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Rev. Educação e Fronteiras
,
Dourados, v. 10, n. 00, e021002, 2021. e-ISSN: 2237-258X
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A PRESENÇA DO PROFESSOR LEIGO NO ESTADO DE SÃO PAULO
LA PRESENCIA DEL MAESTRO LAICO ENEL ESTADO DE SÃO PAULO
THE PRESENCE OF THE LAY TEACHER IN THE STATE OF SÃO PAULO
Geraldo Sabino Ricardo FILHO
Universidade Estadual Paulista
e-mail
:
gesari@uol.com.br
Noely Costa Dias GARCIA
Universidade Estadual Paulista
e-mail
:
noelycdgarcia@terra.com.br
Como referenciar este artigo
FILHO, G. S. R.; GARCIA, N. C. D. A presença do professor leigo no estado de São Paulo.
Revista Educação e Fronteiras
, Dourados, v. 10, n. 00, e021002, 2021. e-ISSN: 2237-258X.
DOI: https://doi.org/10.30612/eduf.v11i00.16457
Submet
ido em
: 13/12/2020
Revisões requeridas em
: 05/01/2021
Aprovado em
: 20/02/2021
Publicado em
: 01/03/
2021
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Geraldo Sabino Ricardo FILHO e Noely Costa Dias GARCIA
GARCIA
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RESUMO:
Esse artigo analisa a ideia de professor leigo no estado de São Paulo, como parte
das reflexões da História da Profissão Docente, fundamentando-se no âmbito da história da
educação, tomando-se por base os trabalhos pretéritos que consolidaram tais pesquisas. O
estudo está calcado no exame das Leis e Decretos educacionais aprovados durante a República
Velha (1889-1930). Os resultados alcançados indicaram a presença do professor leigo no ensino
primário do estado de São Paulo, configurando uma realidade das escolas rurais brasileiras, cuja
maioria era organizada no formato multisseriado, regida por um único professor, a rigor, uma
professora que, por sua forma de atuação, revelava a precariedade dessa profissão e uma questão
de gênero na feminilização do magistério.
PALAVRAS-CHAVE:
Professor leigo. Escola rural. Profissão docente.
RESUMEN:
Este artículo analiza la idea de un profesor laico en el estado de São Paulo, como
parte de las reflexiones de la Historia de la Profesión Docente, basada en el alcance de la
historia de la educación, en base a los trabajos pasados que consolidaron dicha investigación.
El estudio se basa en el examen de leyes y decretos educativos aprobados durante la Antigua
República (1889-1930). Los resultados obtenidos indican la presencia del maestro laico en la
educación primaria del Estado de São Paulo, configurando una realidad de las escuelas
rurales brasileñas, siendo, en su mayoría, organizadas en el formato multigrado, gobernado
por un maestro, estrictamente hablando, un maestro cuya forma de desempeño reveló La
precariedad de esta profesión y una cuestión de género en la feminización de la enseñanza.
PALABRAS CLAVE:
Profesor laico. Escuela rural. Profesión docente.
ABSTRACT:
This article analyzes the idea of a lay professor in the state of São Paulo, as part
of the reflections of the History of the Teaching Profession, based on the scope of the history of
education, based on the past works that consolidated such research. The study is based on the
examination of educational laws and decrees approved during the Old Republic (1889-1930).
The results achieved indicate the presence of the lay teacher in the primary education of the
State of São Paulo, configuring a reality of the Brazilian rural schools, being, in the majority,
organized in the multi-grade format, governed by a teacher, strictly speaking, a teacher whose
form of performance revealed the precariousness of this profession and a gender issue in the
feminization of teaching.
KEYWORDS:
Lay teacher. Rural school. Teaching profession.
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A presença do professor leigo no estado de São Paulo
Rev. Educação e Fronteiras
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Introdução
Nesse artigo, analisamos o professor leigo no estado de São Paulo, como parte da
problemática da profissão docente, sendo, portanto, tributário das pesquisas sobre a História da
Educação, cuja riqueza qualitativa e quantitativa denota um campo já consolidado, consoante
ao conceito engendrado por Pierre Bourdieu (1983).
O escopo aqui é refletirmos acerca do profissional da educação, chamado pela alcunha
de “leigo”, explicitando as razões de sua presença incômoda e persistente nas escolas. Além da
ambiguidade de sua regulamentação pelo Estado, esse docente enfrentava também a
instabilidade da função, decorrente de sua ocupação provisória no exercício do magistério.
O estudo está calcado no exame das Leis e Decretos educacionais aprovados durante a
República Velha (1889-1930).Os resultados alcançados indicaram a presença do professor leigo
no ensino primário do estado de São Paulo, configurando uma realidade das escolas brasileiras,
as quais, na sua maioria, eram organizadas no formato multisseriado, regidas por um professor,
a rigor, uma professora, cuja forma de atuação revelava a precariedade dessa profissão e uma
questão de gênero na feminilização do magistério.
Na concepção defendida por Ferreira e Carvalho (2011), as escolas denominadas de
multisseriada eram constituídas por um professor que ministrava o ensino elementar a um grupo
de alunos de níveis ou estágios diferenciados de aprendizagem em uma mesma sala. Essas
escolas localizavam-se, em grande parte, nas zonas rurais, especialmente em comunidades
afastadas das sedes dos municípios
1
e, muitas vezes, funcionavam em diversos tipos de prédios,
como bem ressalta Cardoso (2013), desde salas minúsculas até locais que haviam sido utilizados
para galinheiro, podendo ser regidas por professores leigos.
O alcance de sua atuação remete à própria história da educação no Brasil, donde a
expressão “leigo” pode estar ligada à ausência do diploma reconhecido para o magistério, ou
em oposição ao ensino ministrado por religiosos, substituídos pelas aulas régias no período do
Marquês de Pombal (1750-1777). A vacância de professores habilitados, decorrente da
expulsão dos jesuítas da Colônia do Brasil (1759), agravou uma situação já precária de
escolarização, mormente pífia de alfabetização (CARVALHO, 1978; ANDRADE, 1978;
FONSECA, 2010).
1
No estado de São Paulo, durante a República Velha (1889-1930), diversas leis e decretos alteraram o
organograma do ensino primário, organizado, de acordo com o estudo de Costa (1983), nas seguintes
nomenclaturas: Escola Modelo, Grupos Escolares, Escolas Urbanas, Escolas Reunidas, Escolas Noturnas, Escolas
Ambulantes e Escolas Rurais. Sem embargo, é preciso enfatizar que tais denominações passaram por mudanças
no período em tela.
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Geraldo Sabino Ricardo FILHO e Noely Costa Dias GARCIA
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A solução para organizar as escolas de primeiras letras foi nomear professores
improvisados, posto que sem competência para tal ofício, mas utilizados e tolerados pelas
administrações em virtude da escassez de mestres diplomados. Essa situação percorreu toda a
história do Brasil, desde a Colônia, até os estertores do século XX, podendo inferir que a
escolarização da população levou séculos para ser superada e em muitas regiões ainda
prevalecem as deletérias medidas dos governos.
Entretanto, a literatura examinada sobre o professor leigo, apesar de ser fecunda,
apresenta características temporais distintas do presente trabalho, encontrando temas, entre
outros, como: a avaliação de programas, exames estatísticos do percentual de professores não
habilitados, aspectos de formação complementar. Trata-se de estudos circunscritos aos períodos
em que as políticas educacionais procuraram mitigar essas mazelas das escolas brasileiras,
sobretudo a partir da década de 1970
2
, mas com resultados precários, conforme as análises dos
pesquisadores.
Com base nessas reflexões, organizamos este artigo com a seguinte estrutura: na
pri
meira parte expomos brevemente o contexto do processo histórico no Brasil, no qual
demonstramos como a educação passou a ser normatizada pelo regime republicano,
apresentando as formas de organização do estado de São Paulo sob o federalismo, já que a Carta
Constitucional de 1891 atribuiu às unidades da União a responsabilidade pelo ensino primário;
na segunda parte apresentamos as formas de institucionalização do professor leigo em São
Paulo, resultantes do exame da documentação, demonstrando as injunções políticas próprias do
patrimonialismo brasileiro e, na terceira parte, discutimos como o professor leigo fez parte de
um projeto de escolarização e da precariedade das escolas isoladas, mormente no mundo rural.
O processo de escolarização republicana no estado de São Paulo
Desacordo com uma expressão atribuída a Aristide Lobo, no advento da República, o
povo assistiu à cena “bestializado” (CARVALHO, 1991, p. 9). Seja pelo Golpe Militar imposto
seja pela rápida conversão de monarquistas à causa vencedora, o “Antigo Regime” foi negado
pelos pretéritos defensores, agora legais representantes de uma anunciada modernização do
Brasil rumo à civilização. O Processo constituinte seguiu seu trâmite, em que pese às
2
Há uma miríade de estudos sobre o professor leigo no Brasil, a lista aqui, sem pretender ser exaustiva, arrola as
seguintes publicações: Luz
et al.
(1988), Garcia
et al.
(1991), Dreifuss e Souza (1986), Cenafor (1984).
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turbulências políticas nas ruas desferidas pelo povo
3
e sobejamente reprimida, ademais, com as
censuras dos defensores de Pedro II, como Eduardo Prado e o Visconde de Ouro Preto
4
.
O Regime Federalista triunfou na Carta Magna de 1891, caracterizando uma República
Liberal em torno das prerrogativas dos Estados, fazendo do poder Central a unidade nacional,
mas conferindo aos seus membros um grau de autonomia acentuado, estadualizando o poder,
conforme analisa Silveira (1978), sobretudo pelo apanágio de arrecadação das exportações,
favorecendo as economias mais dinâmicas e pujantes, como São Paulo, Minas Gerais e em
menor medida, o Rio Grande do Sul, embora a condição desse último tenha se alterado nas
primeiras décadas do século XX (LOVE, 1982, 1975).
A escolarização republicana recebeu um tratamento distinto do r
egime deposto, pois
não foi consagrada na Carta Magna como preceito obrigatório do ensino primário, tal como sua
predecessora estipulou. Não obstante, a responsabilização da educação primária e secundária
ficou sob os auspícios dos Estados, de acordo com suas respectivas Constituições.
No estado de São Paulo, dada sua opulenta economia (SALLUM JR., 1982; DEAN,
1971; LOVE, 1982) realizaram-se reformas na Educação atendendo às necessidades prementes
de modernização, cujo sentido, orientado por suas elites, preconizava inserir o Brasil no mundo
civilizado. Assim, as transformações urbanas, gradativamente, passaram a ser uma tarefa do
médico e do engenheiro. Malgrado o bacharel em Direito ainda fosse o político, as decisões de
Governo passaram a conviver de forma mais sistemática com a profilaxia ditada pela ciência,
classificando a sociedade, definindo padrões de higiene e as respectivas taxionomias dos grupos
sociais.
