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Rev. Educação e Fronteiras,
Dourados, v. 11, n. esp. 1, e021013, 2021. e-ISSN: 2237-258X
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https://doi.org/10.30612/eduf.v11iesp.1.16500
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CONCEPÇÕES DE ALFABETIZAÇÃO NAS PESQUISAS EM POLÍTICAS
EDUCACIONAIS
CONCEPCIONES DE ALFABETIZACIÓN EM LA INVESTIGACIÓN SOBRE
POLÍTICAS EDUCATIVAS
CONCEPTIONS OF LITERACY IN EDUCATIONAL POLICY RESEARCH
Pollyanna Nunes de OLIVEIRA
Universidade Federal de Pernambuco
e-mail: pollyoliveira84@hotmail.com
Alice Miriam Happ BOTLER
Universidade Federal de Pernambuco
e-mail: alicebotler@gmail.com
Como referenciar este artigo
OLIVEIRA, P. N. de.; BOTLER, A. M. H. Concepções de alfabetização nas pesquisas em
políticas educacionais.
Revista Educação e Fronteiras
, Dourados, v. 11, n. esp. 1, e021013,
2021. e-ISSN: 2237-258X. DOI: https://doi.org/10.30612/eduf.v11iesp.1.16500
Submetido em
: 08/06/2021
Revisões requeridas em
: 06/08/2021
Aprovado em
: 10/09/2021
Publicado em
: 30/10/2021
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Pollyanna Nunes de OLIVEIRA e Alice Miriam Happ BOTLER
Rev. Educação e Fronteiras,
Dourados, v. 11, n. esp. 1, e021013, 2021. e-ISSN: 2237-258X
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RESUMO
:
O artigo analisa políticas de alfabetização no contexto brasileiro. Por meio de
estudo bibliográfico, levantou-se as pesquisas a respeito das distintas concepções de
alfabetização presentes nas políticas educacionais voltadas para este tema. Tal concepçãoindica
o caminho a ser per corrido para a efetivação do seu objetivo principal: a aquisiçãoda linguagem
por parte da totalidade de crianças na faixa etária até os 8 anos de idade. Conclui-se que a
democratização da aquisição da linguagem por parte dos estudantes, além de ser uma questão
teórica, de método ou técnica, é relativa ao âmbito local, espaçocomplexo que envolve diversos
atores, formas e processos, que potencializam a escolha criativa de diferentes caminhos que
permitem a qualificação dos processos educativos e,particularmente, de alfabetização.
PALAVRAS-CHAVE
:
Política educacional. Alfabetização. Micropolítica.
RESUMEN
:
El artículo analiza las políticas de alfabetización em el contexto brasileño. A
través de um estúdio bibliográfico, se planteó la investigación sobre las diferentesconcepciones
de alfabetización encontradas em las políticas educativas centradas em estetema. Tal
Concepción indica el caminho a seguir para la realización de su principal objetivo: el la
adquisición del linguaje por parte de todos los ninõs hasta los 8 años. Se conclui que la
democratización de la qdquisición del lenguaje por parte de los estudiantes, además de ser
uma cuestión teórica, metodológica o técnica, está relacionada com el ámbito local, um espacio
complejo que involucra a variados actores, formas y processos,que potencian la elección
creativa de diferentes caminhos que permitan la calificación delos processos educativos y, em
particular, de la alfabetización.
PALABRAS CLAVE
:
Política educativa. Alfabetización. Micropolítica.
ABSTRACT
:
The article analyses literacy policies in the Brazilian context. Through a
bibliographic study, we surveyed the research regarding the different conceptions of literacy
present in educational policies focused on this theme. Such conception indicates the path to be
followed for the realization of its main objective: the language acquisition by all children aged
up to 8 years old. It is concluded that the democratization of language acquisition by students,
in addition to being theoretical, method or technical issue, is related to the local scope, a
complex space that involves several actors, forms and processes, which enhance the creative
choice of different paths that allow the qualification of educational processes and, particularly,
of literacy.
KEYWORDS
: Educational policy. Literacy. Micropolitics.
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Concepções de alfabetização nas pesquisas em políticas educacionais
Rev. Educação e Fronteiras,
Dourados, v. 11, n. esp. 1, e021013, 2021. e-ISSN: 2237-258X
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Introdução
Analisando a história da educação no Brasil, podemos observar que a política
educacional voltada para a instrução primária nos anos equivalentes ao que conhecemos hoje
como ciclo de alfabetização sofreram diversas influências internas, de acordo com os interesses
e necessidades do Estado (ROMANELLI, 2005; VIEIRA; FARIAS, 2007; SAVIANI, 2005;
SCAFF; OLIVEIRA; BRITO, 2018). Marcilio (2016) esclarece que um olhar sobre a história
nos auxilia a entender a situação atual da alfabetização frente ao atraso em seus resultados, e
Ferraro (2014) problematiza a situação da dívida do Estado, em relação a garantia da
alfabetização como direito de todos. Alves, Alves e Fernandes (2014) apontam para a
necessidade do olhar sobre o modelo de gestão educacional, que marcou o caminho histórico
das políticas educacionais a partir de uma visão gerencial, que enfatiza a racionalidade
econômica, a produtividade e a competitividade, abrindo caminhos para a participação em uma
perspectiva individualista, de controle e de fiscalização.
No período colonial, a ação do Estado objetivou combater o avanço do protestantismo
e manter a população nativa submissa e, apenas na Constituição de 1824, foi decretado o direito
de todos a educação elementar, o que suporia a criação de escolas primárias e ginásios em cada
província. O compromisso do Estado, no entanto, envolveu poucos esforços de captação de
recursos humanos e financeiros para fazer valer essa política.
Segundo Marcilio (2016), nota-se a construção de poucas escolas primárias e uma baixa
matrícula da população no período imperial. O ensino de leitura, escrita e aritmética era feito
de forma integrada e simultânea, um dos pontos positivos da época. Quanto aos materiais a
serem utilizados pelo professor, eram oferecidas as Cartas ABC, as Cartas Silabárias e a
Caligrafia, e como método de ensino prevalecia a soletração e a memorização, com o foco no
ensino individual, em que o professor dava instruções gerais a cada aluno, enquanto os outros
se mantinham em silêncio na sala de aula. Não havia, portanto, uma diretriz nacional para
orientar o ensino, e os docentes trabalhavam de maneira individualizada e pautada numa
abordagem tradicional. A Lei 5.692/71 foi promulgada com finalidade de gerar mudanças na
organização do ensino de 1° e 2° graus. Dentre as políticas mais especificas para a alfabetização
das crianças temos a política de ciclos, que surge no Brasil na década de 1970, com o objetivo
de diminuir a reprovação e a evasão escolar, de modo mais sistemático. Marcilio (2016)
esclarece que neste período foram implementadas não apenas políticas, mas métodos de
alfabetização, entre os quais temos os ciclos de estudos com a aprovação automática e o foco
na aprendizagem do aluno, que passou a ser considerada de forma espontânea e autônoma.
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Pollyanna Nunes de OLIVEIRA e Alice Miriam Happ BOTLER
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Para Souza Silva (2017) a política de ciclo deveria implicar um conjunto de mudanças
nas práticas escolares, mas caracterizou-se como polêmica por incorporar, além do discurso
pedagógico, o mercadológico. O pedagógico evidenciava a superação da reprovação e evasão
escolar por meio do acompanhamento progressivo do aluno num recorte temporal ampliado, e
o mercadológico focalizava a redução dos gastos educacionais, com a diminuição da retenção,
por meio da ideia da promoção automática. A autora explica que a avaliação se torna a chave
da diferença, pois ela deve existir de forma constante e variada, mas deve ser planejada e
pensada respeitando os ritmos individuais, com o maior tempo para a concretização da
aprendizagem de determinado conhecimento.
Estes aspectos auxiliam a compreender a complexa teia das políticas educacionais
voltadas à alfabetização, mas lançamos nosso olhar neste artigo sobre a contribuição de tais
políticas com a qualidade da alfabetização. Compreende-se que um maior tempo para a
aprendizagem atrelado a especificação clara de metas e objetivos para cada ano que contempla
o chamado ciclo de alfabetização, em um país com tamanhas desigualdades sociais como o
Brasil, poderá favorecer a construção de projetos coletivos no interior da escola e se consolidar
como um diferencial para o sistema educacional.
Assim, a política de organização de ciclos, dentro do campo da alfabetização, é
compreendida e interpretada em cada época e contexto, podendo ou não ser mais uma aliada no
cotidiano escolar, para alcançar o objetivo de alfabetizar todas as crianças no período inicial de
escolarização. Deste modo, passamos a explorar as concepções de alfabetização presentes nas
políticas, a partir do levantamento da literatura a respeito, conforme o que se segue.
