Rômulo Pinheiro de AMORIM e Elizabeth Figueiredo de SÁ
Rev. Educação e Fronteiras, Dourados, v. 12, n. esp. 1, e023013, 2022. e-ISSN:2237-258X
DOI: https://doi.org/10.30612/eduf.v12in.esp.1.17108 11
Nesse sentido, a representação divulgada pelo Estado buscava inferir a ideia de que a
escola normal precisava passar por alterações em sua organização, sendo incorporada ao prédio
do Liceu, a fim de oportunizar não apenas o crescimento pedagógico da formação docente, mas
também permitir que os alunos pudessem optar por outras carreiras. Dessa forma, o
encerramento da escola normal significava um ganho para a sociedade mato-grossense, com a
possibilidade dos indivíduos se tornarem profissionais em áreas diferentes.
Para enfatizar os benefícios da modificação na oferta do ensino normal, a gestão estadual
destacou os investimentos em cursos que proporcionariam, na prática, as condições para as
pessoas poderem seguir outras profissões, por meio de cursos preparatórios para o ingresso no
ensino superior. De acordo com o decreto, “considerando que há urgência na installação do
curso complementar creado pela Lei nº 49, de 10 de outubro de 1936, destinado ao preparo dos
candidatos a matrícula dos cursos superiores” (MATO GROSSO, 1937, p. 1).
Nessa perspectiva, tal narrativa visou ampliar a percepção dos benefícios advindos do
fim da escola normal, uma vez que a nova organização não impediria a mudança de profissão
por parte dos professores, além de possibilitar a preparação necessária para a inserção em cursos
superiores.
Sendo assim, a visão ressalta a não necessidade de investimentos na ampliação das
escolas normais, pois a população teria mais vantagens quando o governo investisse na
efetivação de cursos preparatórios e na criação de mais cursos profissionalizantes, conforme
mencionado no próprio decreto: “considerando que é imperativo inconstentavel a creação de
escolas profissionales nesta capital e que um Curso de Guarda Livros virá facilitar a muitos
moços a seguir essa profissão” (MATO GROSSO, 1937, p. 1).
A ideia representada no discurso governamental reforçou o entendimento de que seria
melhor para a sociedade mato-grossense a ampliação das possibilidades de seguir outras
carreiras, enquanto a profissão de professor seria mantida por meio da criação de um curso de
especialização. Dessa forma, foi construído um ambiente representacional no qual o
fechamento da escola normal não deveria ser visto como prejudicial para o ensino estadual,
uma vez que o curso normal oferecido no Liceu não seria mais considerado uma barreira para
o ingresso nos cursos superiores.
As noções elaboradas pelo estado buscaram construir um enredo articulado de
justificativas que visavam impor e legitimar as mudanças implantadas no final do ano de 1937,
no que se refere à educação escolar e à extinção da escola normal. Para tanto, procurou articular
os discursos de maneira complementar e reforçar o entendimento de que suas ações levariam