A assertiva de Euclides da Cunha (2001, p. 157) sintetizou o ideário de eugenia social
dos primórdios da República: “Estamos condenados à civilização ou progredimos, ou
desapareceremos”. O que fazer com o sertanejo, uma sub-raça na expressão desse autor? Muitos
republicanos acreditavam na ideologia do branqueamento como solução para o Brasil entrar no
mundo civilizado e os imigrantes eram a panaceia contra o atraso e a melhor opção para as
lavouras de café.
3
Aqui fazemos uma remissão importante quanto à expressão “povo”. Não se trata de um uso genérico imprudente,
mas uma classificação política polissêmica com graves contornos ideológicos para enquadrar grupos sociais que
estejam à margem da cidadania.
4
Eduardo Prado, oriundo da oligarquia paulista, embora não tivesse uma atuação política efetiva durante a
monarquia, foi perseguido pelos republicanos, tendo seu livro
A ilusão americana
(PRADO, 1961), apreendido na
gráfica pela polícia, bem como outras retaliações como o empastelamento do
Jornal Comércio
, por ele adquirido.
O Visconde de Ouro Preto (que liderou o último Gabinete da monarquia) publicou, juntamente com outros
intelectuais, uma contundente análise da primeira década republicana (OURO PRETO
et al.
, 1986). É preciso
lembrarmos que a Guerra de Canudos foi associada na época como uma conspiração monárquica, e seu líder,
Antônio Conselheiro, acusado com o mesmo epíteto (BARTELT, 2009).
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Sob esse prisma, a escolarização passou a plasmar os esforços de educar o cidadão da
República. Não na dimensão da cidadania, mas como componente da subordinação às classes
dominantes e à ordem vigente. Ao caboclo e ao imigrante, a escola deveria contribuir para a
unidade linguística e moral. Assim, os trabalhos para impor preceitos de higiene, valores morais
e instruir a população, contavam com ações para debelar as doenças e epidemias que pudessem
refrear a entrada de imigrantes no Brasil. Contudo, uma vez aqui instalados, eles deveriam ser
integrados à sociedade mediante a instrução pública.
As políticas governamentais, acompanhando as mensagens presidenciais
5
, voltaram-se
para o saneamento de muitas regiões, combatendo as epidemias recorrentes na Primeira
República, como a Febre amarela, a Malária, além da Gripe espanhola e as problemáticas do
Tifo, bem como a construção de casas (lazaretos) para isolamento de pessoas contaminadas.
A economia cafeeira crescia vertiginosamente, sofrendo, sem embargo, com as
oscilações do preço desse produto no mercado mundial, encetando medidas reguladoras como
a preservação artificial dos preços mediante as políticas de valorização do café
6
, encampadas
pelo estado de São Paulo, mas reivindicando que o Governo Federal assumisse as dívidas
contraídas (DELFIM NETTO, 2009; HOLLOWAY, 1978; LOVE, 1975, 1982).
A modernização de São Paulo, revelada especialmente com a expansão dos trilhos
ferroviários, consolidou a ocupação do sertão,
hinterland
convertido em fazendas de café à
custa do massacre de índios, dos assassinatos de posseiros e, sobretudo, da grilagem de terras.
A urbanização com e apesar dos trilhos alterou a composição de grupos sociais dominantes com
segmentos de imigrantes de diversas nacionalidades, cuja ascensão social pode ser medida em
propriedades fundiárias, criação de indústrias e ocupação de espaços em setores intelectuais
(MICELI, 2001).
Os efeitos da modernização engendraram mudanças drásticas nos grupos sociais com
valores tradicionais, em especial com a economia de mercado resultando, na acepção de Weber
(2005), no “desencantamento do mundo”, processo por meio do qual esses grupos são,
paulatinamente, inseridos em relações impessoais do capitalismo. É também o processo de
afirmação do Estado, ao normatizar as práticas, todas elas secularizadas, reconhecendo a
existência civil e política dos indivíduos (Diplomas, Documentos de Identificação, título de
5
Analisamos as mensagens dos governadores (denominados Presidentes durante a República Velha) dirigidas
ao Congresso paulista, que era bicameral no período em tela, encontrando repetidas menções às medidas
sanitárias levadas a cabo no Estado.
6
As operações valorizadoras ocorreram em 1906, 1917, 1918, 1921, 1924, conforme estudo clássico de Delfim
Netto (2009).
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eleitor, impostos, etc.), que só têm efeito na legalidade das normas do poder. Ser cidadão, nessa
perspectiva, é saber ler, escrever e contar para ser reconhecido como eleitor, lembrando que as
mulheres estavam elididas desse direito, a despeito da Constituição de 1891 não explicitar tal
proibição.
O paradoxo republicano foi sintomático, especialmente com a persistência de problemas
sociais que a modernização não dirimia, seja em virtude do descaso a que essas populações
estavam submetidas, seja pela precariedade da escolarização em muitas regiões do estado de
São Paulo. Desse modo, os investimentos em educação permitiram ampliar o número de
escolas, grupos escolares, escolas secundárias (Escolas Normais), escolas técnicas e Instituições
de ensino superior (Faculdade Politécnica). Embora a base da economia fosse agrícola, o ideário
de uma escola rural foi pautado por diferenças curriculares quando comparado àquelas
localizadas em centros urbanos.
Nessa perspectiva, Souza e Ávila (2014, p. 15) esclarecem que havia uma diferenciação
entre escolas urbanas e rurais,
[...] hierarquizando-as e corroborando as representações negativas ao meio
rural, considerando inferior em relação ao nível de civilização e progresso
verificado nos núcleos urbanos e com necessidades menores de escolarização.
Dessa maneira, nas escolas primárias rurais consolidou-se um curso primário
de menor duração, dois a três anos, quando nas escolas urbanas eram quatro
anos, com programas mais simplificados e os salários dos professores menores
do que os dos professores das escolas isoladas urbanas.
A instituição escolar foi organizada de forma diacrônica. Ao mesmo tempo que
suntuosos prédios eram construídos como expressão da civilização e modernização republicana,
havia também as mazelas docentes que vinham acompanhadas da precarização material, já que
muitos prédios eram adaptados, alugados e com mobiliário em descompasso com a necessidade
dos educandos, além dos encargos da professora em relação à merenda escolar e funções
burocráticas previstas no funcionamento da unidade de ensino.
Em relação à política, a alfabetização era uma busca necessária para as pretensões
eleitorais do Estado, daí o investimento em educação para ampliar a participação nos pleitos,
contudo, o aumento de votantes não se coadunava com as demandas existentes entre, de um
lado, as regiões mais urbanizadas e com maiores regalias de infraestrutura e, do outro, a
fronteira móvel da expansão cafeeira, cuja estrada de ferro era, sem embargo, a única alternativa
de transporte para o docente nomeado em localidades de difícil acesso, como as escolas
ambulantes definidas pela Lei nº. 88 de 1892 (SÃO PAULO, 1892).
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O docente não habilitado foi uma presença constante no corpo do magistério paulista,
no período em tela analisado, já que era admitido legalmente na legislação. O que chama a
atenção no processo de constituição de uma rede escolar em São Paulo é a afirmação
peremptória de concurso público para o ingresso no magistério ou, o que resulta na mesma
situação, a equiparação ou complementação de habilitação de docentes que fizeram seus cursos
sob a égide, ainda, das normas monárquicas.
É preciso considerarmos o espaço geográfico ou
hinterland,
ou numa linguagem menos
anglófona, o sertão paulista, desbravado pelas plantações de café, e interligado pelas vias
férreas, processo que acompanhou não de forma sincrônica, a expansão da escolarização desse
Estado, mas permite, em nível analítico, refletirmos sobre a persistência do professor leigo nas
escolas, com causas que não são, a rigor, apenas de demandas por vagas ou escassez de
professores formados, mas o resultado de múltiplos fatores que se estendem pela dualidade das
escolas criadas (rural e urbana), pelas reprovações generalizadas, cuja concepção de evadidos
utilizada pelas estatísticas oficiais não considerava os aspectos do represamento de alunos na
mesma série, gerando a falsa ideia da demanda por vagas e a construção e abertura de mais
escolas
7
.
Esse é um ponto importante nos aspectos da consolidação do Estado, organizado em
níveis consideráveis de racionalização, o que implica asseverar acerca do papel da estatística
como uma ciência de Estado. Os números, além de sua naturalização, adquirem a força de
realidade, já que sua mensuração é colimada à prática, consubstanciando um discurso
pedagógico, fazendo existir, pelo efeito da nomeação, um conjunto de categorias que, uma vez
oficializado pela aferição, é incorporado às narrativas pedagógicas, bem como às políticas
educacionais.
Havia a necessidade de o regime republicano, em sua vertente federalista, em
modernizar a sociedade mediante a expansão da escolarização, como já afirmamos acima,
explicitando o que significou a autonomia dos Estados: as oligarquias regionais passaram a
disputar o monopólio do poder por meio das eleições em nível estadual e municipal, cuja
hegemonia atingida reverteria no controle do Congresso Nacional e no executivo federal,
especialmente com a ascensão de Campos Salles (1898-1902) à presidência que, como defensor
intransigente do federalismo, impôs habilmente a Política dos Governadores (também
conhecida como Política do Café com Leite), da qual sua expressão mais latente era o controle
7
Em outro trabalho, discutimos a relação entre as estatísticas e a repetência nas escolas primárias.
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dos votos e dos eleitos, provocando uma depuração política de qualquer oposição, conforme
análises de Ricci e Zulini (2013) e Viscardi (2016).
Era a única forma de controlar todas as estruturas burocráticas de poder dentro do Estado
e por extensão, elaborar as leis que pudessem atender aos grupos aliados, bem como usar como
moeda de cooptação os cargos públicos disponíveis, entre eles, por exemplo: dirigentes,
inspetores, diretores e professores nas instituições existentes.
Com efeito, o cadinho cultural que engendrou as práticas clientelistas é antigo,
des
tacando o estudo pioneiro de Faoro (2001), tendo nessa esteira os estudos de Schwartzman
(1982a, 1982b) e Uricoechea (1978), embora este último o faça para o Estado Imperial. Próximo
a essa linha teórica, Carvalho (1991, 2003), autor de obras consistentes sobre o Império e a
República, mormente em seus momentos de transição, escreveu trabalhos que desnudaram
algumas vertentes historiográficas que buscavam atribuir ao “Antigo Regime” a pecha de
atrasado e escravocrata, sobretudo com dados estatísticos, comparando o efetivo de eleitores
durante o Império e, depois, com a declaração de sufrágio universal republicano.
A linha historiográfica, próxima às reflexões de Max Weber (2005), contribui para
pens
armos as ambiguidades do regime republicano, consagrado por uma Constituição de cariz
federativo. A política foi organizada por uma classe dirigente, formada durante os estertores da
monarquia, que reproduziu,
pari passu
, as práticas clientelísticas inerentes às oligarquias dos
Estados, denotando uma sociedade marginalizada, sob os efeitos do atraso econômico,
convivendo com baixos investimentos na escolarização, situação distinta de São Paulo, que
promoveu investimentos em saneamento básico e expansão da escolarização, apesar de taxas
de analfabetismo sérias no período em exame.