Concepções de alfabetização nas pesquisas envolvendo as políticas educacionais
Analisamos as concepções de alfabetização adotadas nas políticas com base em teses e
dissertações publicadas a partir de 2010, por ser um período em que houve um investimento no
âmbito nacional de forma mais dirigida a políticas públicas voltadas para a alfabetização de
crianças. Magalhães (2014, p. 62) esclarece que a “alfabetização é um dos campos mais
fecundos, em resultado da investigação e do debate público”.
Fizemos o levantamento no banco de teses da Capes utilizando os descritores políticas
públicas e alfabetização. Na primeira busca exploratória, selecionamos os primeiros mil
trabalhos, que relacionam de forma direta a temática em questão. Como o nosso objetivo não
foi o de esgotar todas as pesquisas que envolvessem essa temática e sim identificar as
concepções de alfabetização presentes nas pesquisas atuais envolvendo as políticas
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educacionais voltadas para alfabetização, identificamos, nos trabalhos selecionados aqueles que
apresentavam uma discussão integrada entre alfabetização e política pública. Com essa busca,
encontramos 12 teses e 50 dissertações, que compuseram nosso corpus da pesquisa.
Percebemos, conforme o Quadro 1, que algumas teses e dissertações focalizam
pesquisas que envolvem políticas públicas voltadas para o ciclo de alfabetização no âmbito
nacional, tais como o PNAIC (Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa), a ANA
(Avaliação Nacional para Alfabetização) e a Provinha Brasil. Outras pesquisas tomam políticas
nos âmbitos estaduais e municipais, como, por exemplo, o Pacto de Alfabetização na Idade
Certa (PAIC), no Ceará e a nível municipal o Bloco inicial de Alfabetização em Dourados/ MS,
o Bloco Pedagógico de Alfabetização em Juiz de Fora, bem como as avaliações externas
municipais e estaduais que nas pesquisas se integram às de nível nacional. Encontramos,
também, pesquisas que envolviam políticas educacionais relacionadas a temas mais amplos,
como as novas tecnologias, como o PROINFO e as questões de saúde como o Programa de
Saúde na Escola
–
PSE.
Quadro 1
–
Tipos de políticas públicas voltadas para alfabetização mais investigadas em
teses e dissertações
–
período 2010-2018
Tipo de política
Nacional/Estadual/Municipal
Ano de lançamento
Quantidade
PNAIC
Nacional
2012
17
Avaliações externas
Nacional
–
Provinha Brasil
2008
12
Nacional
–
ANA
2012
4
Nacional e Municipal - diversas
Entre 2008 e 2012
4
PAIC
Estadual
2004
4
Políticas
educacionais gerais
voltadas para
alfabetização
Municipal
Diversos
14
Nacional
–
PROINFO
1997
1
Nacional - PSE
2007
1
Ensino Fundamental
de 9 anos
Nacional
2005
1
Propostas
Curriculares
Municipal
diversos
2
Fonte: Levantamento da literatura realizado pela autora no Banco de Teses da Capes
O Quadro 1 denota ênfase das pesquisas envolvendo as políticas educacionais de
alfabetização, que tem como objeto de estudo a política nacional do PNAIC e as políticas de
avaliação externa. Tais escolhas se justificam pela relevância dessas políticas no campo da
alfabetização. Entretanto, observamos que o objeto de estudo das pesquisas foi limitado
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prioritariamente pelas áreas de conhecimento especificas da Linguagem, na sua maioria, e da
Matemática, em alguns casos. Como a maioria dos trabalhos exploram o PNAIC como política
educacional central para a alfabetização e pela importância no cenário nacional, trataremos de
forma breve dessa política.
Este Programa é um compromisso formal assumido pelos governos federal, do Distrito
Federal, dos estados e municípios de assegurar que todas as crianças estejam alfabetizadas até
os oito anos de idade, ao final do 3º ano do ensino fundamental e ganha a adesão da maioria
dos municípios no Brasil a partir de 2013 (BRASIL, 2012). Segundo Leal (2015), o Pacto pela
Alfabetização é o programa com maior abrangência do Governo Federal no atual contexto.
O PNAIC, segundo Aranda, Viédes e Lins (2018), se consolidou como política
educacional nacional por meio de uma pactuação única, que envolveu todos os entes federados
na busca pela garantia e pela qualidade do processo de alfabetização da criança. As autoras
tratam relacionam a qualidade como de responsabilidade do Estado.
Constata-se que os objetivos estão voltados à qualidade da alfabetização das
crianças, tendo em vista que busca garantir a redução do déficit na
alfabetização e letramento, diminuir a distorção idade-série na educação
básica, melhorar o IDEB, aperfeiçoar a formação, também visa colaborar na
construção de propostas que visem o direito a aprendizagem, o
desenvolvimento da criança, bem como a extensão da jornada escolar. O
discurso envolve ações voltadas à criança, aos seus direitos de aprendizagens,
aos índices de produtividade, aos professores, escolas e programas
(ARANDA; VIÉDES; LINS, 2018, p. 46).
A crítica no que tange à qualidade do processo de alfabetização é de ter deixado de fora
a direção escolar nos processos de formação, pois entendem que esta teria boas condições de
contribuir nas escolhas e gestão das formações.
Leal (2015) analisa os documentos do PNAIC para discutir as propostas curriculares
para o ensino de Língua Portuguesa e ressalta alguns aspectos importantes que compõem esse
programa, dentre os quais destacaremos aqueles que acreditamos serem de relevância para a
ampliação da concepção da qualidade na alfabetização.
Os aspectos universal e singular aparecem de modo interligado, sendo que o universal
se relaciona à luta pela alfabetização enquanto direito para todos, expressa por meio da
definição de direitos de aprendizagens gerais, mas também reconhece a necessidade de se levar
em conta o contexto local da escola e da sala de aula, valorizando a singularidade de cada
comunidade. Outro ponto é a exploração do caráter social da alfabetização, que contribui para
a formação de valores e atitudes sociais, por meio da aprendizagem da leitura, da escrita, da
fala e da escuta, que são significativas para a vida. A autora também salienta que a alfabetização
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vem sendo concebida de forma ampla nos documentos oficiais, pois integra os componentes de
diversas áreas do conhecimento ao ensino da base alfabética.
A concepção ampla da alfabetização, envolvendo o letramento com o uso mais
abrangente de outros conhecimentos, nos parece de extrema importância quando tratamos da
qualidade da alfabetização. Ao concebermos a alfabetização como um processo amplo e que
não se limita apenas ao ensino da leitura e da escrita e, de modo restrito à área de linguagem,
defendemos que o seu ensino pode e deve ser relacionado e integrado às diversas áreas do
conhecimento e que deve ser expresso, de forma sistemática, nos diversos materiais que são
produzidos para orientação ou formação do professor alfabetizador.
Leal (2015) ressalta que nos documentos do PNAIC a relação com outras áreas do
conhecimento vem sendo tratada de modo transversal em alguns cadernos de formação do
professor alfabetizador. A este respeito, Morais (2018) também defende que o ensino na área
de Língua Portuguesa deve ser priorizado no dia a dia da sala de aula e no cotidiano escolar,
mas deve estar atrelado aos outros componentes curriculares.
Entretanto, o que nos chama a atenção é a maneira como essa concepção ampla de
alfabetização vem sendo abordada nas diversas políticas de alfabetização e que incidem
diretamente na prática docente. Entendemos que a articulação sistemática com outras áreas é
um meio de garantia que as crianças tenham acesso ao máximo de conhecimentos para a
construção de uma cidadania e formação plena. Como exemplo, ao tratar do tema do meio
ambiente na sala de aula, o professor pode, com o debate e a vivência de experiencias,
desenvolver uma consciência ambiental, tratando de modo planejado dos princípios específicos
relacionados ao Sistema de Escrita Alfabética propondo a ampliação do conhecimento com a
leitura e a escrita.
Nesse momento, passamos a analisar as concepções de alfabetização apresentadas pelas
62 pesquisas por nós levantadas. Realizamos o exame prévio dos resumos e dos sumários na
busca de identificar tópicos específicos sobre as concepções de alfabetização.
Em relação à concepção de alfabetização ampla envolvendo o letramento na língua
materna, localizamos 29 entre 60 trabalhos, que se encaixam nessa categoria (DIAS, 2015;
GIARDINI, 2016; CARDOSO, 2015; LIMA, 2016; SANTOS, 2012; SILVA, 2013; entre
outros).
