As agências de classificação de risco e seus impactos sobre a governança democrática: uma análise do caso brasileiro

Autores

  • Pedro Lange Netto Machado UFSC

DOI:

https://doi.org/10.30612/rmufgd.v7i13.8724

Palavras-chave:

Globalização financeira. Agências de classificação de risco. Brasil.

Resumo

Este artigo argumenta que as agências de classificação de risco atuam como um canal de pressão por meio do qual as preferências políticas do mercado financeiro se impõem aos Estados nacionais. No contexto de globalização financeira, os governos se veem em meio ao conflito entre as demandas democráticas de seus eleitores e as pressões provenientes do sistema internacional de finanças. Um dos instrumentos que materializam essas pressões são as agências de classificação de risco, que confrontam o sistema político vigente nos Estados e, por consequência, a governança democrática. O argumento se desenvolve a partir do caso do Brasil, desde o processo de impeachmentde Dilma Rousseff até a suspensão da votação da reforma da previdência pelo governo Temer, e se confirma a partir da análise de relatórios e dos ratingsemitidos pelas agências, assim como de suas declarações nos canais de mídia.

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Biografia do Autor

Pedro Lange Netto Machado, UFSC

Mestrando em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e bolsista CAPES.

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Publicado

2018-09-07

Como Citar

Machado, P. L. N. (2018). As agências de classificação de risco e seus impactos sobre a governança democrática: uma análise do caso brasileiro. Monções: Revista De Relações Internacionais Da UFGD, 7(13), 230–254. https://doi.org/10.30612/rmufgd.v7i13.8724

Edição

Seção

Artigos Dossiê - Democracia Global e Instituições Internacionais