De acordo com o autor supracitado, a percentagem de eleitores sofreu redução durante
a República, quando a Carta Constitucional não contemplou o voto do analfabeto, impedido de
votar desde a aprovação, ainda na Monarquia, do Decreto nº 3.029, de 9 de janeiro de 1881(Lei
Saraiva), mas agravada pelas distorções do Federalismo durante a República Velha (1889-
1930), já que Estados mais pobres não tiveram o mesmo êxito em construir seus sistemas de
ensino de forma a atender à crescente demanda.
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Tabela 1 –
Participação de votantes nos pleitos presidenciais (1894-1930)
Candidato vencedor
Nº de votantes
(mil)
% de votantes sobre a
população
% dos votos do
vencedor sobre total de
votantes
Prudente de Morais (1894)
345
2,2
84,3
Campos Sales (1898)
462
2,7
90,9
Rodrigues Alves (1902)
645
3,4
91,7
Afonso Pena (1906)
294
1,4
97,9
Hermes da Fonseca (1910)
698
3,0
57,9
Venceslau Brás (1914)
580
2,4
91,6
Rodrigues Alves (1918)
390
1,5
99,1
Epitácio Pessoa (1919)
403
1,5
71,0
Artur Bernardes (1922)
833
2,9
56,0
Washington Luís (1926)
702
2,3
98,0
Júlio Prestes (1930)
1.890
5,6
57,7
Fonte: Adaptado de Ramos (1961, p. 32). Os dados de votantes para 1910 foram corrigidos de acordo
com: Ministério da Agricultura, Industria e Commercio (1914, p. 244-245
apud
CARVALHO, 2003, p.
103)
A participação nos pleitos presidenciais, conforme dados da Tabela 1, é um indicativo
da marginalização social e ausência de cidadania da maior parte da sociedade, lembrando que
essas taxas são apenas dos homens, visto que as mulheres não podiam votar. O Governo
republicano pouco fez para dirimir as altas taxas de analfabetismo, depreendendo que, mesmo
em São Paulo, Estado mais rico da federação, a escolarização comportou as mazelas da
formação docente, impondo pessoas leigas para lecionarem em escolas com parcos recursos
materiais, situação diuturna em muitos locais do Estado, especialmente nas regiões de fronteira
agrícola, mas também em espaços urbanos.
O professor leigo na legislação paulista da Primeira República
É sintomático que a legislação paulista não explicitasse as práticas patrimoniais de
forma ostensiva, o que não quer dizer que elas estivessem ausentes no período em estudo.
Contudo, para melhor demonstrarmos o intento desse artigo, qual seja a ideia de professor leigo
no estado de São Paulo procedemos ao esquadrinhamento de 115 documentos entre Leis,
Decretos-leis e Decretos. Malgrado os assuntos não fossem coesos em razão da multiplicidade
neles contidos, a taxionomia obtida permitiu-nos observar a racionalização administrativa que,
a rigor, atestava a preocupação com a escolarização da população, fiscalizando o funcionamento
das escolas, seja por meio dos Inspetores de ensino, seja também responsabilizando os
municípios e sua edilidade na aplicação dos preceitos normatizados.
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Quadro 1 –
Reformas educacionais no estado de São Paulo (1892-1929)
Tipo de
documento
Descrição Ano
Lei nº 88 Reforma a instrução pública do Estado 1892
Lei nº 95
Modifica as leis nº 88, de 8 de setembro de 1892, e nº 169, de 7 de agosto de
1893, e seus regulamentos
1894
Decreto
nº 383
Dá instruções para execução da Lei nº 430 de 1º de agosto deste ano 1896
Decreto
nº 518
Aprova e manda observar o regulamento para execução da Lei nº 520, de 26 de
agosto de 1897
1898
Lei nº 1.341 Reforma as escolas normais secundárias 1912
Decreto
nº 2.225
Manda observar a Consolidação das leis, decretos e decisões sobre o ensino
primário e as escolas normais.
1912
Lei nº 1.579 Estabelece diversas disposições sobre a Instrução Pública do Estado 1917
Lei nº 1.750 Reforma a Instrução Pública do Estado 1920
Decreto
nº 3.205
Regulamento para execução da Lei nº 1.710, de 27 de dezembro de 1919, que
dispõe sobre a organização do ensino
1920
Decreto
nº 3.356
Regulamenta a Lei nº 1.750, de 8 de dezembro de 1920, que reforma a Instrução
Pública
1921
Lei nº 2.095
Aprova o Decreto nº 3.858, de 11 de junho de 1925, expedido pelo Poder
Executivo, e que reformou a Instrução Pública do Estado
1925
Decreto
nº 4.101
Regulamenta a Lei nº 2.095, de 24 de dezembro de 1925, que, aprovando, com
modificações, o Decreto nº 3.858, de 11 de junho de 1925, reforma a Instrução
Pública do Estado
1926
Lei nº 2.393 Estabelece várias medidas com relação à Instrução Pública do Estado 1929
Decreto
nº 4.600
Regulamenta as Leis nº 2.269, de 31 de dezembro de 1927, e nº 2.315, de 31 de
dezembro de 1928, que reformaram a Instrução Pública do Estado
1929
Fonte: Elaborado pelos autores com base nas Leis e Decretos do Estado de São Paulo entre 1892-1929
As legislações atinentes às reformas, mormente as mais abrangentes, estão arroladas no
Quadro 1, acima. Verificamos que a extensão reguladora do Estado atendeu à política de
escolarização da população de São Paulo, cobrindo todas as regiões, desde seu litoral até as
zonas pioneiras da fronteira agrícola, onde o café e as linhas férreas, em muitos casos, foram
vitais para o florescimento das cidades. A Divisão de São Paulo
8
não se prendeu tanto por
critérios geográficos ou administrativos, mas pela forma de ocupação demográfica e pelo
desenvolvimento econômico com seu corolário fator de urbanização.
Com efeito, não havia na Constituição estadual de 1891, em relação à instrução pública,
nenhuma normatização, todavia, nas Disposições Transitórias dessa mesma Carta foi
8
De acordo com Love (1982), São Paulo apresentava 10 regiões, nomeadas de acordo com sua ocupação histórica:
1- Zona da Capital, 2- Zona do Vale do Paraíba, 3- Zona Central, 4- Zona Mogiana, 5- Zona da Baixa Paulista, 6-
Zona Araraquarense, 7- Zona da Alta Paulista, 8- Zona da Alta Sorocabana, 9- Zona da Baixa Sorocabana, 10-
Zona Litoral Sul.
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Geraldo Sabino Ricardo FILHO e Noely Costa Dias GARCIA
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estabelecido que a organização do ensino, na forma da Lei, deveria ser posteriormente
regulamentada, sendo atributo do Congresso legislativo (bicameral) e do executivo estadual.
A primeira Lei do ensino, promulgada no período republicano em São Paulo (Lei nº 88,
de 1892) organizou o ensino público, que foi dividido em ensino primário, ensino secundário e
ensino superior. As nomenclaturas das escolas primárias foram alteradas entrementes 1892 a
1930, seguindo critérios de jurisdição em razão da mobilidade demográfica das zonas de
expansão agrícola, do florescimento de cidades no interior, a criação de colônias agrícolas, bem
como o uso de mão-de-obra de imigrantes na lavoura de café em franca ascensão.
Em 1912 foi publicada, por determinação do Governo Estadual
9
, uma consolidação das
Leis, Decretos e Decisões atinentes à Instrução Pública, com efeito, uma compilação primorosa
das normatizações educacionais, abrangendo o ensino primário e secundário no Estado.
Por meio dessa publicação é possível observarmos o quão detalhado estava a educação,
atingindo os aspectos de funcionamento burocrático do funcionalismo público, estipulando as
competências das instâncias estadual e municipal, bem como a carreira do magistério, a
classificação das escolas, a hierarquia das funções docentes e os programas de ensino a serem
seguidos. Cabe notarmos um dado importante acerca das normas aprovadas, que preconizavam
também, os programas de ensino, as disciplinas a serem ministradas, bem como o horário das
aulas e a forma como deveria acontecer as avaliações finais dos(das) educandos(as).
Destarte, as escolas primárias foram nomeadas inicialmente em preliminar e
complementar, mas desdobradas de acordo com sua localização em:
●
Escolas isoladas, diurnas e noturnas;
●
Escolas modelos isoladas;
●
Escola e cursos noturnos para adultos;
●
Escolas reunidas;
●
Jardim da infância;
●
Escolas modelos anexas às normais;
●
Grupos escolares (SÃO PAULO, 1912a).
Nesse sentido, estava previsto que os professores só poderiam ingressar no magistério
mediante a aprovação em concursos públicos, organizados por comissões devidamente
9
Decreto promulgado durante o Governo Manoel Joaquim de Albuquerque Lins, sendo Secretário do
Interior Altino Arantes.
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A presença do professor leigo no estado de São Paulo
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reconhecidas pela Secretaria do Interior, instância responsável em administrar o funcionamento
da instrução pública.
O ensino primário público foi definido como obrigatório para alunos de 7 a 12 anos,
mas limitado de tal maneira que, na prática, isentava o Governo de aumentar o número de
escolas e de professores, mesmo com a demanda inflacionada em virtude da reprovação e da
evasão.
Corroboram o argumento as disposições determinadas pelas Leis de instrução pública
do período, que passaram a dispensar a obrigatoriedade de matrículas de crianças que
residissem a dois quilômetros do local de estudo para meninos e um quilômetro no caso das
meninas. Do mesmo modo, o poder público não se responsabilizava pela escolarização das
crianças com deficiências física e mental, excluídas completamente de qualquer direito.
A definição dos critérios para a matrícula correspondia às estatísticas recebidas e
processadas pela Secretaria do Interior mediante informações prestadas pelos inspetores de
ensino, aduzindo a forma de organização das escolas, tais como sua criação ou extinção,
determinadas pela demanda, depreendendo uma preocupação com a racionalização do sistema,
mas sem esforços para combater as abstinências às aulas.
Para as escolas isoladas, a taxionomia comportava, além daquelas da capital, as unidades
escolares consideradas sedes de municípios do interior do Estado, desdobradas com base no
perímetro de jurisdição fiscal, em escolas de bairro e escolas de distrito de paz. Para estas
últimas, havia a designação de escolas rurais, estruturando em lei a conformação de um ensino
primário “aligeirado”.
Para solicitar a remoção para uma escola da capital ou para uma escola de sede de
município do interior do Estado, o professor concursado deveria, no primeiro caso, exercer o
magistério por dois anos numa escola de sede e, no segundo caso, prestar efetivo exercício de
um ano em escolas de bairro ou distrito de paz nas localidades do interior (SÃO PAULO,
1912a).
Mesmo com o interstício definido para a remoção de professores para a capital, não
havia provimento de cargos para muitas escolas isoladas do interior, mormente nas escolas
rurais, fato remediado por meio da legislação que dispensava o poder público de realizar
concursos para designação dessas vagas, tendo a prerrogativa de nomear professores em
qualquer época do ano letivo (SÃO PAULO, 1912a).