A maioria das pesquisas, apoia a sua discussão teórica no trabalho de Magda Soares
(2003, 2004, 2020) que defende o processo de alfabetização imerso no cotidiano do estudante
e das práticas sociais mais amplas relacionadas ao processo de leitura e escrita. Isso se justifica
por ser uma autora que se destaca na produção a respeito do tema, uma vez que, desde 2007
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vem desenvol
vendo um projeto de alfabetização, intitulado de “Alfaletrar”, em parceria com a
Secretaria de Educação do Município de Lagoa Santa, que se tornou referência nacional sobre
alfabetização.
Soares (2003), diferencia a utilização dos termos alfabetização e letramento no Brasil,
na perspectiva teórica e prática de habilidades e competências relacionadas a aquisição da
leitura e da escrita. Para a autora, a alfabetização envolve o aprendizado de uma técnica
extremamente importante para o processo de aquisição da leitura e da escrita.
Chamo a escrita de técnica, pois aprender a ler e a escrever envolve relacionar
sons com letras, fonemas com grafemas, para codificar ou para decodificar.
Envolve, também, aprender a segurar um lápis, aprender que se escreve de
cima para baixo e da esquerda para a direita (SOARES, 2004, p. 15).
Sendo assim, a alfabetização, no processo de ensino e aprendizagem não pode ser
apreendida de forma espontânea, pois, como técnica, envolve diferentes e complexas
especificidades que precisam ser adquiridas pelas crianças. Mas com o surgimento do termo
“letramento”, mais relacionado ao uso dessa técnica nos contextos sociais, a sistematização foi
sendo dissociada do ato de alfabetizar, e acarretou no desprezo pelo ensino dos princípios do
sistema de escrita, que envolve o processo de alfabetização. Esse fenômeno foi denominado
criticamente por Soares (2003, 2004) de “desinvenção da alfabetização”.
Ao mesmo tempo em que surge o termo letramento, incorporando ou até substituindo
os aspectos inerentes ao processo da alfabetização, uma outra perspectiva foi apresentada, por
meio do paradigma construtivista, tendo como principal representante Emília Ferreiro, referente
à psicogênese da língua escrita
1
, em que o foco deixa de ser restrito (código) e passa a se pensar
em representação.
Além dessas questões, Soares (2003, 2004) aponta que, com os estudos de Emília
Ferreiro, muitos estudiosos interpretaram o ensino do sistema de escrita e ortográfico de forma
errônea, como algo espontâneo da natureza da criança e, portanto, sem a necessidade de
sistematização no processo formal de escolarização, o que acarretou altos índices de fracasso
escolar durante o processo. Na Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA) de 2016 cerca de
54,7% das crianças no terceiro ano do Ensino Fundamental apresentaram índices insuficientes
nas habilidades que envolvem leitura, escrita e interpretação de pequenos textos (SOARES,
1
Refere-se as fases de desenvolvimento da escrita pela criança desde a pré-escola, que passa de uma fase inicial
chamada de pré-silábica, em que não percebe que as letras representam os sons, para a fase intermediária,
denominada de silábica, em que a criança escreve uma letra para cada sílaba, inicialmente sem valor sonoro e
posteriormente com valor sonoro. E por fim chega a fase alfabética, que marca o início da compreensão dos
princípios alfabéticos. Ver Ferreiro e Teberosky (1984).
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2020).
Para a autora, os esforços para superar essa condição, ao longo da história, têm sido em
relação a escolha de métodos para se alfabetizar, com uma constante alternância entre diferentes
propostas que, de um modo geral, vem restringindo o conceito de alfabetização, sem levar em
consideração suas múltiplas facetas. Afirma ainda que no Brasil o pêndulo está ora do lado da
alfabetização, ora do lado do letramento. Essa concepção é muito perigosa para os impactos das
práticas que ocorrem em sala de aula e que refletem a qualidade do processo. Desse modo,
defende o uso de ambos, tanto de forma metodológica, quanto política, para que não haja
interferências e equívocos em suas interpretações e, consequentemente, nas ações formais
escolarizadas.
Para a autora, a alfabetização não representa a aprendizagem de um código em que a
criança precisa memorizar as relações entre letras e som, mas envolve a compreensão da escrita
com a sua notação e representação em um processo que integra a alfabetização ao letramento
em uma ação educativa. Essa ação educativa vem sendo denominada por Soares (2020) de
Alfaletrar, que não restringe a alfabetização a uma questão de método (como ensinar), mas sim
a uma ação estruturada que busca compreender como a criança aprende a língua escrita, apoiada
por diferentes contribuições de várias ciências linguísticas e psicológicas.
A autora ressalta os princípios fundamentais do Alfaletrar: a continuidade no processo
de ensino, o que se obtém por meio da definição clara dos objetivos e das metas para cada ano
do ciclo, mantendo a nitidez do caminho a ser percorrido pela criança, em que habilidades e os
conhecimentos são construídos de forma progressiva; e a integração entre os componentes do
processo de alfabetização e letramento, o que garante que os professores saibam o que foi ou
deveria ter sido trabalhado no ano anterior e, no ano subsequente, interagindo com os demais.
Qualidade no processo de alfabetização, portanto, inclui compreensão do que deve ser
ensinado em cada etapa do ciclo. Entretanto, apesar de a autora tratar da dimensão social desse
processo por meio do letramento integrado a alfabetização, acreditamos que para a formação
integral da criança, outros aspectos precisam ser considerados e sistematizados de forma
explicita, tais como a integração mais objetiva e direta de outras áreas do conhecimento nos
processos de leitura e escrita, como já foi ressaltado.
Isso pode ser observado no levantamento sobre a concepção de alfabetização nas
pesquisas, em que encontramos 11 dos 60 trabalhos com um sentido amplo da alfabetização
envolvendo o letramento com uso mais abrangente de outros conhecimentos; 9 pesquisas com
foco na alfabetização matemática, partindo das políticas de avaliação externa, tais como a
Provinha Brasil e a ANA, e do PNAIC, por serem políticas que incidem não apenas sobre a
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Língua Portuguesa, mas também a matemática (MINDIATE, 2015; SPERRHAKE, 2016;
PORTELA, 2016; MOURA, 2014; PELLATIERI, 2013; SOUZA, 2016; COSTA, 2016;
SOUSA, 2014; SALLES, 2016); e localizamos apenas 2 trabalhos que envolviam outras formas
de letramento, nas áreas de tecnologia e na de saúde bucal (ABREU, 2014; IGDAL, 2016).
Apesar dessas pesquisas tratarem de outros tipos de letramento, não encontramos dados
que abordam a alfabetização e o letramento de forma articulada entre as diversas áreas do saber,
ou seja, as pesquisas tratam de outros letramentos no processo de alfabetização, mas não de
forma integrada. Esse dado pode revelar a escassez de políticas de alfabetização que orientem
de forma explícita e sistemática o trabalho articulado entre as diversas áreas do saber. Podemos
citar o PNAIC, como uma possibilidade de tratar esse aspecto, o que não foi destacado nas
pesquisas levantadas.
Outra questão que nos chamou a atenção foi que, dos 60 trabalhos, 18 não apresentam
um debate teórico reflexivo sobre a concepção de alfabetização e/ou letramento, apresentando
apenas a descrição da política investigada. Como nos afirmam Ferraro (2014), Rivero (2002) e
Unesco (2009), a alfabetização envolve aspectos que vão além de métodos e técnicas
relacionados a um campo de saber específico, pois está relacionada a questões sociais e políticas
mais amplas, como a desigualdade e a falta de garantia pelo Estado de uma alfabetização de
qualidade para todos.
Em contrapartida, encontramos apenas 2 trabalhos que apresentavam um sentido restrito
da alfabetização com base em métodos (GONÇALVES, 2015; MIZIARA, 2014), o que indica
um aspecto positivo, pois as pesquisas voltadas para a alfabetização estão mais coerentes com
estudos que indicam um novo olhar sobre todo esse processo.
Analisamos de forma mais específica alguns trabalhos, como uma amostra das políticas
investigadas. Dentre essas, Santos (2012) delimita como objetivo geral, um estudo de caso do
Programa Pacto com os Municípios: Todos pela Escola, que se configura numa parceria do
Estado da Bahia com os municípios para alfabetizar as crianças das redes públicas até oito anos
de idade e extinguir o analfabetismo. Para tal, foi realizado um estudo comparativo em três
programas: o Programa Pacto com os Municípios de Juazeiro, o Programa de Intervenção
Pedagógica de Minas Gerais e o Programa de Alfabetização na Idade Certa do Ceará. Esta
autora apresenta concepção relacionada aos múltiplos letramentos, como algo necessário à
contemporaneidade, referentes ao letramento digital, tecnológico e comunicacional, aspecto de
suma importância como contribuição para a reflexão sobre as políticas de alfabetização.
