Luxúria e selvageria na invenção do Brasil: enquadramentos coloniais sobre as sexualidades indígenas

Autores

  • Estevão Rafael Fernandes

Palavras-chave:

Sociedades indígenas. Brasil Colonial. Jesuítas. Representações. Corporalidade. Sexualidade.

Resumo

O presente artigo busca apresentar as perspectivas coloniais sobre sexualidades indígenas, a partir de relatos de cronistas e missionários no Brasil do século XVI, buscando compreender as referências europeias para tais representações. Pretendemos, dessa maneira, entender em que medida esta visão europeia sobre sexualidade se mesclava com outras imagens de selvageria para compreender as sexualidades indígenas. De um modo geral, a hipótese a ser desenvolvida indica como ideias como “incesto”, “selvageria”, “corrupção”, “inversão”, “canibalismo”, “poligamia”, “embriaguez”, “luxúria”, “sodomia”, “nudez”, “bacanais” e “lascívia” formavam parte de um mesmo campo semântico. Além disso, tais descrições não podem ser compreendidas fora do projeto colonial e da perspectiva missionária da Coroa Portuguesa.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ALMEIDA, Rita Heloísa de. O Diretório dos índios: Um projeto de “civilização” no Brasil do Século XVIII. Brasília: Editora da Universidade de Brasília. 1997.

BARTRA, Roger. El salvaje en el espejo. México DF: Coordinación de Difusión Cultural, Coordinación de Humanidades, Universidad Nacional Autónoma de México, 1992.

BARTRA, Roger. The artificial savage: modern myths of the wild man. Ann Harbor: University of Michigan Press. 1997.

BRÁSIO, António. “O Espírito Missionário de Portugal na época dos Descobrimentos”. Lusitania Sacra, n. 5. Lisboa. p. 101-120. 1961.

CAMBI, Franco. História da Pedagogia. São Paulo: Editora Unesp. 1999.

CARVAJAL, Gaspar de. Descobrimentos do rio das Amazonas: traduzidos e anotados por C. de Melo-Leitão. São Paulo: Companhia editora nacional. 1941.

CHICANGANA-BAYONA, Yobenj Aucardo. “Os Tupis e os Tapuias de Eckhout: o declínio da imagem renascentista do índio”. Varia História. vol.24, n.40: 591-612. 2008.

CHICANGANA-BAYONA, Yobenj Aucardo. “Visões de terras, canibais e gentios prodigiosos”. ArtCultura – Revista do Instituto de História da Universidade Federal de Uberlândia. V. 12, n. 21. Pp. 35-53. Jul.-Dez. 2010.

CUNHA, Manuela Carneiro da. Antropologia do Brasil: Mito, História e Etnicidade. São Paulo: Brasiliense; Edusp. 1986.

CUNHA, Manuela Carneiro da. Imagens de índios do Brasil: o século XVI. Estudos Avançados, vol.4, n.10: 91-110. 1990.

CUNHA, Manuela Carneiro da. Introdução a uma história indígena. In: CUNHA, Manuela Carneiro (Org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

CUNHA, Manuela Carneiro da. Introdução a uma história indígena. Índios do Brasil: história, direitos e cidadania. São Paulo: Claro Enigma, 2012.

DESCONHECIDO. Cartas Avulsas: 1550-1568. Série Publicações da Academia Brasileira, Cartas Jesuíticas II. Rio de Janeiro: Officina Industrial Gráfica. 1931.

EISENBERG, José. As missões jesuíticas e o pensamento político moderno: encontros culturais, aventuras teóricas. Belo Horizonte: Editora UFMG. 2000.

EISENBERG, José. Cultural encounters, theoretical adventures: the Jesuit missions to the new world and the justification of voluntary slavery. History of political thought, Vol. XXIV, n. 3, Autumn: 375-396, 2003a.

EISENBERG, José. António Vieira and the Justification of Indian Slavery. Luso-Brazilian Review, Vol. 40, n. 1, Special Issue: António Vieira and the Luso-Brazilian Baroque. Summer: 89-93. 2003b.

EISENBERG, José. A escravidão voluntária dos índios do Brasil e o pensamento político moderno. Análise Social, vol. XXXIX (170): 7-34, 2004.

EISENBERG, José. O político do medo e o medo da política. Lua Nova, n. 64: 49-60. 2005.