A nomeação, a rigor, recaía em professores não habilitados, cuja oficialização para o
exercício do magistério era atestada por uma comissão composta para esse fito, cujos membros
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eram escolhidos pelo Diretor Geral de instrução pública, com participação das câmaras
municipais, bem como agentes municipais credenciados, conforme determina o Artigo 1, § 3º,
da Lei 1.358 (SÃO PAULO, 1912b):
§ 3.º- Deferindo, o diretor geral da Instrução Publica mandará submeter a
exame o candidato e este deverá prestá-lo no município em que tiver da
leccionar, perante inspetor escolar estadual ou diretor de grupo escolar
designado, que convidará para com ele compor a comissão examinadora duas
pessoas de competência notória na localidade.
Os professores assim classificados eram, na verdade, os leigos que exerceriam o
magistério com vencimentos menores, quando comparados com os docentes efetivos,
convivendo com as incertezas do emprego, as ingerências dos coronéis e a precariedade
material do lugar.
Foi estabelecida uma diferença substancial na composição das escolas isoladas, na sua
acepção rural, a começar pela duração do curso. Enquanto nos grupos escolares, escolas
reunidas e aquelas anexas às escolas Normais os educandos recebiam educação formal por
quatro anos, com um currículo expandido e detalhado para cada ano do referido curso, as
escolas rurais padeciam da redução do curso primário em apenas dois anos, com um currículo
flexível e condensado, além de determinar que as matérias fossem ministradas com menor
exigência, conforme estipulava as leis que regulava a atuação do professor leigo, tal como a Lei
nº 1.358/12, assinada pelo Governador Rodrigues Alves:
Artigo 5.º- Para o curso a cargo dos professores provisórios, que não poderá
exceder de 3 anos, será organizado, dentro das linhas gerais dos programas
adoptados, um programa simplificado e accessível, sobretudo prático, que será
rigorosamente observado nas classes de ensino. (SÃO PAULO, 1912b).
Uma digressão importante está na reforma educacional de 1920, promovida por
Sampaio Dória (1883-1964), que tinha a pretensão de estender a alfabetização para todas as
crianças, padronizando as escolas primárias à duração de dois anos de estudos. O intuito,
polêmico em sua essência, tinha o desiderato de garantir o acesso à escolarização, aspiração
perseguida por educadores no Brasil durante todo o século XX (ANTUNHA, 1976).
A reforma obteve o aval do Governador à época, Washington Luís, com dotação
orçamentária que desdobrava em dois turnos as escolas, reduzindo para dois anos o curso
primário, a fim de alfabetizar todas as crianças em idade escolar. O malogro dessa política
educacional, conforme dados estatísticos daquele período, levou o mandato seguinte a suprimir
tal tentativa, revertendo à situação anterior.
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A presença do professor leigo no estado de São Paulo
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Embora durante a República Velha (1889-1930) muitos reformadores procedessem a
reformas importantes em muitos Estados, como Lourenço Filho, Anísio Teixeira, Fernando de
Azevedo, entre outros, as mazelas do analfabetismo continuavam como um problema social
preocupante, denunciado e combatido por uma crescente camada social de intelectuais
assertivos acerca do papel de uma escola pública no Brasil.
Mas essa luta em defesa de uma escola para todos esbarrava no clientelismo político e
nos interesses econômicos de um país agroexportador, tratando como solução sanitária os
investimentos em educação, promovendo ambiguidades no tipo de escola oferecido às camadas
populares, tendo na escola isolada a expressão de um arremedo de escola, conforme os
problemas que já apontamos anteriormente.
Um depoimento produzido por uma professora à época é sintomático dos problemas
para um professor normalista ingressar no magistério, em escolas isoladas, como é o caso do
Calvário de uma Professora
, livro publicado sob o pseudônimo de Doralice, álter ego de
Violeta Leme (1952), que narra sua trajetória como professora, as dificuldades com os diretores
escolares e supervisores e a recusa de receber benesses de um político para conseguir uma vaga
em escolas da Capital.
Sem embargo, a condição do professor leigo também era um calvário. Ele era uma peça
de xadrez no tabuleiro político, notadamente, um peão a ser movido conforme interesses
clientelísticos. Como podemos observar, no excerto a seguir, cronologicamente, o termo Leigo
foi cada vez mais utilizado na própria norma educacional, estipulando, até mesmo, os
rendimentos desse profissional. Não só pela diferença salarial e incerteza do emprego, é
importante destacarmos a dotação orçamentária para sua contratação.
Artigo 196. - Para os lugares afastados dos centros populosos e sem
comunicação por via férrea, poderão ser nomeados professores interinos,
habilitados em exame, uma vez que se verifique a impossibilidade de
provimento, por professores normalistas, das escolas ali existentes. (Art. 42
do Decreto 3858 de 11 de junho de 1925, aprovado pela lei 2095, de 24 de
dezembro de 1925).
§ único. - Dentre as escolas rurais nas condições deste artigo somente serão
preenchidas por professores interinos:
a) as de primeiro provimento que, no decorrer do ano letivo, não forem
requeridas por professores diplomados;
b) as de antigo provimento por professores efetivos, que se conservarem vagas
durante três anos consecutivos.
Artigo 197. - No caso do artigo anterior, far-se-á, por meio de edital, a
chamada de candidatos leigos, que quiserem submeter-se a exame. (SÃO
PAULO, 1926).
Artigo 10. - Nos casos de faltas eventuais de adjuntos de grupos escolares e
professores de escolas reunidas, poderá o diretor confiar a regência da classe
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a substituto ocasional, formado ou leigo, este na falta daquele, sendo o
pagamento devido pela substituição efetuado pela coletoria local,
independentemente de ordem especial, uma vez que as substituições constem
dos mapas mensais do estabelecimento, com indicação dos dias em que se
efetuarem e do nome do professor substituído. (SÃO PAULO, 1928, p. 2).
Artigo 109. - As escolas rurais serão providas livremente pelo Governo, em
qualquer época do ano, por professores normalistas ou a eles equiparados e
por leigos, que as requerem, de acordo com este regulamento. [...]
Artigo 134. - As escolas rurais, isoladas ou reunidas, que se conservarem
vagas dos mais de trinta dias, sem que professores diplomados as requeiram,
poderão ser providas interinamente por leigos, mediante exame de habilitação.
(SÃO PAULO, 1929).
Não só pela precarização de uma contratação de uma pessoa não habilitada para reger
uma sala de aula, muitas de caráter multisseriado, mas também o uso de uma nomenclatura que
deixava claro que se tratava de uma condição provisória. Não era o substituto ou o interino. Era
o leigo, um indivíduo aprovado perante uma banca de concurso organizada em condições
discutíveis, já que as nomeações ocorriam em qualquer época do ano letivo, constituindo-se
uma moeda de troca importante para as pretensões do PRP e o controle sobre os coronéis, ou
de uma forma mais objetiva, a ambiguidade da impessoalidade do Estado, já que muitos
governadores paulistas eram, a rigor, pertencentes a famílias de fazendeiros, como aposta Love
(1982) para o caso da família Rodrigues Alves, no vale do Paraíba.
Seja como for, ao fim e ao cabo, o professor leigo permaneceu atuando nas escolas
isoladas, sobretudo nas escolas rurais, mas o mais significativo é a naturalização, de fato de
uma prática já arraigada na experiência brasileira de escolarização.
Patrimonialismo e educação: o professor leigo
O estado de São Paulo, por meio de sua elite dirigente, era cônscio do poder político
que retinha. A geração republicana que governou o Estado, próceres formados à sombra da
academia de Direito influenciou nos rumos da política nacional até 1930.
Os acordos intraelites, consubstanciados na Política de Governadores foram, na verdade,
o avesso do federalismo preconizado pela Carta de 1891, já que as disputas oligárquicas
orbitavam em torno dos interesses dos Estados mais ricos e potencialmente fortes eleitoralmente
falando.
O fantasma da intervenção federal rondava os Estados, ao arrepio da lei, situação
diametralmente distinta do Rio Grande do Sul, cujas lideranças escreveram sua Constituição
sob a batuta de Júlio de Castilhos, impondo um legislativo meramente consultivo, causando
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guerras civis sangrentas e levando os adversários desse Estado ao exílio, com a conivência do
Congresso Nacional. Mas, apesar dessas ambiguidades políticas, seria o café o esteio que
garantia a hegemonia paulista?
Em parte, a resposta pode ser validada, porém a expensas do controle financeiro
internacional provocado pelas políticas de valorização do café. E nesse aspecto há duas
dimensões e um nó-górdio a serem colocadas aqui: a primeira encontra-se na intensificação
modernizadora do Estado, como as vias férreas e as vantagens daí decorridas. A segunda, por
sua vez, se expressa na dualidade de poderes na qual os municípios eram peças importantes na
hegemonia do Partido Republicano Paulista (PRP), tendo seus coronéis (LEAL, 1986) uma
função fiscalizadora, subordinados às decisões da capital, malgrado as dissensões políticas e as
tensões provocadas, mas arrefecidas pelo Governo.
Tratava-se da ambiguidade da política quando às voltas com a modernização do Estado.
A pressão entre a impessoalidade do poder público, o que implicava neutralizar os coronéis e o
mandonismo local, ou de uma forma mais incisiva, o patrimonialismo, cujo potencial de
transformar os interesses particulares em detrimento da coisa pública, grassava ao arrepio da
lei, praticado em muitas zonas do Estado onde havia uma escola oficial estadual, mas com um
diferencial: o recrutamento do professor leigo nas escolas rurais passava pelo controle
municipal.
A Revolução de 1930, por meio de seus protagonistas, colocou fim ao domínio político
caracterizado pela Política dos Governadores, para além do domínio “café com leite” de São
Paulo e Minas Gerais, reordenando o poder das oligarquias regionais que passaram, sem
embargo, a responder a um poder central, cujo paroxismo era personificado na figura de Getúlio
Vargas (1882-1954).
Vargas, de formação castilhista
10
, moldou o Brasil ao seu talante, colocando o Estado à
frente de todas as decisões econômicas, definiu as bases do funcionamento público, ou, numa
linguagem mais apropriada, a impessoalidade do poder, cujo paradoxo encontra-se na própria
figura desse político que, durante sua vida sempre tratou de construir uma imagem a ser
cultuada. A mais emblemática é uma de suas alcunhas como o “pai dos pobres” ou a figura de
proa do chamado populismo brasileiro.
10
O castilhismo remonta ao político Júlio de Castilhos (1860-1903), liderança republicana com forte atuação
como deputado da constituinte federal e formulador da Constituição (de inspiração positivista) do Rio Grande
do Sul, além de governador desse Estado. Sua forma de atuação política levou essa região à Revolução
Federalista e outras escaramuças violentas, opondo castilhistas e liberais até 1923, quando um acordo pôs fim
às disputas políticas. Getúlio Vargas foi herdeiro dessa tradição política que alguns estudiosos reconhecem
como corrente castilhista. Para uma reflexão aprofundada ver Fonseca (2012).