Entretanto, a autora não se detém nessas definições apresentando como foco de sua análise a
concepção de alfabetização como letramento, ou seja, como processo de leitura e escrita imerso
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nas práticas sociais.
Nunes (2013) analisou a política de alfabetização no município de Dourados/MS a partir
da apreciação do BIA - Bloco Inicial de Alfabetização, com foco nas questões relacionadas a
alfabetização e letramento, tomando como base as definições apresentadas pelo documento
nacional do Ensino Fundamental de Nove Anos e por meio do documento da política municipal
de Dourados/MS do BIA.
Além dessas pesquisas, Mélo (2015), Miranda (2016) e Lima (2016) examinam o
PNAIC, sendo que Mélo (2015) analisa a articulação entre as proposições expressas no PNAIC,
com relação à formação continuada do professor e as propostas iniciais dos cursos de Pedagogia
das universidades públicas da Paraíba. As concepções de alfabetização expostas nos textos são
embasadas por meio das reflexões teóricas apresentadas por Magda Soares com foco na
alfabetização e letramento. Nas pesquisas de Miranda (2016) e Lima (2016), observamos um
interesse de estudo em aspectos de gestão, sejam eles a gestão em nível municipal e estadual,
por meio do regime de colaboração ou da significância da gestão no processo de alfabetização.
Miranda (2016) se propõe a analisar qualitativamente a constituição histórica do
processo de implantação e desenvolvimento do Programa Pacto pela Educação no contexto do
Estado da Bahia e a materialidade do regime de colaboração. O trabalho menciona as noções
de alfabetização como letramento e a alfabetização matemática que devem ser garantidas às
crianças, mas, apesar do esforço na análise documental, ela não expõe de forma reflexiva uma
concepção de alfabetização própria.
Lima (2016), diferente de Miranda (2016), traz uma posição explicita sobre o
entendimento de alfabetização na perspectiva da política pública educacional e da gestão
escolar. Esclarece que a alfabetização envolve aprendizagens de conteúdos relacionados à vida
e à convivência social e, desse modo, a autora analisa a concepção de qualidade educacional
evidenciada para a gestão do processo alfabetizador no espaço local, decorrente de
normatizações, propostas teóricas e práticas presentes em duas grandes ações da política
educacional brasileira: o Plano de Ações Articuladas (PAR) e o Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa (PNAIC).
A concepção de qualidade identificada pela autora, indica que existe uma prioridade nos
aspectos quantitativos, decorrentes do Índice de Desenvolvimento da Educação, da Provinha
Brasil e da Avaliação Nacional da Alfabetização, e acrescenta indicativos tais como a formação
docente e dos profissionais que compõem a escola, as práticas pedagógicas e de avaliação, as
propostas curriculares, a escolha do livro didático, as metodologias específicas para a
alfabetização, o tempo para assistência individual/coletiva aos alunos que apresentam
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Pollyanna Nunes de OLIVEIRA e Alice Miriam Happ BOTLER
Rev. Educação e Fronteiras,
Dourados, v. 11, n. esp. 1, e021013, 2021. e-ISSN: 2237-258X
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dificuldade de aprendizagem, a infraestrutura da escola, a diversidade e acessibilidade de
materiais pedagógicos que, segundo a autora, são aspectos que se integram ao que é definido
no PAR e no PNAIC. Corroborando com essa concepção, Silva, Conrado e Luz (2011)
ressaltam a necessidade de uma articulação entre os dados quantitativos, expressos nos
indicadores e metas, com os objetivos, os meios e os recursos para a obtenção da qualidade no
campo educacional.
Como podemos observar, os artigos, dissertações e teses selecionados tomando como
eixo as palavras-chave política pública e alfabetização trazem a concepção de alfabetização
como letramento, apoiados nas definições de programas e políticas que abordam a concepção
proposta especialmente por Magda Soares. Concordamos com os autores quando articulam suas
pesquisas aos conceitos apresentados pela autora, por ser uma referência no campo da
alfabetização. Alertamos, entretanto, para a necessária ampliação no olhar sobre o conceito,
relacionando outras dimensões da alfabetização, pois a mesma não se restringe ao ensino da
leitura e da escrita. Além disso, as pesquisas estão muito atreladas ao macro campo da política
educacional e não apresentam como objeto de análise a micropolítica, ou seja, aquilo que ocorre
na prática escolar como um todo integrando os diversos sujeitos da educação.
Políticas de alfabetização com olhar sobre o microcampo
Observamos nas pesquisas examinadas que autores como Mortatti (2010, 2014), Rivero
(2002), Bordignon (2015), Weisz (2002), entre outros, investigam a alfabetização nas políticas
públicas do Brasil, como processo complexo e primordial para a formação integral do ser
humano. Entretanto, os sentidos impostos às políticas educacionais podem revelar propósitos
ligados ao neoliberalismo com foco na produtividade, eficiência e eficácia com vistas a atingir
metas e índices desconectados do contexto real (ALBUQUERQUE, 2014).
Segundo Mortatti (2010), a alfabetização envolve questões pedagógicas teóricas e
práticas, bem como questões políticas, relacionadas aos direitos e deveres, direito de todo
cidadão ter acesso a alfabetização quando criança e dever do Estado em garantir acesso e
permanência. Assim, além dos campos teórico, didático e metodológico, relaciona as tensões e
disputas que perpassam as políticas de alfabetização como resposta aos grandes índices de
reprovação e abandono, e aponta para as mudanças na prática pedagógica no Brasil desde os
anos 1980.
Uma abordagem preventiva contra o analfabetismo de jovens e adultos, conforme
Rivero (2002), seria também indicação de que não bastam investimentos apenas em leitura e
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escrita, mas as políticas devem focar questões que envolvam processos de ensino de leitura,
escrita e cálculo, qualificação docente, atenção nesse processo especifica para crianças com
necessidades especiais, bem como a inclusão da família no processo de alfabetização das
crianças, dentre outros, ou seja, lança um olhar de valorização das especificidades locais.
Vislumbramos tal abordagem a partir de 2012, quando o MEC passa a apresentar tal
visão mais ampla da alfabetização, que envolve elementos que vão além da aquisição do
Sistema de Escrita alfabética, buscando garantir uma formação integral da criança que estará
mais capacitada com diversas ferramentas para ser um cidadão mais ativo e crítico na sociedade.
O termo Alfabetização pode ser entendido em dois sentidos principais. Em um
sentido stricto, alfabetização seria o processo de apropriação do sistema de
escrita alfabético. Para que o indivíduo se torne autônomo nas atividades de
leitura e escrita, ele precisa compreender os princípios que constituem o
sistema alfabético, realizar reflexões acerca das relações sonoras e gráficas
das palavras, reconhecer e automatizar as correspondências som-grafia...O
aprendiz precisa avançar rumo a uma alfabetização em sentido lato, a qual
supõe não somente a aprendizagem do sistema de escrita, mas também os
conhecimentos sobre as práticas, usos e funções da leitura e da escrita, o que
implica o trabalho com todas as áreas curriculares e em todo o processo do
Ciclo de Alfabetização. Dessa forma, a alfabetização em sentido lato se
relaciona ao processo de letramento envolvendo as vivências culturais mais
amplas (BRASIL, 2012, p. 27).
Desse modo, percebemos que os processos, as políticas e as ações pensadas e executadas
com o foco na alfabetização, seja de crianças ou de adultos, envolvem também aspectos
políticos, sociais, culturais e históricos, que não podem ser restritos apenas ao campo da
Linguagem, com a aquisição da leitura e da escrita, abrangendo outras áreas do conhecimento
que podem se integrar de forma harmônica com o ensino da leitura e da escrita na alfabetização
de crianças, como um meio de possibilitar a ampliação de vivências diversas no âmbito escolar,
tal como anunciam (WESTY, 2002; RIVERO, 2002; FERRARO, 2009, 2014). Dentre esses
componentes temos a alfabetização matemática e a alfabetização cientifica, alfabetização ligada
a Saúde e ao uso de tecnologias, que se complementam às práticas de leitura e de escrita.
A alfabetização matemática é examinada por Mindiate (2015), que toma o PNAIC e
focaliza a alfabetização de crianças com idade entre seis e oito anos, especificamente a
alfabetização matemática na perspectiva do letramento. Ela se refere a Danyluk (1993) e Lopes
(2014), que incluem na alfabetização as primeiras noções da Linguagem Matemática. O termo
alfabetização Matemática para Danyluk (1993), foi adotado para se referir ao ensino e
aprendizagem da leitura e da escrita do texto matemático, por meio de sua interpretação e
compreensão.
