic gear.
I also emphasize that my contact with Ecosophy has also been marked by a schizoanalyst
bias, by my continuous com-versações with the texts of Félix Guattari and Gilles Deleuze
(2004). Guattari, in a lean but dense and fruitful text, summarizes his proposition of ecosophy, in
a book entitled The Three Ecologies (1981), when he proposes: mental (subjective) ecology, social
ecology, and environmental ecology. In this text, the author already brings signs of in-depth
discussion about the major contemporary global problems and the urgency of ethical-political
stances, to avoid planetary collapse in several senses. It is interesting, in this sense, the author’s
emphasis on what he calls a “searing paradox”:
[...] the continuous development of new technical-scientific means potentially
capable of resolving the dominant ecological problems and determining the
balance of socially useful activities on the surface of the planet, and the inability
of organized social forces and constituted subjective formations to appropriate
of these means to make them operative (GUATTARI, 1981, p. 12, our
translation).
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We then reach a crucial point, with Guattari's reflection, which demonstrates the urgency
of an Ecosophy of Tourism. In the historical drift of the development of Tourism and its
corresponding knowledge, towards the consolidation of a consolidated universe of investigation
I do not call it the Science of Tourism, because that would be inconsistent with a holistic vision
we recognize intrinsic and profound values in their transversal, plural, condition,
transdisciplinary, relevant to everything and everyone.
Tourism, in its activities and knowledge, concerns us all. In one way or another, Gaia,
Planet Earth, is deeply and constantly marked by Tourism, whether in its ontological traits or its
idiosyncrasies derived from the historical coupling with the bias of Integrated World Capitalism.
Thus, we went through a long process of theorizations from the administrative perspective, of
tourism management, with abundant production; passing through a critical vision, already
contributing to understanding the limits and deceptions of a developmental logic of tourism, which
is supported by facades with the veneer of commercial hospitality, with banners of sustainability;
to reach the systemic vision, which also allows us to move forward to understand the connections
and relationships of interdependence.
The ecosophical proposition, presented here, does not deny knowledge but proposes
expansions of views and connections, guided by an epistemology that combines a holistic vision,
with assumptions of complexity, of deep ecology, comprising contemporary chaosmosis
(GUATTARI, 1992) of chaos, osmosis in the cosmos as challenges for the survival of all
ecosystems, as well as the Tourism ecosystem, which I call Trama. In this sense, in reflections on
phenomena such as tourismphobia, touristification, and gentrification, which expose in 'living
flesh', 'out in the open' the existential, social, and economic wounds, in all instances of life,
produced by thoughtless tourist practices, aimed at Capitalism's main objective, which is to
generate and accumulate Capital.
During the pandemic, Edgar Morin (2020) offered us a reflective, guiding synthesis, in a
book entitled “It’s Time to Change Paths. The Lessons of the Coronavirus”, in which he defends
the emergence of a regenerated humanism. I think, in this sense, that the Ecosophy of Tourism
invites us to also think about regenerated Tourism. Maturana, in his last book, proposed a
“Reflexive Revolution”. Your constant questioning, in texts and seminars, leads us to reflect: what
are we doing so that we can continue producing ourselves in harmony with our ecological niche?
I can slide the reflection into our investigative universe and ask: what tourism are we going to
continue producing, teaching, and building scientifically? What do we want with our productions
and how can we make them lovely, ethically responsible, and agents of (self)transpoiesis power?
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In other ways of asking: are we going to continue with practices that lead to hatred of Tourism,
and tourists, practices that lead to the destruction of ecosystems, heritage, and subjectivity? Are
we going to continue sowing precariousness of work, with the fading of taste, of the enjoyment
inherent to the desirous deterritorializations of tourism, in its ontology of movement, of travel, of
the intrinsic condition of nomads in peaceful and harmonious coexistence with the environment?