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As medidas iniciais desse novo Governo caracterizaram-se por expurgos políticos dos
antigos desafetos oligárquicos, colocando em seus lugares, interventores federais. Em São
Paulo, cujo candidato vencedor à presidência, Júlio Prestes, havia sido impedido por força da
Revolução, teve como primeiro interventor o tenente João Alberto Lins de Barros (1897-1955),
gerando, até mesmo, sérios descontentamentos da oligarquia paulista.
Sem entrar no mérito de seu governo, deveras curto, com cerca de um ano e meio de
duração, destacamos para os interesses desse artigo o Decreto por ele assinado que dispensou
os professores leigos das escolas isoladas e rurais do estado de São Paulo:
Considerando que regem classes, em escolas reunidas e isoladas, não só rurais,
mas urbanas, 1000 professores leigos;
Considerando que os processos de habilitação da maioria dos professores
interinos, leigos, não obedeceram à letra expressa na lei n. 2.269, de 31 de
dezembro de 1927 e seu Regulamento que, em virtude de tais vícios, não se
apurou devidamente a competência profissional dos referidos funcionários;
Considerando que a escolha de quase todos esses professores obedeceu
exclusivamente a normas extra regimentais fixadas pela Comissão Diretora do
Partido Republicano Paulista, como o comprovam os processos de nomeação
respectivos;
Considerando que, no processo de localização de muitas escolas, ora regidas
por leigos prevaleceu o critério do interesse pessoal da maioria dos candidatos
e não o do serviço público havendo classes com a frequência média de quatro
alunos. Considerando que uma nova localização dessas escolas se faz
necessária, de maneira a que possam elas preencher seus fins legais. (SÃO
PAULO, 1930).
As medidas contidas nesse Decreto, mais do que revelarem as mudanças que estavam
por vir, desnudam o Nó-górdio do problema do professor leigo em São Paulo, e por extensão,
no Brasil, já que os novos “donos do Poder” não superaram as mazelas do ensino e muitas
escolas continuaram a comportar o professor não habilitado. São Paulo já era o Estado mais
rico da Federação e, mesmo assim, em suas escolas havia a presença do leigo, um profissional
de segunda categoria para os cofres públicos, não obstante, a única possibilidade de
aprendizagem para muitas crianças.
O professor leigo, portanto, não é um resíduo de um passado colonial, da inépcia de um
Governo Imperial escravocrata ou demagogia republicana, mas o resultado de um processo
histórico de construção do Estado-nação, cuja prioridade de unidade se deu por meio de suas
classes dominantes, elidindo setores importantes da sociedade. A nacionalidade construída
pelas elites enfrentou um paradoxo. Como entrar no mundo civilizado com uma população
miscigenada. O romantismo de José de Alencar tentou inventar o índio idealizado como um
mito fundador de uma brasilidade, mas o impasse permaneceu. A chegada dos imigrantes foi
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uma tentativa de branqueamento e as teses de uma invenção do Brasil negaram, durante toda a
República Velha, a presença do negro. Somente na década de 1930, sobretudo com a publicação
de
Casa Grande e Senzala
, de Gilberto Freire, é que a ideia de miscigenação adquiriu contornos
positivos ou, como afirma Ortiz (2012), o mestiço recebeu uma identidade. Antes era o
indolente e o preguiçoso, depois afirmado como parte de uma ideologia do trabalho.
Daí a preocupação dos dirigentes paulistas. Fazer da escola o lugar da higiene, da ordem
e da produtividade do caboclo. Se professor normalista ou leigo, esse era um problema menor,
já que o curso aligeirado e o programa encurtado para as escolas isoladas rurais bastavam para
ensinar o básico: capacitar o eleitor subjugado aos interesses dos coronéis do sertão paulista e
servir aos desígnios do PRP. Essa questão não terminou com o Fim da República Velha, mas
demonstrou um problema estrutural até os estertores do século XX.
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Sobre os autores
Ge
raldo Sabino Ricardo FILHO
Pós-Doutor em Educação pela Universidade Estadual Paulista (UNESP).
Noely Costa Dias GARCIA
Doutoranda em Educação pela Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho - Unesp, Campus
Marília.
Processamento e edição: Editora Ibero-Americana de Educação.
Correção, formatação, normalização e tradução.
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R
ev. Educação e Fronteiras,
Dourados, v. 10, n. 00, e021002, 2021. e-ISSN: 2237-258X
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THE PRESENCE OF THE LAY TEACHER IN THE STATE OF SÃO PAULO
A
PRESENÇA DO PROFESSOR LEIGO NO ESTADO DE SÃO PAULO
LA PRESENCIA DEL MAESTRO LAICO ENEL ESTADO DE SÃO PAULO
Ge
raldo Sabino Ricardo FILHO
São Paulo State University
e-mail
:
ge
sari@uol.com.br
Noe
ly Costa Dias GARCIA
São Paulo State University
e-mail
:
noe
lycdgarcia@terra.com.br
How to refer to this article
FILHO, G. S. R.; GARCIA, N. C. D. The presence of the lay teacher in the state of São Paulo.
Revista Educação e Fronteiras
,
Dourados, v. 10, n. 00, e021002, 2021. e-ISSN: 2237-258X.
DOI: https://doi.org/10.30612/eduf.v11i00.16457
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: 13/12/2020
Revisions required
: 05/01/2021
Approved
: 20/02/2021
Published
: 01/03/2021
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eraldo Sabino Ricardo FILHO and Noely Costa Dias GARCIA
Rev. Educação e Fronteiras,
Dourados, v. 10, n. 00, e021002, 2021. e-ISSN: 2237-258X
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ABSTRACT:
This
article analyzes the idea of a lay professor in the state of São Paulo, as part
of the reflections of the History of the Teaching Profession, based on the scope of the history
of education, based on the past works that consolidated such research. The study is based on
the examination of educational laws and decrees approved during the Old Republic (1889-
1930). The results achieved indicate the presence of the lay teacher in the primary education of
the State of São Paulo, configuring a reality of the Brazilian rural schools, being, in the majority,
organized in the multi-grade format, governed by a teacher, strictly speaking, a teacher whose
form of performance revealed the precariousness of this profession and a gender issue in the
feminization of teaching.
KEYWORDS:
La
y teacher. Rural school. Teaching profession.
RESUMO:
Esse artigo analisa a ideia de professor leigo no estado de São Paulo, como parte
das reflexões da História da Profissão Docente, fundamentando-se no âmbito da história da
educação, tomando-se por base os trabalhos pretéritos que consolidaram tais pesquisas. O
estudo está calcado no exame das Leis e Decretos educacionais aprovados durante a República
Velha (1889-1930). Os resultados alcançados indicaram a presença do professor leigo no
ensino primário do estado de São Paulo, configurando uma realidade das escolas rurais
brasileiras, cuja maioria era organizada no formato multisseriado, regida por um único
professor, a rigor, uma professora que, por sua forma de atuação, revelava a precariedade
dessa profissão e uma questão de gênero na feminilização do magistério.
PALAVRAS-CHAVE:
Professor l
eigo. Escola rural. Profissão docente.
RESUMEN:
Este
artículo analiza la idea de un profesor laico en el estado de São Paulo, como
parte de las reflexiones de la Historia de la Profesión Docente, basada en el alcance de la
historia de la educación, en base a los trabajos pasados que consolidaron dicha investigación.
El estudio se basa en el examen de leyes y decretos educativos aprobados durante la Antigua
República (1889-1930). Los resultados obtenidos indican la presencia del maestro laico en la
educación primaria del Estado de São Paulo, configurando una realidad de las escuelas
rurales brasileñas, siendo, en su mayoría, organizadas en el formato multigrado, gobernado
por un maestro, estrictamente hablando, un maestro cuya forma de desempeño reveló La
precariedad de esta profesión y una cuestión de género en la feminización de la enseñanza.
PALABRAS CLAVE:
Profesor lai
co. Escuela rural. Profesión docente.
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The presence of the lay teacher in the state of São Paulo
Rev. Educação e Fronteiras,
Dourados, v. 10, n. 00, e021002, 2021. e-ISSN: 2237-258X
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Introduction
In this article, we analyze the lay teacher in the state of São Paulo, as part of the problem
of the teaching profession, being, therefore, tributary of research on the History of Education,
whose qualitative and quantitative richness denotes a field already consolidated, according to
the concept engendered by Pierre Bourdieu (1983).
The scope here is to reflect on the education professional, called the nickname "lay",
explaining the reasons for their uncomfortable and persistent presence in schools. In addition
to the ambiguity and its regulation by the State, this professor also faced the instability of the
function, resulting from his provisional occupation in the exercise of teaching.
The study is based on the examination of the Educational Laws and Decrees approved
during Brazilian Old Republic (1889-1930). The results indicated the presence of the lay teacher
in primary education in the state of São Paulo, configuring a reality of Brazilian schools, which,
for the most part, were organized in multiseriate format, governed by a teacher, strictly
speaking, a teacher, whose form of action revealed the precariousness of this profession and a
gender issue in the feminization of the magisterium.
In the conception advocated by Ferreira and Carvalho (2011), the schools called
multiseriate
a
nd constituted by a teacher who taught elementary education to a group of students
of different levels or stages of learning in the same room. These schools were largely located
in rural areas, especially in far communities of the municipal headquarters
1
a
nd often
operated
in
va
rious types of buildings, as Cardoso (2013) points out, from tiny rooms to places that had
been used for chicken coops, and can be governed by lay teachers.
The reach of his performance refers to the very history of education in Brazil, from
which the expression "lay" may be linked to the absence of the diploma recognized for the
magisterium, or in opposition to the teaching taught by religious, replaced by the royal classes
in the period of the Marquis of Pombal (1750-1777). The vacancy of qualified teachers,
resulting from the expulsion of the Jesuits from the Colony of Brazil (1759), aggravated an
already precarious situation of schooling, which is also a literacy system (CARVALHO, 1978;
ANDRADE, 1978; FONSECA, 2010).
1
In the state of São Paulo, during the Old Republic (1889-1930), several laws and decrees altered the organization
chart of primary education, organized, according to the study by Costa (1983), in the following nomenclatures:
Model School, School Groups, Urban Schools, Night Schools, Walking Schools and Rural Schools. Nevertheless,
it should be emphasized that such denominations have undergone changes in the period.
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The solution to organize the first-letter schools was to appoint improvised teachers,
since they did not compete for such a trade, but used and tolerated by administrations due to
the scarcity of master graduates. This situation has gone through the history of Brazil, from the
Colony to the raters of the twentieth century, and can infer that the schooling of the population
took centuries to overcome and, in many regions, the deleterious of governments still prevail.
However, the studied literature on the lay teacher, despite being fruitful, presents distinct
time characteristics of the present study, finding themes, among others, such as: the evaluation
of programs, statistical examinations of the percentage of unqualified teachers, the expectations
of complementary training. These are studies limited to periods in which educational policies
sought to mitigate these problems of Brazilian schools, especially since the 1970s
2
,
but with
precarious results, according to the researchers' analysis.
