Política de escala e mineração: a construção do discurso de interesse nacional no Brasil

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5418/ra2023.v19i39.17499

Palavras-chave:

política de escala, estratégias institucionais, mineração

Resumo

Partindo do pressuposto de que, no Brasil, as corporações mineradoras vêm alterando, ajustando e aprimorando suas estratégias institucionais, e com base em revisão bibliográfica e análise documental, argumenta-se que o conceito de política de escala se mostra como uma ferramenta robusta para a análise e avaliação dessas mudanças. Entre as transformações identificadas está a construção de novas escalas que permitam uma ação hegemônica na interação com outros agentes. Outra estratégia identificada é o uso do salto de escalas, em especial pelas tentativas institucionais de construir um discurso de interesse nacional da mineração, que poderia auxiliar na construção de certa legitimidade social e aumentar a chance de superação de disputas que ocorrem na escala dos projetos.

 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Bruno Milanez, Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Engenheiro de Produção, Doutor em Política Ambiental, Professor Associado do Departamento de Engenharia de Produção e do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Referências

ADÃO, S. M. Os discursos confrontados no processo de privatização: o caso Companhia Vale do Rio Doce. 2006. (Ph.D.). Programa de Filologia e Língua Portuguesa, Universidade de São Paulo, São Paulo.

ALLEN, M. G. Resource extraction and contentious states: mining and the politics of scale in the Pacific Islands. Singapure: Palgrave Macmillan, 2018.

ANGELO, M. Como o lobby da mineração e do garimpo é recebido com prioridade dentro do Ministério de Minas e Energia. Observatório da Mineração, 27 Feb 2020. Disponível em: < https://observatoriodamineracao.com.br/como-o-lobby-da-mineracao-e-do-garimpo-e-recebido-com-prioridade-dentro-do-ministerio-de-minas-e-energia/ >. Acesso em: 18 Apr 2023.

______. Após pressão e racha político, Novo Código de Mineração emperra na Câmara. Observatório da Mineração, 16 Dec 2021a. Disponível em: < https://observatoriodamineracao.com.br/apos-pressao-e-racha-politico-novo-codigo-de-mineracao-emperra-na-camara/ >. Acesso em: 18 Apr 2023.

______. Novo Código de Mineração mira 10% do PIB e atende a pedidos de Arthur Lira e Jair Bolsonaro, assume deputado. Observatório da Mineração, 24 Nov 2021b. Disponível em: < https://observatoriodamineracao.com.br/novo-codigo-de-mineracao-mira-10-do-pib-e-atende-a-pedidos-de-arthur-lira-e-jair-bolsonaro-assume-deputado/ >. Acesso em: 19 Apr 2023.

ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE. Projeto de Constituição (A) da Comissão de Sistematização. Brasília: 1987a.

______. VI- Comissão da Ordem Econômica. VI-a - Subcomissão de princípios gerais, intervenção do Estado, regime da propriedade do subsolo e da atividade econômica. Anteprojeto. Brasília: 1987b.

BRASIL. Decreto-lei nº 227 de 28 de fevereiro de 1967. Brasília: 1967.

______. Constituição Federal. Brasília: 1988.

______. Emenda Constitucional nº 6 de 15 de agosto de 1995. Brasília: 1995.

______. Exposição de motivos PL 5.807 de 2013. Brasília: 2013a.

______. Projeto de Lei no 5.807 de 2013. Brasília: 2013b.

______. Substitutivo ao Projeto de Lei no 37 de 2011. Código de Mineração. Divulgado em 11 de novembro de 2013. Brasília: Comissao Especial destinada a proferir parecer sobre o Projeto de Lei no 37/2011 (Apensados aos Projetos de Lei no 463/2011, no 5.138/2013, no 4.679/2012, no 5.306/2013, no 5.807/2013 e no 3.430/2012), 2013c.

______. Substitutivo ao Projeto de Lei no 37 de 2011. Divulgado em 13 de novembro de 2013. Brasília: Comissao Especial destinada a proferir parecer sobre o Projeto de Lei no 37/2011 (Apensados aos Projetos de Lei no 463/2011, no 5.138/2013, no 4.679/2012, no 5.306/2013, no 5.807/2013 e no 3.430/2012), 2013d.

______. Substitutivo ao Projeto de Lei no 37 de 2011 e apensos. Divulgado em 8 de abril de 2014. Brasília: Comissao Especial destinada a proferir parecer sobre o Projeto de Lei no 37/2011 (Apensados aos Projetos de Lei no 463/2011, no 5.138/2013, no 4.679/2012, no 5.306/2013, no 5.807/2013 e no 3.430/2012), 2014.