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Fonseca (2014) inclui o campo da Matemática na concepção de alfabetização,
relacionada aos contextos da vida cotidiana e real da criança, tanto dentro da escola quanto fora
dela. Chassot (2003) e Pereira dos Santos (2007) nos ajudam a pensar no processo de
alfabetização cientifica como um meio para a inclusão social, dentro de um contexto de prática
social que faça sentido para o cidadão como autor de sua história. Estes trabalhos tocam
diretamente aspectos do microcosmo da escola.
Segundo Chassot (2003), a alfabetização cientifica é “o conjunto de conhecimentos que
facilitariam aos homens e mulheres fazer uma leitura do mundo onde vivem” (p. 94). A leitura
de mundo na perspectiva cientifica possibilita a cada cidadão agir no mundo, transformá-lo para
uma melhor qualidade de vida dentro de determinada coletividade numa abordagem
transformadora, de modo a potencializar o sentimento de pertencimento ao mundo e
responsabilidade por suas mudanças, sejam elas positivas ou negativas.
Pereira dos Santos (2007) entende que a alfabetização cientifica envolve aspectos
importantes para a vida e que devem ser vivenciados de modo teórico e prático para resolver
situações problemas do nosso dia a dia. Esse ponto levantado é muito importante quando
pensamos na qualidade da alfabetização das crianças, que envolva um ensino mais amplo e
diversificado.
Considerações finais
O artigo procurou mostrar concepções diversas presentes nas políticas de alfabetização
que, como visto, apontam ora para abordagens macro políticas, ora focalizam o âmbito da vida
cotidiana do aluno.
Observa-se, claramente, certa preocupação formal-legal com a democratização do
acesso à escolarização, ao mesmo tempo em que denotam que tais políticas não representaram
real alcance da alfabetização para todos, apesar de o Estado ter fomentado ações voltadas para
a escolarização básica da população como resposta às pressões de setores econômicos e ao
capitalismo.
A manutenção de desigualdades sociais, com elevados níveis de pobreza, representa um
entrave para o fortalecimento de uma sociedade mais justa e igual e é dentro deste contexto que
devemos pensar o “ideal” em termos de políticas de alfabetização que se destinem
a um
resultado efetivo. Concluímos, assim, que o sentido da alfabetização atrelado ao letramento no
uso das questões da língua materna, nos parece ser predominante nas pesquisas analisadas, ao
mesmo tempo em que poucos trabalhos apresentaram um olhar mais amplo envolvendo outros
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componentes curriculares de forma integrada, bem como uma visão mais política da
alfabetização, que foca nas mudanças sociais da população. Autores como Soares (2003) e Leal
(2015) ressaltam a importância do ensino da leitura e da escrita articulado com outras áreas do
saber.
Além desse aspecto, observamos que a grande maioria das pesquisas apresentam como
foco o professor e a formação continuada como sendo o diferencial para a busca da qualidade
da alfabetização. Entretanto, defendemos a ampliação deste foco, com vistas a incluir
efetivamente a responsabilidade de outros atores no processo e na qualificação da alfabetização
das crianças, dentro do ciclo de alfabetização.
Com isso, enfatizamos que as políticas de alfabetização, na sua formulação e
implementação, precisam ampliar e rever o foco das suas ações, relacionando e
responsabilizando de forma colaborativa todos os atores educacionais que compõem a escola,
tais como coordenadores, gestores, alunos, pais, entre outros. Defendemos que no micro campo
em que a política incide diretamente, há reverberação de sentidos e ampliação de
responsabilidades, integrando os diferentes atores e fatores que envolvem o ato de ensinar e
aprender.
Para a efetivação das políticas de alfabetização com qualidade para todos até os 8 anos
de idade, a análise e a interpretação dos acontecimentos que envolvem a micropolítica, ou seja,
o âmbito local, se torna um diferencial. Ball, Maguire e Braun (2016) contribuem com o debate
neste sentido, uma vez que ap
resentam a noção de “encenação das políticas”, termo usado para
especificar que os sujeitos da prática têm fundamental importância, uma vez que é na escola
que as políticas ganham forma.
Conclui-se, desta forma, que a democratização da aquisição da linguagem por parte dos
estudantes, além de ser uma questão teórica, de método ou técnica, é relativa ao âmbito local,
espaço complexo que envolve diversos atores, formas e processos, que potencializam a escolha
criativa de diferentes caminhos que permitem a qualificação dos processos educativos e,
particularmente, de alfabetização.
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Sobre as autoras
Pollyanna Nunes de OLIVEIRA
Mestre e Doutoranda na UFPE.
Alice Miriam Happ BOTLER
Doutora em Sociologia, Professora da UFPE (PPGE).
Processamento e edição: Editora Ibero-Americana de Educação.
Correção, formatação, normalização e tradução.
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CONCEPTIONS OF LITERACY IN EDUCATIONAL POLICY RESEARCH
CONCEPÇÕES DE ALFABETIZAÇÃO NAS PESQUISAS EM POLÍTICAS
EDUCACIONAIS
CONCEPCIONES DE ALFABETIZACIÓN EM LA INVESTIGACIÓN SOBRE
POLÍTICAS EDUCATIVAS
Pollyanna Nunes de OLIVEIRA
Federal University of Pernambuco
e-mail: pollyoliveira84@hotmail.com
Alice Miriam Happ BOTLER
Federal University of Pernambuco
e-mail: alicebotler@gmail.com
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OLIVEIRA, P. N. de.; BOTLER, A. M. H. Conceptions of literacy in educational policy
research.
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ABSTRACT
:
The article analyses literacy policies in the Brazilian context. Through a
bibliographic study, we surveyed the research regarding the different conceptions of literacy
present in educational policies focused on this theme. Such conception indicates the path to be
followed for the realization of its main objective: the language acquisition by all children aged
up to 8 years old. It is concluded that the democratization of language acquisition by students,
in addition to being theoretical, method or technical issue, is related to the local scope, a
complex space that involves several actors, forms and processes, which enhance the creative
choice of different paths that allow the qualification of educational processes and, particularly,
of literacy.
KEYWORDS
: Educational policy. Literacy. Micropolitics.
RESUMO
:
O artigo analisa políticas de alfabetização no contexto brasileiro. Por meio de
estudo bibliográfico, levantou-se as pesquisas a respeito das distintas concepções de
alfabetização presentes nas políticas educacionais voltadas para este tema. Tal
concepçãoindica o caminho a ser per corrido para a efetivação do seu objetivo principal: a
aquisiçãoda linguagem por parte da totalidade de crianças na faixa etária até os 8 anos de
idade. Conclui-se que a democratização da aquisição da linguagem por parte dos estudantes,
além de ser uma questão teórica, de método ou técnica, é relativa ao âmbito local,
espaçocomplexo que envolve diversos atores, formas e processos, que potencializam a escolha
criativa de diferentes caminhos que permitem a qualificação dos processos educativos
e,particularmente, de alfabetização.
PALAVRAS-CHAVE
:
Política educacional. Alfabetização. Micropolítica.
RESUMEN
:
El artículo analiza las políticas de alfabetización em el contexto brasileño. A
través de um estúdio bibliográfico, se planteó la investigación sobre las diferentesconcepciones
de alfabetización encontradas em las políticas educativas centradas em estetema. Tal
Concepción indica el caminho a seguir para la realización de su principal objetivo: el la
adquisición del linguaje por parte de todos los ninõs hasta los 8 años. Se conclui que la
democratización de la qdquisición del lenguaje por parte de los estudiantes, además de ser
uma cuestión teórica, metodológica o técnica, está relacionada com el ámbito local, um espacio
complejo que involucra a variados actores, formas y processos,que potencian la elección
creativa de diferentes caminhos que permitan la calificación delos processos educativos y, em
particular, de la alfabetización.
PALABRAS CLAVE
:
Política educativa. Alfabetización. Micropolítica.
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Conceptions of literacy in educational policy research
Rev. Educação e Fronteiras,
Dourados, v. 11, n. esp. 1, e021013, 2021. e-ISSN: 2237-258X
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Introduction
Analyzing the history of education in Brazil, we can observe that the educational policy
focused on primary education in the years equivalent to what we know today as a literacy cycle
suffered several internal influences, according to the interests and needs of the State
(ROMANELLI, 2005; VIEIRA; FARIAS, 2007; SAVIANI, 2005; SCAFF; OLIVEIRA;
BRITO, 2018). Marcilio (2016) clarifies that a look at history helps us understand the current
situation of literacy in the face of the delay in its results, and Ferraro (2014) problematizes the
state debt situation, in relation to the guarantee of literacy as a right of all. Alves, Alves and
Fernandes (2014) point to the need to look at the educational management model, which marked
the historical path of educational policies from a managerial vision, which emphasizes
economic rationality, productivity and competitiveness, opening paths for participation in an
individualistic, control and supervisory perspective.