B
ased on these reflections, we organized this article with the following structure: in the
first part we briefly expose the context of the historical process in Brazil, in which we
demonstrate how education began to be standardized by the Republican region, presenting the
forms of organization of the state of São Paulo under federalism, since the Constitutional
Charter of 1891 attributed to the Union units the responsibility for primary education; in the
second part we present the forms of institutionalization of the lay teacher in São Paulo, resulting
from the examination of the documentation, demonstrating the political injunctions proper to
Brazilian patrimonialism and, in the third part, we discuss how the lay teacher was part of a
project of schooling and the precariousness of isolated schools, most in the rural world.
The process of republican schooling in the state of São Paulo
Disa
greement with an expression attributed to Aristide Lobo, at the advent of the
Republic, the people attended the scene "bestialized" (CARVALHO, 1991, p. 9). Whether by
the Military Coup imposed or by the rapid conversion of monarchists to the winning cause, the
"Old Regime" was denied by the past defenders, now legal representatives of an announced
modernization of Brazil towards civilization. The constituent process followed its process,
despite the political turbulence in the streets unchecked by the people
3
and also repressed, in
2
There is a myriad of studies on the lay teacher in Brazil, the list here, includes the following publications: Luz
et
al.
(Garcia (1988), Garcia
et al.
(1991), Dreifuss and Souza (1986), Cenafor (1984).
3
Here we make an important remission regarding the expression "people". This is not a reckless generic use, but
a polysemic political classification with serious ideological contours to frame social groups that are on the margins
of citizenship.
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addition, with the censure of the defenders of Pedro II, such as Eduardo Prado and the Viscount
of Ouro Preto
4
.
The Federalist Regime triumphed in the Magna Carta of 1891, characterizing a Liberal
Republic around the prerogatives of states, making central power the national unity, but
conferring on its members a marked degree of autonomy, federalizing power, as Silveira (1978)
analyzes, especially by the appanage of export collection, favoring the most dynamic and
thriving economies, like São Paulo, Minas Gerais and to a lesser extent, Rio Grande do Sul,
although the condition of the latter changed in the first decades of the 20th century (LOVE,
1982, 1975).
Republican schooling received a distinct treatment from the deposed regime, as it was
not enshrined in the Magna Carta as the mandatory precept of primary education, as its
predecessor stipulated it. Nevertheless, the accountability of primary and secondary education
came under the auspices of the States, according to their respective Constitutions.
In the state of São Paulo, given its opulent economy (SALLUM JR., 1982; DEAN, 1971;
LOVE, 1982) reforms were carried out in Education, meeting the pressing needs of
modernization, whose meaning, guided by its elites, recommended to insert Brazil in the
civilized world. Thus, urban transformations gradually became an assignment of the physician
and engineer. Despite the bachelor of law was still the politician, the decisions of Government
began to live more systematically with the prophylaxis dictated by science, classifying society,
defining standards of hygiene and the respective taxonomies of social groups.
Euclides da Cunha's assertion (2001, p. 157, our translation) summarized the vision of
social eugenics from the early days of the Republic: "We are doomed to civilization or progress,
or disappear". What to do with the backcountry, a sub-race in the expression of this author?
Many Republicans believed in the ideology of bleaching as a solution for Brazil to enter the
civilized world and immigrants were the panacea against delay and the best option for coffee
plantations.
Under this prism, the schooling began to shape the efforts to educate the citizen of the
Republic. Not in the dimension of citizenship, but as a component of subordination to the ruling
classes and the prevailing order. To caboclo and the immigrant, the school should contribute to
4
Eduardo Prado, from the São Paulo oligarchy, although he did not have an effective political performance
during the monarchy, was pursued by the Republicans taking his book
The American illusion
(PRADO, 1961),
seized at the printing press by the police, as well as other retaliations such as the jamming of the
Trade Journal
,
acquired by him. The Viscount of Ouro Preto (who led the last Cabinet of the monarchy) published, together with
other intellectuals, a scathing analysis of the first republican decade (VISCONDE DE OURO PRETO
et al.
, 1986).
We must remember that the War of Canudos was associated at the time as a conspiracy and its leader, Antônio
Conselheiro, accused with the same epithet (BARTELT, 2009).
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linguistic and moral development. Thus, the work to impose hygiene precepts, moral values
a
nd instruct the population, counted on actions to prevent diseases and epidemics that could
curb the entry of immigrants into Brazil. However, once they have been splinted here, they
should be integrated into society through public instruction.
Government policies, following presidential messages, have turned to the sanitation of
many
5
regions, fighting the recurrent epidemics in the First Republic, such as yellow
fever,
malaria, in addition to the Spanish flu and the problems of Typhus, as well as the construction
of houses (lazarettos) for the isolation of contaminated people.
The coffee economy grew rapidly, suffering, without embargo, the oscillations of the
price of this product in the world market, starting regulatory measures such as the artificial
preservation of prices through the policies of valorization of coffee
6
, encamped by the state of
São Paulo, but demanding that the Federal Government assume the debts (DELFIM NETTO,
2009; HOLLOWAY, 1978; LOVE, 1975, 1982).
The modernization of São Paulo, revealed especially with the expansion of railway
tracks, consolidated the occupation of the
hinterland
converted into coffee farms at the expense
of the massacre of indigenous people, the murders of squatters and, above all, the land grabbing.
The urbanization with and despite the trails changed the composition of dominant social groups
with segments of immigrants of various nationalities, whose social rise can be measured in land
properties, creation of industries and occupation of spaces in intellectual sectors (MICELI,
2001).
The effects of modernization engendered drastic changes in social groups with
traditional values, especially with the market economy resulting, in Weber's (2005) meaning,
in the "disenchantment of the world", a process through which these groups are gradually
inserted in impersonal relations of capitalism. It is also the process of affirming the State, by
standardizing the practices, all of them secularized, recognizing the civil and political existence
of individuals (Diplomas, Identification Documents, voter registration, taxes, etc.), which only
have an effect on the legality of the norms of power. To be a citizen, in this perspective, it is sat
to read, write and count to be recognized as a voter, remembering that women were excluded
from this right, despite the Constitution of 1891 not to explain such a prohibition.
5
We analyzed the messages of the governors (called Presidents during the Old Republic) addressed to the São
Paulo Congress, which was bicameral in the period on screen, and repeated mentions of the health measures carried
out in the State.
6
The valued operations occurred in 1906, 1917, 1918, 1921, 1924, according to a classic study by Delfim Netto
(2009).
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The republican paradox was symptomatic, especially with the persisting of social
proble
ms that modernization does not resolve, either because of the neglect to which these
populations were subjected, or because of the precariousness of schooling in many regions of
the state of São Paulo. Thus, investments in education allow them to increase the number of
schools, school groups, secondary schools (Normal Schools), technical schools and higher
education institutions (Polytechnic College). Although the basis of the economy was
agricultural, the origin of a rural school was guided by different curricular developments when
compared to those located in urban centers.
In this perspective, Souza and Ávila (2014, p. 15, our translation) clarify that there was
a differentiation between urban and rural schools,
[...] hierarchizing them and corroborating the negative representations to the
rural environment, considering lower in relation to the level of civilization and
progress verified in urban centers and with lower needs of schooling. Thus, in
rural primary schools, a shorter primary course was consolidated, two to three
years, when in urban schools it was four years, with more simplified programs
and teachers' salaries lower than those of teachers in isolated urban schools.
The school was organized from a diachronic nature. At the same time that sumptuous
buildings were built as an expression of civilization and republican modernization, there were
also the teacher problems that were accompanied by precarious material, since many buildings
were adapted and rented with furniture, not exactly the necessity of the students, in addition to
the teacher's burden in relation to school meals and bureaucratic functions provided for in the
operation of the teaching unit.
In relation to politics, literacy was a necessary search for the state's electoral claims,
hence the investment in education to increase participation in the elections, however, the
increase in voters was not in line with the existing demands between, on the one hand, the most
urbanized regions with greater infrastructure perks and, on the other, the mobile frontier of
coffee expansion, whose railroad was, without embargo, the only alternative of transport for
the teacher appointed in places of difficult access, such as the walking schools defined by Law
No. 88 of 1892 (SÃO PAULO, 1892).
The unqualified teacher was a constant presence in the São Paulo magisterium, in the
analyzed period, since he was legally admitted to the legislation. What draws attention in the
process of establishing a school report in São Paulo is the peremptory affirmation of a public
tender for admission to the teaching profession or, which results in the same situation, the
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equalization or complementation of the qualification of teachers who took their courses under
the a
egis of monarchical norms.
It is necessary to consider the
geographical space or hinterland,
or the São Paulo
hinterland, explored by coffee plantations, and interconnected by railways, a process that
accompanied not in a syncratic way, the expansion of the schooling of this State, but allows us,
at an analytical level, to reflect on the persistence of the lay teacher in schools, with causes that
are not, strictly speaking, only demands for vacancies or scarcity of teachers formed, but the
result of multiple factors that extend through the duality of schools created (rural and urban),
by the generalized reprovals, whose conception of evaded used by official statistics did not
consider the aspects of the damming of students in the same period, generating the false idea of
the demand for vacancies and the construction and opening of more schools
7
.
This is an important point in the aspects of state consolidation, organized at considerable
levels of rationalization, which implies asserting about the role of statistics as a state science.
The numbers, in addition to their naturalization, acquire the force of reality, since their
measurement is collimated to practice, consubstantiating a pedagogical discourse, making exist,
by the effect of the appointment, a set of categories that, once made official by the measurement,
is incorporated into pedagogical narratives, as well as educational policies.
There was a need for the republican regime, in its federalist aspect, to modernize society
through the expansion of schooling, as we have already stated above, explaining what the
autonomy of states meant: regional oligarchies began to dispute the monopoly of power through
elections at the state and municipal level, whose hegemony achieved would revert to the control
of the National Congress and the federal executive, especially with the rise of Campos Salles
(1898-1902) to the presidency that, as an uncompromising defender of federalism, skillfully
imposed the Governors Policy (also known as the Café com Leite policy
, or “coffee with milk,
in English), of which its most latent expression was the control of votes and elected officials,
provoking a political clearance of any opposition, according to analyses by Ricci and Zulini
(2013) and Viscardi (2016).
It was the only way to control all bureaucratic structures of power within the state and
by extension, to draft laws that could serve allied groups, as well as to use as a co-opting
currency the available public positions, among them, for example: leaders, inspectors,
principals and teachers in the existing institutions.
7
In another paper, we discuss the relationship between statistics and repetition in primary schools.
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The presence of the lay teacher in the state of São Paulo
Rev. Educação e Fronteiras,
Dourados, v. 10, n. 00, e021002, 2021. e-ISSN: 2237-258X
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In fact, the cultural crucible that engendered the clientelist practices is ancient,
highl
ighting the pioneering study of Faoro (2001), having in this wake the studies of
Schwartzman (1982a, 1982b) and Uricoechea (1978), although the latter is the case for the
I
mperial State. Close to this theoretical line, Carvalho (1991, 2003), author of consistent works
on the Empire and the Republic, especially in his moments of transition, wrote works that bared
some historiographical aspects that sought to attribute to the "Old Regime" the stigma of belated
and slave, especially with statistical data, comparing the effective of voters during the Empire
and, then, with the declaration of universal Republican suffrage.