______. Substitutivo ao Projeto de Lei no 37 de 2011 e apensos. Divulgado em 25 de novembro de 2015. Brasília: Comissao Especial destinada a proferir parecer sobre o Projeto de Lei no 37/2011 (Apensados aos Projetos de Lei no 463/2011, no 5.138/2013, no 4.679/2012, no 5.306/2013, no 5.807/2013 e no 3.430/2012), 2015a.

______. Substitutivo ao Projeto de Lei no 37 de 2011 e apensos. Divulgado em 27 de agosto de 2015. Brasília: Comissao Especial destinada a proferir parecer sobre o Projeto de Lei no 37/2011 (Apensados aos Projetos de Lei no 463/2011, no 5.138/2013, no 4.679/2012, no 5.306/2013, no 5.807/2013 e no 3.430/2012), 2015b.

______. Decreto nº 9.406, de 12 de junho de 2018. Brasília: 2018.

BRENNER, N. The limits to scale? Methodological reflections on scalar structuration. Progress in human geography, v. 25, n. 4, p. 591-614, 2001.

BROWN JR, W. O.; BURDEKIN, R. C. K. Fraud and financial markets: the 1997 collapse of the junior mining stocks. Journal of Economics and Business, v. 52, n. 3, p. 277-288, 2000.

BULKELEY, H. Reconfiguring environmental governance: Towards a politics of scales and networks. Political geography, v. 24, n. 8, p. 875-902, 2005.

CÂMARA DOS DEPUTADOS. Portal da Constituição Cidadã: etapas e fases 2023. Disponível em: < https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/Constituicoes_Brasileiras/constituicao-cidada/o-processo-constituinte/o-processo-constituinte#item_2 >. Acesso em: 10 Apr 2023.

CASTRO, I. E. O problema da escala. In: CASTRO, I. E.;GOMES, P. C. C., et al (Ed.). Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. p.117-140.

CIM. Institucional. Consórcio Intermunicipal, 2023. Disponível em: < https://cim.ma.gov.br/site/institucional/ >. Acesso em: 19 Apr 2023.

COELHO, T. P. Projeto Grande Carajás: Trinta anos de desenvolvimento frustrado. Marabá: Editorial iGuana, 2015. 160.

CORNWALL, A. Making spaces, changing places: situating participation in development. IDS Working Paper 170. Sussex: Institute of Development Studies, 2002.

COX, K. R. Spaces of dependence, spaces of engagement and the politics of scale, or: looking for local politics. Political Geography, v. 17, n. 1, p. 1-23, 1998.

DASHWOOD, H. S. Global Private Governance: Explaining Initiatives in the Global Mining Sector. In: MIKLER, J. (Ed.). The handbook of global companies. Chichester: Wiley-Blackwell, 2013. p.456-473.

DICKEN, P. Global shift: mapping the changing contours of the world economy. New York: The Guilford Press, 2011.

DICKEN, P. et al. Chains and networks, territories and scales: towards a relational framework for analysing the global economy. Global networks, v. 1, n. 2, p. 89-112, 2001.

DIETZ, K. Politics of scale and struggles over mining in Colombia. In: ENGELS, B. e DIETZ, K. (Ed.). Contested Extractivism, Society and the State: Palgrave Macmillan, 2017. p.127-148.

GAVENTA, J. Towards participatory governance: assessing the transformative possibilities. In: HICKEY, S. e MOHAN, G. (Ed.). Participation: From tyranny to transformation. London; New York: Zed Books, 2004. p.25-41.

GONÇALVES, R. J. A. F.; MILANEZ, B.; WANDERLEY, L. J. Neoextrativismo Liberal-Conservador: a política mineral e a questão agrária no governo Temer. Revista OKARA: Geografia em debate, v. 12, n. 2, p. 348-395, 2018.

GRUPO DE TRABALHO DO CÓDIGO DE MINERAÇÃO. Relatório do Grupo de Trabalho do Código de Mineração apresentado em 07/12/2022. Brasília: Câmara dos Deputados, 2022.

GUEDES, L. M. Deslocamento compulsório de agricultores familiares por empresas mineradoras: o caso do Projeto Onça Puma no Município de Ourilândia do Norte-Pará. 2012. (M.Sc.). Programa de Pós-graduação em Agriculturas Amazônicas, Unviersidade Federal do Pará, Belém.

