Rev. Educação e Fronteiras, Dourados, v. 12, n. 00, e023004, 2022. e-ISSN:2237-258X
DOI: https://doi.org/10.30612/eduf.v12i00.16305 11
de brigas por posições de poder na vida pública como consequência da participação direta de
eclesiásticos no cenário político (MICELLI, 1988).
Com isso, os religiosos ampliaram seu escopo de intervenção na vida pública,
diversificaram suas esferas de ação, inscrevendo-se em debates dos mais diversos, nem sempre
voltados à questão da espiritualidade, mas realizaram produtivas incursões pelos debates ético-
morais, políticos e econômicos do mundo social.
Especificamente em 1950, chega a Guimarães uma missão especial de desobriga, ou
seja, para realização de missa, chefiada pelo então bispo da Prelazia de Pinheiro, D. Afonso
Maria Ungarelli, trazendo para a região notícias sobre o início de um conjunto de ações da
Congregação dos Missionários do Sagrado Coração de Jesus.
Os MSC, como eram conhecidos, chegam à região apenas em 1949, pois sua vinda seria
postergada em virtude da Segunda Guerra Mundial.
[...] Quando estava tudo pronto para a viagem dos primeiros missionários,
estourou a 2ª Guerra Mundial e foi necessário esperar o fim do conflito (1945),
para recomeçar e vermos o que poderia ser feito. Daí em diante nos engajamos
nessa missão (TESTEMUNHO DE DOM CARMELLO CASSATI EM
MENÇÃO A MISSÃO CANADENSE EM GUIMARÃES, 1996, p. 08).
Estes religiosos italianos “[...] fundaram tanto em Pinheiro quanto em Guimarães:
escolas, internatos, clube de mães, de jovens, centros artísticos, escolas profissionalizantes”
(OLIVEIRA, 2000, p. 45). Em suma, promoveram uma grande reforma socioeducacional e
religiosa na comunidade, estimulando a cultura popular, religiosa e o folclore, através da
exibição de peças teatrais e pastorais no teatro Guarapiranga.
Na perspectiva de disseminar seu universo ideológico, os missionários católicos do
Sagrado Coração viabilizaram também a comunicação, através de um sistema de alto falantes
instalados estrategicamente na cidade com a denominação de Voz Guarapiranga. Este difundia
maneiras de ser, pensar e agir cristãos, através de mensagens e cânticos católicos, contribuindo
assim com a padronização de comportamentos e modelos de identidade para a população.
Os missionários do Sagrado Coração de Jesus ainda implantaram o Centro Artístico e
Operário Vimarense, o Núcleo dos Voluntários, a Escola Paroquial e o patronato São José para
alojar as crianças pobres do sexo masculino, atendendo seu projeto hegemônico de sociedade e
aproveitando tanto da representação de celeiro cultural quanto de vilarejo pobre e abandonado.
Todas essas ações refletiam as já desenvolvidas em Pinheiro, pois lá fundaram também
ginásios, creches, internatos, produzindo uma obra bem maior, considerando naquele momento
histórico o lugar estratégico da Princesa da Baixada (FURTADO FILHO, 2000).