The historiographical line, close to Max Weber's (2005) push-ups, contributes to
thinking about the ambiguities of the republican regime, enshrined in a federative Constitution.
The policy was organized by a ruling class, formed during the raters of the monarchy, which
reproduced,
pari passu
, the clientelist practices inherent to the oligarchies of the States,
denoting a marginalized society, under the effects of economic backwardness, living with low
investments in schooling, a situation distinct from São Paulo, which promoted in basic
sanitation and expansion of schooling, despite serious illiteracy rates in the period under
examination.
According to the aforementioned author, the percentage of voters was reduced during
the Republic, when the Constitutional Charter did not contemplate the vote of the illiterate,
prevented from voting since the approval, still in the Monarchy, of Decree No. 3,029, of January
9, 1881 (Saraiva Law), but aggravated by the distortions of Federalism during the Old Republic
(1889-1930), since poorer states have not had the same success in building their education
systems in order to meet the growing demand.
Table 1
- Participation of voters in presidential elections (1894-1930)
Winning candidate
Number of voters
(
thousand)
% of voters over the
po
pulation
% of the winner's
v
otes over total voters
Prudente de Morais (1894)
345
2,2
84,3
Campos Sales (1898)
462
2,7
90,9
Rodrigues Alves (1902)
645
3,4
91,7
Afonso Pena (1906)
294
1,4
97,9
Hermes da Fonseca (1910)
698
3,0
57,9
Venceslau Brás (1914)
580
2,4
91,6
Rodrigues Alves (1918)
390
1,5
99,1
Epitácio Pessoa (1919)
403
1,5
71,0
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eraldo Sabino Ricardo FILHO and Noely Costa Dias GARCIA
Rev. Educação e Fronteiras,
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Artur Bernardes (1922)
833
2,9
56,0
Washington Luís (1926)
702
2,3
98,0
Júlio Prestes (1930)
1.890
5,6
57,7
Source: Adapted from Ramos (1961, p. 32). The voter data for 1910 were corrected according to:
Mi
nistry of Agriculture, Industry and Commerce (1914, p. 244-245
apud
CARVALHO, 2003, p. 103)
Participation in presidential elections, as shown in Table 1, is indicative of social
marginalization and lack of citizenship in most of society, noting that these rates are only for
men, since women could not vote. The Republican Government did little to resolve the high
rates of illiteracy, even in São Paulo, the richest state of the federation, schooling behaved the
defaults of teacher training, imposing lay people to teach in schools with scarce material
resources, a daily situation in many places of the state, especially in the regions of agricultural
frontier, but also in urban spaces.
T
he lay professor in the legislation of São Paulo of the First Republic
It is symptomatic that São Paulo's legislation did not explicit property practices
ostensibl
y, which does not mean that they were absent during the study period. However, to
better demonstrate the intent of this article, what is the idea of lay professor in the state of São
Paulo we proceeded to the scan of 115 documents between Laws, Decree-laws and Decrees.
Despite the subjects were not cohesive due to the multiplicity contained in them, the taxonomy
obtained allowed us to observe the administrative rationing that, strictly speaking, attested to
the concern with the schooling of the population, supervising the functioning of schools, either
through the teaching inspectors, or also by blaming the municipalities and their ability in the
application of the standardized principles.
Table 2 -
Educational reforms in the state of São Paulo (1892-1929)
Document type
Description
Year
Law No. 88
Reform the public education of the State
1892
Law No. 95
Modifies laws No. 88 of September 8, 1892, and No. 169 of August 7, 1893
,
and their regulations
1894
Decree
No. 383
Gives instructions for the implementation of Law No. 430 of August 1 this year
1896
Decree
No. 518
Approves and has the regulation to be observed for the implementation of Law
No
. 520 of August 26, 1897
1898
Law No. 1,341
Reform of normal secondary schools
1912
Decree
No. 2,225
It has to observe the Consolidation of laws, decrees and decisions on primary
education and normal schools.
1912
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The presence of the lay teacher in the state of São Paulo
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Law No. 1,579
It lays down several provisions on the Public Education of the State
1917
Law No. 1,750
Reform of Public Education of the State
1920
Decree
No. 3,205
Regulation for the implementation of Law No. 1,710 of December 27, 1919
,
which provides for the organization of
1920
Decree
No. 3,356
Regulates Law No. 1,750 of December 8, 1920, which reform public instruction
1921
Law No. 2,095
Approves Decree No. 3,858 of June 11, 1925, issued by the Executive
Branch,
and which reformed the Public Instruction of the State
1925
Decree
No. 4,101
It regulates Law No. 2,095 of December 24, 1925, which, approving, with
m
odifications, Decree No. 3,858 of June 11, 1925, reform the Public Instruction
of the State
1926
Law No. 2,393
It establishes several measures with respect to the Public Education of the State
1929
Decree
No. 4,600
It regulates Laws No. 2,269 of December 31, 1927, and No. 2,315, of Decem
ber
31, 1928, which reformed the Public Instruction of the State
1929
Source: Prepared by the authors based on the Laws and Decrees of the State of São Paulo between 1892-
1929
The legislation on reforms, most notably the most comprehensive, is listed in Table 1
above. We found that the state's regulatory extension met the policy of schooling the population
of São Paulo, covering the regions, from its coast to the pioneer areas of the agricultural frontier,
where coffee and railway lines, in many cases, were vital for the flowering of cities. The São
Paulo Division
8
was not held so much by geographical or administrative criteria, but by the
form of demographic occupation and economic development with its corollary factor of
urbanization.
In fact, there was no standardization in the State Constitution of 1891, in relation to
public education, however, in the Transitional Provisions of that charter, it was established that
the organization of teaching, in the form of the Law, should be subsequently regulated, being
an attribute of the legislative Congress (bicameral) and the state executive.
The first Education Law, promulgated in the Republican period in São Paulo (Law
No. 88, 1892) organized public education, which was divided into primary, secondary education
and higher education. The nomenclatures of primary schools were
changed meanwhile from
1892 to 1930, following the criteria of jurisdiction due to the demographic mobility of
agricultural expansion areas, the flowering of cities in the interior, the creation of agricultural
colonies, as well as the use of immigrant labor in the crop of coffee on the rise.
8
According to Love (1982), São Paulo presented 10 regions, named according to its historical occupation: 1- Zona
da Capital, 2- Zona do Vale do Paraíba, 3- Zona Central, 4- Zona Mogiana, 5- Zona da Baixa Paulista, 6- Zona
Araraquarense, 7- Zona da Alta Paulista, 8- Zona da Alta Sorocabana, 9- Zona da Baixa Sorocabana, 10- Zona
Litoral Sul.
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In 1912, by determination of the State Government
9
,
a consolidation of laws, decrees
and decisions concerning public instruction was published, in effect, an exquisite compilation
of educational norms, covering primary and secondary education in the State.
However, this publication is possible to observe how detailed education was, reaching
the bureaucratic aspects of public functionalism, stipulating the competencies of the state and
municipal bodies, as well as the teaching career,
the
classification of schools, the hierarchy of
teaching functions and the teaching programs to be followed. It is worth noting an important
data about the approved standards, which also recommended the teaching programs, the
subjects to be taught, how
the
class schedule and how the final evaluations of the students should
take place.
Thus, primary schools were initially named in preliminary and complementary, but
deployed according to their location at:
●
Isolated schools, daytime and night;
●
Isolated model schools;
●
School and evening courses for adults;
●
Schools gathered;
●
Kindergarten;
●
Schools’ models attached to normal
;
●
School groups (SÃO PAULO, 1912a).
In this sense, it was foreseen that teachers could only enter the teaching profession by
approving public tenders, organized by committees duly recognized by the Secretariat of the
Interior, the responsible staff for administering the functioning of public education.
Public primary education was defined as compulsory for students aged 7 to 12 years,
but limited in such a way that, in practice, exempted the Government from increasing the
number of schools and teachers, even with inflated demand due to disapproval and evasion.
The argument corroborates the provisions determined by the Laws of public instruction
of the period, which began to dispense with the mandatory registration of children who lived
two kilometers from the study site
for
boys and one kilometer in the case of girls. Likewise, the
public authorities were not responsible for the schooling of children with physical and mental
disabilities, completely excluded from any right.
9
Decree promulgated during the Government Manoel Joaquim de Albuquerque Lins, being Secretary of the
Interior Altino Arantes.
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The definition of the criteria for enrollment corresponded to the statistics received and
proc
essed by the Secretariat of the Interior through information provided by the teaching
inspectors, reducing the way schools are organized, such as their creation or extinction,
determined by demand, deprecating a concern about the rationalization of the system, but
without efforts to combat abstinence from classes.
For the isolated schools, taxonomy comprised, in addition to those of the capital, the
school units considered the headquarters of municipalities in the interior of the state, deployed
based on the perimeter of fiscal jurisdiction, neighborhood schools and schools of peace district.
For the latter, there was the designation of rural schools, structuring in law the conformation of
a primary education "lightened".
In order to request the removal of a school in the capital or for a school of headquarters
of a municipality in the interior of the State, the teacher should, in the first case, exercise the
teaching for two years in a head school and, in the second case, provide one-year exercise in
neighborhood or peace district schools in the localities of the interior (SÃO PAULO, 1912a).
Even with the interstice defined for the removal of teachers to the capital, there was no
provision of positions for many schools isolated from the interior, most no longer in rural
schools, a remedied fact through legislation that would dispense with the public power to hold
competitions for the designation of these vacancies, having the prerogative to appoint teachers
at any time of the school year (SÃO PAULO, 1912a).
The appointment, strictly speaking, fell to unqualified teachers, whose officialization
for the exercise of the magisterium was attested by a committee composed for this purpose,
whose members were chosen by the Director General of public instruction, with the
participation of municipal authorities, as well as accredited municipal agents, as determined by
Article 1, § 3, of Law 1.358 (SÃO PAULO, 1912b, our translation):
§ 3 - Deferring, the Director General of Public Instruction will have the
candidate submitted to examination and the candidate must provide it in the
municipality in which he has the teaching, before the state school inspector or
designated school group director, who will invite to compose with him the
examining committee two persons of notorious competence in the locality.
The teachers thus classified were the lay people who would exercise the magisterium
with lower salaries, when compared with the effective teachers, living with the uncertainties of
employment, the interference of the
coronéis
and the material precariousness of the place.
A substantial difference was established in the composition of the isolated schools, in
their rural sense, starting with the duration of the course. While in the school groups, schools
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gathered and those attached to normal schools the students received formal education for four
ye
ars, with
a
curriculum and detailed and detailed for each year of the course, rural schools
suffered from the reduction of the primary course in just two years, with a flexible and
condensed curriculum, in addition to determining that the subjects were taught with less
requirement, accordance with and stipulated the laws that regulated the performance of the lay
teacher, such as Law No. 1,358/12, signed by Governor Rodrigues Alves:
Article 5 - For the course in charge of the temporary teachers, which cannot
exceed 3 years, a simplified and accessible program, especially practical, will
be organized within the general lines of the adopted programs, which will be
strictly observed in the teaching classes (SAO PAULO, 1912b, our
translation).