FLORENCIO, Thiago de Abreu e Lima. A busca da salvação entre a escrita e o corpo: Nóbrega, Léry e os Tupinambá. Dissertação de Mestrado em História. PUC: Rio de Janeiro. 2007.

GADOTTI, Moacir. História das ideias pedagógicas. São Paulo: Ática, 2011.

GANDAVO, Pero de Magalhães de. Historia da Provincia de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil. Lisboa: Typographia da Academia Real das Sciencias. 1858.

HULME, Peter. Colombo e os Canibais. História Social. Campinas. N. 8/9. Pp. 13-53. 2001.

JORDAN, Mark D. The Invention of Sodomy in Christian theology. Chicago: University of Chicago Press, 1997.

LACOUTURE, Jean. Os Jesuítas: 1. Os conquistadores. Porto Alegre: L&PM. 1994.

LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. Tomo I (Século XVI – o estabelecimento). Lisboa: Livraria Portugália; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 1938.

LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. Tomo IV (Norte – 2) Obra e Assuntos Gerais, Séculos XVII-XVIII). Lisboa: Livraria Portugália; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 1943.

LÉRY, Jean de. Viagem à terra do Brasil. São Paulo. Livraria Martins. 1941.

LÉRY, Jean de. Voyage au Brésil. Lausanne: Bibliothèque romande, 1972.

LÉRY, Jean de. History of a voyage to the land of Brazil, otherwise called America. Berkeley: University of California Press. 1990.

NÓBREGA, Manuel da. Cartas do Brasil (1549-1560). Rio de Janeiro: Officina Industrial Graphica. 1931.

PAGDEN, Anthony. The fall of natural man: the American Indian and the origins of comparative ethnology. New York: Cambridge University Press. 1982.

PERRONE-MOISÉS, Beatriz. Índios livres e índios escravos: os princípios da legislação indigenista do período colonial (séculos XVI a XVIII). In: CUNHA, Manuela Carneiro (Org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

RAMINELLI, Ronald. Imagens da colonização: a representação do índio de Caminha a Vieira. Rio de Janeiro, Jorge Zahar. 1996.

SCALIA, Anne Caroline Mariank Alves. A Companhia de Jesus e a formação da cultura sexual brasileira: um estudo histórico e documental a partir dos escritos do padre Manuel da Nóbrega. Dissertação de Mestrado em Educação Escolar. Unesp: Araraquara. 2009.

SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado descritivo do Brasil em 1587; edição castigada pelo estudo e exame de muitos códices manuscritos existentes no Brasil, em Portugal, Espanha e França, acrescentada de alguns comentários por Francisco Adolfo de Varnhagen. Belo Horizonte, Editora Itatiaia. 2000.

STADEN, Hans. Primeiros registros escritos e ilustrados sobre o Brasil e seus habitantes. São Paulo: Editora Terceiro Nome. 1999.

STEINEN, Karl von den. Entre os Borôros (Tradução do cap. XVII do livro Unter den Naturvölkern Zentral-Brasiliens, por Basílio de Magalhães). Revista do Instituto Historico e Geographico Brasileiro, Tomo LXXVIII, Parte II: 391-490. 1915.

THEVET, André. Singularidades da França Antarctica: a que outros chamam de América. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1944.

TODOROV, Tzvetan. A conquista da América: a questão do Outro. São Paulo: Martins Fontes. 1993.

TREXLER, Richard C. Sex and conquest: gendered violence, political order, and the European conquest of the Americas. Ithaca: Cornell University Press, 1995.

TREXLER, Richard C. Making the American Berdache: Choice or Constraint”. Journal of Social History. Vol. 35, n. 3. Pp. 613-636. 2002.

UGARTE, Auxiliomar Silva. Sertões de bárbaros: o mundo natural e as sociedades indígenas da Amazônia na visão dos cronistas ibéricos (séculos XVI-XVII). Manaus: Valer. 2009.

VESPÚCIO, Américo. Novo Mundo: As cartas que batizaram a América. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2003.

WOORTMANN, Klaas. O selvagem e a História. Heródoto e a questão do Outro. Revista de Antropologia. vol.43, n.1: 13-59. 2000.

Downloads

Publicado

2016-12-14

Como Citar

Fernandes, E. R. (2016). Luxúria e selvageria na invenção do Brasil: enquadramentos coloniais sobre as sexualidades indígenas. Fronteiras, 18(32), 239–267. Recuperado de https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/FRONTEIRAS/article/view/5836