HENDERSON, J. et al. Global production networks and the analysis of economic development. Review of international political economy, v. 9, n. 3, p. 436-464, 2002.

HUBER, M. T.; EMEL, J. Fixed minerals, scalar politics: the weight of scale in conflicts over the ‘1872 Mining Law’ in the United States. Environment and Planning A, v. 41, n. 2, p. 371-388, 2009.

JUSTIÇA NOS TRILHOS. Quem somos. Justiça nos Trilhos, 2022. Disponível em: < https://justicanostrilhos.org/quem-somos/ >. Acesso em: 29 Apr 2023.

KEMP, D.; HOPKINS, A. Credibility crisis: Brumadinho and the politics of mining industry reform. Wolters Kluwer, 2021.

LEITNER, H.; SHEPPARD, E.; SZIARTO, K. M. The spatialities of contentious politics. Transactions of the institute of British Geographers, v. 33, n. 2, p. 157-172, 2008.

LEONCY, L. F. O regime jurídico da mineração no Brasil. Papers do NAEA, v. 73, p. 1-27, 1997.

LYRA, M. The beginnings of the anti-mining movement in Brazil. Peace Review, v. 28, n. 1, p. 38-45, 2016.

MALERBA, J.; WANDERLEY, L. J.; COELHO, T. P., (Orgs.) Territórios livres de mineração: construindo alternativas ao extrativismo. Brasília: Comitê Nacional em Defesa dos Territórios frente à Mineraçãoed. 2022.

MARSTON, S. A. The social construction of scale. Progress in human geography, v. 24, n. 2, p. 219-242, 2000.

MASSEY, D. Power-geometry and a progressive sense of place. In: BIRD, J.;CURTIS, B., et al (Ed.). Mapping the futures: Local cultures, global change. London; New York: Routledge, 1993. p.75-85.

MELLO, D. S.; MELLO, J. P.; PRADO, R. P. COOMGRIF X Belo Sun: um estudo sobre o conflito entre uma cooperativa de garimpeiros e uma mineradora canadense na Volta Grande do Rio Xingu, Pará, Brasil. 30ª Reunião da Associação Brasileira de Antropologia. João Pessoa: Associação Brasileira de Antropologia 2016.

MILANEZ, B.; ALI, S. H.; PUPPIM DE OLIVEIRA, J. A. Mapping industrial disaster recovery: lessons from mining dam failures in Brazil. The Extractive Industries and Society, v. 8, n. 2, p. 100900, 2021.

MILANEZ, B.; FELIPPE, M. F., (Orgs.) Minas esgotada : antecedentes e impactos do desastre da Vale na Bacia do Paraopeb. Juiz de Fora: Editora UFJFed. 2021.

MILANEZ, B.; SANTOS, R. S. P. Topsy-turvy neo-developmentalism: an analysis of the current Brazilian model of development. Revista de Estudios Sociales, n. 53, p. 12-28, 2015.

______. Extraction minière, stratégie d’entreprise et flexibilisation de la réglementation environnementale au Brésil: le cas du projet Minas-Rio. Brésil (s). Sciences humaines et sociales, n. 13, 2018.

MILANEZ, B. et al. A estratégia corporativa da Vale S.A.: um modelo analítico para Redes Globais Extrativas. Versos - Textos para Discussão PoEMAS, v. 2, n. 2, p. 1-43, 2018.

NIEDERLE, P. A.; DOS SANTOS, R. S. P.; MONTEIRO, C. F. Interpretações institucionalistas sobre as transformações dos capitalismos brasileiros: da pretensão neodesenvolvimentista à predação. Revista Brasileira de Sociologia-RBS, v. 9, n. 22, p. 9-44, 2021.

OLIVEIRA, C. R. Quem é quem nas discussões do novo código da mineração. Rio de Janeiro: IBASE, 2013.

______. Quem é quem nas discussões do novo código da mineração 2014. Rio de Janeiro: IBASE, 2015.

PEREIRA, A. R. B.; LAUBE, W. Knowledge politics in environmental conflicts: A case from Brazil. Gestión y Ambiente, v. 21, n. 2Supl, p. 30-46, 2018.

PORTELLA, M. O. Mineração nas fronteiras, desenvolvimento sustentável e base industrial de defesa. Revista Brasileira de Políticas Públicas, v. 4, n. 2, p. 117-130, 2014.

QUATTROCHI, D. A.; GOODCHILD, M. F. Scale in remote sensing and GIS. CRC press, 1997.