In the colonial period, state action aimed to combat the advance of Protestantism and
maintain the submissive native population and, only in the Constitution of 1824, the right of all
elementary education was decreed, which would support the creation of primary schools and
gymnasiums in each province. The state's commitment, however, involved few efforts to raise
human and financial resources to enforce this policy.
According to Marcilio (2016), there is the construction of few primary schools and a
low enrollment of the population in the imperial period. The teaching of reading, writing and
arithmetic was done in an integrated and simultaneous way, one of the positive points of the
time. As for the materials to be used by the teacher, the ABC Letters, the Syllable Letters and
Calligraphy were offered, and as a teaching method, spelling and memorization prevailed, with
a focus on individual teaching, in which the teacher gave general instructions to each student,
while the others remained silent in the classroom. There was, therefore, no national guideline
to guide teaching, and teachers worked individually and based on a traditional approach. Law
5.692/71 was promulgated with the purpose of generating changes in the organization of
teaching of 1st and 2nd grades. Among the most specific policies for children's literacy, we
have the cycle policy, which emerged in Brazil in the 1970s, with the objective of reducing
disapproval and school dropout, in a more systematic way. Marcilio (2016) clarifies that in this
period not only policies, but literacy methods were implemented, among which we have the
cycles of studies with automatic approval and the focus on student learning, which began to be
considered spontaneously and autonomously.
For Souza Silva (2017) the cycle policy should imply a set of changes in school
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Pollyanna Nunes de OLIVEIRA and Alice Miriam Happ BOTLER
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practices, but it was characterized as controversy for incorporating, in addition to pedagogical
discourse, the marketing. The pedagogical evidenced the overcoming of disapproval and school
dropout through the progressive monitoring of the student in an expanded time frame, and the
market focused on reducing educational expenses, with the reduction of retention, through the
idea of automatic promotion. The author explains that the evaluation becomes the key to the
difference, because it must exist in a constant and varied way, but it must be planned and
thought respecting the individual rhythms, with the greatest time for the realization of the
learning of a given knowledge.
These aspects help to understand the complex web of educational policies aimed at
literacy, but we take our gaze in this article on the contribution of such policies to the quality
of literacy. It is understood that a longer time for learning tied to the clear specification of goals
and objectives for each year that contemplates the so-called literacy cycle, in a country with
such social inequalities as Brazil, may favor the construction of collective projects within the
school and consolidate itself as a differential for the educational system.
Thus, the policy of organizing cycles, within the field of literacy, is understood and
interpreted in each epoch and context, and may or may not be an ally in daily school life, to
achieve the goal of literacy all children in the initial period of schooling. Thus, we began to
explore the conceptions of literacy present in the policies, from the survey of the literature on
this, according to the following.
Literacy conceptions in research involving educational policies
We analyzed the conceptions of literacy adopted in policies based on theses and
dissertations published since 2010, because it is a period in which there was an investment at
the national level in a more directed way to public policies aimed at children's literacy.
Magalhães (2014, p. 62, our translation) explains that "literacy is one of the most fruitful fields,
as a result of research and public debate".
We surveyed the Capes theses database using the descriptors public policy and literacy.
In the first exploratory search, we selected the first thousand works, which directly relate the
theme in question. As our goal was not to exhaust all the research involving this theme, but to
identify the conceptions of literacy present in current research involving educational policies
focused on literacy, we identified, in the selected studies those that presented an integrated
discussion between literacy and public policy. With this search, we found 12 theses and 50
dissertations, which comprised our research corpus.
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Conceptions of literacy in educational policy research
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According to Chart 1, we noticed that some theses and dissertations focus on research
involving public policies focused on the literacy cycle at the national level, such as the PNAIC
(National Literacy Pact at the Right Age), the ANA (National Assessment for Literacy) and
Provinha Brasil. Other research takes policies at the state and municipal levels, such as the
Literacy Pact in the Right Age (PAIC), in Ceará and at the municipal level the Initial Literacy
Block in Dourados / MS, the Pedagogical Block of Literacy in Juiz de Fora, as well as the
municipal and state external evaluations that in the researches integrate with those of the
national level. We also found research involving educational policies related to broader topics,
such as new technologies, such as PROINFO and health issues such as the School Health
Program
–
PSE.
Table 1
- Types of public policies focused on literacy most investigated in theses and
dissertations - period 2010-2018
Policy type
National/State/Municipal
Launch year
Quantity
PNAIC
National
2012
17
External evaluations
Nacional - Provinha Brasil
2008
12
National - ANA
2012
4
National and Municipal - several
Between 2008 and 2012
4
PAIC
State
2004
4
General educational
policies focused on
literacy
Municipal
Several
14
National - PROINFO
1997
1
National - PSE
2007
1
9-year elementary
school
National
2005
1
Curricular Proposals
Municipal
several
2
Source: Survey of the literature conducted by the author at the Capes Thesis Bank
Table 1 denotes the emphasis of research involving educational literacy policies, which
has as object of study the national policy of the PNAIC and external evaluation policies. Such
choices are justified by the relevance of these policies in the field of literacy. However, we
observed that the object of study of the researches was limited primarily by the specific areas
of knowledge of language, mostly, and mathematics, in some cases. Since most of the studies
explore the PNAIC as a central educational policy for literacy and for the importance on the
national scene, we will briefly address this policy.
This Program is a formal commitment made by the federal governments, the Federal
District, states and municipalities to ensure that all children are literate up to eight years of age,
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at the end of the 3rd year of elementary school and gains the participation of most municipalities
in Brazil from 2013 (BRASIL, 2012). According to Leal (2015), the Pact for Literacy is the
program with the largest scope of the Federal Government in the current context.
The PNAIC, according to Aranda, Viédes and Lins (2018), was consolidated as a
national educational policy through a single agreement, which involved all federal entities in
the search for the guarantee and quality of the child's literacy process. The authors treat quality
as the responsibility of the State.
It is observed that the objectives are focused on the quality of children's
literacy, in view of the aim of ensuring the reduction of the deficit in literacy
and literacy, reducing the age-grade distortion in basic education, improving
the IDEB, improving training, also aims to collaborate in the construction of
proposals aimed at the right to learning, the development of the child, as well
as the length of the school journey. The discourse involves actions aimed at
children, their learning rights, productivity indexes, teachers, schools and
programs (ARANDA; VIÉDES; LINS, 2018, p. 46, our translation).
The criticism regarding the quality of the literacy process is to have left out the school
direction in the training processes, because they understand that it would be able to contribute
to the choices and management of training.
Leal (2015) analyzes the PNAIC documents to discuss the curricular proposals for the
teaching of Portuguese language and highlights some important aspects that make up this
program, among which we will highlight those that we believe are relevant for the expansion
of the conception of quality in literacy.
The universal and singular aspects appear in an interconnected way, and the universal
is related to the struggle for literacy as a right for all, expressed through the definition of general
learning rights, but also recognizes the need to take into account the local context of the school
and the classroom, valuing the uniqueness of each community. Another point is the exploration
of the social character of literacy, which contributes to the formation of social values and
attitudes, through the learning of reading, writing, speech and listening, which are significant
for life. The author also points out that literacy has been widely conceived in official documents,
because it integrates the components of various areas of knowledge to the teaching of the
alphabetic base.
The broad conception of literacy, involving literacy with the more comprehensive use
of other knowledge, seems extremely important to us when dealing with the quality of literacy.
By designing literacy as a broad process that is not limited only to the teaching of reading and
writing and, in a way restricted to the area of language, we argue that its teaching can and should
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be related and integrated to the various areas of knowledge and that it should be systematically
expressed in the various materials that are produced for guidance or training of the literacy
teacher.
Leal (2015) points out that in the PNAIC documents the relationship with other areas of
knowledge has been treated transversally in some training notebooks of the literacy teacher. In
this regard, Morais (2018) also argues that teaching in the Portuguese language area should be
prioritized in the day-to-day classroom and in the school routine, but should be tied to the other
curricular components.
However, what draws our attention is the way this broad conception of literacy has been
addressed in the various literacy policies that directly affect the teaching practice. We
understand that systematic articulation with other areas is a means of ensuring that children
have access to maximum knowledge for the construction of citizenship and full education. As
an example, when dealing with the theme of the environment in the classroom, the teacher can,
with the debate and experience, develop an environmental awareness, dealing in a planned way
with the specific principles related to the Alphabetical Writing System proposing the expansion
of knowledge with reading and writing.
At this moment, we began to analyze the conceptions of literacy presented by the 62
studies we have raised. We performed a previous examination of abstracts and abstracts in order
to identify specific topics about literacy conceptions.