Towards an Ecosophical Tourism-Weaver for the New World
After the reflections presented here, I imagine that challenges, urgencies, and glimpses of
our time have already been highlighted in summary, as an outline resulting from the
theoretical-conceptual-existential coupling, expressed in the composition Amorous and
(Self)Transpoietic Ecosophical Tourism-Trama for the N'Ovo Mundo
5
. However, I return in
summary. Tourism is a weaver because it is produced in complex subjective ecosystems that are
transversal, in dynamics and processes of deterritorialization, reinventing worlds, reinventing
beings, productive practices, relationships, technologies, procedures, com-versações of places
and subjects (BAPTISTA, 2018; 2020; 2021).
Tourism must be Ecosophical and Loving, guided by the ethics of relationship and care,
guided by public policies committed to the interaction between the three ecologies, recognizing
that these are transversalized by others, in a grand and complex web of bundles, attracting flows,
ritornellos, us, subjects, places, intertwining us, in short... Tourism needs to be generator and
generated by N'Ovo Mundo, what is about to be born, in a recursive logic inherent to the very
condition of budding life.
Tourism ontologically has direct links with the production of life and, in this sense,
doing justice to this ontology, it needs to align itself with the dimensions of ecological wisdom,
in order, and only thus, to contribute to its (self)transpoiesis, as well as to the (self)transpoiesis of
places and subjects. In other words, the self-production of the planet, of humanity, involves
interactions, connections, and deterritorializations with the founding devices of the existence of
life.
Ontologically, travel, tourism, communication, and com-versações make up the
generating potential of (self)transpoiesis, of production in and from ecological niches. The
activation of ecological wisdom, of ecosophy, offers powerful signs of where we can follow, as
well as the ecology of knowledge and the connection with the wisdom of native peoples.
In this sense, aligned with James Lovelock's Gaia Theory, Aiton Krenak (2020), one of
5
New World.
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Brazil's many indigenous sages, teaches us: “We are microcosms of the Earth organism, we just
need to remember that(p. 72, our translation). He issues a warning, presenting a crucial equation:
“Either you listen to the voice of all the other beings that inhabit the planet, or you wage war
against life on Earth” (p. 73, our translation). There would be much more to say, many other
theoretical and existential partners of ecosophical com-versaçõesto mention, but the text, as a
dated inscription, corresponds to marks in a certain communicational territory. This one will stop
here. I end with Krenak's speech about hope because I think that, amid the hardships of bad
weather, disasters, and catastrophes, we must continue cultivating the verb “to hopeful”, which
Paulo Freire taught us. This is also why I propose and defend an Ecosophy of Tourism, which can
also be inferred in the words of Ailton Krenak (2020), in a text written during the pandemic,
entitled Life is not Useful:
When we think about the possibility of a time beyond this, we dream of a world
where humans will have to be reconfigured to move around. We will have to
produce other bodies other affections, and dream other dreams to be welcomed
by this world and be able to inhabit it. If we look at things this way, what we are
experiencing today will be a crisis and a fantastic, promising hope (KRENAK,
2020, p. 47, our translation).
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DOI: https://doi.org/10.30612/eduf.v13i00.17779 20
About the authors
Maria Luiza Cardinale BAPTISTA
University of Caxias do Sul (UCS), Caxias do Sul RS Brazil. Professor and researcher at the
Postgraduate Program in Tourism and Hospitality at the University of Caxias do Sul.
coordinator of Amorcomtur! Study and Production Group in Communication, Tourism,
Lovingness and Self-poiesis (CNPq-UCS). PhD in Sciences (ECA-USP) Postdoctoral Internship
in the Postgraduate Program in Society and Culture of Amazonas (PPGSCA-UFAM).
CRediT Author Statement
Acknowledgements: Thanks for the com-versações with the members of Amorcomtur!
Study Group on Communication, Tourism, Lovingness, and Self-poiesis (UCS/CNPq), which
are inspirations for my texts.
Funding: None.
Conflicts of interest: None.
Ethical approval: The work is a theoretical-reflexive essay, resulting from many personal
studies by the author, in Tourism, Communication and Subjectivity. There is no ethical
commitment in reflection.
Data and material availability: According to the test logic, there is no data available.
Authors’ contributions: Single authorship. Full contribution.
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Proofreading, formatting, normalization and translation.