RIBEIRO, N. As macroperspectivas do Direito Minerário a partir da nova Constituição. Revista de Informação Legislativa, v. 26, n. 102, p. 69-76, 1989.

SALES, C.; SANTOS PEREIRA, H. Mineração e Unidade de Conservação: legislação e seus conflitos de interesse. São Paulo: Editora Dialética, 2020.

SANTOS, R. S. P.; MILANEZ, B. The Global Production Network for iron ore: materiality, corporate strategies, and social contestation in Brazil. The Extractive Industries and Society, v. 2, p. 756-765, 2015.

SENRA, R. Novo código da mineração é escrito em computador de advogado de mineradoras. BBC Brasil, 07 Dec 2015. Disponível em: < https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/12/151202_escritorio_mineradoras_codigo_mineracao_rs >. Acesso em: 19 Apr 2023.

SERRA, C. Máquina de moer gente 2. Folha de S. Paulo, 26 Nov 2021. Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/colunas/cristina-serra/2021/11/maquina-de-moer-gente-2.shtml >. Acesso em: 10 Aug 2023.

SILVA, M. Z. A Vale do Rio Doce na estratégia do desenvolvimentismo brasileiro Vitória: EDUFES, 2004.

SINCLAIR, L. The power of mining MNCs: Global governance and social conflict. In: MIKLER, J. e RONIT, K. (Ed.). MNCs in Global Politics. Cheltenham, UK; Northampton, MA, USA: Edward Elgar Publishing, 2020. p.139-157.

SMITH, N. Uneven development: nature, capital and the production of space. Cambridge, MA: Basil Blackwell, 1990.

______. Geography, difference and the politics of scale. In: DOHERTY, J.;GRAHAM, E., et al (Ed.). Postmodernism and the social sciences: Palgrave Macmillan, 1992. p.57-79.

______. Homeless/global: scaling places. In: BIRD, J.;CURTIS, B., et al (Ed.). Mapping the futures: local cultures, global change. London; New York: Routledge, 1993. p.87-120.

SWYNGEDOUW, E. Neither global nor local: ‘Glocalization’ and the politics of scale. In: COX, K. R. (Ed.). Spaces of globalization: Reasserting the power of the local. New York: Guilford, 1997. p.137–166.

______. Scaled geographies: Nature, place, and the politics of scale. In: SHEPPARD, E. e MCMASTER, R. B. (Ed.). Scale and geographic inquiry: nature, society, and method. Oxford: Wiley-Blackwell, 2004. p.129-153.

SZABLOWSKI, D. Transnational law and local struggles: mining, communities and the World Bank. Oxford and Portland, Oregon: Hart Publishing, 2007.

TOWERS, G. Applying the political geography of scale: Grassroots strategies and environmental justice. The professional geographer, v. 52, n. 1, p. 23-36, 2000.

TRINER, G. D. Mining and the state in Brazilian development. Routledge, 2015.

TSING, A. L. Friction: an ethnography of global connection. Princeton; Oxford: Princeton University Press, 2005.

URKIDI, L.; WALTER, M. Dimensions of environmental justice in anti-gold mining movements in Latin America. Geoforum, v. 42, n. 6, p. 683-695, 2011.

VAINER, C. B. As escalas do poder e o poder das escalas: o que pode o poder local. Cadernos Ippur, v. 15, n. 2, p. 13-32, 2002.

VELA-ALMEIDA, D.; KOLINJIVADI, V.; KOSOY, N. The building of mining discourses and the politics of scale in Ecuador. World Development, v. 103, p. 188-198, 2018.

WANDERLEY, L. J. Do Boom ao Pós-Boom das commodities: o comportamento do setor mineral no Brasil. Versos - Textos para Discussão PoEMAS, v. 1, n. 1, p. 1-7, 2017.

WANDERLEY, L. J.; GONÇALVES, R. J. A. F.; MILANEZ, B. O interesse é no minério: o neoextrativismo ultraliberal marginal e a ameaça de expansão da fronteira mineral pelo governo Bolsonaro. Revista da ANPEGE, v. 16, n. 29, p. 555-599, 2020.

ZONTA, M.; TROCATE, C., (Orgs.) Antes fosse mais leve a carga: reflexões sobre o desastre da Samarco/Vale/BHP Billiton. Marabá: Editorial iGuana, 1 ed. 2016.

Downloads

Publicado

2023-10-05

Como Citar

Milanez, B. (2023). Política de escala e mineração: a construção do discurso de interesse nacional no Brasil. Revista Da ANPEGE, 19(39). https://doi.org/10.5418/ra2023.v19i39.17499