Regarding the conception of broad literacy involving literacy in the mother tongue, we
located 29 out of 60 papers, which fit this category (DIAS, 2015; GIARDINI, 2016;
CARDOSO, 2015; LIMA, 2016; SANTOS, 2012; SILVA, 2013; among others).
Most of the research supports his theoretical discussion in the work of Magda Soares
(2003, 2004, 2020) which defends the process of literacy immersed in the daily life of the
student and the broader social practices related to the process of reading and writing. This is
justified by being an author who stands out in the production on the subject, since 2007 she has
been developing a literacy project, entitled "Alfaletrar", in partnership with the Department of
Education of the Municipality of Lagoa Santa, which has become a national reference on
literacy.
Soares (2003) differentiates the use of literacy and literacy in Brazil, from the theoretical
and practical perspective of skills and competencies related to the acquisition of reading and
writing. For the author, literacy involves learning an extremely important technique for the
process of reading and writing acquisition.
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Pollyanna Nunes de OLIVEIRA and Alice Miriam Happ BOTLER
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I call writing technique, because learning to read and write involves relating
sounds with letters, phonemes with graphemes, to encode or to decode. It also
involves learning to hold a pencil, learning to write from top to bottom and
from left to right (SOARES, 2004, p. 15, our translation).
Thus, literacy in the teaching and learning process cannot be apprehended
spontaneously, because, as a technique, it involves different and complex specificities that need
to be acquired by children. But with the emergence of the term "literacy", more related to the
use of this technique in social contexts, systematization was dissociated from the act of literacy,
and led to the contempt for teaching the principles of the writing system, which involves the
literacy process. This phenomenon was critically named by Soares (2003, 2004) as "the
disinvention
of literacy".
At the same time that the term literacy emerges, incorporating or even replacing the
aspects inherent to the literacy process, another perspective was presented, through the
constructivist paradigm, having as main representative Emilia Blacksmith, referring to the
psychogenesis of written language, in which the focus is no longer restricted (code) and begins
to think about representation.
1
In addition to these questions, Soares (2003, 2004) points out that, with the studies of
Emília Ferreiro, many scholars interpreted the teaching of the writing and spelling system
erroneously, as something spontaneous of the child's nature and, therefore, without the need for
systematization in the formal schooling process, which led to high rates of school failure during
the process. In the 2016 National Literacy Assessment (ANA) about 54.7% of children in the
third year of elementary school presented insufficient levels of skills involving reading, writing
and interpretation of small texts (SOARES, 2020).
For the author, the efforts to overcome this condition, throughout history, have been in
relation to the choice of methods to be literate, with a constant alternation between different
proposals that, in general, has been restricting the concept of literacy, without taking into
account its multiple facets. It also states that in Brazil the pendulum is now on the side of
literacy, or on the literacy side. This conception is very dangerous for the impacts of practices
that occur in the classroom and that reflect the quality of the process. Thus, it defends the use
of both methodologically and politically, so that there are no interferences and
misunderstandings in their interpretations and, consequently, in formal actions.
1
It refers to the stages of development of writing by the child since preschool, which goes from an initial phase
called pre-sylabic, in which it does not realize that the letters represent the sounds, for the intermediate phase,
called sylabic, in which the child writes a letter for each syllable, initially without sound value and later with sound
value. And finally comes the alphabetical phase, which marks the beginning of understanding the alphabetic
principles. See Ferreiro and Teberosky (1984).
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For the author, literacy does not represent the learning of a code in which the child needs
to memorize the relations between letters and sound, but involves the understanding of writing
with its notation and representation in a process that integrates literacy with literacy in an
educational action. This educational action has been called by Soares (2020) alfaletrar, who
does not restrict literacy to a question of method (how to teach), but rather to a structured action
that seeks to understand how the child learns the written language, supported by different
contributions of various linguistic and psychological sciences.
The author emphasizes the fundamental principles of Alphaliteracy: continuity in the
teaching process, which is obtained through the clear definition of the objectives and goals for
each year of the cycle, maintaining the sharpness of the path to be traveled by the child, in
which skills and knowledge are progressively constructed; and the integration between the
components of the literacy and literacy process, which ensures that teachers know what was or
should have been worked on in the previous year and, in the following year, interacting with
others.
Quality in the literacy process therefore includes understanding what should be taught
at each stage of the cycle. However, although the author treats the social dimension of this
process through literacy integrated literacy, we believe that for the integral education of the
child, other aspects need to be considered and systematized in an explicit way, such as the more
objective and direct integration of other areas of knowledge in the processes of reading and
writing, as has already been emphasized.
This can be observed in the survey on the conception of literacy in research, in which
we found 11 of the 60 studies with a broad sense of literacy involving literacy with more
comprehensive use of other knowledge; 9 researches focused on mathematical literacy, starting
from external evaluation policies, such as Provinha Brasil and ANA, and PNAIC, because they
are policies that focus not only on the Portuguese language, but also on mathematics
(MINDIATE, 2015; SPERRHAKE, 2016; PORTELA, 2016; MOURA, 2014; PELLATIERI,
2013; SOUZA, 2016; COSTA, 2016; SOUSA, 2014; SALLES, 2016); and we located only 2
studies involving other forms of literacy, in the areas of technology and oral health (ABREU,
2014; IGDAL, 2016).
Although these studies deal with other types of literacy, we did not find data that address
literacy and literacy in an articulated way between the various areas of knowledge, that is, the
research deals with other literacies in the literacy process, but not in an integrated way. This
data may reveal the scarcity of literacy policies that explicitly and systematically guide the work
articulated among the various areas of knowledge. We can mention the PNAIC as a possibility
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Pollyanna Nunes de OLIVEIRA and Alice Miriam Happ BOTLER
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to treat this aspect, which was not highlighted in the researches raised.
Another issue that caught our attention was that, of the 60 papers, 18 do not present a
reflexive theoretical debate on the conception of literacy and/or literacy, presenting only the
description of the policy investigated. As Ferraro (2014), Rivero (2002) and UNESCO (2009)
tell us, literacy involves aspects that go beyond methods and techniques related to a specific
field of knowledge, as it is related to broader social and political issues, such as inequality and
the lack of guarantee by the State of quality literacy for all.
On the other hand, we found only 2 studies that presented a restricted sense of literacy
based on methods (GONÇALVES, 2015; MIZIARA, 2014), which indicates a positive aspect,
because literacy research is more coherent with studies that indicate a new look at this whole
process.
We analyze in a more specific way some studies, such as a sample of the policies
investigated. Among these, Santos (2012) delimits as a general objective, a case study of the
Pact with the Municipalities Program: All for the School, which is configured in a partnership
of the State of Bahia with the municipalities to literate children from public networks up to
eight years of age and extinguish illiteracy. To this end, a comparative study was conducted in
three programs: the Pact with the Municipalities of Juazeiro Program, the Pedagogical
Intervention Program of Minas Gerais and the Literacy Program in the Right Age of Ceará.
This author presents a conception related to multiple literacies, as something necessary for
contemporaneity, referring to digital, technological and communication literacy, an aspect of
paramount importance as a contribution to the reflection on literacy policies. However, the
author does not stop at these definitions, presenting as the focus of her analysis the conception
of literacy as literacy, that is, as a process of reading and writing immersed in social practices.
Nunes (2013) analyzed the literacy policy in the municipality of Dourados/MS from the
appreciation of BIA - Initial Literacy Block, focusing on issues related to literacy and literacy,
based on the definitions presented by the national document of the Nine Years Elementary
School and through the document of the municipal policy of Dourados/MS of BIA.
In addition to these studies, Mélo (2015), Miranda (2016) and Lima (2016) examine the
PNAIC, and Mélo (2015) analyzes the articulation between the propositions expressed in the
PNAIC, in relation to the continuing education of the teacher and the initial proposals of
pedagogy courses of public universities in Paraíba. The conceptions of literacy exposed in the
texts are based on the theoretical reflections presented by Magda Soares with a focus on literacy
and literacy. In the studies of Miranda (2016) and Lima (2016), we observed a study interest in
management aspects, be they management at the municipal and state level, through the
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Conceptions of literacy in educational policy research
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collaboration regime or the significance of management in the literacy process.
Miranda (2016) proposes to qualitatively analyze the historical constitution of the
process of implementation and development of the Pact for Education Program in the context
of the State of Bahia and the materiality of the collaboration regime. The paper mentions the
notions of literacy as literacy and mathematical literacy that should be guaranteed to children,
but despite the effort in documentary analysis, it does not reflexively expose a conception of
literacy of its own.