An important digression is in the educational reform of 1920, promoted by Sampaio
Dória (1883-1964), which was alleged to extend literacy to all children, standardizing primary
schools to the duration of two years of study. The intention, controversial in its essence, had the
desiderate of guaranteeing access to schooling, an aspiration pursued by educators in Brazil
throughout the twentieth century (ANTUNHA, 1976).
The reform obtained the approval of the Governor at the time, Washington Luís, with
budget allocation that unfolded in two shifts the schools, reducing to two years the
primário
course, in order to literate all school-age children. The failure of this educational policy,
according to statistical data from that period, led the following mandate to suppress this attempt,
reverting to the previous situation.
Although during the Old Republic (1889-1930) many reformers proceeded to important
reforms in many states, such as Lourenço Filho, Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, among
others, the illiterate of illiteracy continued as a worrying social problem, denounced and fought
by a growing social layer of assertive intellectuals about the role of a public school in Brazil.
But this struggle in defense of a school for all bumped into the political clientelism and
economic interests of an agro-exporter country, treating as a sanitary solution the investments
in education, promoting ambiguities in the type of school offered to the popular classes, having
in the school isolated the expression of a school scare, according to the problems we have
pointed out earlier.
A testimony produced by a teacher at the time is symptomatic of the problems for a
normalist teacher to enter the magisterium, in isolated schools, as is the
case of a Teacher's
Calvary
, a book published under the pseudonym Doralice, also known as Violeta Leme (1952),
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Rev. Educação e Fronteiras,
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which chronicles her career as a teacher, the difficulties with school principals and supervisors
a
nd the refusal to receive benefits from a politician to get a place in schools of the Capital.
Nevertheless, the condition of a lay teacher was also an ordeal. He was a chess piece on
the political board, a pawn to be moved according to clientelist interests. As we can observe, in
the following excerpt, chronologically, the term Lay was increasingly used in the educational
norm itself, even stipulating the income of this professional. Not only because of the wage gap
and job uncertainty, it is important to highlight the budget allocation for your hiring.
Article 196. - For places far from populated centers and without
communication by rail, interim teachers may be appointed, qualified for
examination, once there is the impossibility of provision, by standard teachers,
of the existing schools. (Art. 42 of Decree 385 8 of June 11, 1925, approved
by law 2095 of December 24, 1925).
§ Single. - Among the rural schools under the conditions of this article will
only be fulfilled by interim teachers:
(a) those of first provision which, during the school year, are not required by
graduate teachers;
b) those of former provision by effective teachers, who remain vacant for three
consecutive years.
Article 197. - In the case of the article anterior, the call of lay candidates who
want to undergo examination will be called by means of an edict. (SÃO
PAULO, 1926).
Article 10. - In cases of eventual absences of adjuncts of school groups and
teachers of gathered schools, the principal may entrust the regency of the class
to occasional substitute, formed or lay, this in the absence of that, being the
payment due by the replacement made by the local collector, regardless of
special order, since the substitutions are in the monthly maps d the
establishment, indicating the days on which they take place and the name of
the teacher replaced. (SÃO PAULO, 1928, p. 2).
Article 109. - Rural schools shall be provided freely by the Government, at
any time of the year, by standard ism teachers or the like and by lay people,
who require them, in accordance with this regulation. [...]
Article 134. - Rural schools, isolated or reunited, which are kept vacancies for
more than thirty days, without graduated teachers requiring them, may be
provided on an interim degree by lay people, by means of a qualification
examination (SÃO PAULO, 1929, our translation).
Not only by the precariousness of a hiring of a person not qualified to govern a
classroom, many of a multiseriate character, but also the use of a nomenclature which made it
clear that it was a provisional condition. It wasn't the replacement or the interim. It was the
layman, an individual approved before a competition board organized under debatable
conditions, since the appointments took place at any time of the school year, including an
important exchange currency for the PRP's claims and control over the
coronéis
, or in a more
objective way, the ambiguity of the impersonality of the State, since many governors of São
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Paulo were, strictly speaking, belonging to families of farmers, as Love (1982) bet for the
R
odrigues Alves family, in the Paraíba valley.
In any case, at the end of the day, the lay teacher remained working in isolated schools,
especially in rural schools, but the most significant is naturalization, in fact a practice already
rooted in the Brazilian experience of schooling.
Pat
rimonialism and education: the lay teacher
The state of São Paulo, through its ruling elite, was aware of the political power it
re
tains. The republican generation which he ruled the state, formed in the shadow of the
academy of law influenced the direction of national politics until 1930.
The elite agreements, embodied in the Governors' Policy, were, in fact, the averse of
federalism advocated by the Charter of 1891, since the oligarchic disputes orbited around the
interests of the richest and potentially strongest states electorally speaking.
The ghost of federal intervention surrounded the States, in the shiver of the law,
diametrically distinct situation of Rio Grande do Sul, whose leaders wrote their Constitution
under the baton of Júlio de Castilhos, imposing a purely advisory legislature, causing bloody
civil wars and leading the opponents of this State into exile, with the connivance of the National
Congress. But, despite these political ambiguities, would coffee be the mains that guaranteed
São Paulo's hegemony?
In part, the answer can be validated, but at the expense of international financial control
caused by coffee valuation policies. And in this respect, there are two dimensions and a gordian
knot to be placed here: the first is in the modernizing intensification of the State, such as the
railways and the advantages. The second, in turn, is expressed in the duality of powers in which
the municipalities were important parts in the hegemony of the Republican Party of São Paulo
(PRP), having its
coronéis
(LEAL, 1986) a supervisory function, subordinated to the decisions
of the capital, despite the political disseminations and tensions caused, while cooled by the
Government.
It was about the ambiguity of politics when it came around the modernization of the
state. The pressure between the impersonality of the public power, which implied neutralizing
the Coronelismo and local Mandonismo, or in a more incisive way, patrimonialism, whose
potential to transform private interests to the detriment of the public thing, raged in the shiver
of the law, practiced in many areas of the State where there was an official state school, but
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The presence of the lay teacher in the state of São Paulo
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Dourados, v. 10, n. 00, e021002, 2021. e-ISSN: 2237-258X
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with a differential: the recruitment of lay teachers in rural schools passed through municipal
c
ontrol.
The Revolution of 1930, through its protagonists, put an end to the political domain
characterized by the Governors' Policy, in addition to the "coffee with milk" domain of São
Paulo and Minas Gerais, reordering the power of regional oligarchies who began, without
embargo, to respond to a central power, whose paroxysm was embodied in the figure of Getúlio
Vargas (1882-1954).
Vargas, of Castilhista formation
10
, shaped Brazil, putting the State ahead of all economic
decisions, defined the bases of public functioning, or, in a more appropriate language, the
impersonality of power, whose paradox lies in the very figure of this politician who, during his
life always tried to build an image to be worshiped. The most emblematic is one of his
nicknames as the "father of the poor" or the figure of the figure of the so-called Brazilian
populism.
The initial measures of this new Government were characterized by political purges of
the old oligarchic disaffected, putting in their places, federals intervenors. In São Paulo, whose
presidential candidate, Júlio Prestes, had been prevented by force of the Revolution, his first
intervention is Lieutenant João Alberto Lins de Barros (1897-1955), even generating serious
discontent from São Paulo's oligarchy.
Without entering into the merits of his government, very short, about a year and a half
long, we highlight for the interests of this article the Decree signed by him that dispensed lay
teachers from the isolated and rural schools of the state of São Paulo:
Whereas 1000 lay teachers are governing classes in schools where they are in
single and isolated schools, not only rural but urban;
Whereas the qualification procedures of the majority of interim teachers, lay,
did not comply with the letter expressed in lei n. 2.269 of 31 December 1927
and their Rules of Procedure which, by virtue of such defects, did not properly
found out the professional competence of those officials;
Whereas the choice of almost all of these teachers complied exclusively with
extra regimental rules set by the Board of Directors of the São Paulo
Republican Party, as evidenced by the respective nomination processes;
Considering that, in the process of locating many schools, sometimes
governed by lay people, the criterion of personal interest of the majority of
candidates prevailed and not that of the public service, with classes with the
10
The Castilhismo dates back to the politician Júlio de Castilhos (1860-1903), republican leader with strong
performance as deputy of the federal constituent and formulator of the Constitution (of positivist inspiration) of
Rio Grande do Sul, in addition to governor of this State. Its form of political action led this region to the Federalist
Revolution and other violent skirmishes, opposing
castilhistas
and liberals until 1923, when an agreement ended
political disputes. Getúlio Vargas was heir to this political tradition that some scholars recognize as a
castilhista
current. For a deeper reflection given see Fonseca (2012).
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average attendance of four students. Considering that a new location of these
sc
hools is necessary, so that they can fulfill their legal purposes (SÃO
PAULO, 1930, our translation).
The measures contained in this Decree, more than revealing the changes that were to
come, bare the Node of the problem of the lay teacher in São Paulo, and by extension, in Brazil,
since the new "owners of power" did not overcome the ills of teaching and many schools
continued to accommodate the teacher not qualified. São Paulo was already the richest state of
the Federation
and, even so, in its schools there was the presence of the layman, a second-rate
professional for the public coffers, nevertheless, the only possibility of learning for many
children.
The lay professor, therefore, is not a residue of a colonial past, of the ineptitude of an
Imperial Government slaver or republican demagoguery, but the result of a historical process
of nation-state construction, whose priority of unity was given by the middle of its ruling
classes, eliding important sectors of society. The nationality built by the elites faced a paradox.
How to enter the civilized world with a miscegenetic population. The romanticism of José de
Alencar tried to invent the Indian idealized as a founding myth of a Brazilianness, but the
impasse remained. The arrival of the immigrants was an attempt to bleach and the theses of an
invention of Brazil denied, throughout the Old Republic, the presence of the negro. Only in the
1930s, especially with the publication of
Casa Grande and Senzala
, by Gilberto Freire, did the
idea of miscegenation acquire positive contours or, as Ortiz (2012) states, the half-breed
received an identity. Before it was the indolent and the lazy, then asserted it as part of an
ideology of work.
Hence the concern of the leaders of São Paulo. To make the school the place of caboclo
hygiene, order and productivity. If normalist or lay teacher, this was a minor problem, since the
course eased and the program shortened to the isolated rural schools were enough to teach the
basics: to empower the voter subjugated to the interests of the countryside leaders of São Paulo
and serve the PRP's designs. This issue did not end with the End of the Old Republic, but
demonstrated a structural problem until the raters of the twentieth century.
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The presence of the lay teacher in the state of São Paulo
Rev. Educação e Fronteiras,
Dourados, v. 10, n. 00, e021002, 2021. e-ISSN: 2237-258X
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About the authors
G
eraldo Sabino Ricardo FILHO
Post-Doctor in Education at São Paulo State University (UNESP).
Noely Costa Dias GARCIA
PhD Student in Education at São Paulo State University (UNESP)
–
Campus Marília.
Processing and publishing by the Editora Ibero-Americana de Educação.
Correction, formatting, standardization and translation.