Lima (2016), different from Miranda (2016), provides an explicit position on the
understanding of literacy from the perspective of public education policy and school
management. It clarifies that literacy involves learning content related to life and social
coexistence and, thus, the author analyzes the conception of educational quality evidenced for
the management of the literacy process in the local space, resulting from norms, theoretical
proposals and practices present in two major actions of Brazilian educational policy: the Plan
of Articulated Actions (PAR) and the National Pact for Literacy in the Right Age (PNAIC).
The concept of quality identified by the author indicates that there is a priority in the
quantitative aspects, resulting from the Education Development Index, Provinha Brasil and the
National Literacy Assessment, and adds indications such as teacher training and the
professionals who make up the school, pedagogical and evaluation practices, curriculum
proposals, the choice of textbook, the specific methodologies for literacy, the time for
individual/collective assistance to students with learning difficulties, the school's infrastructure,
the diversity and accessibility of pedagogical materials that, according to the author, are aspects
that integrate with what is defined in the PAR and the PNAIC. Corroborating this conception,
Silva, Conrado and Luz (2011) highlight the need for an articulation between quantitative data,
expressed in indicators and goals, with the objectives, means and resources to obtain quality in
the educational field.
As we can observe, the selected articles, dissertations and theses taking as its axis the
keywords public policy and literacy bring the concept of literacy as literacy, supported by the
definitions of programs and policies that address the conception proposed especially by Magda
Soares. We agree with the authors when they articulate their research to the concepts presented
by the author, because it is a reference in the field of literacy. We warn, however, for the
necessary expansion in the view of the concept, relating other dimensions of literacy, because
it is not restricted to the teaching of reading and writing. Moreover, the research esis is very
close to the macro field of educational policy and does not present micropolitics as an object of
analysis, that is, what occurs in school practice as a whole integrating the various subjects of
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education.
Literacy policies with a look at the microcampus
We observed in the researches that authors such as Mortatti (2010, 2014), Rivero (2002),
Bordignon (2015), Weisz (2002), among others, investigate literacy in public policies in Brazil,
as a complex and primordial process for the integral formation of the human being. However,
the meanings imposed on educational policies can reveal purposes related to neoliberalism with
a focus on productivity, efficiency and effectiveness in order to achieve goals and indexes
disconnected from the real context (ALBUQUERQUE, 2014).
According to Mortatti (2010), literacy involves theoretical and practical pedagogical
issues, as well as political issues related to rights and duties, the right of every citizen to have
access to literacy as a child and the duty of the State to ensure access and permanence. Thus, in
addition to the theoretical, didactic and methodological fields, it relates the tensions and
disputes that permeate literacy policies as a response to the great rates of disapproval and
abandonment, and points to changes in pedagogical practice in Brazil since the 1980s.
A preventive approach against illiteracy of young people and adults, according to Rivero
(2002), would also be an indication that investments are not enough only in reading and writing,
but policies should focus on issues involving teaching processes of reading, writing and
calculation, teacher qualification, attention in this process specifies for children with special
needs, as well as the inclusion of the family in the process of literacy of children, among others,
that is, it takes a look at valuing local specificities.
We envision this approach from 2012, when the MEC begins to present such a broader
view of literacy, which involves elements that go beyond the acquisition of the Alphabetical
Writing System, seeking to ensure an integral education of the child who will be more trained
with several tools to be a more active and critical citizen in society.
The term Literacy can be understood in two main directions. In a strict sense,
literacy would be the process of appropriation of the alphabetic writing
system. For the individual to become autonomous in reading and writing
activities, he needs to understand the principles that constitute the alphabetic
system, to make reflections about the sound and graphic relationships of
words, to recognize and automate sound-spelling correspondences... The
learner needs to move towards a literacy in a broad sense, which supposes not
only the learning of the writing system, but also the knowledge about the
practices, uses and functions of reading and writing, which implies working
with all curricular areas and throughout the process of the Literacy Cycle.
Thus, literacy in the broad sense is related to the literacy process involving the
broader cultural experiences (BRASIL, 2012, p. 27, our translation).
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Conceptions of literacy in educational policy research
Rev. Educação e Fronteiras,
Dourados, v. 11, n. esp. 1, e021013, 2021. e-ISSN: 2237-258X
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Thus, we realize that the processes, policies and actions thought and implemented with
a focus on literacy, whether children or adults, also involve political, social, cultural and
historical aspects, which cannot be restricted only to the field of Language, with the acquisition
of reading and writing, covering other areas of knowledge that can integrate harmoniously with
the teaching of reading and writing in the literacy of children, as a means of enabling the
expansion of diverse experiences in the school environment, as they announce (WESTY, 2002;
RIVERO, 2002; FERRARO, 2009, 2014). Among these components we have mathematical
literacy and scientific literacy, health-related literacy and the use of technologies, which
complement reading and writing practices.
Mathematical literacy is examined by Mindiate (2015), who takes the PNAIC and
focuses on the literacy of children aged between six and eight years, specifically mathematical
literacy from the perspective of literacy. It refers to Danyluk (1993) and Lopes (2014), which
include in literacy the first notions of Mathematical Language. The term literacy Mathematics
for Danyluk (1993) was adopted to refer to the teaching and learning of reading and writing of
mathematical text, through its interpretation and understanding.
Fonseca (2014) includes the field of Mathematics in the conception of literacy, related
to the contexts of the child's daily and real life, both within the school and outside it. Chassot
(2003) and Pereira dos Santos (2007) help us to think of the process of scientific literacy as a
means for social inclusion, within a context of social practice that makes sense to the citizen as
the author of his history. These works directly touch aspects of the school's microcosm.
According to Chassot (2003), scientific literacy is "the set of knowledge that would
make it easier for men and women to read the world in which they live" (p. 94). The reading of
the world from the scientific perspective enables each citizen to act in the world, transform it
to a better quality of life within a given collectivity in a transformative approach, in order to
enhance the feeling of belonging to the world and responsibility for its changes, whether
positive or negative.
Pereira dos Santos (2007) understands that scientific literacy involves important aspects
for life and that they must be experienced in a theoretical and practical way to solve our daily
problems. This point is very important when we think about the quality of children's literacy,
which involves a broader and more diverse teaching.
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Pollyanna Nunes de OLIVEIRA and Alice Miriam Happ BOTLER
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Final considerations
The article sought to show several conceptions present in literacy policies that, as seen,
point now to macro-political approaches, and now focus on the scope of the student's daily life.
There is clearly a certain formal-legal concern with the democratization of access to
schooling, while denoting that such policies did not represent a real reach of literacy for all,
although the State has promoted actions aimed at the basic schooling of the population in
response to the pressures of economic sectors and capitalism.
The maintenance of social inequalities, with high levels of poverty, represents an
obstacle to the strengthening of a more just and equal society and it is within this context that
we must think of the "ideal" in terms of literacy policies that are for an effective result. Thus,
we conclude that the meaning of literacy tied to literacy in the use of mother tongue issues
seems to us to be predominant in the analyzed researches, while few studies presented a broader
view involving other curricular components in an integrated way, as well as a more political
view of literacy, which focuses on the social changes of the population. Authors such as Soares
(2003) and Leal (2015) emphasize the importance of teaching reading and writing articulated
with other areas of knowledge.
In addition to this aspect, we observed that the vast majority of studies focus on the
teacher and continuing education as the differential for the search for the quality of literacy.
However, we advocate the expansion of this focus, with a view to effectively including the
responsibility of other actors in the process and in the qualification of children's literacy, within
the literacy cycle.
Thus, we emphasize that literacy policies, in their formulation and implementation, need
to broaden and review the focus of their actions, collaboratively relating and blaming all the
educational actors that make up the school, such as coordinators, managers, students, parents,
among others. We argue that in the micro field in which politics directly affects, there is
reverberation of meanings and expansion of responsibilities, integrating the different actors and
factors that involve the act of teaching and learning.
For the implementation of quality literacy policies for all up to 8 years of age, the
analysis and interpretation of events involving micropolitics, that is, the local scope, becomes
a differential. Ball, Maguire and Braun (2016) contribute to the debate in this sense, since they
present the notion of "policy staging", a term used to specify that the subjects of practice have
fundamental importance, since it is in school that policies take shape.
Thus, it is concluded that the democratization of language acquisition by students,
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besides being a theoretical, method or technical issue, is related to the local scope, a complex
space that involves various actors, forms and processes, which enhance the creative choice of
different paths that allow the qualification of educational processes and, particularly, literacy.
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About the authors
Pollyanna Nunes of OLIVEIRA
Master and PhD at UFPE.
Alice Miriam Happ BOTLER
PhD in Sociology, Professor at UFPE (PPGE).
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Correction, formatting, normalization and translation.